CONCENTRAÇÕES DE ALUMÍNIO E PH EM ÁGUAS DISPONÍVEIS PARA CONSUMO NA COMUNIDADE DE SEGREDINHO - PARÁ -BRASIL

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Ambiental

Autores

Williames dos Santos Silva, K. (UFRA - CAPANEMA) ; Santana Correa, J. (UFRA - CAPANEMA) ; do Nascimento Costa, J. (UFRA - CAPANEMA) ; Costa Monteiro, G. (UFRA - CAPANEMA) ; de Medeiros Lima, N. (UFRA - CAPANEMA) ; Marques Teixeira, O. (EMBRAPA) ; Consolação da Silva Gonçalves, A. (EMBRAPA) ; Magalhães de Aragão, R. (UFRA - CAPANEMA) ; do Carmo Freitas Faial, K. (INSTITUTO EVANDRO CHAGAS) ; Moreira de Sousa Junior, P. (UFRA - CAPANEMA)

Resumo

A presente pesquisa objetivou avaliar as concentrações de alumínio e pH em água disponível para consumo em três tipos de abastecimentos presente na comunidade de Segredinho, no município de Capanema – Pará. O universo amostral foi de 14 residências em que se buscou pontos referente a poços do tipo tubular, amazonas e rede pública de distribuição. Com base nos resultados foi possível identificar similaridades nas concentrações de Al e pH em todos os três tipos de abastecimento da comunidade, com destaque para as concentrações de Al presente nas amostras de água oriundas da rede de distribuição. A presença de desconformidades dos parâmetros analisados em relação a legislação torna essas fontes prejudiciais para consumo humano.

Palavras chaves

Segredinho; Aluminio; Água de consumo

Introdução

A preocupação no tratamento de água nas últimas décadas ganhou destaque no meio cientifico pelo crescente conhecimento e na busca de verificar a qualidade da água destinada ao consumo humano, devido as alterações dos padrões da sociedade que suscitam no dias de hoje, com isso a busca pela caracterização da água por substâncias químicas se tornou preocupação central, deixando de ser avaliada apenas pelos parâmetros físico-químico, biológico e microbiológico (COUTINHO et al., 2004). As águas subterrâneas, por ser um bem econômico, é considerada uma fonte imprescindível de abastecimento para consumo humano no mundo, para as populações que não têm acesso à rede pública de abastecimento ou para aqueles que, tendo acesso a uma rede de abastecimento, têm o fornecimento com frequência irregular. No Brasil, o aquífero subterrâneo abastece 6.549.363 domicílios (19% do total), e, destes, 68,78% estão localizados na zona rural, abrangendo 11,94% de toda a população nacional (IBGE, 1994). Dentre os tramites legais a Portaria nº. 2.914 de 12 de dezembro de 2011 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2011) que controla o monitoramento e potabilidade na vigilância da qualidade de água para o consumo humano. A presença e acúmulo de elementos químicos no meio ambiente estabelecem parâmetros responsáveis pela qualidade da água, estes metais encontrados de forma natural são considerados elementos traços, uma vez que são determinados de acordo com a concentração e densidade presente (DUFFUS, 2002). Já a Resolução N° 357/2005 do CONAMA dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, assim como estabelece as condições e padrões de lançamentos de efluentes, e dá outras providências (BRASIL, 2005). Neste contexto, diversos corpos hídricos são contaminados com altas concentrações de elementos traços, a qual tem como, o crescimento industrial, o despejo de defensivos agrícolas e efluentes industriais como os principais responsáveis por tal contaminação. Conforme, Singh e Steinnes (1994), os metais existentes no solo podem ser oriundos de fontes naturais e antrópicas. Já quanto a migração dos poluentes através do solo, isto pode acarretar para as águas superficiais e subterrâneas uma ameaça que põem em risco a qualidade destes recursos hídricos utilizados em abastecimento público, atividades agrícolas, comercial, lazer e serviços (CASARINI et al., 2001). Neste sentido, conforme, Alcade (2001), devido a exposição deste metal nos seres humanos, o surgimento de doenças como transtornos mentais, tipos de esclerose múltiplos e mal de Alzheimer podem estar relacionados ao alumínio. Outro fator contribuinte na contaminação de poços subterrâneos por este metal é devido a retenção de sedimentos pela capacidade de aderir partículas sólidas suspensas que formam um manto na água, sendo este elemento drenado (ESTEVES, 2002). A região Amazônica apresenta baixo índice de saneamento básico, contribuindo na problematização ligada a doenças de veiculação hídrica, principalmente em áreas rurais, onde a coleta de dejetos humanos e por meio de fossas negras usadas na destinação de esgotos domésticos e a perfuração de poços tubulares para o fornecimento de água sem nenhum tipo de tratamento. Segundo Carvalho (2013), tal cenário pode estar influenciando no aumento das concentrações de alumínio encontrada na água destinada para consumo dos moradores. Diante do disposto, a pesquisa objetivou avaliar as concentrações de alumínio e pH em água disponível para consumo em três tipos de abastecimentos presente na comunidade de Segredinho, no município de Capanema – Pará.

Material e métodos

As amostras de água foram coletadas nos domicílios no mês de março/2019, mês de maior precipitação pluviométrica. As coletas de água se deram em 14 (quartoze) residências, deste total, 10 (dez) residências tinham o abastecimento de água através da rede de distribuição da prefeitura, mediante a dois poços tubulares, que não passam por tratamento e outras 2 habitações tinham poços do tipo amazonas, ambos também sem tratamento algum. As amostras de água foram coletadas diretamente das torneiras das residências que eram ligadas a rede de distribuição e nas saídas das bombas, já as dos poços foram coletadas após deixar a água escorrer por três minutos. As amostras foram coletadas em garrafas de polietileno 500 ml, devidamente esterilizadas em imersão durante 24 horas em solução de ácido nítrico (NHO3) a 10% e posteriormente secadas em estufa. Após a coleta houve o armazenamento dos recipientes em uma caixa térmica com temperatura controlada e posteriormente transportadas para o Laboratório da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Dentro de sua grade de instrumentos analíticos estão presentes: Espectrômetro de emissão atômica por plasma por Micro-ondas-MP AES-4200, utilizado na análise da concentração de Alumínio (Al) e para análise do pH in loco foi utilizado um medidor portátil de qualidade de água multiparâmetro da marca BANTE Instruments, modelo Bante900P. Todos os procedimentos foram baseados no Manual Prático de Análise de Água da FUNASA. Os locais de coleta foram georreferenciados com auxílio de equipamento GPS MAP 76CSx da marca Garmin. Os resultados do alumínio foram tabulados utilizando o Software Microsoft Excel, versão 2010, e posteriormente foi realizada uma estatística descritiva. Figura 1: Mapa de localização da comunidade de Segredinho no município de Capanema/Pará.

Resultado e discussão

Os resultados apresentados na tabela 1, observou que a concentração média de alumínio (Al), foi de 4,50 mg/L, nas 10 (dez) residências que recebem água sem tratamento da rede de distribuição. Mostrando que água disponibilizada pelos dois poços da prefeitura à comunidade de Segredinho, encontra-se com teor acima do Valor Máximo Permitido (VMP), estabelecido pela Portaria do Ministério da Saúde n° 2.914/2011, definido em 0,2 mg/L e pela Resolução CONAMA 357/2005 que estipula um teor de 0,1 mg/L, com destaque para os pontos P4 com teor de 5,59 mg/L e o P10 com 5,66 mg/L, que excedem até 100% do VMP pelas legislações aqui citadas. Neste contexto, é válido ressaltar que o tipo de solo predominante no município de Capanema, é o Latossolo Amarelo, onde quimicamente está relacionado à crosta laterítica, derivado principalmente de gibbsita e constituído de caulinita. Isto significa que as altas concentrações de Al, seja em virtude das características geológicas dos poços que abastecem a rede de distribuição, onde por um processo de intemperismo da caulinita a gibbsita (hidróxido de Al), esteja mobilizando o Al para a forma dissolvida na água. Tornando-se algo preocupante, pois de acordo com Rosalino (2011), o alumínio tem sido associado à etiologia de diversas doenças do foro neurológico, tal como o Alzhimer. Quanto ao valor médio de pH encontrado nas amostras de águas das residências que recebem água da rede de distribuição foi 2,86, valor este muito abaixo da imposta pela Portaria 2.914/2011 de 6,0 a 9,5 e da resolução CONAMA 357/2005 que é de 6,0 a 9,0 (tabela 1). Isto mostra que grande parte da comunidade está consumindo água não potável em relação a este parâmetro, o que representa risco à saúde humana. Estes baixos valores de pH, segundo Menezes et al. (2013), podem ser atribuídos à presença de vários fatores, tais como concentrações de CO2, oxidação de matéria orgânica, entre outros. Com relação os teores de alumínio dos 2 (dois) poços tubulares (tabela 1), os resultados, quando comparados com padrões de potabilidade da Portaria n° 2.914/2011 e da resolução CONAMA 357/2005, mostram que a água destes encontram-se também em desacordo com ambas as legislações, com concentração média de 3,74 mg/L, que se mostra mais ácida em relação a água da rede de distribuição, também caracterizada como imprópria para o consumo humano. Com destaque, para os pontos, P12 com teores de 3,96 mg/L e P11 com 3,52 mg/L de Al. Isto ocorre, como citado anteriormente em função das características geológica destes poços. Quanto ao pH, a média foi de 4,04 valor este também em desacordo com as legislações de potabilidade para este parâmetro. Com destaque para o ponto P11, que apresentou um valor de pH entorno de 5,24. Segundo Santos (2003), pH abaixo de 5,5 causa um aumento nas concentrações e disponibilidade do Al na água. Os teores de Al na água dos 2 (dois) poços amazonas, apresentou média similar aos dos poços tubulares com 3,27 mg/L, que ultrapassam os teores estipulados pelas legislações de potabilidade, indicando que a água deste tipo abastecimento também se encontra imprópria para consumo. Isto se deve também as características geológicas do solo destes poços, que por ser constituído de caulinita, acaba que mobilizando enorme quantidade hidróxido de Al na água. Em relação ao pH, a média foi de 5,23, com destaque para o ponto P13 que apresentou valor similar ao P11.

Tabela 1:

Concentrações de alumínio e pH em águas disponíveis para consumo na Comunidade de Segredinho, localizada no município de Capanema-PA.

Figura 1:

Mapa de localização da comunidade de Segredinho no município de Capanema/Pará.

Conclusões

Os resultados obtidos nesta pesquisa evidenciaram que a água disponível para consumo da população da comunidade de Segredinho pelos três tipos de abastecimento (rede de distribuição, poço tubular e poço amazonas) apresentaram concentrações de alumínio e pH em desacordo com VMP, estipulado pela Portaria 2.914/2011 e a resolução CONAMA 357/2005. Neste contexto, os motivos mais prováveis para justificar esses altos teores de Al, na água subterrânea disponível para consumo à população de Segredinho, seja em virtude das características geológicas do solo, haja vista que pelo fato deste ser derivado de gibbsita constituído de caulinita, isto acaba que desencadeando um processo natural de intemperismo da caulinita que acaba disponibilizando no solo e mobilizando para as águas subterrâneas o hidróxido de alumínio, que por sua vez aumenta as concentrações de alumínio no solo e que consequentemente é disponibilizado na água. Com relação ao pH da água subterrânea disponível para consumo na comunidade de Segredinho, pelos três tipos de abastecimento supracitados, todos apresentaram níveis abaixo do estipulado pela Portaria n° 2.914/2011 e pela Resolução CONAMA 357/2005. Isto possivelmente esteja ocorrendo devido a dois principais fatores, são eles: concentrações de CO2, e oxidação da matéria orgânica. Este segundo fator é bem notório na comunidade, uma vez que pela inexistência de tratamento de esgoto e coleta de resíduos sólidos, na qual se baseia na prática do soterramento e queima, esse hábito por parte dos moradores da comunidade esteja contribuindo por acidificar a água subterrâneas dos três tipos de abastecimento estudados.

Agradecimentos

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Amazônia Oriental – Laboratório de Solos.

Referências

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