CARACTERIZAÇÃO DO MEL DE ABELHA MELIPONA SUBNITIDA D. DAS CIDADES DE PENTECOSTE E AQUIRAZ DO CEARÁ

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Alimentos

Autores

Alcântara, O.A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Mendonça, L.R.O. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Furtado, M.L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Nascimento, B.N. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Filho, G.V.L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Vasconcelos, A.V. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Liberato, M.C.T.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ)

Resumo

O mel é um produto natural feito pelas abelhas, é um excelente alimento sendo também bastante utilizado para fins medicinais devido suas propriedades farmacêuticas. A abelha Melipona sudnitida D. também conhecida como Jandaíra, é uma espécie de abelha do bioma caatinga que se distribui geograficamente nos estados do Norte e Nordeste. O mel de Jandaíra é bem aceito no mercado por isso é bastante importante a análise de qualidade desse produto para proteger os consumidores de possíveis adulterações. O seguinte trabalho tem como objetivo apresentar a análise de qualidade do mel de Jandaíra. Para análise de qualidade foram realizados testes Físico-químicos. Os méis analisados mostraram-se de boa qualidade sendo compatível com os valores existentes na literatura.

Palavras chaves

Mel de Jandaíra; Abelha; Melipona Subnitida D.

Introdução

A criação de abelhas vem crescendo e ganhando bastante visibilidade devido o mel ser um produto natural e de boa qualidade, apresentando um sabor característico que agrada a muitos paladares. Muitas pessoas o utilizam como medicamento, pois possui propriedades farmacêuticas que trazem benefícios para a saúde do ser humano. O Brasil é um país que tem uma flora bastante diversificada, vasta extensão territorial e variações climáticas que contribuem com o aumento dos produtos apícolas, possibilitando a produção de mel durante todo o ano, diferenciando-se dos demais países que colhem o mel apenas uma vez por ano (MARCHINI, MORETI E SILVEIRA., 2001). O mel é uma substância açucarada natural, produzida pelas abelhas. É um produto resultante do néctar de flores, secreções derivadas de partes vivas de plantas ou excreções de insetos sugadores de plantas, as abelhas colhem esses compostos e combinam com suas próprias substâncias, fazendo o armazenamento nos favos de colmeia, para ocorrer o processo de maturação (BRASIL, 2000; 2017). O mel de Jandaíra (abelha sem ferrão) é encontrado no sertão brasileiro, sendo bastante comum no estado do Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia (LIBERATO E MORAIS, 2016). A abelha sem ferrão, possui diferentes características se comparado a abelha do gênero Apis, como por exemplo o ferrão atrofiado (VIT, 2013). O mel de Jandaíra é bem aceito no mercado devido ao seu gosto suave e pouca viscosidade. Essa baixa viscosidade ocorre devido à baixa concentração de sais minerais, fazendo com que o mel apresente uma maior umidade (LIBERATO E MORAIS, 2016). A qualidade do mel depende das suas propriedades sensoriais, físicas e química, essas propriedades dependem do néctar, pólen da fonte floral, da cor, aroma, umidade e do conteúdo em proteínas e açucares. (AZEREDO et al., 2003). Um mel pode apresentar diferentes propriedades, isso vai depender da sua origem floral, clima, território, abelha, entre outros fatores. Por ser apreciado devido as suas características nutricionais e sabor agradável, seu valor aumentou consideravelmente e em consequência disso há o surgimento de adulterações (ARAÚJO, SILVA E SOUSA, 2006). Por isso é importante a verificação de qualidade do mel antes dele ser comercializado para evitar o consumo de méis adulterados e de má qualidade. As análises físico-químicas do mel é de grande importância para a fiscalização e controle de qualidade. Os resultados são comparados aos padrões oficiais internacionais e com os estabelecidos pelo próprio país, para poder fornecer ao consumidor um produto de boa qualidade, evitando que consuma um mel adulterado ou de baixa qualidade (MARCHINI, 2004). Por ser um produto de fácil acesso, pode ser encontrado em supermercados e farmácias. Pode-se encontrar várias empresas que trabalham na distribuição desse produto, assim como também meliponicultores que possuem seu próprio meliponário. É bastante importante a sua análise para evitar o consumo de mel de má qualidade que tenha passado por processos de má armazenagem ou até mesmo sofrido adulteração. Para méis de melípona ainda não se tem uma legislação que indique quais padrões que o mel de abelha sem ferrão deva seguir, por isso é imprescindível que aja um levantamento de dados para que futuramente seja possível estabelecer uma norma que indique os padrões necessários para obtermos um mel de melípona de qualidade. O presente trabalho teve como objetivo fazer a análise físico-química de dois méis de abelha Melipona Subnitida D. da cidade de Pentecoste e Aquiraz do estado do Ceará, para verificação de sua qualidade.

Material e métodos

As amostras de mel foram obtidas das cidades de Pentecoste e Aquiraz do estado do Ceará, sendo de origem heterofloral. Os méis foram coletados armazenados e encaminhados para o Laboratório de Bioquímica e Biotecnologia- LABIOTEC da Universidade Estadual do Ceará onde também foram realizadas as análises. Para verificação do pH foi pesado 10g de mel em um béquer de 100ml e diluído com 50ml de água destilada, utilizado um pHmetro para a medição, baseado na metodologia do Instituto Adolfo Lutz (2008). A análise foi feita em triplicata. Para a determinação da cor do mel, foi utilizado o método de Bianchi (1981) que consiste na medida de absorbância a 635nm de uma solução 50% (m/v) de mel em água. Foi pesado 10ml de mel para 10ml de água destilada 1:1, após a diluição a solução foi deixada 10 minutos em repouso antes da leitura no espectrofotômetro, a cor foi verificada na tabela da escala Pfund. O °brix é uma escala numérica criada por Adolf F. Brix pelo qual se obtém a determinação quantitativa da presença de sólidos solúveis e possíveis carboidratos presentes em uma amostra de mel, uma pequena quantidade “in natura” foi colocada no refratômetro para leitura. Um grau Brix (1°Bx) é igual a 1g de açúcar por 100g de solução. A análise foi realizada em triplicata. O teste de umidade foi baseado na metodologia do Instituto Adolfo Lutz (2008). Foi transferido para o refratômetro 1 gota de mel. Verificar a temperatura do ambiente para fazer a correção de acordo com o rodapé da tabela. A análise foi feita em triplicata. A reação de Lund foi realizada seguindo o método do Instituto Adolfo Lutz (2008). Pesou-se 2g da amostra de mel em um béquer e diluir com 20ml de água. Transferir para a proveta e adicionar 5ml de Ac. Tânico 0,5%, completando o volume com água até 40ml. Agitar a mistura e deixar em repouso por 24 horas. A análise foi realizada em triplicata. A reação de Fiehe foi realizado através do método de Lutz (2008). Pesou-se 5g da amostra de mel em um béquer de 50ml e acrescentou 5ml de éter etílico, agitou vigorosamente com bastão de vidro. Transferir a camada etérea para o tubo de ensaio e adicionar 5 gotas de solução clorídrica de resorcina e deixar em repouso por 10 minutos. Na presença de mel adulterado ou superaquecido, a solução ficara vermelho intenso. Reação de Lugol A reação de Lugol foi baseada no método de Lutz (2008). Pesou-se 10g de amostra em um béquer de 100ml e adicionou 20ml de água destilada, logo após foi colocado em banho maria durante 1 hora a 60°C e resfriado em temperatura ambiente. Após resfriar adicionou-se 5 gotas de Lugol. Na presença da glicose comercial ou xaropes de açúcar a solução ficará marrom avermelhada a azul.

Resultado e discussão

Na tabela 01, podemos ver os resultados obtidos das análises das amostras de mel de abelha de Melipona subnitida D. Segundo Evangelista-Rodrigues et al. (2006), o pH do mel é normalmente ácido variando entre 3,5 e 5,5 podendo sofrer influência pelo pH do néctar, solo, associações de vegetais para composição do mel, substâncias das abelhas juntamente com o néctar, quando transportado até a colmeia. O pH do mel da região de Pentecoste mostrou-se um pouco mais ácido em comparação ao de Aquiraz. A umidade dos alimentos está associada com a sua estabilidade, qualidade e composição, podendo afetar o produto na estocagem, embalagem, processamento, sendo o principal fator nos processos microbiológicos como no desenvolvimento de fungos, leveduras, bactérias e no desenvolvimento de insetos (PARK E ANTONIO, 2006). Souza et al. (2004), encontraram nos méis de abelha sem-ferrão uma média de umidade de 28,6±4,6%, sendo o maior percentual encontrado na abelha Melipona compressis de 34,6±0,5% e a menor concentração de umidade foi obtido da espécie Melipona rufiventis com 23,9±0,6%. Suntiparapop et al. (2012) encontrou o valor de umidade para abelha sem ferrão na Tailândia na concentração média de 26,98±0,23%. Os méis analisados mostraram percentual de umidade de 25%, estando de acordo com outros méis de melípona vistos na literatura. O grau Brix (°Brix) é um parâmetro que nos dá a quantidade em gramas, de sólidos que estão dissolvidos em água de um alimento. Segundo Chitarra (2005), sólidos solúveis são substâncias que são dissolvidas em determinado solvente. Sendo formados principalmente por açucares, sendo modificados dependendo do clima e planta. São chamados de °Brix e tem predisposição a aumentar de acordo com a maturação. Sousa et al., (2016) encontraram uma variedade no °Brix de méis de abelhas sem ferrão de 71,1 a 74,4, não se observou diferença significativa devido as floras. Campos et al. (2010) Encontraram no mel de abelha sem ferrão na Paraíba um °Brix de 72. O teor de sólidos solúveis dos méis analisados foi de 71±0,5 e 71,5±0,09. No teste de cor o mel de Pentecoste apresentou uma cor Âmbar claro, já o de Aquiraz mostrou uma cor extra branco. A cor clara é uma característica dos méis de abelha sem ferrão podendo as vezes apresentar coloração âmbar (LIBERATO E MORAIS, 2016). O teste de Lugol nos permite verificar se o mel sofreu adição de amido e dextrinas. Podendo variar do vermelho violeta ao azul, se a coloração ficar azul o resultado será positivo para fraude. Os méis analisados após a adição do Lugol, não apresentaram mudança de cor significativa obtendo assim um resultado negativo para fraude. A reação de Lund nos permite identificar e precipitar substâncias albuminoides, ou seja, derivados proteicos, naturalmente presentes no mel. O precipitado varia de 0,6 e 3,0 mL para méis de abelha da espécie Apis (ABADIO FINCO, MOURA E SILVA, 2010). Para o mel de Pentecoste foi observado a presença de 0,6±0,15 ml de precipitado, estando de acordo com o que é descrito pela legislação para méis de abelha da espécie apis. Porem para o mel da região de Aquiraz o mel apresentou uma média de 0,5±0,1 ml, não podendo ser considerado puro (se fosse mel de Apis). Assim a metodologia pode ser inadequada para a verificação do mel de Melipona. A reação de Fiehe é uma determinação qualitativa para identificar se o mel apresenta Hidroximetilfurfural (HMF), a determinação é importante para verificar se o mel foi adulterado ou armazenado de forma inadequada. De acordo com Silva et al. (2009), méis velhos apresentam elevados teores de HMF e méis novos apresentam baixas quantidades. Foi observado uma coloração vermelha no mel da região de Pentecoste, já no mel de Aquiraz apresentou uma coloração laranja, indicando a presença de HMF nas duas amostras. Segundo White Júnior (1992), méis de países subtropicais podem ter naturalmente apresentar HMF sem que o mel tenha sofrido algum tipo de adulteração ou sofrido superaquecimento, devido as altas temperaturas.

Tabela 01

Resultados das Análises nas amostras de mel de Melipona subnitida D.

Conclusões

As análises do mel são de suma importância para verificação de qualidade do produto para examinar se houve alguma adulteração ou superaquecimento. O mel de Jandaíra possui diferentes características na sua composição em relação ao da abelha do gênero Apis, sendo assim seus padrões não seguem o mesmo descrito para estes méis. É importante fazer a análise do mel para que o consumidor venha a ter um produto de boa qualidade, visto que quem compra este produto espera consumir um produto natural livre de possíveis adulterações. O produto também pode ser visto como uma boa fonte de renda para famílias do Nordeste, oferecendo uma renda alternativa a essas famílias. Os resultados obtidos dos testes de pH, °Brix, Cor, Umidade e Lugol estão de acordo com a literatura. Na reação de Lund o mel da região de Aquiraz mostrou um precipitado abaixo do estabelecido pela legislação para méis de abelha Apis, visto a necessidade da criação de novos parâmetros direcionados para os méis de abelha de melípona. A reação de Fiehe apresentou positivo para as duas amostras, porem alguns trabalhos apontam que em países subtropicais, os méis podem apresentar HMF devido ao clima quente. Como a maioria dos resultados Físico-químicos dos méis de Melipona Subnitida D. se encontraram dentro do padrão, os méis analisados estão aptos para o consumo.

Agradecimentos

A Universidade Estadual do Ceará e ao Laboratório de Bioquímica e Biotecnologia- LABIOTEC.

Referências

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