Descoberta da aptidão para o ato de ensinar por meio da geometria molecular: relato de uma experiência

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Ensino de Química

Autores

Mendonça, M.L.T.G. (IFRJ) ; Cruz, R.P. (UFRRJ) ; Cardoso, C.E.A. (IFRJ)

Resumo

Este trabalho é um relato de uma experiência que ocorreu com um aluno na disciplina de Química Geral I, na graduação de Tecnologia de Gestão Ambiental, no Instituto Federal do Rio de Janeiro. Foi pedido pra que os alunos se reunissem, para que um pudesse auxiliar ao outro na compreensão dos conteúdos de geometria molecular e um aluno, observando a dificuldade dos seus colegas, construiu sozinho modelos moleculares, onde uma forma geométrica se transformava em outras e por meio dessas explicações, percebeu a sua vocação em lecionar e passou a auxiliar a professora em outras turmas. Concluiu-se por meio dessa experiência o quanto nós docentes devemos incentivar ao aluno que descobre a sua aptidão para ensinar, em ser professor, já que é uma profissão tão desvalorizada socialmente.

Palavras chaves

aptidão; vocação; ensino de química

Introdução

A disciplina de Química é apontada pelos alunos como complexa, sendo considerada um “bicho-papão” (MENDONÇA; CRUZ, 2008), e o conteúdo de geometria molecular apresenta-se como de difícil compreensão. A geometria molecular aborda a organização espacial dos átomos nas moléculas, sendo feita por meio do número de pares de elétrons na camada de valência do átomo central e também pela repulsão entre os pares de elétrons, acarretando, na orientação dos orbitais com a menor distância viável entre eles. Algumas geometrias são tridimensionais, o que requer do aluno uma visão espacial. Devido a essa dificuldade, vários trabalhos foram desenvolvidos: Silva, Souza e Carvalho Filho (2017) construíram formas geométricas utilizando papel canson, obtendo origamis com formatos de octaedro, hexaedro e tetraedro como ferramenta para o ensino de geometria molecular; Lina e Lina- Neto (1999) construíram modelos moleculares utilizando uma técnica artesanal, por meio de materiais alternativos como contas de bijuterias, aço galvanizado ou cobre, que eram dispostos em ângulos corretos para fixar as ligações como ferramenta para o ensino de geometria molecular; Da Silva et al (2010) utilizaram sementes nativas da região amazônica que são empregadas por artesãos locais também como ferramenta para o ensino de geometria molecular. Em decorrência da citada dificuldade, alunos se agrupam na tentativa de um auxiliar ao outro e, nesse encontro, alguns se destacam e se descobrem com determinada aptidão. Rascovan(2004) afirma que a aptidão está relacionada a um conjunto de experiências desenvolvidas com outras pessoas. O aluno percebe que tem interesse em ensinar, conseguindo, com seus ensinamentos, fazer com que outros alunos compreendam o conteúdo e descobre, assim, sua aptidão para o ato de lecionar.

Material e métodos

Este trabalho é um relato de uma experiência que ocorreu no Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), campus Maracanã, na graduação de Tecnologia de Gestão Ambiental (primeiro período de 2018), na disciplina de Química Geral I. A turma era composta de 30 alunos, dentre os quais um deles se destacou. Um dos conteúdos da nomeada disciplina é geometria molecular, considerado de difícil compreensão, visto que as notas das avaliações desse conteúdo são geralmente baixas. A professora preparou as aulas em data show para tentar que os discentes pudessem visualizar melhor as geometrias, mas mesmo assim houve muita dificuldade. Foi pedido, então, que os alunos se reunissem para que um pudesse auxiliar o outro. Por meio deste encontro, um aluno, por si só, teve a ideia de construir modelos das geometrias moleculares com bolas de isopor e palitos de churrasco, que se modificavam à medida da existência ou não das nuvens eletrônicas e das ligações existentes entre os átomos. Com esses modelos, passou a explicar o conteúdo para os seus colegas. Por último, foi realizada uma avaliação para a verificação da aprendizagem.

Resultado e discussão

Dentre os trinta alunos da turma, um, em especial, foi além do esperado. Tendo a professora solicitado aos discentes que se agrupassem, para trabalharem em conjunto, o referido aluno, ao perceber a dificuldade dos colegas, havia tido a iniciativa de pesquisar e construir modelos (Figura 1), passando, então, a dar explicações com desenvoltura. Este aluno me relatou que, quando acabou de construir os modelos, a primeira pessoa a quem ele explicou foi à sua mãe. Disse-me que pensou: ”se minha mãe conseguiu entender e respondeu a mim todas as formas corretamente, vai ser fácil explicar para os meus colegas”. E foi o que ocorreu: ele explicou para o seu grupo e também para os outros discentes. Na avaliação realizada para a verificação da apreensão dos conteúdos, os alunos do primeiro período de 2018 apresentaram 77% (50% + 27%) (Figura 2) com notas superiores a 6,0, já no primeiro período de 2017, 47% (37% + 10%) (Figura 2) dos alunos é que apresentaram notas superiores a 6,0, ou seja, uma quantidade muito menor, demostrando o quanto foi significativa à aprendizagem para os alunos do primeiro período de 2018. O aluno em destaque passou a auxiliar a professora nas aulas de geometria molecular, na transmissão do mesmo conteúdo em outras turmas, descobrindo, desta maneira, a sua aptidão para lecionar. Ao término do curso, ele fará a graduação em Licenciatura em Química, em consequência do grande interesse, motivação e revelação que o ato de ensinar lhe proporcionou.

Figura 1

Modelo da geometria molecular construído pelo aluno

Figura 2

Gráfico das Notas dos Alunos na Avaliação de geometria molecular com as respectivas porcentagens

Conclusões

Conclui-se que trabalhos, muitas vezes despretensiosos para o professor, despertam o grande interesse dos alunos, levando além do que se espera; no caso, a aptidão para o ato de lecionar. Devemos considerar que a profissão de professor é tão desvalorizada, atualmente, tanto no plano financeiro, como no que diz respeito ao status social, que, quando um aluno descobre o contentamento e o entusiasmo para ensinar, nós professores temos a responsabilidade de incentivá-lo e a necessidade em relatar para o professorado como se processou a descoberta dessa vocação. .

Agradecimentos

Referências

DA SILVA, I. M.; POMPEU, E.C.; BISSOLI, F. M.; ALVES-SOUZA, R. A.; PEREIRA, G. J.; ZAN, R. A. Sementes nativas da região amazônica como nova proposta no ensino de geometria molecular. In: 500Congresso Brasileiro de Química, 50. 2010. Cuiabá, Mato Grosso. Anais... Cuiabá, 2010. Disponível em: http://www.abq.org.br/cbq/2010/trabalhos/6/6-357-8359.htm. Acesso: 28 set.2018.
LIMA, M. B.; LIMA-NETO, P. De Construção de modelos para ilustração de estruturas moleculares em aulas de química. Química Nova, v. 22, n. 6, p.903-906, 1999.
MENDONÇA, M. L. T. G.; CRUZ, R. P. As dificuldades na aprendizagem da disciplina de química pela visão dos alunos do ensino médio. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE QUÍMICA, 31.. 2008. Águas de Lindóia, São Paulo. Anais... Águas de Lindóia, 2008. Disponível em: http://sec.sbq.org.br/cdrom/31ra/resumos/T0152-2.pdf. Acesso em: 10 set. 2018.
RASCOVAN, S. Lo vocacional: uma revison crítica. Revista Brasileira de Orientação Vocacional, V. 5, N. 2, p. 1-10, 2004.
SILVA, T. S.; SOUZA, J. J. N.; CARVALHO FILHO, J. R. Construção de modelos moleculares com material alternativo e sua aplicação em aulas de química, Experiências em Ensino de Ciências, v.12, n.2, 2017.

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