AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA, E A UTILIZAÇÃO DA RODA DE CONVERSA NA CONSTRUÇÃO E RESSIGNIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO DE QUÍMICA NO ENSINO MÉDIO.

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Ensino de Química

Autores

Santos, R.F. (UECE/FECLESC) ; Menezes, J.L.R. (UECE/FECLESC) ; Menezes, F.A.M. (UECE) ; Santos, G.L. (UECE/FECLESC) ; Moura, G.M.A. (UECE/FECLESC) ; Moreira, E.S. (UECE/FECLESC)

Resumo

No presente trabalho buscou-se identificar dificuldades no processo de ensino aprendizagem em química, de alunos do 2º ano do Ensino Médio, em escola da rede pública estadual, localizada no município de Banabuiú-CE. Utilizou-se da roda de conversa, como uma ferramenta motivacional e didática, favorecendo a contextualização de temas e interação entre professor e aluno. Verificou-se que este método, contribuiu para uma ressignificação da aprendizagem na disciplina de Química, além de favorecer no desenvolvimento de aptidões e competências nos estudantes.

Palavras chaves

Roda de conversa; Contextualiazação; Disciplina de Química

Introdução

Estudos têm demonstrado que o ensino de Química normalmente está sendo elaborado em torno de atividades que levam à fixação de informações, fórmulas e conhecimentos que restringem o aprendizado dos educandos e contribuem para a desmotivação em aprender e estudar Química. O ensino de forma descontextualizada e não interdisciplinar, cria nos alunos um enorme desinteresse pela disciplina, bem como dificuldades de aprender e de comparar o conteúdo estudado ao seu cotidiano. “No ensino de Química, em particular, percebe-se muitas vezes que o aluno não consegue associar o conteúdo estudado com o seu cotidiano, o que na maioria das vezes o faz desinteressar-se pela disciplina. Isto pode ser indício de um ensino descontextualizado, ou seja, desconexo à realidade do educando, devendo o professor mostra-se apto para atuar nos novos moldes de ensino e de aprendizagem que requer essa nova sociedade aldeada de informações e tecnologias." (SOUSA; FERREIRA, 2017, p. 478) A contextualização pode ser vista como metodologia, para o docente trabalhar os conteúdos de forma a relacionar as vivências dos discentes com os assuntos referentes ao tema estudado. Esta metodologia pode cooperar no processo de ensino-aprendizagem, já que a relação com suas vivências, pode dar um sentido aos conteúdos. Sistematizado por Freire (1991) a roda de conversa ou os círculos de cultura estão fundamentados em uma proposta pedagógica, cujo caráter radicalmente democrático e libertador propõe uma aprendizagem integral, que rompe com a fragmentação e exige uma tomada de posição perante os problemas vivenciados em determinado contexto. Para Freire, essa concepção promove a horizontalidade na relação educador-educando e a valorização das culturas locais, da oralidade, contrapondo-se em seu caráter humanístico, à visão elitista de educação. Entretanto essa proposta de aula só será possível, se o professor observar, ouvir os seus alunos e buscar os seus interesses, para a partir disso, propiciar estímulos que amplifiquem, diversifiquem e sistematizem o repertório de conhecimentos dos mesmos. Segundo Rojas, Souza e Cintra (2008): "Faz-se necessário, no contexto escolar, de um profissional que acredite na mudança, nas possibilidades, nas ambiguidades, que ouse, que invente, que faça, que se refaça no cotidiano, refazendo sua postura ante sua experiência. A educação grita desesperadamente à procura de pessoas comprometidas com seu caminhar e pessoas que se admiram desse processo, que admiram a vida, que admiram o próprio processo de educar, pessoas acima de tudo competentes, coerentes, perseverantes, que acreditam nos sujeitos, nas mudanças, enfim, na educação." (ROJAS; SOUZA; CINTRA, 2008, p. 31). A realização de roda de conversa, em acordo com as orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, é identificada como proposta de superação do ensino de Química com ênfase no modelo tradicional, a partir de ações que buscam desenvolver nos alunos o senso crítico e a cidadania, partindo de temas químicos sociais, como instrumentos, para a construção do conhecimento químico pelos alunos. Na presença de várias dificuldades no processo de ensino e aprendizagem de química, este trabalho tem como objetivo identificar as maiores dificuldades na aprendizagem da disciplina, demostrada pelos alunos do 2º ano do ensino médio, de Escola Estadual no município de Banabuiú-CE, utilizando a roda de conversa como forma de motivação e contextualização.

Material e métodos

Este trabalho surgiu como proposta da disciplina de Estágio Supervisionado realizada no Curso de Graduação em Licenciatura em Química da UECE/FECLESC, com a finalidade de relacionar a motivação no processo de ensino- aprendizagem da disciplina. O trabalho foi desenvolvido utilizando a roda de conversa, conhecida popularmente como círculo de cultura sistematizado, com 35 alunos do 2º ano do Ensino Médio de escola pública localizada no município de Banabuiú-CE. A aplicação do método consistiu em dispor os alunos sentados, com as cadeiras formando um grande círculo, depois dando a cada um, o direito de expressar a sua opinião a respeito da química. Em seguida, o mediador iniciou uma palestra motivacional, utilizando-se da contextualização para fazer um elo entre a química e o cotidiano dos discentes. Logo após, os discentes preencheram um questionário, com as seguintes questões: a) Você possui dificuldade em aprender química? Por quê?; b) Você sente-se motivado a aprender química?; c) Sobre a contextualização usada pelo educando, qual a sua opinião acerca do assunto. Porque? Todas as respostas foram registradas, traduzidas em números e analisadas por meio de análise estatística simples.

Resultado e discussão

Na primeira questão, relacionada à problemáticas de aprendizagem em química, do ponto de vista dos alunos, as respostas foram distribuídas em cinco categorias representativas para as dificuldades de aprendizagem em Química, conforme a Figura 1. Foi percebido que a categoria mais citada foi a carência de “base matemática” (32%) como a maior dificuldade na aprendizagem de Química. Sabe- se que as disciplinas de ciências exatas se correlacionam e a interdisciplinaridade é fator importante para o desenvolvimento da aprendizagem. A matemática é importante como uma ferramenta que auxiliará na compreensão da química, bem como para a solução de problemas práticos do cotidiano. No entanto, um tratamento algébrico excessivo, na disciplina de química, tende a desmotivar os alunos, principalmente aqueles que tiveram dificuldade em matemática nas séries anteriores. Torricelli (2007) explana que um ensino centrado no uso de fórmulas, cálculos e memorização excessiva contribui para o surgimento de dificuldades de aprendizagem e desmotivação dos estudantes. Em segundo lugar, na categoria 4, 26% dos entrevistados, citaram que as dificuldades com a disciplina devem-se ao seu próprio “déficit de atenção”, como foi expresso pelo aluno A: “[...] preciso ter mais atenção nas aulas, isso me ajudaria a compreender melhor a disciplina de química.” O item 2, “complexidade dos conteúdos” químicos atingiu um índice de (22%), ficando claro na expressão do aluno B: “[...] São muitos conteúdos e várias formas de equações, é necessário aulas diferenciadas para nos ajudar na aprendizagem.” Logo depois aparecem empatados com (10%), as categorias 3 e 5: “Didática dos professores” e “Distração por parte dos colegas”, respectivamente. De acordo com a resposta, representada pelas falas dos alunos C, D, verificou- se que ambos itens marcados, possuem impacto na aprendizagem da disciplina: “[...] Eu acho a professora superinteligente, mas ela não consegue fazer com que eu aprenda os conteúdos” (Aluno C). “[...] Porque eu e os meus colegas, ficamos conversando durante a aula” (Aluno D). Para Bueno et al. (2007), o ensino de Química não tem oferecido condições para que o aluno a compreenda enquanto conceitos e nem quanto à sua aplicação no dia a dia. A prática docente, em muitos casos, se reduz à transmissão de informações, sem que o professor seja capaz de desenvolver no aluno a capacidade de agir, julgar, interferir, experimentar e discutir situações cotidianas (SÁ, VICENTIN; CARVALHO, 2010). Na segunda questão, quando refutados sobre a motivação para aprender química, 94% dos alunos declararam sentirem-se motivados, e justificaram este interesse após o contato com a apresentação na roda de conversa, possivelmente pela diversidade de estratégias utilizadas. Somente 6% dos entrevistados, afirmaram não se sentirem motivados. A figura 2 é representativa dos dados obtidos para esta questão. Na terceira questão, sobre a contextualização usada pelo professor- pesquisador, 100% dos discentes responderam que acharam ótimo, e que gostariam de mais aulas como essa, pois os assuntos complexos e difíceis da química, foram explicados de maneira mais simples e sem muita complicação. Segundo Berton (2015) observa-se que um dos problemas para aprendizagem em química é que os docentes são muito técnicos ou ainda cobram que o aluno decore conceitos nesta disciplina, esquecendo-se de contextualizar e trazer o cotidiano até os discentes, além de mostrar como podem adquirir o conhecimento exigido, entendendo os conceitos sem a necessidade de decorá- los. Uma das estratégias, sugeridas pelo autor, que deve sempre ser utilizada com os alunos, logo que iniciam a Disciplina de Química Geral é trazer um texto ou exemplos da Química no cotidiano, e estimular os alunos a debater em equipe, a buscar em suas vidas a química e depois exporem suas ideias. Geralmente os discentes ficam muito empolgados ao perceberem que o conceito ou preconceito que tinham desvanece e entendem o motivo e o objetivo deste estudo, além de aprenderem a conviver melhor com os colegas.

Figura 1

Principais dificuldades na aprendizagem da disciplina de Química, na opinião dos alunos

Figura 2

Percentual de alunos motivados em aprender química após a palestra

Conclusões

Verificou-se que as maiores dificuldades na aprendizagem da disciplina de química, de acordo com a opinião dos alunos, estão relacionadas à conceitos matemáticos, falta de atenção e complexidade dos conteúdos. No entanto, percebe-se que estes estão relacionados à descontextualização de temas, visto que a contextualização, tende a motivar o aluno, fazendo com que este preste mais atenção à aula e relacione a química com o cotidiano. Isto torna os conceitos mais simples e a aprendizagem mais significativa. As dificuldades na aprendizagem da Química podem ser diminuídas a partir de ações efetivas do professor e interações com os alunos. Observou-se, que os alunos se sentem mais motivados para entender os conteúdos de Química, quando se tem uso de aulas mais dinâmicas que possibilitem uma interação entre eles e o professor. As rodas de conversa, desta forma, mostraram-se efetivas em melhorar a interação entre docente e discente, possibilitando uma discussão mais profunda sobre as nuances da química, despertando o interesse no estudo desta ciência.

Agradecimentos

Referências

BERTON, A. N. B. A didática no ensino da química. In: XII Congresso Nacional de Educação – EDUCERE, PUCPR, 2015.

BUENO L.; MOREIA K.C.; SOARES M.; DANTAS D. J., WIEZZEL A. C. S.; TEIXEIRA M. F. S. O ensino de química por meio de atividades experimentais: a realidade do ensino nas escolas. Encontro do Núcleo de Ensino de Presidente Prudente 2007, São Paulo. Disponível em:<http://www.unesp.br/prograd/ENNEP/Trabalhos%20em%20pdf%20-%20Encontro%20de%20Ensino/T4.pdf>. Acesso em: 05 out. 2018.

FREIRE, P. Educação como prática de liberdade. 20. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.

ROJAS, J.; SOUZA, R. A. M.; CINTRA, R. C. G. G. Dinâmica do trabalho e a organização do espaço na educação infantil. Cuiabá: EDUFEMAT, 2008.

SÁ, M. B. Z.; VICENTIN, E. M.; CARVALHO, E. A História e a Arte Cênica como Recursos Pedagógicos para o Ensino de Química - Uma Questão Interdisciplinar. Química Nova na Escola, v. 32, n. 1, p. 9-13, 2010.

SOUSA, A. K. FERREIRA, M. C. Percepção dos discentes sobre aula prática no ensino de química como potencializadora da teoria. Revista de Pesquisa Interdisciplinar, Cajazeiras, n. 2, p. 476-491, 2017.

TORRICELLI, E. Dificuldades de aprendizagem no Ensino de Química. (Tese de livre docência), Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Educação, 2007.

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