CRIAÇÃO DE UM PROTÓTIPO PARA DETERMINAÇÃO DE DENSIDADE DE LÍQUIDOS POR ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Ensino de Química

Autores

Ferreira, M.S. (UFMA) ; Trindade, J.M. (UFMA) ; Souza, J.K.C. (UFMA) ; Menezes, L.C. (IFMA) ; Silva, E.C.F. (UFMA)

Resumo

A discussão a cerca da exclusão e inclusão educacional, há duas décadas vêm merecendo destaque em pesquisas e mencionado em leis. Desta forma, necessita-se do preparo da sociedade e das instituições de ensino, de modo a proporcionar a igualdade e qualidade de vida e educação a estas pessoas. Em se tratando da disciplina de Química Experimental, somente a relação da teoria com prática não necessariamente fará com que o aluno apresente um bom desempenho. O desenvolvimento de um material didático para determinar a densidade de líquidos torna-se uma nova ferramenta de aprendizagem e proporcionará a inserção dos alunos com necessidades educacionais especiais de forma participativa e contribuirá para a relação e vivência destas pessoas no âmbito acadêmico, profissional e social.

Palavras chaves

DENSIDADE; INCLUSÃO; DEFICIÊNCIA VISUAL

Introdução

Os conceitos de exclusão e inclusão educacionais, há duas décadas vêm merecendo destaque e sendo bem discutidos em pesquisas e mencionados em leis. A preocupação em se ter uma educação igual e de qualidade para todos é barrada quando diversas desigualdades (sociais, étnicas, raciais e de gênero) são observadas. No que se refere à educação de pessoas com necessidades educacionais especiais (NEE’s), a presença do termo exclusão é indiscutível. Observa-se, desta forma, a necessidade do preparo da sociedade e das instituições de ensino, de modo a proporcionar a igualdade e qualidade de vida e educação a estas pessoas. A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, no seu Art. 35, Inciso IV, diz: “É essencial a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina” (BRASIL, 1996). Desta forma, mostra que as escolas de ensino médio devem proporcionar ao aluno oportunidades de união entre a teoria e a prática em cada disciplina. Do mesmo modo, a Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 que Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), no seu Capítulo IV- Do Direito à Educação, Art. 28, Inciso I diz: “Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar o sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida” e no Inciso XIII diz: “acesso à educação superior e à educação profissional e tecnológica em igualdade de oportunidades e condições com as demais pessoas”(BRASIL, 2015). Durante muito tempo estas pessoas com “deficiências” foram marginalizadas quanto à educação, estes alunos eram atendidos separados dos demais ou simplesmente excluídos do processo educativo e a iniciativa de mudança só ocorre quando estas Leis passam a vigorar (BRASIL, 2001). Assim, a necessidade de tratar de forma igual às pessoas instiga o desenvolvimento deste trabalho, visto que é observada, de forma prática, a exclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais, no tocante, às disciplinas que obrigatoriamente necessitam de aulas experimentais, tal como a Química. Em se tratando da disciplina de Química, em especial a Química Experimental, somente a relação da teoria com prática não necessariamente fará com que o aluno apresente um bom desempenho. É de extrema importância o contato com o laboratório através da experimentação, pois é este contato que permitirá ao mesmo desenvolver várias habilidades, testar e comprovar diversos conceitos de modo a favorecer a sua capacidade de abstração (MÓL, 2011). Ademais, esta prática ajuda na resolução de situações-problema enfrentadas no cotidiano e leva o aluno a fazer inter-relações através da construção de conhecimentos e da reflexão sobre diversos aspectos. Isso o capacita a desenvolver as competências, as atitudes e os valores que proporcionam maior conhecimento e destaque no cenário sociocultural (BRASIL, 2009; OLIVEIRA, 2013; BERTALLI, 2010). Buscando esta qualificação e a não exclusão do aluno que requer uma atenção especial, o desenvolvimento deste protótipo para determinar a densidade de líquidos torna-se uma material didático que contribuirá com a inclusão e permanência destes alunos no universo acadêmico. O protótipo torna-se desta forma uma nova ferramenta de aprendizagem e fará com que os alunos com necessidades educacionais especiais se qualifiquem e não sejam excluídos das aulas práticas. Este trabalho proporcionará a inserção destes discentes de forma participativa e contribuirá para a relação e vivência destas pessoas no âmbito acadêmico, profissional e social.

Material e métodos

Para alcançar o objetivo proposto foram planejadas cinco etapas. O início do trabalho compreende a identificação e definição dos conteúdos ministrados na disciplina de química experimental/ensino superior (Etapa 1). Esta etapa foi importante para a escolha do experimento que será usado como base para a criação do protótipo. A pesquisa na literatura foi feita buscando os principais experimentos realizados em 11 Universidades Federais da região Nordeste. Foram levantados também dados quantitativos fornecidos pelo Núcleo de Acessibilidade do Campus/São Luís, relativos ao número de alunos com NEE’s matriculados neste Campus para justificar a importância do trabalho e a contribuição do mesmo na Instituição. Posteriormente foi realizada, a partir da literatura, a avaliação das dificuldades e limitações dos alunos com necessidades educacionais especiais (Etapa 2). A avaliação das dificuldades e limitações das necessidades especiais é uma etapa que requer atenção. Teve-se que ter conhecimento acerca das deficiências a qual os experimentos que poderiam ser elaborados, considerando os fatores limitantes que cada deficiência apresenta aos alunos, assim, o protótipo produzido poderá ser usado sem restrições pelos alunos e permitirá seu aprendizado e construção do conhecimento. Como terceira etapa (Etapa 3), fez-se necessário a identificação dos materiais para a elaboração dos experimentos práticos. Como nesta etapa o trabalho objetiva incluir alunos com deficiência, o material utilizado na fabricação do protótipo deve atender as necessidades destes. Desta forma, procurou-se na literatura trabalhos que mostrassem o retorno fornecido pelos alunos após o manuseio de diversos materiais e texturas. Na Etapa 4 foram produzidos roteiros experimentais contextualizados e adequados as necessidades especiais. Através dos dados obtidos referentes a meta da Etapa 1 foi possível elaborar um roteiro de aula abordando o experimento de densidade de líquidos voltado para alunos com deficiência visual, contemplando os conhecimentos adquiridos com o embasamento fornecido após o desenvolvimento da metas das Etapas 2 e 3. Finalizando o trabalho desenvolveu-se a versão preliminar do material didático para o experimento (Etapa 5).

Resultado e discussão

Como resultado fez-se, na etapa inicial e permanente do trabalho, um levantamento do referencial bibliográfico acerca dos temas que englobam a proposta, em especial a elaboração de experimentos que permitem a inclusão de alunos com NEE’s tendo como foco a disciplina de Química Experimental. Foi importante nesta etapa a identificação dos conteúdos ministrados na disciplina de Química no ensino superior. A Figura 1 foi elaborada com base em dados coletados nas ementas de cursos de graduação de 11 Universidades Federias da Região Nordeste. Esta coleta de dados foi feita pensando em restringir os conteúdos a serem analisados para o desenvolvimento deste trabalho, visando selecionar os assuntos considerados mais importantes para as práticas laboratoriais. As ementas da disciplina de química experimental constantemente referiam-se a disciplina de química geral, mostrando o acompanhamento teórico de experimentos ligados a estequiometria e propriedades periódicas dos elementos. Também observou-se que dentre os 7 cursos de graduação pesquisados, os cursos de Química, Química Tecnológica e Industrial, e Química do Petróleo possuíam uma carga horária superior as disciplinas ministradas aos cursos de engenharia. Estes cursos possuíam em suas ementas também os mais diversificados experimentos. Os primeiros assuntos listados nas ementas, em sua maioria, consistem em normas de segurança laboratorial, manuseio correto de substâncias nocivas à saúde, vidrarias e conceitos iniciais necessários para a realização dos experimentos seguintes, como a exemplo, o experimento de Medidas de Massa e Volume, que expõe conceitos essenciais para todos os demais experimentos presentes no gráfico da Figura 1 e para o experimento de densidade que é o foco do nosso trabalho. Identificado os temas, limitou-se o desenvolvimento da proposta ao conteúdo de “Determinação de Densidade de Líquidos”. Posteriormente, foram avaliadas as dificuldades e limitações dos alunos com NEE’s e selecionou-se a deficiência visual (DV) como foco inicial deste trabalho. Segundo dados do Núcleo de Acessibilidade da Universidade Federal do Maranhão referentes ao período 2016.2, o Campus São Luís possui 148 alunos portadores de necessidades especiais distribuídos nos quatros Centros da Universidade. Sendo que a deficiência visual é a segunda mais presente no Centro de Ciências Exatas e Tecnologia (CCET), representando 20,69% do total dos alunos assistidos. Sabendo que um deficiente pode ser classificado de acordo com sua acuidade visual, os dados do Núcleo de Acessibilidade informam que 4 dos alunos DV do CCET são monoculares e 2 possuem baixa visão, não havendo a presença de alunos cegos. Segundo dados do Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (SIGAA), o Centro de Ciências Exatas e Tecnologias possui 411 alunos matriculados, portanto, os 6 alunos DV representam, aproximadamente, apenas 1,5% do total. A educação inclusiva deve ampliar a participação de todos os estudantes, atendendo as necessidades dos alunos com deficiência, portanto, os materiais que serão usados por alunos com DV devem facilitar a identificação e diferenciação entre os objetos. Eles devem ter diferentes texturas, serem agradáveis ao toque, resistentes para suportar a constante manipulação além de apresentarem cores distintas e fortes para proporcionar uma fácil identificação para os alunos com baixa visão como afirma BERTALLI (2010). Através do trabalho desenvolvido por Nunes et al. (2010) pode-se constatar que a elaboração de materiais táteis encontra restrições apenas quanto a agressão a pele e toxicidade dos materiais. No projeto desenvolvido por Nunes et al. (2010) foram utilizados metais, papelão, tecidos e diversos tipos de plásticos, madeira, substâncias laboratoriais e domésticas, todos tendo boa aceitação dos alunos. Desta forma, os experimentos que são elaborados voltados para alunos com DV devem atender as necessidades destes alunos, bem como seguir as recomendações listadas acima. O experimento de densidade de líquidos, escolhido neste trabalho, foi elaborado de forma a explorar, principalmente, o tato do aluno através do contato com as substâncias e utilizando materiais seguros protótipo, a exemplo, a utilização de torneiras plásticas e a escolha de acrílico em detrimento do vidro para a confecção dos recipientes no experimento de densidade. Escolhida a deficiência, avaliou-se os materiais, elaborou-se o roteiro adequado a necessidade especial e desenvolveu-se o modelo de um protótipo (Figura 2) para a execução do experimento. O protótipo desenvolvido para o experimento de densidade de líquidos é composto por dois recipientes de acrílico com capacidade máxima de 100mL, cada um contendo uma torneira na parte inferior, e apresentando todos os seus componentes com colorações fortes e bem diferentes entre si, visando atender as limitações de aluno com baixa acuidade visual. O dispositivo possui demarcações circulares em alto- relevo ao redor dos recipientes aos 0mL, 50mL e 100mL e linhas na frente do equipamento nas demais indicações, contando também com a indicação da numeração em Braille.

Figura 1

Conteúdos das disciplinas de Química Experimental das ementas de 11 Universidades de Região Nordeste

Figura 2

Imagem do protótipo para realização do experimento de densidade.

Conclusões

As atividades concluídas até o presente momento mostram que há a necessidade de desenvolvimento de experimentos que permitam a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais, pois a realidade é que os alunos com NEE’s têm direito assim como todos de cursar qualquer disciplina que é oferecida em uma instituição de ensino superior. Conclui-se que dos diversos conteúdos ministrados nas 11 universidades federais pesquisadas, o experimento que envolve massa e volume, ou seja, a determinação de densidade de líquidos é um importante conteúdo para a iniciação dos alunos com NEE's nas aulas práticas de laboratório. Neste trabalho foi selecionada a deficiência visual como foco, pois na instituição onde se desenvolveu a pesquisa a DV é a segunda deficiência mais presente na área de exatas. No entanto, este é um protótipo pode ser reproduzido e contribuir para o conhecimento prático de alunos que cursam disciplinas práticas, em especial, química experimental no ensino superior.

Agradecimentos

Os autores agradecem a FAPEMA (Processo UNIVERSAL-01269/17) e UFMA

Referências

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 dez. 1996.
_____. Lei Brasileira de Inclusão nº 13.146, de 6 de julho de 2015, Estatuto da Pessoa com Deficiência. Senado Federal, Brasília, DF, 06 jun. 2015.
_____. Ministério da Educação (MEC). Secretaria de Educação Especial. Diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica. Brasília: MEC, 2001.
BRASIL. Ministério da Educação (MEC). Secretaria de Educação Básica. Laboratórios. Brasília: MEC, 2009.
BERTALLI, J. G.; SIQUEIRA, O. S.; Ensino de Geometria Molecular, para Alunos com e Sem Deficiência Visual, por Meio de Modelo Atômico Alternativo, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Mestrado em Ensino de Ciências, 2010.
MÓL, G. S.; RAPOSO, P. N., PIRES, R. F. M. Desenvolvimento de estratégias para o ensino de química a alunos com deficiência visual. In: SALLES, S.B.A. e GAUCHE, R. (Orgs.). Educação científica, inclusão social e acessibilidade. Goiânia: Cânone, 2011. p. 127-154.
NUNES, B. C.; DUARTE, C. B.; PADIM, D. F.; MELO, Í. C.; ALMEIDA, J. L.; TEIXEIRA JÚNIOR, J. G. Propostas de atividades experimentais elaboradas por futuros professores de Química para alunos com deficiência visual. Encontro Nacional de Ensino de Química, v. 15, 2010
OLIVEIRA, T. C. C.; ZANON, V.; ARAÚJO, Y. L. N.; PONTES, D.; MILANEZ, J.; MOREIRA, L. M.. Os Kits experimentais Os Cientistas e as proposições da Alfabetização Científica, Atas do IX Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, 2013.

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