Comparação entre viscosidades de massas de pão com e sem glúten

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Alimentos

Autores

Silveira, D.E.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS) ; Yamamoto, E.H. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS) ; Fernandes, B.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS) ; Souza, K.L.G. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS) ; Silva, S.M.L.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS) ; Silva, L.C.P. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS) ; Costa, O.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS)

Resumo

A importância do estudo do comportamento reológico é de grande valor no entendimento, manuseio e desenvolvimento de produtos alimentícios. Neste âmbito, foi comparado a influência de diferentes formulações sobre a viscosidade de massas de pão com e sem glutén, a partir dos dados de Reis (2015) e Banu et al. (2011). A viscosidade de todas as formulações diminuiu com o aumento da taxa de corte, sendo que as formulações com glúten obtiveram os menores valores. As incorporações de amido 5% e inóculo (Lactococcus lactis), podem ser um fator de redução da viscosidade da massa de pão.

Palavras chaves

taxa de corte; levedura; centeio

Introdução

O pão é definido como um produto obtido da farinha de trigo e/ou outras farinhas, adicionado de líquido, resultante do processo de fermentação ou não e cocção, podendo conter outros ingredientes, desde que não descaracterizem o produto. Pode apresentar cobertura, recheio, formato e textura diversos (BRASIL, 2005). Esse produto é classificado de acordo com os ingredientes e/ou processo de fabricação e/ou formato: pão ázimo, pão francês, pão de forma, pão integral, panetone, “grissini”, torrada, farinha de pão ou de rosca (BRASIL, 2000). Quanto à composição, os componentes essenciais para a obtenção do pão são farinha de trigo, água, sal e fermento biológico. Outros componentes também podem ser adicionados tanto para mudar suas características tecnológicas, como melhorar o volume, ou a maciez, ou a incorporação de ar e a durabilidade, como para conferir ao pão alguma outra característica desejada. Alguns desses componentes podem ser: gorduras vegetais, açúcares, emulsificantes, agentes oxidantes e enzimas (PEREIRA et al., 2013; EL-DASH, CABRAL, GERMANI, 1994). A farinha de trigo é o componente estrutural da massa, é a farinha mais usada na elaboração de pães, já que contém todos os ingredientes essenciais para a obtenção de uma boa massa. O glúten é um complexo de proteínas (gliadinas e gluteninas) potencialmente desenvolvido pela farinha de trigo, que atua na estrutura do pão, permitindo a adequada expansão e crescimento da massa, já que retém o CO2 produzido durante a fermentação (CANELA-RALWS, 2003). As gliadinas, proteínas de cadeia simples, são responsáveis pela consistência e viscosidade da massa, enquanto a glutenina, que apresenta cadeias ramificadas, por ser elástica confere a característica de extensibilidade. Desse modo, o glúten confere características tecnológicas de grande importância na fabricação de produtos de panificação, porém a sua ausência estabelece pontos positivos aos portadores da doença celíaca, que são intolerantes à ingestão de glúten (EWERLING, 2016; NUNES et al., 2006). De forma consequente, a ausência de glúten produz problemas tecnológicos e sensoriais na produção de produtos de panificação. Algumas opções como farinha e creme de arroz, amido e farinha de milho, fubá, farinha de mandioca, polvilhos doce ou azedo e fécula de batata são utilizados como alternativa na elaboração de produtos de panificação sem glúten (SCIARINI et al., 2012; CÉSAR et al., 2006). A substituição do glúten da farinha de trigo por outro ingrediente é desafiante, pois este representa a rede de proteína responsável por reter o gás carbônico, produzido no processo de fermentação e, consequentemente, pela expansão da massa. Por isso, aditivos como hidrocolóides, emulsificantes, produtos lácteos, proteínas, amido gelatinizado e enzimas têm sido utilizados buscando melhorar as qualidades reológicas da massa, o volume final, as características estruturais e de textura, bem como a vida- de-prateleira de pães sem glúten (CÉSAR et al., 2006; GALLAGHER, GORMLEY e ARENDT, 2004). Este trabalho visou comparar as viscosidades de diferentes formulações de massas de pão com e sem glúten a partir dos dados das publicações de Banu, Vasilean, Aprodu (2011) e Reis (2015).

Material e métodos

Os dados de viscosidades aparentes das massas de pão em função da taxa de corte (taxas de deformação ou cisalhamento) foram obtidos dos seguintes artigos: 1) Quality evaluation of the sourdough rye breads (BANU, VASILEAN, APRODU, 2011), formulações contendo glúten; e 2) Desenvolvimento de um mix para pão sem glúten: efeito do amido de arroz nativo e modificado nas propriedades reológicas e de textura (REIS, 2015), composição sem glúten. O Quadro 1 apresenta as formulações das massas de pão estudadas.

Resultado e discussão

A Figura 1 ilustra a comparação entre as viscosidades aparentes das diferentes formulações das massas de pão com e sem glúten em função da taxa de corte, onde se observa que a viscosidade de todas as massas de pão diminuíram com o aumento da taxa de corte. Sendo que, as formulações das massas de pão sem glúten apresentaram viscosidades maiores em relação às massas com glúten. Isso indica que a mistura de aditivos, como os hidrocoloides nas formulações sem glúten podem promover um aumento considerável da viscosidade. Em ambos os casos (com e sem glúten), as massas controle apresentaram maiores viscosidades, indicando que a presença do inóculo (Lactococcus Lactis) e do amido 5% podem causar uma redução na viscosidade de suas respectivas massas, sendo essa diferença mais clara para valores de taxa de corte menores (< 40 s-1). Os valores mínimos foram obtidos para a massa com glúten contendo o inóculo, porém constata-se que esta massa é pouco alterada com o aumento da taxa de corte, sendo mantido praticamente constante. Apesar de as massas de pão serem classificadas como viscoelásticas, percebe- se também um comportamento pseudoplástico (BANU; VASILEAN; APRODU, 2011), uma vez que houve diminuição da viscosidade em função do aumento da taxa de cisalhamento aplicada. As viscosidades, apesar de apresentarem o mesmo comportamento com a taxa de corte, os perfis das curvas foram dispersos. As massas de pão (com amido 5%) e inóculo (Lactococcus Lactis) mostraram resultados satisfatórios, conforme é relatado por seus respectivos autores. Isso reforça que a qualidade da massa de pão depende de uma série de fatores, além da viscosidade.

Figura 1 - Viscosidade aparente x taxa de corte de diferentes formulaç



Quadro 1 - Composição das massas de pão utilizados nos artigos



Conclusões

Todas as massas de pão avaliadas quanto à viscosidade aparente, demonstraram um comportamento não newtoniano pseudoplástico. Houve diminuição da viscosidade das massas com o aumento da taxa de corte, independentemente de ter glúten ou não, sendo que as massas contendo glúten e inóculo apresentaram os menores valores de viscosidade em função da taxa de corte. Tanto o amido 5% quanto o inóculo incorporados à massa mostraram-se como um fator redutor da viscosidade da massa de pão.

Agradecimentos

À coordenação do curso de Química Industrial da Universidade Estadual de Goiás.

Referências

BANU, I; VASILEAN, I; APRODU, I. Quality evaluation of the sourdough rye breads. The Annals of the University Dunarea de Jos of Galati Fascicle VI – Food Technology.
BRASIL. Resolução RDC nº 90, de 18 de outubro de 2000. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para fixação de identidade e qualidade de pão. Diário Oficial da União 20 out. 2000.
BRASIL. Resolução - RDC ANVISA, nº 263, de 22 de setembro de 2005. Aprova o regulamento técnico para produtos de cereais, amidos, farinhas e farelos. Diário Oficial da União, Brasília, 23 set. 2005.
CANELLA-RAWLS, S. Pão: arte e ciência. 3. ed. São Paulo: SENAC-SP, p. 320, 2003.
CÉSAR, A. S.; GOMES, J. C.; STALIANO, C. D.; FANNI, M. L.; BORGES, M. C. Elaboração de pão sem glúten. Revista Ceres, Viçosa, v. 53, n. 306, 2006.
CONSIDINE, D. M; CONSIDINE, G. D. Foods and Food Production Encyclopedia. New York: Van Nostrand Reinhold, v.2, 1982.
EL-DASH, A.; CABRAL, L.C.; GERMANI, R. Tecnologia de farinhas mistas: uso de farinha mista de trigo e soja na produção de pães. v. 3. Brasília: EMBRAPA, p. 89, 1994.
ELETROBRÁS. Fabricação de produtos de panificação. 1 ed. Rio de Janeiro. Centrais Elétricas Brasileiras S.A.,2014.
EWERLING, M. Farinha de chia (Salvia hispânica L.) parcialmente desengordurada como fonte de ácidos graxos para pães sem glúten. p. 95, 2016. Dissertação (Mestrado em Tecnologia de Alimentos) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campo Mourão, 2016.
FARIA, S.M; RIBEIRO, K.D.F. O pão nosso de cada dia. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Instituto de Química da Universidade de Brasília (IQ/UnB) 2010. Disponível em: www.sbq.org.br/eneq/xv/resumos/R0289-1.pdf. Acesso em: 15/06/2019.
GALLAGHER, E.; GORMLEY, T.R.; ARENDT, E.K. Recent advances in the formulation of gluten-free cereal based products. Trends in Food Science & Technology, v.15, n.3, 2004.
NUNES, A. G. et al. Processos enzimáticos e biológicos na panificação. Monografia (Graduação em Engenharia Bioquímica). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.
PEREIRA, B. S. et. al. Análise físico-química e sensorial do pão de batata isento de glúten enriquecido com farinha de chia. Demetra, v. 8, n. 2, 2013.
REIS, N. L. N. Desenvolvimento de um mix para pão sem glúten: efeito do amido de arroz nativo e modificado nas propriedades reológicas e de textura. Dissertação (Mestre em Empreendedorismo e Inovação na Indústria Alimentar) - Instituto politécnico de Viana do Castelo. Argentina, 2015.
SCIARINI, L. S.; RIBOTTA, P. D.; LÉON, A.E; PÉREZ, G. T. Incorporation of several additives into gluten free breads: Effect on dough properties and bread quality. Journal of Food Engineering, v. 111, 2012.

Patrocinadores

Capes Capes CFQ CRQ-PB FAPESQPB LF Editorial

Apoio

UFPB UFPB

Realização

ABQ