METODOLOGIAS ATIVAS X TRADICIONAIS: Uma análise das práticas no Ensino de Química da rede pública estadual de Bela Cruz CE

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Ensino de Química

Autores

Araujo, F.F. (INSTITUTO IMACULADA CONCEIÇÃO)

Resumo

Diante de todas as ameaças externas à sala de aula que o professor enfrenta como jogos online, redes sociais e outras, é fundamental tornar as aulas mais atrativas para que o processo de ensino aprendizagem seja efetivo. Constatado isso, surgiu a ideia de confrontar metodologias ativas com metodologias tradicionais no ensino de Química. O objetivo dessa pesquisa foi o de analisar a importância e impactos dessas metodologias frente ao cenário atual. O trabalho foi realizado com a participação de alunos de seis turmas de 3ª série do ensino médio e de três professores das três escolas públicas pesquisadas. Concluiu- se, após relatos e conversas com os professores, que metodologias ativas despertam interesse dos alunos e isso facilita o processo de ensino tornando-o efetivo.

Palavras chaves

Metodologias ativas; Ensino de Química; Aprendizagem efetiva

Introdução

O processo de ensino aprendizagem não é uma tarefa fácil. Requer do professor domínios de sala e conteúdo, além de uma atualização constante de suas práticas. Não é muito difícil encontrar, no dia a dia, situações onde o fingimento se faz presente: aluno fingindo que aprende e professor fingindo que ensina. Em especial no ensino da Química, percebe-se que os alunos não conseguem assimilar os conteúdos e isso gera um desinteresse por essa disciplina tão importante para o entendimento da vida. De acordo com Alcará (2005), o sucesso do desenvolvimento dos alunos está relacionado à motivação para aprender, buscando novos conhecimentos, com entusiasmo e preparo para novos desafios, porém, a realidade encontrada nas salas de aula é outra, os alunos não possuem bom desempenho, a culpa é sempre do professor, e por outro lado o professor acredita que o próprio aluno é o único responsável por seu fracasso. Esse pensamento reforça a necessidade de repensar o ensino. Um dos problemas que o professor enfrenta está na utilização desenfreada de redes sociais e jogos online. Como menciona Castells (2000), as redes sociais estão num processo de expansão contínuo, principalmente àquelas focadas em relacionamentos via WEB (Facebook, Myspace, Haboo, etc.) que possuem como principais usuários a “geração net”, ou seja, jovens e crianças que já nasceram e estão crescendo imersos numa sociedade cada vez mais tecnológica, aprendendo desde a infância a acessar e utilizar as tecnologias. Um desafio a mais para o professor, pois o mesmo terá que tornar “interessante” o ensino de Química em meio a tantos distratores. Há uma necessidade de tornar o ensino de Química atrativo para que o processo de aprendizagem seja mais efetivo. Segundo Silva (2011, p. 9), para que esta proposta de tornar o ensino de química mais atrativa aos alunos seja eficaz, devem-se relacionar com a Química, aspectos que focalizem a cidadania, envolvendo a participação do aprendiz, através do debate em sala de aula, visando as problematizações do cotidiano. Uma das possibilidades que envolvem a participação do aluno e que o coloca como protagonista do aprendizado está na utilização de metodologias ativas. Nesse processo as aulas são colaborativas e trazem discussões para os encontros com o professor. O aluno é visto como autônomo, responsável por sua própria aprendizagem, e o professor age como mediador. Essa autonomia é de fundamental importância e reflete necessidades atuais no processo de ensino. De acordo com Aguado (2000, p. 9) “a nossa sociedade vive mudanças extremamente rápidas e intensas que exigem inovações educativas de envergadura semelhante”. Aguado (2000) destaca ainda que para ajudar a enfrentar os elevados níveis de incerteza que as atuais mudanças sociais pressupõem, é necessário alterar o processo de construção do conhecimento e os papéis em cujo contexto ele se produz, devendo ser dado ao aluno um crescente protagonismo na sua aprendizagem. Além da autonomia, outra característica citada acima, que está presente nessas metodologias ativas, é a aprendizagem colaborativa. Um exemplo de metodologia ativa que parte desse princípio é a TBL - Team Based Learning (Aprendizagem baseada em equipe). Esse trabalho em equipe vem potencializar o processo de ensino aprendizagem e isso é comprovado quando R. Johnson, D. Johnson e Holubec (1993) definem a aprendizagem cooperativa como um método de ensino em que os alunos trabalham em conjunto com o objetivo de maximizarem a sua própria aprendizagem e a dos colegas. Esse trabalho surgiu da necessidade de contribuir com a aprendizagem mais significativa dos alunos, por meio do uso de metodologias ativas nas salas de aula. Pois diante de todas essas considerações fica clara a necessidade da aplicação de uma metodologia que promova o protagonismo estudantil para a construção do conhecimento.

Material e métodos

O trabalho foi desenvolvido na cidade de Bela Cruz, no estado do Ceará, em três escolas da rede pública de ensino: Escola de Ensino Médio Professora Marieta Santos, uma escola de ensino regular na sede do município; Escola Estadual de Educação Profissional Júlio França, escola de educação profissional de tempo integral, também na sede do município; e, Escola de Ensino Médio Professora Theolina de Muryllo Zacas, de ensino regular localizada no interior do município. Para melhor acompanhamento dos relatos, essas escolas foram denominadas, respectivamente, por Escola A, B e C. Foi possível perceber que as três escolas apresentavam uma estrutura considerável já que contavam com Laboratórios de Ciências, Laboratórios de Informática e Salas de Leitura para a realização de pesquisas e práticas que facilitam o processo de ensino aprendizagem. Em cada escola foram selecionadas duas turmas de 3ª série do Ensino Médio, totalizando seis turmas envolvidas na pesquisa: A1, A2, B1, B2, C1 e C2, além de três professores, um por cada escola, que lecionasse nas duas turmas. Esses professores foram identificados por PA, PB e PC. A ideia foi fazer uma análise da utilização das metodologias ativas com um público menor e, futuramente, esses professores poderiam repassar as informações às outras turmas e a outros colegas de profissão. Aos professores foi proposta a realização de dois encontros. O primeiro para apresentação e debate sobre as metodologias ativas no ensino como: TBL – Aprendizagem baseada em equipes; PBL – Aprendizagem Baseada em projetos; Aprendizagem Baseada em Problemas; Estudo de Casos e Sala de Aula Invertida; Método 70:20:10 (Learning Model); Gamificação; Aprendizagem Profunda (Deeper Learning), dentre outras. Após debates sobre o assunto os professores foram orientados a elaborarem um plano de aula que envolvesse uma das metodologias citadas. Ficou definido que para as turmas A1, B1 e C1 seriam ministradas aulas através de metodologias ativas, enquanto que para as turmas A2, B2 e C2, as aulas seriam por meio de aula expositiva, forma tradicional de ensino, porém, bem presente atualmente. Definimos um conteúdo em comum que foi “Funções Orgânicas” e combinamos que seria aplicada uma avaliação escrita a essas turmas para que fosse mais prático mensurar os resultados. Nessa avaliação poderiam conter questões abertas e de múltipla escolha, sem a necessidade de padronização para as escolas. O único critério foi que a avaliação aplicada para as turmas 1 e 2 fosse a mesma em cada escola. No segundo encontro, após um mês, os professores apresentaram relatos sobre suas experiências em sala, assim como o resultado das avaliações aplicadas. E diante dos relatos, resultados e conversa com os professores foi possível chegar a um resultado o qual será apresentado abaixo.

Resultado e discussão

Para iniciarmos a discussão é necessário que retomemos aos elementos para essa análise. A pesquisa foi feita em três escolas públicas estaduais no município de Bela Cruz e contou com a participação de 228 alunos, distribuídos em seis turmas, e ajuda de três professores, todos formados na área de Química. Na escola A, o professor optou por utilizar o método Aprendizagem Baseada em Projetos que tem por objetivo fazer com que os alunos criem conhecimento por meio da solução de problemas. Na escola B, a metodologia escolhida consistiu na Aprendizagem Baseada em Equipes, conhecida como TBL (Team-based learning). Uma de suas características é fazer com que o aluno dialogue e interaja com outros alunos criando um ambiente colaborativo e de boa comunicação. Na escola C, foi utilizada a metodologia da Aprendizagem baseada em problemas, essa metodologia tem como finalidade fazer com que o discente seja capaz de construir o aprendizado conceitual, procedimental e atitudinal. Independente das características particulares em cada método, pode-se perceber que o ponto em comum está na autonomia do aluno no processo. Isso fica claro quando Reeve (2009 apud Berbel, 2011, p 28), destaca que o professor contribui para promover a autonomia do aluno em sala de aula, quando: a) nutre os recursos motivacionais internos (interesses pessoais); b) oferece explicações racionais para o estudo de determinado conteúdo ou para a realização de determinada atividade; c) usa de linguagem informacional, não controladora; d) é paciente com o ritmo de aprendizagem dos alunos; e) reconhece e aceita as expressões de sentimentos negativos dos alunos. Como foi explicado em Materiais e Métodos, as turmas A1 (35 alunos), B1 (44 alunos) e C1 (36 alunos) foram submetidas à prática de metodologias ativas durante um mês e, após esse período, foram submetidas a uma avaliação escrita aplicada, também, às turmas A2 (37 alunos), B2 (42 alunos) e C2 (34 alunos). A utilização dessas metodologias ativas não é algo novo. Basta lembrarmo- nos da aprendizagem pela interação social, defendida por Vygotsky; aprendizagem pela experiência, apresentada por Dewey; dentre outras abordagens teóricas conhecidas. As metodologias ativas se mostraram bastantes eficientes nas três escolas já que colaboraram para um melhor índice nas turmas trabalhadas. Podemos perceber analisando o desempenho das turmas na avaliação escrita (gráfico 1). Para cálculo dos percentuais apresentados no gráfico foi somado todas as notas dos alunos e comparados com o total possível em cada turma. Exemplo: A turma C1 apresenta um total de 36 alunos o que possibilita uma somatória de 360 pontos caso atingisse 100% de rendimento. Como a turma apresentou 264 pontos, pôde-se calcular a proporção alcançada por meio de uma regra de três simples (264x100/360 = 73,30). Voltando ao gráfico 1, podemos perceber que a diferença entre as turmas da escola A é muito pouca. Isso fez com que eu acatasse a sugestão do professor em comparar o resultado obtido com as notas parciais do 2º bimestre. Essa mesma ideia foi levada as demais turmas e o resultado pode ser visto na tabela 1.


Gráfico Desempenho dos alunos na avaliação escrita

TABELA 1

Comparativo de notas: Rendimento das avaliações escritas da pesquisa com o rendimento do bimestre anterior

Conclusões

Diante das atribuições do dia a dia torna-se favorável utilizar a “velha” metodologia tradicional, cheia de exposição do conteúdo, resolução e correção de exercícios sobre um conteúdo que será cobrado, por meio de uma avaliação escrita, no final de um período. Nos passa a ideia de estar economizando tempo em nossa prática já que não é necessário “pensar fora da caixa”. Na realização desse trabalho ficou perceptível que o esforço dedicado na proposta de utilização de metodologias ativas tornou o processo de ensinagem bem mais efetivo. O que nos faz pensar sobre os ganhos e perdas de se economizar tempo no planejamento de uma aula. É preciso repensar o ensino e, como professores, buscar sempre uma forma de tornar nossas práticas atraentes e eficazes. Foi necessário um planejamento, dedicar tempo, porém, planejamento é exatamente otimizar o tempo. As turmas submetidas à prática de metodologias ativas mostraram um melhor resultado após um mês da apresentação do conteúdo, indo de encontro com a proposta do trabalho que foi contribuir com a aprendizagem mais significativa dos alunos, por meio do uso de metodologias ativas, nas salas de aula. Porém, é possível que outros fatores tenham interferido nos resultados afinal, estamos falando de realidades diferentes (turmas diferentes). Deve-se então abandonar as metodologias tradicionais e utilizar apenas metodologias ativas? Não. Somos conhecedores de nossa realidade. Sabemos quais conteúdos exigem uma aula expositiva. Sabemos que uma prática que funciona em uma turma pode não fazer o mesmo efeito em outra. O certo é se aventurar e se dedicar ao novo sempre que necessário. Todo mundo sai ganhando: escola, professor e aluno.

Agradecimentos

Aos professores que auxiliaram na pesquisa; às escolas, pelo apoio; e à minha esposa, Janmile Carvalho, que mesmo competindo com o tempo dedicado a essa pesquisa sabe o quanto me sinto realizado em estudar o ensino de Química.

Referências

AGUADO, Maria José Diaz (2000). A Educação Intercultural e Aprendizagem Cooperativa. Porto Editora.

ALCARÁ, Adriana Rosecler. Das Redes Sociais à Inovação. Cia. Inf., Brasília, v. 34, n. 2, ago. 2005.

BERBEL, Neusi. As metodologias ativas e a promoção da autonomia dos estudantes. Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v. 32, n. 1, p. 25-40, jan./jun. 2011.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 4 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

JOHNSON, David. W., JOHNSON, Roger., & HOLUBEC, Edythe Johnson. (1993). Cooperation in the classroom. Edina, MN: Interaction Book Company.

SILVA, Airton Marques. Proposta para Tornar o Ensino de Química mais Atraente. Revista de Química Industrial, n. 731, p. 7-12, 2011. Disponível em: < http://www.abq.org.br/rqi/2011/731/RQI-731-pagina7-Proposta-para-Tornar-oEnsino-de-Quimica-mais-Atraente.pdf > Acesso em 29 jul. 2019.

Patrocinadores

Capes Capes CFQ CRQ-PB FAPESQPB LF Editorial

Apoio

UFPB UFPB

Realização

ABQ