Percepção sobre o conceito e aplicação da Sala de Aula Invertida dos docentes em Química da UFPB.

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Ensino de Química

Autores

Tomaz, S.S. (UFPB) ; Silva, A.J.P. (UFPB) ; Lima Junior, C.G. (UFPB)

Resumo

Com o advento da internet, o campo educacional precisou se adaptar a uma nova realidade, investindo em abordagens pedagógicas mais inovadoras. Dessa forma, uma metodologia conhecida como sala de aula invertida vem apresentando grande potencial para melhoria no processo de ensino- aprendizagem. Nesse contexto, o presente trabalho visa investigar se os docentes do curso de licenciatura em química da UFPB conhecem e se já empregaram essa metodologia. Através de um questionário aplicado a 16 professores, foi observado que a maioria (69%) desconhece o modelo híbrido de Sala de aula invertida e dos que conhecem, somente um já aplicou o método em sala de aula, afirmando que a abordagem é interessante e efetiva, mas que é necessário haver a colaboração dos discentes em todas as etapas.

Palavras chaves

Ensino-aprendizagem; Inovação; Sala de aula invertida

Introdução

Os computadores e smartphones invadiram os ambientes escolares e o cotidiano das pessoas, influenciando todo o processo de comunicação, transmissão de informação e, consequentemente, os mecanismos de ensino- aprendizagem. Dessa forma, uma das limitações atuais é associar a atividade acadêmica com os instrumentos oriundos das Tecnologias de Informação e Comunicação, ou TICs. (MORENO; HEIDELMANN, 2017). Para Miranda (2007 apud ALMEIDA, 2015), TIC se refere a integração dos recursos tecnológicos computacionais e de telecomunicação, sendo a internet a sua principal ferramenta de atuação. No cenário escolar, o autor define Tecnologia Educativa como “qualquer aplicação da tecnologia voltada para os processos envolvidos no funcionamento da educação” (MIRANDA, 2007 apud ALMEIDA, 2015). Dessa maneira, é necessário que sejam formuladas estratégias para promover um rendimento melhor dos estudantes e que elas sejam adequadas a essa nova realidade tecnológica. Assim, “no âmbito do ensino da Química, hoje em dia há várias ferramentas direcionadas aos professores que podem ser utilizadas em sala de aula”. (MORENO; HEIDELMANN, 2017).”Uma abordagem pedagógica que vem sendo desenvolvida para promover uma aprendizagem mais ativa, através da união entre recursos já usados num modelo de aula tradicional e atividades on-line, é denominada “blended learning”, ou “ensino híbrido” (GARRISON; KANUCA, 2004 apud LIMA JUNIOR et al., 2017). “O ensino híbrido é uma metodologia que combina as melhores características da educação presencial e on-line, sendo considerado uma boa saída na busca por um modelo de ensino-aprendizagem mais ativo, possibilitando o planejamento de aulas e atividades que envolvem a utilização de simulações, vídeo-aulas, discussões em grupo, quizzes, tutoriais, entre outros.” (RODRIGUEZ; ANICETE, 2010; HENSLEY, 2005 apud LIMA JUNIOR et al.,2016). Um dos mecanismos existentes dentro do ensino híbrido é a Sala de Aula Invertida. Segundo Valente (2018), Sala de Aula Invertida pode ser conceituado como uma forma de ensino no qual os alunos utilizam os meios virtuais para o estudo do conteúdo e a sala de aula funciona apenas para praticar e discutir algo já antes estudado, através da “resolução de problemas e projetos, discussão em grupo, laboratórios, entre outros. Sendo assim, a internet é primordial para concretização total desse processo de ensino. Para Bergmann e Sams (2012 apud LIMA JUNIOR et al., 2016), “por ser uma abordagem pedagógica ativa, a Sala de Aula Invertida vem ganhando destaque no cenário internacional, dentre as principais metodologias híbridas existentes”. Pelo fato de a internet servir como mecanismo que conecta pessoas e transmite informações, várias áreas da sociedade migraram para esse novo meio de comunicação. Dessa maneira, com seu uso crescente, estratégias como a Sala de Aula Invertida surgem como um recurso que têm a cada dia maior possibilidade de aplicabilidade no meio acadêmico. Em trabalho recente, Lima Junior e colaboradores (2016) retratam que “embora a proposta seja atraente, existem poucos relatos da aplicação desta abordagem pedagógica no cenário educacional brasileiro, principalmente em disciplinas das ciências exatas”. Além disso, Bergmann e Sams (2012 apud LIMA JUNIOR et al., 2016) declaram que “para o ensino de química, as experiências na aplicação da metodologia de Sala de Aula Invertida são novas”. Dadas as dificuldades visíveis no aprendizado de ciências dos alunos advindas ainda do ensino básico, propostas de aprendizagem que sejam adaptadas a ferramentas que eles já utilizam no dia a dia, como a internet (seja através de notebooks, tablets ou smartphones) devem ser experimentadas e analisadas na intenção de buscar melhorias no rendimento acadêmico dos estudantes. Na esfera nacional, “relatos de aplicações do modelo de sala de aula invertida em química são escassos sendo relevante o planejamento, aplicação e avaliação em instituições nacionais.” (LIMA JÚNIOR et al., 2016). Santos e Porto (2013) ressaltam que os professores de ciências e de Química frustram-se devido as dificuldades de compreensão que os alunos apresentam, por isso, a junção entre tecnologia, comunicação e educação podem ser interessantes para sanar as deficiências e o desinteresse dos estudantes em geral. Sabendo disso, é válido salientar que “uma das formas de superar esse desafio é incluir as TICs na formação inicial ou continuada dos professores.” (MORENO; HEIDELMANN, 2017). Dessa forma, com base no exposto, o presente trabalho tem como objetivo investigar se os docentes do curso de licenciatura em Química da UFPB conhecem e se já empregaram a metodologia de sala de aula invertida.

Material e métodos

O presente estudo se caracteriza como uma pesquisa de natureza quantitativa, tendo como público alvo os professores do Departamento de Química que ministram as aulas para alunos do curso de licenciatura em Química na Universidade Federal da Paraíba (UFPB - Campus João Pessoa). Como instrumento de coleta de dados, foi aplicado um questionário a fim de investigar se a metodologia de Sala de Aula Invertida é conhecida pelos docentes e se já aplicaram essa abordagem pedagógica em alguma de suas turmas de graduação. Segundo Gil (1999 apud CHAER; DINIZ; RIBEIRO, 2011), o questionário pode ser definido “como a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc”. Sendo assim, foram desenvolvidas 10 questões que abordaram temas voltados para a tecnologia da informação e comunicação no âmbito da educação, aliada à questionamentos em relação ao ensino híbrido com foco no método de Sala de Aula Invertida e na experiência individual do entrevistado. O questionário foi dividido em perguntas abertas, de múltipla escolha e dependentes. As questões abertas permitiram aos docentes uma maior liberdade nas respostas sem que houvesse influência por parte dos pesquisadores. As questões de múltipla escolha trouxeram uma certa limitação, o que possibilitou maior objetividade nas respostas. Já as dependentes estipularam a conexão de uma pergunta a outra, fazendo com que fosse estabelecido uma sequência lógica entre elas. O processo de aplicação foi feito entre os dias 09 e 10 de agosto de 2019 no Departamento de Química da UFPB. No total, 16 professores foram entrevistados (sendo 10 do sexo masculino e 6 do sexo feminino), os quais fazem parte destas 5 áreas da Química: Química Orgânica, Química Inorgânica, Química Analítica, Ensino em Química e Química Ambiental. As questões apresentadas envolviam o tempo, em anos, de aulas ministradas por cada professor no Ensino Superior, se eles possuíam ou não acesso à internet e se tinham facilidade para trabalhar com TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação). Dentro da temática de ensino híbrido e, especificamente, da metodologia de Sala de Aula Invertida, foram investigados o conhecimento da existência dessa prática e, a partir disso, para aqueles que respondessem de forma afirmativa, se já aplicaram e como foi sua experiência. Os resultados desse trabalho, portanto, visam expor os dados coletados nessa pesquisa de modo a analisar e concluir o conhecimento e experiência de aplicação da Sala de Aula Invertida envolvendo os professores do Departamento de Química da UFPB.

Resultado e discussão

Analisando as respostas do questionário aplicado, é possível verificar que, dos 16 entrevistados 62,5% eram do sexo masculino e 37,5% do sexo feminino, com idades entre 32 a 76 anos. Em relação a formação acadêmica dos docentes observarmos que 38% são bacharéis em química, 31% são licenciados, 13% bacharéis em farmácia, 6% bacharéis em Engenharia química e os outros 12% possuem duas ou mais formações. Ao serem questionados se possuem acesso à internet, é possível constatar que todos os professores responderam sim, o que indica que há facilidade de acesso à internet no meio acadêmico. Além disso, quando foram perguntados se têm facilidade para trabalhar com Tecnologia da Informação e Comunicação (TICs), 87,5% afirmaram que sim, enquanto 12,5% responderam que não sabiam ou que sabiam pouco, ou seja, além de acessível, seu uso é crescente e notável. Quando a idade dos docentes é relacionada com os últimos dados, percebe-se que os professores que tinham dificuldade ou não sabiam trabalhar com as TICs se encontram na faixa dos 46 aos 76 anos, enquanto os professores que sabiam e tinham facilidade estão entre os 32 aos 45 anos, o que pode confirmar que os docentes mais jovens acompanharam com mais facilidade o acelerado desenvolvimento da tecnologia nos últimos anos. Quando se analisa a questão “Há quanto tempo leciona no ensino superior?” nota-se que 81,3% dos professores lecionam há mais de dez anos, isto é, possuem uma vasta experiência no ensino das diversas áreas da química. Dessa forma, objetivando investigar o conhecimento dos docentes acerca da metodologia de sala de aula invertida e se já empregaram a mesma em alguma de suas turmas no ensino superior, foram desenvolvidas três questões: A primeira dedicou-se a saber se eles já tinham ouvido falar dessa metodologia e, se sim, através de qual meio. A pesquisa revelou que apenas 31,3% dos entrevistados tem conhecimento da existência dessa abordagem, ou seja, 68,6% dos professores desconhecia a existência desse método de ensino. Aqueles que a conheciam, relataram que foi através de palestras em conferências e congressos na área de ensino da química ou durante trocas de ideias com outros professores. A segunda questão estava ligada diretamente a primeira, isto é, aos docentes que conheciam a metodologia. Essa questão buscava analisar se aqueles que conheciam a sistemática já haviam ministrado alguma aula com sua aplicação. Desse percentual, apenas 6,3% já aplicaram uma aula com foco nessa abordagem pedagógica, o que confirma a afirmação de LIMA JUNIOR et al. (2016) que “embora a proposta seja atraente, existem poucos relatos da aplicação desta abordagem pedagógica no cenário educacional brasileiro, principalmente em disciplinas das ciências exatas”. A terceira e última pergunta avaliava a experiência dos docentes que praticaram esse método de ensino ativo. Como resposta, obtivemos que a abordagem é considerada interessante e efetiva, mas para que seu processo de aprendizagem seja realmente eficaz é necessário a colaboração dos discentes em todas as etapas.

Conclusões

A partir dos dados analisados decorrentes das respostas fornecidas pelos professores do Departamento de Química da UFPB observa-se que a internet é um recurso que tem seu uso em escala crescente no contexto educacional, ou seja, estratégias de ensino ligadas a TICs têm, a cada dia, maiores possibilidades de aplicação. Por hora, deve-se aceitar o fato de que a metodologia de Sala de Aula Invertida ainda não é popularizada entre os docentes entrevistados. Sabendo da grande potencialidade da Sala de Aula Invertida, algumas estratégias que levem a sua concretização como metodologia de ensino são relacionadas a formação continuada de professores e a promoção de minicursos para disseminação do método. Os estudos que visem formas de aplicação devem priorizar também as particularidades da área científica e as dificuldades comuns apresentadas pelos estudantes dentro do contexto de acesso à tecnologia. Sendo assim, os professores são essenciais para concretizar a sua execução, aliado ao esforço dos discentes em acompanhar as rotinas de estudo propostas, por isso, essa metodologia seria uma forma considerável de tornar o estudo mais simples pela facilidade de acesso aos conteúdos virtualmente disponibilizados e um impulso a fim de fazer o aluno estudar com antecedência para, assim, promover autonomia e protagonismo estudantil no processo de ensino-aprendizagem.

Agradecimentos

Agradecemos ao nosso orientador Cláudio Gabriel pelo apoio e incentivo.

Referências

ALMEIDA, Gilvan Jorge de; Emprego do aplicativo WhatsApp no ensino de Química. 2015. 72 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso superior de licenciatura em Química) – Universidade de Brasília, Brasília, 2015.

CHAER, Galdino; DINIZ, Rafael Rosa Pereira; RIBEIRO, Elisa Antônia. A técnica do questionário na pesquisa educacional. Evidência, Araxá, v. 7, n. 7, p. 251-266, 2011.

LIMA JUNIOR; Cláudio Gabriel et al. Sala de Aula Invertida no ensino de Química: planejamento, aplicação e avaliação no Ensino Médio. Revista Debates em Ensino de Química, João Pessoa, p. 119-145, 2016.
MORENO, Esteban Lopez; HEIDELMANN, Stephany Petronilho. Recursos Instrucionais Inovadores para o Ensino de Química. Química Nova, São Paulo, v. 39, n. 1, p. 12-18, fev. 2017.

OLIVEIRA, Nayara de Lima et al. Usando uma ferramenta wiki para melhorar uma disciplina de Química Orgânica: avaliação de um curso no formato híbrido. Revista Brasileira de Ensino de Química, Campinas: Ed. Átomo, v. 12, n. 2, p. 57-70, jul./dez., 2017.

SANTOS, Wildson Luiz Pereira; PORTO, Paulo Alves. A pesquisa em ensino de Química como área estratégica para o desenvolvimento da Química. Química Nova, [S.l.], v. 36, n. 10, p. 1570 – 1576, 2013.

VALENTE, José Armando. Blended learning e as mudanças no ensino superior: a proposta da sala de aula invertida. Educar em Revista, n. 4, p. 79 – 97, 2014.

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