Caracterização físico-química do óleo de castanha do Brasil (Bertholletia excelsa) proveniente da região sul do Amazonas

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Produtos Naturais

Autores

Machado, L.J. (IFAM) ; Furtado, P.R.S. (IFAM) ; Nascimento, A.E.S. (UFAC) ; Oliveira, A.B. (IFAM) ; Ferreira, R.A.S. (IFAM) ; Pinho, U.M.F. (IFAC) ; Nunes, M.R.S. (IFAC)

Resumo

A grande diversidade de plantas oleaginosas presentes na região amazônica possibilita aos povos ribeirinhos e indígenas obterem uma fonte de renda por meio da extração/coleta de frutos destinados para alimentação ou extração de óleo com grande apelo comercial, sendo muitos voltados para área alimentícia ou cosmética dentre elas, destaca-se a castanha do Brasil (Bertholletia excelsa), por meio da caracterização físico-química do óleo de castanha foi identificado o índice de acidez superior ao recomendado pela ANVISA, para óleos e gorduras comestíveis, fator que pode está relacionado ao método artesanal do processo de extração e armazenamento do óleo nas comunidades ribeirinhas a sul do estado do Amazonas.

Palavras chaves

Oleaginosas; Perfil químico; Amazônia

Introdução

O extrativismo vegetal apresenta-se como uma opção de renda para as populações amazônicas, que utilizam a floresta como principal fonte de subsistência. Conforme descrito por Pereira et al., (2009) o extrativismo está inserido nos diferentes sistemas de produção das populações locais, assim como a agricultura, caça, pesca, coleta de frutos para extração de óleos vegetais, dentre outras atividades. As fontes oleaginosas presentes na região amazônica são caracterizadas por apresentarem grande potencial econômico e ambiental, além de serem fontes naturais para obtenção de substâncias gordurosas, renováveis e praticamente inesgotáveis, mediante a exploração adequada da matéria prima fornecida de forma espontânea pela natureza (ENRÍQUEZ, 2001). Dentre as espécies vegetais mais conhecidas destaca-se a castanha do Brasil uma espécie nativa da Amazônia, podendo ser encontrada nos estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Pará, Goiás, Maranhão, Amapá, Roraima e Mato Grosso (Lorenzi, 2002). O fruto da castanheira possui uma amêndoa que segundo Pesce (1941) se configura como alimento rico em proteínas, lipídios e vitaminas. O óleo obtido do fruto da castanha apresenta propriedades emolientes, lubrificantes e hidratantes, tendo grande empregabilidade como matéria-prima na produção de cosméticos e fins alimentícios (SUFRAMA, 2003). A caracterização físico-química do óleo de castanha possibilita analisar não apenas as características químicas da amostra como também, prever a sua adequação quanto sua empregabilidade para fins comerciais, por se tratar de uma matéria vegetal, esta se encontra susceptível a deterioração mediante o armazenamento/extração inadequada.

Material e métodos

O processo de comercialização do óleo de castanha, no município de Lábrea – AM ocorre por meio da Cooperativa Agroextrativista Sardinha. Para realização da caracterização físico-química do óleo da castanha foi adquirida um amostra de 500mL proveniente de um lote revendido pela cooperativa, sendo a mesma analisada em parceria com a Divisão de Tecnologia em Produtos Naturais (DIPN – FUNTAC/AC). A caracterização físico-química do óleo de castanha foi obtida por meio dos testes: Índice de Acidez (I.A.), Índice de Iodo (I.I.), Índice Peróxido (I.R.), Refração (Brio Brix), Viscosidade (Cup Ford) e Densidade (Densímetro Digital Mettler Toledo 30 MPX), seguindo as normas da AOAC (2010), AOCS (1992). As análises físico-químicas foram realizadas em triplicata.

Resultado e discussão

Por meio da Resolução RDC nº 270 a ANVISA aprova o regulamento técnico que distingue óleos, gorduras e cremes vegetais e descreve suas características físico-químicas visando o consumo humano, para o óleo de castanha os resultados obtidos por meio das analises (Índice de Acidez, Índice de Iodo, Índice Peróxido, Refração, Viscosidade e Densidade) se encontram descritas na tabela 1. Conforme apresentado na tabela 1, os índices de I.A e I.P obtidos para a amostra analisada divergem dos parâmetros preconizados pelo órgão regulador. Segundo Ferreira (2008), os índices de acidez, peróxido e iodo são características químicas que revelam o estado de conservação dos óleos e gorduras, sendo importantes parâmetros para determinar a qualidade de óleos e gorduras, uma vez que indicam a presença de acidez hidrolítica e oxidativa. Desta forma, a hidrólise parcial dos glicerídeos pode ser ocasionada por condições físicas como: aquecimento e até mesmo pela presença de luz (MORETTO & FETT, 1998). Segundo Melo (2010), o índice de peróxido é um indicador do grau de oxidação dos óleos e gorduras, a sua presença é um indicio de deterioração do óleo, podendo também ser indicada através da mudança do sabor e do odor característico dos óleos. Contudo, como indicado por Pesce (1941) as características físico-químicas de óleos e gorduras podem sofrer alterações de acordo com a qualidade da matéria-prima, com o processamento, o grau de pureza do óleo e, principalmente, com as condições de conservação, pois a decomposição dos triglicerídeos é acelerada por aquecimento e pela exposição à luz.

Tabela. 01 Resultado das análises físico-químicas do óleo de castanha



Conclusões

Considerando que o processo de obtenção de óleo de castanha do Brasil ocorre no interior do estado do Amazonas de forma artesanal, cujas práticas de coletas/armazenamento dos frutos e processo de extração/ armazenamento do óleo não são orientadas por especialistas, as características físico-químicas observadas mesmos divergindo do órgão regulador indicam que fatores externos podem vir a influenciar na qualidade da matéria prima não sendo indicada para o consumo humano mas tendo uma grande aplicabilidade na área cosmética.

Agradecimentos

Ao Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Amazonas pela concessão dos recursos necessários e a Fundação de Pesquisa do Estado do Acre pelo apoio prestado.

Referências

AMERICAN OIL CHEMISTS SOCIETY. AOCS. Official methods and recommended practices. Champaign, 1992.

ASSOCIATION OFFICIALANALITICAL CHEMITS. AOAC. Official methods of analysis. 17 ed. Arlington, 2010.

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ENRÍQUEZ, G. A. Trajetória Tecnológica dos Produtos Naturais e Biotecnológicos Derivados na Amazônia. Belém: UFPA. 2001.

FERREIRA, E. S.; LUCIEN, V. G.; AMARAL, A. S.; SILVEIRA, C. S. CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DO FRUTO E DO ÓLEO EXTRAÍDO DE TUCUMÃ (ASTROCARYUM VULGARE MART). v.19, n.4, p. 427-433, out/dez 2008.

LORENZI, H. Árvores Brasileiras: Manual de Identificação e cultivos de plantas arbóreas do Brasil. 2ª Ed. São Paulo: Nova Odessa. 2002.

MELO, M. A. M. F. Avaliação das Propriedades de Óleos Vegetais visando a Produção de Biodisel. Dissertação de Mestrado, João Pessoa, 2010, 118p.

MORETTO, E.; FETT, R. Tecnologia de óleos e gorduras vegetais. Rio de Janeiro, Varela, 1989. 150p.

PEREIRA, F. D.; CÔRREA, H. S.; NASCIMENTO, S. F.; ARAÚJO, R. L.; MELLO, A. H.; A importância da atividade extrativista não madeireira no projeto de assentamento Praialta e Piranheira – Nova Ipixuna – PA. Curitiba, Paraná. VI Congresso de Agroecologia, Nov de 2009.

PESCE, C. Plantas oleaginosas da Amazônia. Pará: MPEG, 1941. 333 p.

SUPERINTENDÊNCIA DA ZONA FRANCA DE MANAUS, SUFRAMA. Plantas para uso comercial e cosmético. Jul. 2003.

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