SLIME EM SALA DE AULA: RESULTADOS DE UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA NO ENSINO FUNDAMENTAL

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Ensino de Química

Autores

Barros, H.N.S. (IFRJ-NILÓPOLIS) ; Cardoso, A.C.O. (IFRJ-NILÓPOLIS) ; Oliveira, D.A.A.S. (NUTES-UFRJ) ; Messeder, J.C. (IFRJ-NILÓPOLIS)

Resumo

O trabalho consiste em um relato de experiência realizado com uma turma de 4º ano de uma escola municipal de Duque de Caxias (RJ). Os pesquisadores utilizaram recursos midiáticos, com exibição de dois vídeos, e uma oficina de produção caseira de Slime para abordar conhecimentos científicos, problematizar o conteúdo disponível na internet e introduzir procedimentos laboratoriais para aulas de Ciências. Nesses dois momentos os alunos foram protagonistas no processo de ensino e aprendizagem, tendo seus momentos de fala e de produção. Os resultados indicam possibilidades para um ensino de ciências mais próximo do cotidiano infantil, com temáticas químicas, que permitem que o professor trabalhe com conceitos científicos desde os primeiros anos do ensino fundamental.

Palavras chaves

Ensino de Química; Ensino de Ciências; Slime

Introdução

É natural o surgimento de novas tendências que arrastam multidões e “viralizam” repentinamente no mundo real que é afetado pelo virtual, devido a peculiar capacidade da cibercultura que desafia o tempo-espaço (SOOFNER; KIRSCH, 2014). Os educadores atuantes nesta nova realidade de ciberespaço consideraram a popularização de vídeos envolvendo misturas químicas caseiras, em especial, uma ganhou destaque: a Slime. Ela consiste em uma massa com grande versatilidade quanto a sua textura e coloração, com alta viscosidade, além de apresentar características bem elásticas que permitem fácil manuseio e atraem inúmeras crianças não só pelas características, mas pelo prazer em se confeccionar. Ao dispor deste tema com cunho pedagógico, nas aulas de ciências, a química é apresentada de forma a contradizer ao pensamento errôneo que trata seus conteúdos disciplinares como “complexos, sem função prática e social”. Ao tratar do Ensino Fundamental, percebe-se que no decorrer da estrutura curricular do primeiro segmento existem lacunas com relação ao ensino investigativo, em prol de atividades que ajudem a desenvolver o pensamento crítico do aluno e a correlacionar suas vivências com os objetos estudados, por mais que este propósito pedagógico se apresente em documentos oficiais, como a atual BNCC (BRASIL, 2016). Com essas premissas, o objetivo principal dessa pesquisa foi analisar o desenvolvimento de experiências pedagógicas realizadas com alunos do ensino fundamental, no laboratório de ciência da escola, a partir dos discursos e ações dos alunos, tendo em vista a formação crítica e o fazer científico, além de possibilitar ampliação da linguagem científica.

Material e métodos

Devido à difusão das slimes no ambiente juvenil, bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e professores pesquisadores, pensaram numa atividade de sala de aula que pudesse envolver as crianças nessa “nova moda” de fabricação caseira dessa substância. a intervenção ocorreu com uma turma do 4º ano de uma escola municipal em duque de caxias e foi planejada para ocorrer em dois dias, onde no primeiro ocorreu a apreciação analítica de dois vídeos disponíveis no youtube, e no segundo, houve a confecção das slimes no laboratório de ciências. o primeiro dia contou com a participação de 13 alunos, que foram levados à sala de vídeo para que houvesse o início da problematização sobre a produção da slime. para dar início, pediu-se aos alunos que descrevessem os procedimentos e reagentes necessários para sua produção. em seguida, foram exibidos dois vídeos sobre a produção caseira de slime. sabendo-se dos riscos à saúde gerados pelo uso de bórax (discussão proveniente do primeiro vídeo), foi exibido o segundo vídeo onde a apresentadora promete uma slime sem o uso do bórax. porém, ela foi negligente no procedimento, e utilizou produtos que apresentam riscos iguais ou maiores que o bórax. o recurso midiático foi utilizado para facilitar a investigação e posterior discussão para uma análise crítica pelos alunos. o segundo dia foi realizado no laboratório de ciências com a participação de 24 alunos, onde previamente foram ressaltados os procedimentos de segurança naquele ambiente insólito. após essa etapa, com os alunos separados em duplas, a oficina para a produção de slime teve início, com a apresentação dos procedimentos experimentais, onde foram usados dois materiais de ambientes domésticos (cola branca e talco) e equipamentos semianalíticos.

Resultado e discussão

Antes da análise dos vídeos, foi perguntado aos alunos se eles sabiam confeccionar uma slime. De imediato, a maioria expôs até quais eram suas receitas caseiras. Na sequência, foram analisados os vídeos que tinham uma peculiaridade: contam com apresentadores mirins que interagem com outras crianças, gerando assim, uma empatia entre os envolvidos. Por vezes, as informações expressas adquirem veracidade, por mais que não sejam, e assim, os espectadores não tendem a questionar os perigos implícitos nessas comunicações midiáticas. É importante ressaltar que, em muitas situações publicitárias presentes na internet, as crianças são expostas sistematicamente, numa rede de consumo, a personagens e ídolos infantis, marcas, produtos alimentícios, dentre outros, na chamada “comercialização da infância” (SCHOR, 2009, apud ALCÂNTARA & GUEDES, 2017, p. 68). Com base nas discussões levantadas sobre os riscos químicos, o bórax foi ressaltado negativamente, pois houve a identificação do seu uso excessivo e o contato direto com as mãos da apresentadora, gerando um relato, por uma aluna presente, de “possibilidades de queimaduras”. Foi ressaltado que a periculosidade em si não recai apenas sobre o uso dos produtos, mas sim, o manuseio inadequado de tais produtos. A intenção ao analisar um tema atual não é desmotivar o querer fazer, mas ampliar a criticidade e construção de saberes úteis para a vida, de forma a usar o brincar para favorecer a aprendizagem (SCHMIDT, 2009). No segundo momento foi montada a oficina de slime, onde foram explicados os materiais domésticos que foram utilizados (cola branca e talco para os pés), além da importância de se obter medidas mais precisas com uso analítico de materiais de medição (p.ex. balança de precisão).

Conclusões

O olhar atento aos temas socioquímicos presentes no cotidiano dos alunos favorece o protagonismo das crianças, uma vez que viabiliza o engajamento estudantil por gerar interesse, e com isso pode alcançar um melhor aproveitamento dos conhecimentos científicos envolvidos nos fenômenos. Desta forma, os discentes desde o início da escolarização terão contato com conceitos científicos, possibilitando assim o letramento científico nas fases iniciais da educação, promovendo o pensamento crítico e o desenvolvimento cognitivo dos discentes.

Agradecimentos

Os pesquisadores agradecem ao IFRJ Nilópolis e ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) pelo fomento.

Referências

ALCÂNTARA, A., GUEDES, B. (orgs). Comunicação e Infância: processos em perspectiva. São Paulo: Pimenta Cultural, 2017.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (Segunda Versão). Ministério da Educação, Brasília, DF: MEC, 2016. Disponível em: http://historiadabncc.mec.gov.br/documentos/bncc-2versao.revista.pdf. Acesso em: 17/08/2019.

SCHMIDT, I. A. John Dewey e a Educação Para uma Sociedade Democrática. Contexto & Educação, v. 24, n. 82, p. 135-154, 2009.

SCHOR, J. B. Nascidos para comprar: uma leitura essencial para orientarmos nossas crianças na era do consumismo. São Paulo: Editora Gente, 2009.

SOOFNER, R. K; KIRSCH, D. B. Educação na cibercultura: as tecnologias da inteligência e a práxis educativa. Revista Intersaberes, v.9, n.18, p.220-228, 2014.

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