A Educação de Jovens e Adultos e o ensino de Química: um olhar sobre a importância da experimentação e a contextualização na região Amazônica

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Ensino de Química

Autores

Nunes, A.E.C. (ISB-UFAM) ; Yamaguchi, K.K.L. (ISB-UFAM)

Resumo

O objetivo deste trabalho foi avaliar a perspectiva dos discentes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) sobre o ensino de Química e a importância da experimentação utilizando contextos Amazônicos. A metodologia apresenta análises qualitativas e quantitativas que auxiliam na reflexão sobre a importância do ensino de Química contextualizado para a formação acadêmica e social. Entre os resultados, destacam-se que os discentes, gostam de Química, mas consideram os assuntos muito complexos e acreditam que por meio da experimentação possa auxiliar a aproximação da teoria e prática. Esses resultados corroboram com trabalhos sobre investigações sobre o ensino em Química, diagnosticando as dificuldades e motivando trabalhos futuros que possam intervir na contribuição de um ensino de qualidade

Palavras chaves

Aprendizagem ; Ensino de Química; Coari

Introdução

A disciplina de química a tempos vem sendo considerada por muitos alunos da Educação Básica como uma matéria de alta complexidade, concepção que muitas vezes tem acarretado a incompreensão dos conteúdos estudados e consequentemente um distanciamento entre os educandos e esta ciência. O ensino de Química hoje, não estimula os alunos ao seu entendimento, o leva a uma memorização mecânica, estática, desencorajando-o no prosseguimento dos seus estudos e induzindo-o a um descontentamento brutal que resulta na maioria das vezes em desistência (JESUS et al., 2015). Realidade que não é peculiar do ensino regular, mas presente nas diferentes modalidades de ensino inclusive na Educação de Jovens e Adultos-EJA. Algumas das causas apontadas para a incompreensão dos assuntos relacionam-se a falta de atrelamento entre teoria e prática e contextualização. Jesus et al. (2015) salienta que o ensino da Ciência Química deve ser ministrado em sintonia com o dia a dia do aluno, trazendo para a sala de aula as ocorrências vividas por ele no seu cotidiano fora da escola, para que assim, estas possam ser contextualizadas e os fenômenos químicos estudados, atrelados à sua experiência humana. Para que ações intervencionistas sejam adotadas faz-se necessário identificar os principais fatores que implicam na motivação e aprendizagem de química, pois segundo Porto e Almeida (2018) na busca pela Alfabetização Científica de seus estudantes, existem obstáculos a serem transpostos pelos professores que passam pelo crescente desinteresse que os discentes parecem demonstrar pelas Ciências, pelas dificuldades de aprendizagem apresentadas em determinados conteúdos e pela necessidade de ensinar e despertar nos seus alunos as habilidades e competências próprias da pesquisa científica. Neste contexto, esta pesquisa teve como objetivo analisar e discutir o uso de atividades experimentais e as principais dificuldades de aprendizagem enfrentadas pelos alunos da EJA na disciplina de química. Educação de Jovens e Adultos e o Ensino de Química. A Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB), Lei 9.394/96, em seu art. 37 institui que a educação de jovens e adultos é destinada aos sujeitos que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria (BRASIL, 1996). Ainda em referência a Educação de Jovens e Adultos EJA, Morais (2009) cita que as pessoas nunca deixam de aprender, mesmo aquelas que deixaram seus estudos quando jovens. O autor salienta também a importância da educação tanto para os sujeitos envolvidos quanto para a sociedade de modo geral, quando afirma que a ausência da educação escolar representa uma grande lacuna para o indivíduo e uma perda enorme para a cidadania. O autor segue dizendo que hoje, isso pode ser contornado, pois a EJA é um nível de ensino que se dispõe a trabalhar com essas pessoas que interromperam sua atividade escolar por algum motivo. A Educação de Jovens e Adultos representa um novo começo sob uma alternativa legal, que vem acompanhada de garantias legais (CURY, 2007). No entanto, suas propostas curriculares são bastante compactas, podendo vir a dificultar a aprendizagem dos alunos devido à sobrecarga de conteúdo em um curto espaço de tempo (MORAIS, 2009). Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) recomendam que a disciplina de química deve ser ministrada a partir de uma abordagem contextualizada, baseando a prática de ensino em temas estruturadores vinculados ao cotidiano social, para uma compreensão significativa do conteúdo abordado (Brasil, 2006). No que se remete a disciplina de química nesta modalidade de ensino Martins (2007) assegura que os materiais didáticos do ensino de Química na EJA não são elaborados e direcionados para o público da EJA. Consequentemente, esses materiais utilizados não levam em conta o contexto dos educandos, pois a forma como os conteúdos são apresentados acaba influenciando apenas o uso da memorização como ponto de partida para a aprendizagem, não permitindo qualquer vínculo com a realidade do educando. Para que o ensino de química gere significação no alunado, o professor tem papel decisivo e precisa estar preparado, conscientizando-se de sua importância e amparado pela escola e pelos demais órgãos de educação, desta forma o ensino de química dentro da EJA pode ser um diferencial para o aluno caso este consiga ver nele um elo com o mundo do trabalho (SANTOS et al., 2016).

Material e métodos

A metodologia utilizada integra-se de uma pesquisa bibliográfica e uma pesquisa de campo, com reflexão acerca das do ensino de Química no ensino e aprendizagem de Jovens e Adultos na categoria EJA. A abordagem qualitativa caracteriza-se como um estudo descritivo de caráter exploratório e a quantitativa relaciona-se a quantificação dos dados obtidos por meio de um questionário semiestruturado (SEVERINO, 2000). Esta pesquisa foi realizada em uma Instituição de Ensino da Rede Estadual do Município de Coari, Amazonas, Brasil, distante 370 km da capital Manaus em linha reta, no período de 2018/2. Participaram desse estudo 26 alunos do 2° módulo da EJA- Educação para Jovens e Adultos que aceitaram participar da pesquisa. A coleta de dados foi realizada mediante a aplicação de um questionário constituído de 14 (quatorze) questões com perguntas abertas e fechadas. Os sujeitos participantes responderam voluntariamente e anônima ao questionário.

Resultado e discussão

O Ensino de Química apresenta desafios para os docentes visando torna-los motivadores com o objetivo de mediarem o conhecimento teórico a aplicação dos conteúdos no cotidiano dos discentes. Entre os desafios na área, tem-se o ensino de Química para os alunos na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Essa modalidade de educação escolar é destinada aos jovens, adultos e idosos que não tiveram acesso ou continuidade de estudos na idade adequada, por inúmeros motivos. É uma modalidade do ensino fundamental e do ensino médio, que permite o reingresso de alunos com idades de mínima de 15 anos para o ensino fundamental e 18 anos para o ensino médio. Nesse trabalho foi analisado a perspectiva dos discentes sobre a disciplina de Química, a dificuldade e a importância de contextualização e experimentação como metodologias didáticas para um melhor aproveitamento da disciplina. Os resultados podem ser visualizados na tabela 1. Com os dados obtidos a respeito da perspectiva dos alunos do 2° módulo da Educação de Jovens e Adultos – EJA, percebemos que 76,0 %, ou seja, a maioria dos discentes gostam de estudar química, dado bastante animador, contudo os professores não podem acomodar-se no que se refere ao ensino e aprendizagem da disciplina de química, pois 16,0 % dos estudantes afirmaram não gostar de estudar esta matéria. Observa-se também que aulas práticas é uma metodologia que cada vez mais tem ganhado espaço nas aulas de química da EJA, uma vez que 88,5% dos discentes afirmam já terem participado de aulas práticas nesta disciplina, classificando esse tipo de aula como ótimo 50,0 % e bom 46,2% e afirmam ainda que gostariam de aprender química através de atividades práticas como experimentos químicos 96,2% e que estes em complementos a aula teórica pode melhorar seu desempenho nas aulas de química 92,3%, comprovando que tal estratégia metodologia pode ser utilizada como facilitador para a motivação e consequentemente para a aprendizagem dos conhecimentos químicos. De modo geral a maioria dos participantes alega que se na biblioteca da escola fosse disponibilizado para consultas um livro com atividades experimentais, isso facilitaria a realização de aulas práticas, dados que sugere a importância da elaboração, distribuição e até mesmo a aquisição deste tipo de material, principalmente os que são voltados para a região, pois de acordo com os percentuais verificados, 64,0% dos participantes acreditam que a realização de experimentos químicos utilizando produtos do cotidiano Amazônico poderia ajudar a compreensão dos conhecimentos químicos. Zan et al. (2010) apesar das dificuldades encontradas no ensino de química, é possível aos professores obterem materiais que possibilitem uma melhora significativa no ensino-aprendizagem, e a utilização de materiais abundantes da região e comuns no dia-a-dia do aluno são artifícios para o professor inovar na transmissão dos conhecimentos. Os dados indica também que os conhecimentos de química são muitas vezes ministrados desvinculados do contexto regional dos alunos participantes, pois 28,0% não acreditam que frutos Amazônicos podem ser utilizados nas aulas experimentais de Química, declaram ainda não conhecer qualquer experimento utilizando frutos Amazônicos 76,0%, mostrando que o uso de tais produtos ainda não são corriqueiros nas experimentações, despontando, que as aulas necessitam ser mais contextualizadas, o que fica evidenciado quando afirmam que realizar experimentos químicos utilizando produtos do cotidiano, poderia ajudar na compreensão dos conhecimentos químicos 70,8% e tendo em vista que os mesmos foram unanime em demostrar interesse em participar de uma amostra de experimentos químicos na escola. Fazendo-se necessário que o desenvolvimento dos conteúdos, seja orientado por uma prática integrada, isto é, trabalhar de tal forma que a disciplina de Química de uma maneira contextualizada, capaz de construir significados que incorporam valores que possam explicitar o cotidiano, no entendimento dos problemas sociais e culturais, facilitando a convivência do processo da descoberta (AGOSTINHO; NASCIMENTO; CAVALCANTI, 2012). Outros dados muito significativo refere-se a maior dificuldade em aprender química na perspectiva dos participantes (figura 1). Destes, 65,4% dos estudantes da EJA consideram que esta dificuldade se dar pelo fato da complexidade dos conteúdos, já 15,4% afirmam que é devido a monotonia das metodologias de ensino, 11,5% admitem falta de interesse do aluno e 7,7% citam que refere-se à ausência da relação entre a química e o cotidiano dos estudantes. Resultado semelhante é relatado por Costa (2017) que percebeu durante seu estágio II, realizado em um Centro de Educação de Jovens e Adultos um ensino desvinculado da realidade do educando adulto, baseado na transmissão de conteúdos estanques que geram apenas um conhecimento abstrato. O autor cita ainda que se tratando do Ensino de Química na EJA, constatou que dentre as principais dificuldades encontradas, estão à falta de materiais didáticos incluindo livros especializados e a capacitação do corpo docente para lidar com esse público. No momento da coleta dos dados parte dos alunos alegou que a matéria de química era ótima, contudo exige muita dedicação à outra metade cita que esta era boa, mas é difícil de entender, resultado que expõe a necessidade de práticas docentes que atue como um facilitador no processo de ensino- aprendizagem nas aulas de química. Utilizar estratégias de ensino inovadoras pode contribuir para a compreensão dos conceitos científicos, pois estudar de maneira dinâmica oportuniza aos estudantes envolvimento e empenho na construção dos saberes (LEÃO et al. 2018). Merazzi e Oaigen, (2007) apontam que a utilização de atividades práticas no ensino de Ciências na EJA é uma estratégia satisfatória no processo de ensino e aprendizagem e que existe a necessidade de instigar tais práticas na formação de jovens e adultos. A proposta de atividades práticas faz com que estudantes levantem hipóteses, testem-nas, discutam e registrem os resultados obtidos, contribuindo para a organização do seu pensamento e instigando-os (PORTO E ALMEIDA, 2018). Para Silva e Melo (2016) a experimentação como estratégia de ensino- aprendizagem, evidenciou ser uma metodologia viável no ensino de Química, pois as aulas práticas proporcionaram grande motivação nos alunos, os autores perceberam isso através do aumento da participação nas atividades em sala de aula propostas pelos mesmos. Citam ainda que os experimentos favoreceram a construção do conhecimento, estimularam o caráter investigativo, a tomada de decisão e a aprendizagem colaborativa nos alunos.

Tabela 1: Perspectiva dos discentes do EJA

Fonte: os autores, 2019

Figura 1: Dificuldade dos discentes



Conclusões

Este trabalho revela que a disciplina de química carece de metodologias de ensino e aprendizagem que aproxime os conhecimentos científicos do cotidiano dos alunos e a experimentação pode ser utilizada para esta articulação entre os conhecimentos químicos e a realidade dos adolescentes, jovens e adultos. Verifica-se que torna-se cada dia mais indispensável o ensino científico destinado a formar cidadãos, para que tenham informações suficientes a fim de acompanhar os progressos da ciência e o impacto das novas tecnologias sobre sua vida diária, avaliando-os de forma crítica.

Agradecimentos

A SEDUC-AM

Referências

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