Análise quali-quantitativa do teor mineral de extrato aquoso de espécie vegetal Lippia alba por Espectroscopia de Absorção Atômica por Chama (EAAC)

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Química Inorgânica

Autores

da Costa Souza, K. (UEAP) ; dos Santos Santos, A. (UEAP) ; Dias da Silva, D. (UEAP) ; Nascimento de Matos Chermont, J. (UEAP) ; Araújo da Silva, G. (UEAP) ; Messias Bezerra, R. (UNIFAP) ; da Silva Ramos, R. (UEAP)

Resumo

O uso de plantas medicinais para preparo de chás e infusões tem sido uma prática utilizada por inúmeras populações ao longo da história, mais recentemente, tem se realizado inúmeros estudos de mapeamento, que visam catalogar a constituição químico-mineral dessas plantas. O presente estudo investigou a presença de macro e micronutrientes, na espécie vegetal Lippia alba. As amostras analisadas foram calcinadas e em seguida tratadas com ácido nítrico. Para identificação dos elementos foi usada a técnica de Espectroscopia de Absorção Atômica por Chama. O elemento presente em maior quantidade foi o cálcio (28,58 ± 2,70 mg.L-1), já os demais apresentaram teores baixos, com exceção do elemento cobre, que apresentou alto teor (0,983 ± 1,01mg.L-1) o que não era esperado para as amostra analisadas.

Palavras chaves

Mineral; Lippia Alba; Espectroscopia

Introdução

O estudo sobre plantas medicinais surgiu juntamente com a humanidade tentando suprir suas necessidades através do empirismo, haja vista que o homem primitivo dependia absolutamente da natureza para sobreviver e utilizava destas plantas para curar-se. Hoje uma das mais eficientes formas de descoberta de drogas é a etnofarmacologia, onde o seu objetivo é a coleta de informações sobre determinada planta e sua funcionalidade, que, em geral é usada por muito tempo por uma população na cura de uma ou mais enfermidades, dessa forma é realizado inúmeros estudos a fim de compreender as relações farmacológicas da planta relatada. Na medicina popular o uso da Lippia é universal, em sua maioria, são utilizadas as suas folhas ou partes aéreas e flores, preparadas na forma de infusão para a extração dos seus princípios medicamentosos e ingeridas por via oral, sendo indicadas para o tratamento de doenças do sistema respiratório, digestivo e tratamento de infecções em geral (PASCUAL et al., 2001). Segundo Sousa et al. (2008), no Brasil o uso destas plantas foi disseminado pelos indígenas. Por mais que o Brasil tenha um alto potencial em sua flora e suas inúmeras utilizações de suas plantas medicinais pela população, existe uma insuficiência quando se trata de assuntos científicos, no entanto, faz-se necessário a estimulação deste tipo de estudo haja vista a sua importância para a coletividade (FERREIRA, 1998). A Lippia alba conhecida popularmente pelo nome de erva-cidreira brasileira, é bastante utilizada como chá para prevenir espasmos no estômago, intestino, útero e bexiga, além disso, tem funções sedativas, conforme levantamentos etnobotânicos (MING, 1992). Outras afirmam ainda que esta planta é utilizada como sedativo sobre o sistema nervoso central, age contra a insônia, dor de cabeça, dor de dente, reumatismo, distúrbios gastrointestinais, etc. (SIMÕES et al., 1986). Está planta é geralmente utilizada para a fabricação de medicamentos fitoterápicos, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), são quando as plantas medicinais são industrializadas em forma de medicamento com especificações sobre o seu uso e riscos. O gênero Lippia é de grande importância para a flora neotropical, por conta da sua representatividade e utilização econômica, tanto como alimento, medicamento ou ainda pelos diferentes usos dos seus óleos, sendo muitas as espécies medicinais contidos nele (SALIMENA, 2002). Segundo dados Index Kewensis, o Brasil possui 111 espécies de Lippia (SALIMENA, 2000). A Lippia alba, é a espécie de Lippia mais estudada, sendo assim possui uma grande concentração de relatos sobre a sua composição química, nestes estudos foram encontradas aproximadamente sete quimiotipos com grande variação em sua composição e concentração de óleos essenciais. A investigação fitoquímica de suas folhas e raízes revelou a presença de iridoides, fenilpropanoides, flavonoides e saponinas (FARIAS et al., 2010; HENNEBELLE et al., 2008) As atividades farmacológicas descritas para a espécie Lippia alba são antimicrobiana in vitro contra S. aureus, Bacillus subtilis, Micrococcus luteus e C. Albicans (AGUIAR et al., 2008). Neurossedativa in vitro no ensaio de ligação dos receptores benzodiazepínico e GABAA (HENNEBELLE et al., 2008). Citotóxica contra Artemia franciscana (OLIVERO-VERBEL et al., 2009). Antiparasitária in vitro contra Trypanosoma cruzi e Leishmania chagasi (ESCOBAR et al., 2010). Entre estas existem várias outras atividades farmacológicas que a Lippia alba desempenha. Para que os princípios ativos de uma planta sejam aproveitados de forma eficaz é necessário um preparo correto da amostra, sendo assim, cada parte a ser utilizada ou grupo de princípio ativo a ser extraído ou doença a ser tratada, ou seja, para cada tipo de finalidade existe um preparo e uso adequado (ARNOUS et al., 2005). No entanto, deve-se ter cautela ao manusear determinadas plantas, pois algumas destas possuem não somente um princípio ativo perigoso, mas também substâncias de um potencial de periculosidade alta. O objetivo do presente estudo foi determinar quantitativamente o teor mineral da espécie vegetal Lippia alba por espectroscopia de absorção atômica por chama.

Material e métodos

A amostra da espécie botânica foi coletada na zona sul da cidade de Macapá-AP. Após a coleta, as mesmas, foram transportadas para o Laboratório de Bioquímica e Química Orgânica, onde foram identificadas e feita a identificação da espécie. De acordo com revisões bibliográficas do acervo da Embrapa, a espécie botânica coletada foi Lippia alba, popularmente conhecida como erva-cidreira. É uma erva de menos de 1 m de altura, muito ramificada, formando aglomerações densas. Identifica-se facilmente por seu aroma adocicado intenso. Reproduz-se por sementes ou dividindo touceiras maduras. Em seguida, foram picotadas para a submissão de análises e pesagem. Posteriormente, utilizando-se de uma balança analítica, foram pesadas aproximadamente 3,0 g da espécie botânica. Após a medição da massa das amostras, as mesmas foram encaminhadas para a estufa, onde permaneceram por 21 horas e 26 minutos em temperatura de 65 ºC. Posteriormente, foram retiradas da estufa e colocadas no dessecador, permanecendo nele por 1 hora e 12 minutos. Ao serem retiradas do dessecador as amostras pós-secagem foram pesadas e calculado o teor de umidade. De acordo com o método descrito na Farmacopéia Brasileira (2006), o teor de umidade relativa baseia-se na perda por dessecação em estufa e visa determinar a quantidade de substâncias voláteis de qualquer natureza eliminadas. Os cálculos do teor de umidade foram realizados como descrito por IAL (2008). Após o devido armazenamento, as amostras foram identificadas e transferidas para 3 cadinhos pequenos. Em seguida foram levadas a mufla, sobre a temperatura de aproximadamente 505 ºC, durante 24 horas. Após a retirada das amostras, as mesmas foram resfriadas em dessecador com sílica e após, pesadas junto ao cadinho. O preparo da solução para análise, se deu com a digestão das amostras de cinzas com a adição de 6 gotas de ácido nítrico concentrado. Posteriormente foi adicionado água destilada, feita a homogeneização e transferido para o sistema de filtração com funil acoplado diretamente ao balão volumétrico de 50 mL. Em seguida, foi adicionada água destilada, e aferido até o menisco da vidraria. Para quantificação de macro e micro elementos as amostras foram colocadas no disco de giro do espectrômetro de absorção atômica. No aparelho, foram acopladas as lâmpadas de cálcio, potássio e sódio, ferro, zinco e cobre. Posteriormente procedeu-se com a análise e ao fim, as soluções foram descartadas em frasco para resíduos especiais.

Resultado e discussão

O teor de umidade da amostra vegetal analisada apresentou em média 8% de umidade, estando dentro do valor máximo de 14% estabelecido pela Farmacopéia Brasileira (2006), isso mostra que a amostra vegetal em questão possui uma boa estabilidade quanto submetida a processos de armazenamento, por exemplo. A varredura do espectrômetro de absorção atômica permitiu a partir do sistema de lâmpadas configurado, identificar a concentração de seis elementos minerais na amostra aquosa das cinzas (figura 1). De acordo com a figura 1, verifica-se que os macronutrientes em maior quantidade encontrados foi o cálcio (Ca), sódio (Na) e potássio (K), sob concentrações em média de 28,58 ± 2,70mg.L-1, 0,85 ± 0,23mg.L-1 e 8,60 ± 0,09mg.L-1, respectivamente. O elemento cálcio é absorvido na sua forma bivalente, atuando no desenvolvimento das raízes e funções de armazenamento de carboidratos e proteínas. Porém é na formação e integridade das membranas da parede celular que esse micronutriente apresenta grande importância. De acordo com os valores recomendados para ingestão diária (BRASIL, 2003), o teor de cálcio foi o que mostrou maior contribuição dentre os metais analisados, para o recomendado que é de 1000 mg por dia. O sódio é um mineral benéfico, pois, sob concentrações médias, sua presença influencia o aumento da produtividade de algumas plantas. Esse elemento é absorvido na forma iônica monovalente e possui alta mobilidade nos tecidos vegetais. O elemento sódio apresentou teor baixo em relação ao valor recomendado que é de 2400 mg por dia. O potássio mostra grande relevância por sua participação em diversas etapas do desenvolvimento vegetal. Esse elemento é absorvido como íon catiônico monovalente, desempenhando funções reguladoras e ativas nos processos fotossintéticos, enzimáticos, e internamente na síntese protéica. A qualidade vegetal depende da presença desse mineral em sua estrutura, pois cerca de 90 a 98% do potássio total do solo está na forma de minerais como ortoclásio, moscovita, biotita e leucita (MALAVOLTA, 1976). Para o elemento potássio não foi encontrado um valor de ingestão recomendada na legislação. Para a leitura da concentração de ferro (Fe), zinco (Zn) e cobre (Cu), obtiveram-se respectivamente os valores de 0,03330 ± 0,0356mg.L-1, 0,01960 ± 0,0124mg.L-1 e 0,98336 ± 1,01mg.L-1. Esses metais pesados cobre (Cu), zinco (Zn), ferro (Fe), são necessários em pequenas quantidades para que haja crescimento normal, quando presentes em níveis mais elevados produzem reações tóxicas (Jones et al. 2013). Os valores de ingestão diária para Fe, Zn e Cu, são respectivamente, 14 mg, 7 mg e 0,0009 mg. Dessa forma os teores de micronutrientes em relação a ingestão diária se mostraram aceitáveis para os elemento Fe e Zn. Já para o elemento Cu o teor se mostrou muito elevado, o que se atribui a influência de agentes externos, que por sua vez podem condicionar a planta a não desempenhar de forma satisfatória suas atividades metabólicas, influenciando na eficácia dos seus usos para fins medicinais.

figura 1

Resultados da análise por EAAC em erva-cidreira (Lippia alba)

Conclusões

O estudo da presença de macro e micronutrientes é fundamental no entendimento acerca do desenvolvimento vegetal e cultivo para uso medicinal. De acordo com os resultados obtidos, o consumo de erva-cidreira (Lippia alba) deve ser moderado, por conta dos resultados de concentração elevados para o elemento Ca assim como para o teor de Cu, o que para este último sugere-se ter sido um fato isolado, ocorrido apenas com a amostra analisada.

Agradecimentos

Aos Laboratórios de Química Orgânica, Bioquímica e Modelagem Estatística e Computacional, da Universidade do Estado do Amapá. E ao laboratório de Bioprospecção e Absorção Atômica da Universidade Federal do Amapá.

Referências

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