SÍNTESE E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE LARVICIDA DOS ÁCIDOS CINÂMICOS p- SUBSTITUÍDOS CONTRA O AEDES AEGYPTI E AÇÃO ECOTOXICOLÓGICA FRENTE A ARTEMIA SALINA

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Química Orgânica

Autores

França, S.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS) ; Santos, L.L.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS) ; Correia, P.R.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS) ; Barros, M.E.S.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS) ; Lima, D.J.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS)

Resumo

O Aedes aegypti por transmitir arboviroses, constitui um dos grandes problemas na saúde pública. Um dos meios de reduzir a incidência dessas doenças se dá pelo controle do vetor com o uso de inseticidas. O presente trabalho, traz a síntese de uma coleção de ácidos para- cinâmicos e sua avaliação larvicida e ecotoxicológica. Os ácidos para-cinâmicos foram obtidos através de uma hidrólise alcalina com bons rendimentos, e foram caracterizados via espectroscopia de RMN 1H e13C-DEPTQ. Os ensaios larvicidas assim como o de ecotoxicidade para alguns ácidos foram promissores em ambos os ensaios.

Palavras chaves

Larvicidas Sintéticos; Atividade Biológica; Doenças Infecciosas

Introdução

As doenças infecciosas tais como a dengue, febre amarela, chikungunya e zika vírus são transmitidas por vetores tais como o Aedes aegypti (LOPES et al, 2014; MUSTAFA et al, 2015). A maior ocorrência destas doenças advém de países em desenvolvimento como o Brasil, em que o monitoramento no número de casos prováveis na região Nordeste mostrou um acréscimo equivalente a 270,9% de 2018 a 2019. Já em todo território Nacional até os seis primeiros meses de 2019 esse aumento se intensificou em casos prováveis de dengue, com cerca de 584,9%, a qual foi confirmado 11.374 casos (SVS, 2019). Além disso, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), um terço das causas de mortalidade no mundo estão relacionadas as mesmas e, estima-se que cerca de 2,5 bilhões de pessoas vivem em países de clima tropical, onde as condições do meio ambiente favorecem o desenvolvimento e a proliferação do vetor (JÚNIOR, 2015). As medidas mais utilizadas no combate as arboviroses estão relacionadas ao controle no manejo do mosquito, em que se destaca o uso de inseticidas sintéticos como o temefós e pyriproxyfen (ZARA et al, 2016; SANTOS et al, 2017). Contudo, não estão sendo efetivos pois são tóxicos em organismos não alvo e há o surgimento de populações resistentes do vetor devido ao seu uso contínuo. Assim, os derivados do ácido cinâmico se apresentam como uma boa alternativa na busca por larvicidas mais eficazes, a qual já é descrito na literatura que estes possuem diversas atividades biológicas como antioxidante, anticancer, repelente de insetos, antimicrobiana, anticolinesterase, larvicida e outros, tornando-se uma alternativa promissora como inseticidas (PEPERIDOU et al, 2017; FUJIWARA et al, 2017; FRANÇA et al, 2018).

Material e métodos

A síntese dos ácidos cinâmicos consistiu na hidrólise alcalina de ésteres cinâmicos para substituídos na presença de NaOH em THF e H2O (2:1) por 24h (Esquema 1). Os bioensaios em que as amostras foram submetidas se iniciaram com os testes preliminares, seguido da análise quantitativa (CL50) para os bioensaios larvicidas, executada, através do programa estatístico Probit (FINNEY, 1972). Ademais, os organismos vivos de ambos os ensaios foram cultivados no Instituto de Química e Biotecnologia da UFAL. Na atividade larvicida os ovos do vetor Aedes aegypti foram colocados em recipientes contendo água dormida, o qual foram submetidos a uma temperatura e umidade de 28 ± 2ºC e 80 ± 4%, no fotoperíodo de 12h. As larvas foram alimentadas com ração para gatos desde a eclosão até o quarto estágio (L1-L4). Já para o ensaio de toxicidade, foi usado os ovos da Artemia salina, a qual foram adicionados em recipientes com água salina com pH entre 8,0-8,5 e salinidade de 34 ± 2. Os testes foram realizados em triplicata, em que as amostras foram dissolvidas em solução aquosa, contendo 330 μL de DMSO. Para o ensaio larvicida foram adicionados em cada copo descartável 20 larvas (L4), tendo como controle positivo temefós (3 μg/mL) e negativo DMSO (330 μL); enquanto que para o teste de toxicidade foi utilizado recipiente de vidro em que foi adicionado 10 náuplios do II e III estágio, onde teve como carta controle o CuSO4•5H2O (0,200 mmol/L) (ABNT, 2016). No ensaio larvicida o teste preliminar foi feito em três concentrações 100, 50 e 5,0 μg/mL, já para o de toxicidade usou-se cerca de 100, 50, 5 e 0,5 μg/mL. O grau de mortalidade foi computado em 24 e 48h de acordo com a OMS (WHO, 2005).

Resultado e discussão

Onze ácidos cinâmicos para substituídos com grupos doadores ou retiradores de elétrons foram sintetizados com rendimentos excelentes com exceção do ácido p-dimetilaminocinâmico, após purificação em coluna cromatográfica (Hexano/acetato 9:1) (Tabela 1). Os compostos foram confirmados pelas técnicas de RMN ¹H e ¹³C. Para o teste larvicida foi feito uma análise preliminar a partir de três concentrações (Tabela 1) (OMS, 2005; JÚNIOR, 2015). Daqueles que foram submetidos a análise, os que se destacaram com atividade de moderada a promissora, foram expostos ao ensaio quantitativo (CL50) a partir do ensaio preliminar (Tabela 1). Embora a literatura reporte uma CL50 do temefós de 3 ppm (0,007 mmol/L) foi observado o valor de 0,01 mmol/L, que pode estar atrelado a resistência que a larva adquiriu frente ao seu uso continuo. Dos quatro ácidos cinâmicos p- substituídos (2c, 2g, 2j, 2k) que apresentaram atividade larvicida, o que melhor se destacou foi o ácido p-cloro cinâmico (2j) com CL50 de 0,139 mmol/L ao ser comparado com o temefós (Tabela 1), a qual teve o grau de validação similar ao do mesmo. Ademais, os quatro ácidos cinâmicos p-substituídos apresentaram bons intervalos de confiança de 95%. Posteriormente, foram submetidos ao ensaio preliminar de toxicidade frente a Artemia salina (Gráfico 1), em que três (2c, 2g e 2k) apresentaram baixa toxicidade ao se comparar com o controle positivo CuSO4•5H2O (0,200 mmol/L) enquanto que para o ácido p-clorocinâmico (2j) sua toxicidade foi relativamente alta podendo está relacionada a sua atividade larvicida. Entretanto, para os demais sua potencialidade larvicida pode está relacionada a sua acidez.







Conclusões

Os ácidos para-cinâmicos foram obtidos em bons rendimentos com exceção do ácido p-dimetilaminocinâmico (2i). Na análise preliminar larvicida observou-se que quatro ácidos apresentaram atividade, a qual foi confirmada pela CL50, tendo como melhor resultado o ácido p-clorocinâmico (2j). Entretanto, para o teste de ecotoxicidade frente a Artemia salina o ácido p-clorocinâmico (2j) foi o mais tóxico dentre todos. Vale ressaltar que embora seja observada uma boa atividade biológica é necessário outros testes de ecotoxicidade frente a outros organismo vivos para comprovar seu potencial larvicida.

Agradecimentos

Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Instituto de Química e Biotecnologia, LPqPNSO, CNPq, CAPES e FAPEAL.

Referências

ABNT NBR 16530- Norma Brasileira. Ecotoxicologia aquática — Toxicidade aguda — Método de ensaio com Artemia sp (Crustacea, Brachiopoda, 1. Ed. 1-16, 2016.
FINNEY, D.J. Probit Analysis. Cambridge University Press. Cambridge. p. 70-75, 1972.
FRANÇA-, S. B.; LIMA, L. C.B.; MAIA, I.R.O.; TREVISAN, M.T.S.; CONSERVA, L. M.; BARROS, M.E..S.B.; LIMA, D.J.P. Avaliação da atividade larvicida e anticolinesterase dos derivados do ácido cinâmico no combate ao Aedes aegypti. 58 Congresso Brasileiro de Química, ISBN 978-85-85905-23-1, 2018.
FUJIWARA, G, M.; ANNIES,V.; OLIVEIRA, C.F.; LARA, R.A.; GABRIEL, M.M.; BETIM, F.C.M.; NADAL, J.M.; FARAGO, P.V.; DIAS, J.F.G.; MIGUEL, O.G.; MIGUEL, M.D.; MARQUES, F.A.; ZANIN, S.M.W. Evaluation of larvicidal activity and ecotoxicity of linalool, methyl cinnamate and methyl cinnamate/linalool in combination against Aedes aegypti. Ecotoxicology and Environmental Safety, v. 139, 238-244, 2017.
JÚNIOR, J. C. F. Estudo químico monitorado pelas atividades larvicida antibacteriana e anti-inflamatória de duas espécies de Bignoniaceae (Tabebuia elliptica (A. DC) Sandwith e T. róseo-alba Ridi.). 2015. 145f. Tese (Doutorado em Ciências). Universidade Federal de Alagoas, Instituto de Química e Biotecnologia, 2015.
LOPES, N.; NOZAWA, C.; LINHARES, R. E. C. Características gerais e epidemiologia dos arbovírus emergentes no Brasil. Revista Pan-Amaz Saúde, n°3, 55-64, 2014.
MUSTAFA, L. C. M.S.; RASOTGI, C.V.; JAIN, C.S.; GUPTA, L.C.V. Discovery of fifth serotype of dengue vírus (DENV – 5): a new public health dilema in dengue control. ScienceDirect, v. 71, 67-70, 2015.
PEPERIDOU, A.; PONTIKI, E.; LITINA, D.H.; VOULGARI, E.; AVGOUSTAKIS, K. Multifunctional Cinnamic Acid Derivatives. Molecules, n° 1247, 1-17, 2017.
SANTOS, V. S. V.; CAIXETA, E.S.; JÚNIOR, E.O.C.; PEREIRA, B.B. Ecotoxicological effects of larvicide used in the control of Aedes aegypti on nontarget organisms: Redefining the use of pyriproxyfen. Journal of Toxicology and Environmental Health, Part A, n° 0, 1-6, 2017.
SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE –SVS. Monitoramento dos casos de arboviroses urbanas transmitidas pelo Aedes (dengue, chikungunya e Zika) até a Semana Epidemiológica 25 de 2019. Ministério da Saúde, 25, 2019.
WORD HEALTH ORGANIZATION-WHO. Guidelines for laboratory and field testing of mosquito larvicides, 1-13, 2005.
ZARA, A. L. S.A. et al – Estratégias de controle do Aedes aegypti: uma revisão. Epidemiol. Serv. Saude, v.25, n° 2, p. 391-404, 2016.

Patrocinadores

Capes Capes CFQ CRQ-PB FAPESQPB LF Editorial

Apoio

UFPB UFPB

Realização

ABQ