PROSPECÇÃO FITOQUÍMICA DA VELLOZIA FLAVICANS (CANELA-DE-EMA) A PARTIR DA CASCA

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Produtos Naturais

Autores

Silva, M.H.T. (UFT) ; Scapin, E. (UFT) ; Fernandes, R.M.N. (UFT) ; Lacerda, G.E. (UFT) ; Dias, T.S.S. (UFT) ; Moraes, B.R. (UFT) ; Kulman, D. (INCRA)

Resumo

Vellozia flavicans Mart. é conhecida popularmente por “Canela-de-Ema”, nativa do Cerrado Brasileiro, possui componentes químicos que a permite ser usada na medicina popular. O presente trabalho visou o estudo fitoquímico da espécie por meio da prospecção fitoquimica preliminar e CLAE, utilizando as extrações a frio-Ultrassom e quente-Soxhlet. A espécie da família Velloziaceae apontou a presença de metabolitos secundários, como os Flavonoides e Glicosídeos Antraquinônicos e compostos fenólicos, como morina (0,22 µg/mg) e quercetina (20,47µg/mg) no extrato obtido por ultrassom, e naringina e ácido elágico em ambos os extratos, em maior concentração no extrato obtido à quente (62,556 µg/mg e 4,65 µg/mg respectivamente) relevantes para a aplicação da indústria farmacêutica.

Palavras chaves

Vellozia flavicans Mart; Canela-de-Ema; Fitoquímica

Introdução

As plantas ditas medicinais são usadas desde os primórdios para a cura de enfermidades, sendo este consumo e o conhecimento básico repassados por gerações, num processo dinâmico de aquisição e perda (AMOROZO, 2002). Esses efeitos podem ser explicados pela presença de metábolitos secundários, que são a base farmacológica dessas plantas (SIMÕES et al., 2007). A chamada terapia moderna, que tem o uso de medicamentos com bases naturais e seus derivados, encontra-se em ascensão, como exemplo, em países industrializados, aproximadamente 25% da composição na produção de medicamentos é composta por extratos vegetais (YUNES, 2001; SIMÕES, 2001). A Vellozia flavicans Mart. é conhecida popularmente por “Canela-de-Ema”, faz parte da familia Velloziaceae, é uma planta nativa do Cerrado Brasileiro e possui 270 espécies (MELLO-SILVA et al. 2005). Possui componentes fitoquimicos já caracterizados em outros estados brasileiros, tais como: triterpenos pentacíclicos, flavonóides e diterpeno (BRANCO, 2004). É bastante indicada na medicina popular como agente anti-inflamatório e anti- reumático (SOUZA, 2006). Nesse contexto, o presente trabalho visou à realização de uma prospecção fitoquímica preliminar a fim de identificar os principais metabólitos secundários presentes na espécie Vellozia flavicans, a partir casca com o intuito de contribuir para o conhecimento fitoquímico da espécie.

Material e métodos

A Vellozia flavicans foi coleta nas proximidades das Cachoeiras de Taquaruçu, Distrito de Palmas – Tocantins, entre as coordenadas S 10°18’21” e O 48°11’25”. A espécie foi identificada e registrada no herbário da Universidade Federal do Tocantins, com número de exsicata 12.001. A casca foi seca em estufa a 50°C por 48 horas. Logo após foi feito maceração deste material usando um moinho de facas tipo Willey. A droga então foi armazenada em recipiente de vidro e mantido à temperatura ambiente, protegido da luz e umidade. A extração foi realizada de duas maneiras: a primeira a frio foi realizada por meio do Ultrassom, utilizando 5 gramas da droga para 80 ml do solvente hidroalcoólico (70%), a segunda a quente foi realizada por meio de Soxhlet, a partir de 5 g da droga em 200 ml do mesmo solvente. Ambas extrações passaram por exaustão, para aumentar a eficiência do processo em relação a extração dos compostos químicos. Os extratos hidroalcoólicos foram submetidos a testes fitoquímicos qualitativos de identificação conforme Simões et al. (2017), SBFgnosia (2009), Mouco et al. (2003), Amorim et al. (2008) e Adzu et al. (2015). Para a determinação quantitativa foi utilizada a cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) desenvolvida no Laboratório de Instrumentação Científica da Universidade Federal do Tocantins em um cromatógrafo AVP Shimadzu® LC-10 Series. A separação foi realizada pelo método de eluição com gradiente usando coluna Phenomenex Luna C18 fase reversa e pré-coluna Phenomenex C18 preenchida com material semelhante a coluna principal. A fase móvel A foi 0,1% de ácido fosfórico em água Milli-Q e a fase móvel B foi 0,1% de ácido fosfórico em água Milli- Q/acetonitrila/ metanol (54:35:11). Quociente de vazão: 1 ml/ min; Detecção UV foi feita a 280 nm.

Resultado e discussão

A prospecção fitoquímica preliminar caracterizou grupos de metabólitos secundários a partir da observação de ensaios baseados em reações químicas que resultam no aparecimento, ou não, de cor e/ou precipitado nas amostras, indicando a presença ou ausência para cada grupo analisado nos extratos. Pôde-se constatar nos extratos hidroalcoólicos da Vellozia flavicans a presença de variados metabólitos secundários. O resultado dos testes fitoquímicos está demonstrado na Tabela 1. Qualitativamente, os resultados obtidos pelas duas metodologias de extração foram eficazes, sendo identificados em ambas os mesmos compostos: flavonoides e glicosídeos antraquinônicos. A análise quali/quantitativa de compostos fenólicos obtida pela CLAE, permitiu a identificação da morina (0,221 µg/mg /tempo: 49,77) e quercetina (20,47 µg/mg /tempo: 52,82) no extrato obtido por ultrassom, e naringina e ácido elágico em ambos os extratos. Para os metabólitos naringina e ácido elágico a maior concentração foi verificada no extrato obtido à quente (62,556 µg/mg e 4,65 µg/mg respectivamente). Apesar de somente o fitoquímico quercetina ser previamente relatado na literatura na espécie Vellozia flavicans (TRIBUIANI et al., 2014), os metabólitos detectados no presente estudo apresentam estudos que podem confirmar a indicação terapêutica da planta (FANG et al., 2006; BERKBAN et al., 2015; FREITAS, 2017).

Tabela 1

Resultados quanto à presença ou ausência de grupos de metabólitos secundários nos extratos hidroalcoólicos, obtidos por dois métodos, da V. flavicans

Conclusões

Através do estudo fitoquímico realizado com a espécie Vellozia flavicans, foi constatado a presença de metabolitos secundários, como: Flavonoides e Glicosídeos Antraquinônicos. Os flavonoides e ácidos fenólicos cromatografados via CLAE foram: Quercetina, Morina, Naringina e Ácido Elágico. Dessa maneira, o presente estudo contribui com o conhecimento fitoquímico da espécie. Realça- se também a relevância da obra, visto que detectou compostos fenólicos relevantes para a área da farmacologia.

Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq – Brasil e a Universidade Federal do Tocantins.

Referências

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