Método por Cromatografia Líquida (HPLC/DAD) para detecção e quantificação de ecstasy e cocaína em amostras apreendidas

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Química Analítica

Autores

Oka Duarte, L. (FFCLRP/USP) ; Ferreira, B. (FFCLRP/USP) ; Valentim Domingos, S. (ICET/UFJ) ; José Ipólito, A. (SPTC-SSP-SP) ; Firmino de Oliveira, M. (FFCLRP/USP)

Resumo

O uso e o tráfico de drogas ilícitas, incluindo o 3,4-MDMA e a cocaína, vem aumentando com o passar dos anos e tem se tornado um problema social no Brasil e no mundo. Portanto, o presente trabalho apresentou o desenvolvimento de um método por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência acoplado ao Detector por Arranjo de Diodos (HPLC/DAD), empregando-se uma coluna NST C8 (25 cm x 4,6 mm, 5 µm) para detectar 3,4-MDMA e cocaína em amostras apreendidas. A fase móvel constituiu-se de água com ácido fosfórico 0,1% (v/v), pH 3,50 ajustado com trietilamina, e acetonitrila (75:25), a um fluxo de 1,0 mL/min e temperatura de 25 ºC, com monitoramento em 195 nm. O procedimento mostrou-se seletivo e apresentou bons limites de detecção para o 3,4-MDMA (8 ng/mL) e cocaína (52 ng/mL).

Palavras chaves

Cocaína; Ecstasy; Cromatografia

Introdução

A administração de drogas ilícitas vem aumentando com o passar dos anos, cerca 5 por cento da população mundial considerada adulta fizeram a administração de algum tipo de entorpecente pelo menos uma vez no ano de 2015 (UNODC, 2017). Dentre essas drogas estão, o 3,4-MDMA, popularmente conhecido como ecstasy e a cocaína (UNODC, 2017). O 3,4-MDMA, é uma droga sintética, derivado da anfetamina onde seu consumo leva a liberação de serotonina, noroadrenalina e dopamina (RUNDRICK e WALL, 1992). A cocaína é um alcaloide derivado da planta de Erythroxylum coca, possui em sua estrutura molecular uma amina terciária e dois grupamentos ésteres, um metílico e outro benzílico (OLIVEIRA e DINIS-OLIVEIRA, 2018). A administração dessa droga, pode causar efeitos adversos em seus usuários, tais como: redução da fadiga mental, aumento da atividade motora e esquizofrenia (OLIVEIRA e DINIS-OLIVEIRA, 2018). Na literatura, as técnicas de cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) e de cromatografia gasosa (GC) são amplamente empregadas para detecção e quantificação desses entorpecentes, sendo essas em matérias apreendidas ou em matrizes biológicas (FERNANDEZ et al, 2006 ; DE OLIVEIRA et al, 2009; NELIDA et al, 2019) Para o escopo forense, essas técnicas apresentam alta sensibilidade, seletividade, robustez e relativo baixo limite de quantificação e detecção, podendo chegar em valores ordem de ng. mL-1(DE OLIVEIRA et al, 2009; NELIDA et al, 2019). O presente trabalho teve como escopo principal a detecção e o estudo de seletividade do MDMA e de cocaína, utilizando cromatografia de alta eficiência acoplado a detector de diodos em amostras apreendidas.

Material e métodos

As análises foram realizadas em sistema HPLC, da ThermoScientific Dionex, equipado com amostrador automático, compartimento para coluna e Detector por Arranjo de Diodos. A separação foi realizada em coluna C8 (NST, 250 mm x 4,6 mm, 5 µm). As amostras apreendidas de ecstasy e cocaína foram cedidas pela Polícia Técnico-Científica de Ribeirão Preto/SP, no qual foram submetidas ao processo de extração em que 1,0 mg da amostra é dissolvida em 1,0 mL de metanol, agitadas em vórtex por 30 s e então centrifugada por 5 min a 6000 rpm. Do sobrenadante, 50 µL foram diluídas em 10,0 mL da fase móvel e 20 µL injetados no cromatógrafo. A identificação dos compostos presentes nas amostras foi realizada através da comparação do tempo de retenção dos picos com o dos padrões (3,4-MDMA e cocaína como analitos e MDA, benzoielecgonina, fenacetina, quinina, lidocaína, cafeína e levamisol como adulterantes), na concentração de 10 µg/mL. As condições cromatográficas foram obtidas após a otimização dos seguintes parâmetros: a fase móvel constituída de água/solvente orgânico (acetonitrila ou metanol), na presença ou não de ácido fosfórico 85%, 0,1% (v/v), o pH (3,5 e 5,0) através da correção com trietilamina, porcentagem de solvente orgânico (20 e 25%), o fluxo (entre 0,6 e 1,0 mL/min), o comprimento de onda (195, 205, 235 e 275 nm) e a temperatura da coluna (25, 35 e 45 ºC). O volume de injeção foi de 20 µL. A seletividade foi determinada através da coeluição ou não dos adulterantes com os analitos e a linearidade por meio da curva analítica com 5 níveis de concentração (0,1, 0,5, 1,0, 5,0 e 10,0 µg/mL para 3,4-MDMA e 1,0, 2,0, 5,0, 10 e 12 µg/mL para cocaína), em quintuplicata. Os limites de detecção foram calculados conforme a RDC 166/17, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

Resultado e discussão

Ressalta-se que a literatura reporta a dificuldade em se trabalhar com analitos de caráter básico por cromatografia líquida em fase reversa (McCALLEY, 2010) devido apresentarem média a alta polaridade através dos grupos amino, que podem gerar a má resolução entre os analitos por causa de interações secundárias com silanóis residuais, e do equilíbrio de partição desfavorecendo a retenção dos mesmos pela ausência de interações hidrofóbicas (BOCIAN e BUSZEWSKI, 2012; FORNSTEDT et al, 2015) com a fase estacionária. Para contornar tais problemas, metodologias empregam tampões fosfato como fase móvel para separação de drogas de abuso. Dito isso, a condição cromatográfica otimizada resultou em uma fase móvel composta de água e acetonitrila (75:25), acidificada com ácido fosfórico 85%, 0,1% (v/v) e pH 3,50 ajustado com trietilamina, fluxo de 1,0 mL/min e temperatura de 25 ºC. Em consequência de o ecstasy apresentar polaridade (logP = 1,9) maior do que a cocaína (logP = 2,3), seu tempo de retenção (3,75 min) foi menor do que a da cocaína (7,50 min), como esperado. Devido ao baixo valor de cut-off (< 200 nm) da fase móvel, a análise foi realizada em 195 nm. Entre os adulterantes estudados, não observou-se a coeluição com as drogas de interesse, demonstrando seletividade, conforme Figura 1. O método foi linear no intervalo de concentração de entre 0,1 e 10 µg/mL para 3,4-MDMA e entre 1,0 e 12 µg/mL para cocaína, apresentando curvas analíticas com altos coeficientes de correlação linear (r > 0,999). As equações obtidas foram y = 0,022x + 0,031 para o ecstasy e y = 0,012x – 0,118 para cocaína, com limites de detecção de 8 e 52 ng/mL, respectivamente. O modelo foi empregado na análise de nove amostras apreendidas (8 de ecstasy e 1 de cocaína) para estimar a concentração dos mesmos.

Cromatograma

Cromatograma dos padrões de 1 (MDA), 2 (levamisol), 3 (cafeína), 4 (benzoielecgonina), 5 (lidocaína), 6 (quinina), 7 (fenacetina), 10 µg/mL.

Conclusões

O método por HPLC/DAD foi desenvolvido para detectar ecstasy e cocaína nas amostras apreendidas. Sob as condições otimizadas, foi capaz de avaliar a presença dos analitos e apresentar seletividade entre os principais adulterantes. Apesar do tempo de análise ser de 16 min, os compostos de interesse eluíram antes de 8 minutos, o que demonstrou sua versatilidade e possibilidade de uso em centros forenses.

Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES – Pró Forense 25/2014) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP – 23825-3/2016).

Referências

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DE OLIVEIRA, F. M, ALVEZ. Q. J, DE ANDRADE. F. J, SACZK. A. A, OKUMURA. L. L. Análise de teor de cocaína em amostras apreendidas pela polícia utilizando-se técnica de cromatografia de alta eficiência com detector UV-Vis. Aclética Química. 34, 3. 2009
FERNANDEZ. P., MORALES. L., VÁZQUEZ. C., BERMEJO. M. A., TABERNERO. J. M. HPLC-DAD determination of opioids, cocaine and their metabolites in plasma. Forensic Science International. 161. 31-35. 2006.
FORNSTEDT, T., FORSSÉN, P., WESTERLUND, D. Basic HPLC Theory and Definitions: Retention, Thermodynamics, Selectivity, Zone Spreading, Kinetics, and Resolution. In: Pino, V., Anderson, J. L., Stalcup, A. M. (ed.). Analytical Separation Science. 2015
MCCALLY, D. V. The challenges of the analytes of basic compounds by high performance liquid chromatography: Some possibles approaches for improved separations. Journal of Chromatography A. 1217. 858-880. 2010.
OLIVEIRA, N., DINIS-OLIVEIRA, R. Drugs of abuse from a different toxicological perspective: an updated review of cocaine genotoxicity. Archive of Toxicology.92. 2987-3006. 2018
RUBIO. C. N, BERMEJO-BARRERA. P., BERMEJO.M. A., MOREDA-PIÑEIRO. A. Development of a Reliable Method for Assessing Coca Alkaloids in Oral Fluid by HPLC–MS-MS. Journal of Analytical Toxicology. 43. 196-202. 2019.
RUNDRICK, G., WALL, S. The molecular mechanism of "ecstasy" [3,4-methylenedioxymethamphetamine (MDMA)]: Serotonin transporters are targets for MDMA-induced serotonin release. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America. 89. 1817 – 1821. 1992
UNODC – United Nations Office on Drugs and Crime “World Drug Report – 2018”

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