UTILIZAÇÃO DE JOGOS DIDÁTICOS NO ENSINO DE FUNÇÕES ORGÂNICAS

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Ensino de Química

Autores

Ferreira, J.F. (UFCG) ; Santos, J.C.O. (UFCG) ; Ferreira, B.N. (UFCG) ; Fonseca, L.L.S.A. (EEEFM JOSÉ ROLDERICK) ; Dantas, T.R. (UFCG) ; Azevedo, A.S. (UFCG) ; Cardoso, M.L.M.S. (UFCG) ; Garcia, J.D.R. (UFCG) ; Araújo, J.V.S. (UFCG) ; Santos, D. (UFCG)

Resumo

Os jogos didáticos no Ensino de Química são uma ferramenta lúdica que facilita o processo de ensino e aprendizagem para os estudantes do Ensino Médio. O presente trabalho descreve a construção de três jogos didáticos para utilização como ferramenta didática no ensino de funções orgânicas no ensino médio. As atividades desenvolvidas incluíram a construção e a aplicação de jogos didáticos para o ensino de química, como dominó químico, jogo da memória orgânico e bingo orgânico. Com base em questionários avaliativos, verificou-se que a produção dos jogos didáticos com baixo custo e fácil aplicabilidade pode proporcionar a articulação entre a aprendizagem dos grupos funcionais orgânicos e suas aplicações no cotidiano, facilitando o processo de ensino e aprendizagem.

Palavras chaves

Lúdico; Química Orgânica; Jogos Didáticos

Introdução

A Química na maioria das vezes é vista como uma disciplina maçante e monótona, fazendo com que os jovens questionem o motivo pelo qual ela lhes é ensinada. Diante dessas circunstâncias, faz-se necessário a aplicação de metodologias diferenciadas, com a finalidade de tornar as aulas de Química estimulantes e dinâmicas, despertando o interesse dos discentes pelos conceitos químicos presentes nos currículos escolares. É nesse sentido que os jogos didáticos se encaixam, como uma ferramenta motivadora para a aprendizagem desses conceitos à medida que se propõe estímulo ao interesse do discente. Dentre as várias ferramentas que podem ser utilizadas no ensino de química, destacam-se os jogos educacionais, onde professores e futuros professores estão levando cada vez mais para as escolas propostas inovadoras e, uma delas é o jogo didático (SILVA, 2018). Essa perspectiva fica relevante com a afirmação a seguir; “O ludismo não representa por si só um aprendizado imediato ou carrega em si a capacidade de desenvolvimento conceitual, mas serve como mediador para desenvolver potenciais no sujeito” (PIAGET, 1975, p. 145). O jogo, mesmo encarado como passatempo, pode proporcionar oportunidades de enriquecer e diversificar as informações e conhecimento com base em simulações ou informações contidas na ferramenta, representando uma função no desenvolvimento cognitivo do aluno (CHATEAU, 1987, p. 72). Esse tipo de atividade com o uso do lúdico representa ainda uma alternativa de socialização dos alunos, motivação e estímulo para um novo aprendizado, desenvolvimento da criatividade e agilidade no raciocínio, coordenação das ações no trabalho coletivo e o respeito às regras. Ainda de acordo com Silva et al. (2016), a inserção de jogos na sala de aula proporciona aos estudantes um ensino mais dinâmico e interativo. Segundo Kishimoto (1994) e Soares (2013), a utilização do jogo no ambiente escolar promove o aprendizado através do erro e incentiva a exploração e a resolução de problemas, ao tempo que estabelece um clima satisfatório para a investigação e a busca de soluções. O jogo proporciona ao educando um relacionamento com a sociedade de forma livre e independente. O professor poderá perceber, através da prática de jogos em sala de aula, aspectos comportamentais de liderança, cooperação, ética, além de possibilitar conhecer como cada um está assimilando o conteúdo escolar (OLIVEIRA; SOARES, 2015). Portanto, este trabalho tem como objetivo apresentar uma proposta para ensinar funções orgânicas oxigenadas (nomenclatura, grupo funcional, aplicação no cotidiano) utilizando jogos didáticos (jogo de dominó, jogo da memoria orgânico e bingo orgânico).

Material e métodos

Esta pesquisa foi realizada na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio José Rolderick de Oliveira, situada na cidade de Nova Floresta, Paraíba, escola parceira do Programa Residência Pedagógica da UFCG, em uma turma do 3º ano do Ensino Médio durante o primeiro semestre de 2019. O desenvolvimento do trabalho se deu basicamente nas etapas a seguir: construção, aplicação e avaliação dos jogos. Após a apresentação dos jogos aos alunos e a sua participação na aula prática, aplicou-se um questionário com nove perguntas fechadas, referentes ao aprendizado dos alunos sobre as funções orgânicas e a importância dos jogos no ensino de química. O questionário foi aplicado com a finalidade de conhecer a opinião dos estudantes em relação ao jogo, se o mesmo contribuiu ou não como meio de fomentar o processo de ensino e aprendizagem na Química Orgânica. As questões mais relevantes foram analisadas e discutidas no presente trabalho. Os jogos foram construídos de acordo com a seguinte metodologia: - Dominó Orgânico. O jogo de dominó, denominado Dominó Orgânico é composto de 28 pedras de dominó em cartolina, material impresso em papel A4, que foi utilizado para substituir as marcações originais, e papel transparente para envolver as peças. Cada número do dominó convencional foi substituído por uma função orgânica podendo apresentar-se em forma de estrutura química, exemplos presentes no cotidiano do aluno, nomenclatura, um desenho simbolizando a utilização do composto ou então pelo próprio nome da função química. Cada kit de dominó abordou sete funções orgânicas. - Bingo da Química Orgânica. Esse jogo didático foi confeccionado através do programa Word e impresso em papel de 40kg. Cada cartela foi composta por 12 estruturas, entre elas os grupos funcionais das funções oxigenadas e os grupos substituintes, que também foram produzidos com papel 40kg e colocados em um saco para serem sorteados. Cada aluno participante recebeu uma cartela e uma caneta para marcá-la, lembrando que as regras e estratégias do bingo foram às mesmas necessárias para o bingo tradicional, porém, o reconhecimento dos grupos funcionais e dos grupos substituintes foi primordial para que o jogador marcasse corretamente a cartela. À medida que foi sendo “chamado” o nome do grupo funcional ou grupo orgânico substituinte, cada aluno foi marcando sua cartela. - Jogo da memória orgânico. No processo de construção do jogo foi necessário comprar cartolina, cortá-la em pedaços quadrados do mesmo tamanho. Depois se digitou a estrutura com grupos funcionais com o nome dos compostos orgânicos para fazer adesivo e colar na cartolina um par de cada cor no total de 18 pares. Além disso, foi feito uma tabela em forma de banner contendo os nomes dos grupos funcionais para auxiliar os alunos no momento do jogo. Os materiais utilizados foram: papel, adesivo, tesoura e banner. As regras deste jogo são idênticas às regras do jogo da memória tradicional.

Resultado e discussão

Os jogos didáticos construídos (Figura 1) apresentam um propósito central - compreensão das funções orgânicas oxigenadas - de forma divertida e atrativa. A produção e a aplicação dos jogos foram realizadas em três etapas. Na 1ª etapa foi realizada uma sequência de aulas expositivas e com exercícios com os estudantes da turma, onde estas aulas eram compostas por aulas sobre o conteúdo de Química Orgânica – funções oxigenadas, explicando as funções e suas utilidades no cotidiano. Cerca de 50% da turma conseguiam responder as perguntas feitas nas aulas expositivas e nos exercícios propostos, com isso entendemos que havia uma grande dificuldade na aprendizagem dos alunos em relação à química orgânica. Na 2ª etapa foram construídos e apresentados aos estudantes alguns tipos de jogos lúdicos para o ensino de química (o jogo dominó químico, jogo da memória com funções oxigenadas e um bingo das funções oxigenadas), apresentando-se as regras e a forma como os estudantes participariam dos jogos, onde os residentes e a professora interviam sempre que os estudantes tinham dúvidas sobre determinadas estruturas e perguntas dos jogos (Figura 2). Na 3ª etapa os estudantes foram questionados, aplicando-se um conjunto de perguntas que iriam servir para verificar a importância dos jogos no que tange ao processo de aprendizagem dos mesmos e se aquela metodologia era eficaz no ensino das funções oxigenadas e na melhor compreensão da química orgânica. Logo após a análise do questionário avaliativo, verificou-se que 89% dos estudantes conseguiram responder todas as perguntas do questionário e 11% responderam entre duas ou três perguntas, podendo afirmar assim que os jogos contribuíram para o processo de ensino e aprendizagem dos estudantes. Os jogos didáticos desempenharam um papel fundamental ao estimular os estudantes na aproximação com os conceitos estudados. Nesse momento foi aplicado à autoavaliação de abordagem quali-quantitativa a respeito da aula desenvolvida. Abaixo seguem as perguntas e os resultados: - 1ª Pergunta: A aula foi produtiva? Podemos observar que 99% responderam ao questionário de forma positiva após a aplicação dos jogos e apenas uma pessoa falou que a aula não foi produtiva “um pouco só não consegui absorver muito o conteúdo (distraído)”. Para obtermos esses resultados fez-se uma roda de conversa com os estudantes sobre as perguntas respondidas, e abaixo segue as justificativas dos estudantes: Estudante A: “sim, foi bastante produtiva por revisarmos o conteúdo estudado com dinâmica”. Estudante B: “sim, muito, foi uma metodologia diferente”. Estudante C: “sim, pois foi uma maneira mais fácil de conhecer os grupos”. - 2ª Pergunta: De uma escala de 1 a 10, que nota você atribui a aula? Com as discussões nestas intervenções obtivemos uma média de 9,4 na turma, ou seja, os estudantes afirmaram que “dessa forma aprenderiam mais, e ajudaria a obter um sucesso nas atividades”. - 3ª Pergunta: Considera a aula dinâmica? Os estudantes afirmaram que a aula foi muito dinâmica e chamativa. Estudante A: “sim, eu gostei bastante teve jogos e outras atividades em forma de joguinhos”. Estudante B: “sim, podemos interagir e aprimorar o conhecimento sobre o assunto”. - 4ª Pergunta: Conseguiu compreender o conteúdo? 90% dos estudantes afirmaram que sim, pois ficou mais fácil de identificar os grupos funcionais. - 5ª Pergunta: Com aulas nesse estilo, conseguimos chamar sua atenção para aprender o conteúdo? 92% dos estudantes afirmaram que sim, que chamou não só a atenção os mesmos, como do grupo em si, ou até da sala toda. - 6ª Pergunta: Aulas usando jogos didáticos são eficientes na obtenção de compreensão do conteúdo? Os estudantes afirmaram que o uso de jogos didáticos em sala de aula vai lhes ajudar muito, e principalmente quando tiverem dúvidas em algumas partes do conteúdo. Esta foi a opinião da totalidade dos alunos participantes. - 7ª Pergunta: Acha que seria preciso algumas mudanças para a aula ficar melhor, ter sido mais produtiva? Se sim, quais as sugestões você nos daria? Os estudantes disseram que não deveria mudar nada na aula, apenas deveriam contribuir de forma participativa no desenvolvimento destes tipos de aulas junto com a professora e os residentes. - 8ª Pergunta: cite três grupos funcionais das funções oxigenadas? Nessa parte a grande maioria conseguiu citar as três funções oxigenadas que eles lembravam ou viram nos jogos, apenas 19% não conseguiram citar as três, mas ainda citaram duas certas. - 9ª Pergunta: qual o nome do seguinte composto? Essa questão era para saber se realmente os alunos conseguiriam da o nome do composto solicitado e todos conseguiram acertar o nome do etanol, composto utilizado no nosso cotidiano como combustível para automóveis, e que sempre foi bem falado nas aulas sobre funções oxigenadas. Buscando levar-se em consideração a análise dos dados contidos nos questionários, constatou-se que a maioria dos estudantes apresentou opinião positiva em relação à atividade realizada e que a mesma alcançou seu objetivo proposto, uma vez que foram obtidos resultados satisfatórios e aceitação dos alunos. Este fato também foi observado por Cunha (2012) ao analisar as considerações teóricas sobre a utilização de jogos didáticos no ensino de Química no ambiente de sala de aula.

Figura 1

Figura 1. Modelo dos jogos: (a) dominó orgânico, (b) bingo químico e (c) jogo da memória. Fonte: Autoria Própria, 2019.

Figura 2

Figura 2. Aplicação dos jogos didáticos. Fonte: Autoria Própria, 2019.

Conclusões

Pode-se constatar-se que essa atividade proporcionou aulas mais dinâmicas e lúdicas, interativas e significativas, contribuindo assim para uma aprendizagem contextualizada, mais próxima da realidade dos alunos. Além disso, os jogos didáticos geraram momentos de socialização, troca de conhecimentos e descontração em sala de aula. Vale ressaltar que os jogos didáticos não substituem outras metodologias de aprendizagem, porém apresentam-se como um instrumento auxiliar e complementar ao processo de ensino e aprendizagem. Diante disso é importante e necessário que o professor saiba direcionar o trabalho didático ao uso adequado do jogo didático e que tenha o devido cuidado de conhecer e identificar as vantagens e desvantagens na proposta do jogo na sua prática pedagógica. Dessa forma, cabe ao educador fazer um estudo aprofundado dessa metodologia, de modo que fique evidente o porquê da aplicação do jogo para trabalhar alguns conceitos de forma a atingir os objetivos almejados. Portanto conclui-se que os jogos didáticos (bingo da Química Orgânica, dominó químico e jogo da memória orgânico), se apresentaram como uma ferramenta auxiliar de grande relevância para o estudo de Química Orgânica no Ensino Médio, uma vez que rompem com a mera exposição de conteúdos e exercícios, dando suporte ao professor e motivação aos alunos.

Agradecimentos

Programa Residência Pedagógica / UFCG / CAPES.

Referências

CHATEAU, J. O Jogo e a Criança. São Paulo: Summus, 1987, 144 p.
CUNHA, M. B. Jogos no ensino de química: considerações teóricas para sua utilização em sala de aula. Química Nova na Escola, v. 34, n. 2, p. 92-98, 2012.
KISHIMOTO, T. M. O Jogo e a Educação Infantil. São Paulo: Pioneira, 1994.
OLIVEIRA, A. S.; SOARES, M. H. F. B. Júri Químico: Uma Atividade Lúdica para Discutir Conceitos Químicos. Química Nova na Escola, n. 21, p. 18-19, 2015.
PIAGET, J. A. Formação do Símbolo na Criança: Imitação, jogo e sonho, imagem e representação. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975, 331 p.
SILVA, A. S.; SILVA, R. J. D.; OLIVEIRA JUNIOR, J. C.; SANTOS, J. C. O. An Experimental Approach to Chemistry Teaching: Oxygenated Organic Function Identification Tests on Cosmetics. Academia Journal of Scientific Research, vol. 4, n. 3, p. 069-074, 2016.
SILVA, R. J. D. Ludicidade como Ferramenta Metodológica Motivacional no Ensino e Aprendizagem de Química. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Química). Universidade Federal de Campina Grande. Cuité, 2018.
SOARES, M. H. F. B. Jogos e Atividades Lúdicas no Ensino de Química: Teoria, Métodos e Aplicações. Anais do 14º Encontro Nacional de Ensino de Química, Curitiba, 2013.

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