CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E AVALIAÇÃO DE ATIVIDADE ANTI-Leishmania DO ÓLEO ESSENCIAL DE Artemisia absinthium SOBRE Leishmania infantum.

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Produtos Naturais

Autores

Lopes, P.H.R. (UVA) ; Nunes, M.S. (UECE) ; Florêncio, S.T.V. (UECE) ; Junior, V.F.P. (UECE) ; Rodrigues, T.H.S. (UVA) ; dos Santos, H.S. (UVA) ; de Carvalho, M.G. (UFRRJ) ; Rondon, F.C.M. (UNIVERSIDADE DE FORTALEZA) ; Bevilaqua, C.M.L. (UECE) ; Gomes, G.A. (UVA)

Resumo

Este trabalho objetivou determinar a composição do óleo de Artemisia absinthium (OAA) e avaliar a sua ação contra Leishmania infantum. As análises de OAA em CG/EM e CG/DIC permitiu identificar beta-tuiona e acetato de trans-sabinila como componentes majoritarios. A avaliação da ação de OAA foi feita com bioensaio contra formas promastigotas e amastigotas axênicas a partir do teste MTT. Foi usado leitor de microplacas e as densidades ópticas analisadas em software GraphPrism 6.0. OAA exibiu efeito contra as promastigotas sendo similar ao do controle positivo Anfotericina B. No teste com amastigotas, OAA mostrou efeito menor em relação aos controles positivos Anfotericina B e Glucantime. O efeito biocida demonstrado por OAA pode estar relacionado à presença de seus componentes majoritários.

Palavras chaves

Produto Natural; efeito biocida; Leishmaniose Visceral

Introdução

A leishmaniose visceral (LV) é uma zoonose cujo agente etiológico é o protozoário Leishmania infantum (DANTAS-TORRES; BRANDÃO-FILHO; 2006). No ambiente doméstico, o cão (Canis familiaris) é o reservatório envolvido na manutenção do ciclo zoonótico prevalente em regiões do Brasil. A quimioterapia usada no tratamento da leishmaniose é baseada no uso de medicamentos que possuem metais pesados tóxicos. Além disso, esse tratamento não é satisfatório em termos de efetividade e toxicidade, pois a resistência e a sensibilidade de diferentes cepas às drogas existentes também dificultam o tratamento (OSÓRIO et al, 2007). Em cães, o tratamento não é uma medida indicada, pois não diminui o valor do cão como reservatório do parasito e não propicia a cura (SESSA; FALQUETO; VAREJÃO; 1994). A ausência de uma vacina eficaz contra leishmaniose leva a necessidade urgente de drogas efetivas para substituir ou suplementar aquelas de uso corrente. Nesse caso, estudos têm direcionado esforços em prol de investigações sobre extratos, óleos essenciais e metabólitos especiais puros de origem vegetal que são eficazes contra Leishmania spp e têm reduzida toxicidade para hospedeiros humanos (MENEGUETTI et al, 2015). Artemisia absinthium L. (Asteraceae), vulgarmente conhecida como "absinto", é uma planta usada tipicamente como anti-helmíntica, anti- séptica, antiespasmódica e para tratamento de câncer, disenteria bacilar e doenças neurodegenerativas (JOSHI, 2013). Seu óleo essencial possui propriedades antimicrobiana, antiparasitária, inseticida (BAILÉN et al, 2013) e herbicida (FOUAD et al, 2015) comprovadas. Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi determinar a composição química do (OAA), bem como avaliar a ação anti-Leishmania do mesmo sobre promastigotas e amastigosas de L. infantum.

Material e métodos

OAA foi adquirido comercialmente na loja virtual de uma empresa do ramo de Aromaterapia. OAA é oriundo dos Estados Unidos, sendo o mesmo obtido a partir de suas folhas pelo método de destilação por arraste a vapor. A análise qualitativa da composição de OAA foi feita em cromatógrafo a gás acoplado a espectrômetro de massa (CG/EM), enquanto que a análise quantitativa foi efetuada em cromatógrafo a gás acoplado a detector de ionização por chama (CG/DIC). Para realização do bioensaio, inicialmente foram obtidas as formas promastigotas e amastigotas do parasito, sendo as mesmas cultivadas em meios apropriados. Para a análise do efeito do óleo sobre os parasitos, estes foram contados em câmara de Neubauer e a concentração final utilizada foi de 1,25x106 parasitos/poço. As concentrações de OAA usada no experimento variaram de 0,098 a 100 µg/mL e foram obtidas a partir da diluição em série, de acordo com Rondon et al. (2012). Após 24h de incubação dos parasitos com os óleos, foi feito teste com o MTT para determinar a concentração inibitória de 50% das células (CI50). Para o teste contra promastigotas, o controle positivo usado foi a anfotericina B, enquanto que para as amastigotas axênicas, além da anfotericina B, foi utilizado o Glucantime®. Os controles negativos usados foram apenas o meio com os parasitos, sendo o M199 para promastigotas e RPMI1640 para as amastigotas axênicas. O OAA foi testado em triplicata. Os resultados foram lidos com leitora de microplaca Multiskan MS com filtro de 570 nm.

Resultado e discussão

Os componentes de OAA foram identificados e estão listados na Tabela 1. Dessa forma, com respeito ao OAA, 29 compostos, correspondendo a 95,15% desse óleo, foram identificados, sendo a classe de substancias mais abundante a dos monoterpenos oxigenados (58,85%) e tendo como majoritários os constituintes beta-tuiona (47,92%) e acetato de trans-sabinila (25,50%). Em relação ao bioensaio com promastigotas de Leishmania infantum, o OAA apresentou efeito biocida com valor de CI50 de 0,05 µg/mL (CI95 de 0,029 - 0,085) sendo similar ao valor de CI50 (CI95 de 0,026 - 0,099) do controle positivo Anfotericina B. De acordo com a literatura, produtos que apresentam valores de CI50 inferiores a 10 μg/mL são considerados com atividade elevada contra organismos eucarióticos, como Leishmania ssp (KAYSER et al, 2000). Já em relação às amastigotas de Leishmania infantum, OAA apresentou efeito sobre as mesmas, tendo valor de 8,78 µg/mL (CI95 de 3,60 - 21,45), exibindo um efeito menos pronunciado queos controles positivos Anfotericina B e Glucantime, os quais apresentaram valores de CI50 de 0,75 µg/mL (CI95 de 0,53 - 1,07) e 0,12 µg/mL (CI95 de 0,07 - 0,21), respectivamente. Portanto, OAA exibiu promissora atividade leishmanicida quando testado frente às formas promastigotas de L. infantum. Geralmente, o constituinte majoritário é o responsável pela atividade biológica apresentada pelo óleo essencial (OOTANI et al, 2013). Assim, no presente trabalho, a propriedade anti-Leishmania exibida pelo OAA pode estar associada ao alto teor do monoterpeno beta-tuiona em sua composição.

Tabela 1.

Composição, percentagens dos componentes identificados e das classes (%) no óleo essencial de Artemisia absinthium (OAA).

Conclusões

A análise química do óleo possibilitou identificar beta-tuiona e acetato de trans-sabinila como componentes mais abundantes do OAA. Os resultados do bioensaio mostraram que OAA apresentou elevada atividade contra promastigotas L. infantum. Essa atividade biológica pode estar associada ao elevado teor de beta-tuiona nesse óleo.

Agradecimentos

À FUNCAP pelo financiamento da pesquisa por meio da bolsa de IC e à Universidade Estadual Vale do Acaraú pelo apoio logístico.

Referências

BAILÉN, M. et al. Chemical composition and biological effects of essential oils from Artemisia absinthium L. cultivated under different environmental conditions. Ind. Crops Prod., v. 49, p. 102-107, 2013.

DANTAS-TORRES, F.; BRANDÃO-FILHO, S. P. Expansão geográfica da leishmaniose visceral no Estado de Pernambuco. Revta Soc. Bras. Med. Trop., v.39, p. 352-356, 2006.

FOUAD, R. et al. Chemical Composition and Herbicidal Effects of Essential Oils of Cymbopogon citratus (DC) Stapf, Eucalyptus cladocalyx, Origanum vulgare L and Artemisia absinthium L. cultivated in Morocco. J. Essent. OilBear. Pl., v. 18, p. 112 –123, 2015.

JOSHI, R. K. Volatile composition and antimicrobial activity of the essential oil of Artemisia absinthium growing in Western Ghats region of North West Karnataka, India. Pharm. Biol., v. 51, p. 88-92, 2013.

KAYSER, O. et al. In vitro leishmanicidal activity of monomeric and dimeric naphthoquinones. Acta Tropica, v. 77, n. 3, p. 307–314, 2000.

MENEGUETTI, D. U. O. et al. Plantas da Amazônia brasileira com potencial leishmanicida in vitro. Rev Patol Trop, v. 44, p. 359-374, 2015

OOTANI, M. A. et al.Use of Essential Oils in Agriculture.J. Biotec. Biodivers., v. 4, p. 162-175, 2013.

OSÓRIO, E. et al. Antiprotozoal and cytotoxic activities in vitro of Colombian Annonaceae. J Ethnopharmacol, v. 111, p. 630-635, 2007.

RONDON, F. C. M.; et al. In vitro efficacy of Coriandrum sativum, Lippia sidoides and Copaifera reticulate against Leishmania chagasi. Rev. Bras. Parasitol. Vet., v. 16, p. 185-191, 2012.

SESSA, P. A.; FALQUETO, A., VAREJÃO, J. B. M. Tentativa de Controle da Leishmaniose Tegumentar Americana por meio do tratamento dos cães doentes. Cad. de Saúde Pública, v. 10, p. 457-463, 1994.

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