LABORATÓRIO DE QUÍMICA COMO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO NO ENSINO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL.

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Ensino de Química

Autores

Oliveira, W.F.S. (SME) ; Oliveira, M.S.C. (UECE) ; Feitosa, C.R.S. (UECE) ; Vieira, A.E.V.N. (UECE)

Resumo

A educação das pessoas com deficiência visual requer ações importantes e uma compreensão aprofundada a respeito das especificidades e das reais implicações determinadas pela dificuldade de enxergar. A realização do trabalho parte de um estudo de caso aliado à um levantamento bibliográfico baseado em Giordan, Vygotsky e Brasil com a intenção de analisar métodos de inclusão de um aluno deficiente visual matriculado em uma escola particular situada no município de Fortaleza – CE, enfocando as dificuldades existentes em aulas práticas no laboratório de ensino de Ciências. Os resultados demonstraram que o aproveitamento do aluno aumentou quando ele realizou as práticas de laboratório complementando o conteúdo de sala, permitindo uma maior compreensão sobre os assuntos teóricos expostos em sala.

Palavras chaves

Laboratório; PNE; Química

Introdução

O presente projeto buscou compreender as dificuldades encontradas por professores de Química no que diz respeito a realidade de instituições de todos os níveis de ensino regular do Brasil: o Ensino Inclusivo. No caso específico, a necessidade de ensinar Química de nível Fundamental para um aluno portador de deficiência visual (PDV) (VARGAS, 2006). A carência de instrumentos e técnicas que permitissem o ensino de química experimental de forma inclusiva é uma realidade que levou a trabalhar no sentido de modificá-la (BERTALLI, 2010). Nesta perspectiva, surgem algumas dúvidas: como realizar experimentos de Química a alunos com deficiência visual? Seria satisfatório para estes alunos apenas ouvir do professor a descrição do que acontece no experimento? E os futuros professores de Química? A universidade tem os preparado para capacitar os professores para que promovam a inclusão? Se a realização de atividades experimentais no ensino de Química é essencial, Salvadego e Laburú, (2009) afirmam que, cabe ao professor a tarefa de prepará-los e aplicá-los adequadamente, com o intuito de ajudar os alunos a aprender por meio do estabelecimento de interrelações entre teoria e prática, inerentes ao processo do conhecimento escolar das Ciências e da Química. Sendo assim, a educação química, vista de um aspecto mais amplo, assim como a escola que está sofrendo mudanças constantes, não pode ficar parada no tempo e não se modificar cada vez mais para atender a sociedade como um todo, com ou sem deficiência de acordo com UNESCO (1994) e BRASIL (1996,1999). Isso só será possível através de constantes estudos, pesquisas específicas e intercâmbio de experiências e propostas entre todos os envolvidos: ESCOLA, PROFESSOR E COMUNIDADE.

Material e métodos

As práticas tiveram seus roteiros adaptados para que fosse possível o acompanhamento do aluno sobre os processos químicos que estavam acontecendo em cada passo do experimento. Foram aplicadas 4 práticas durante o ano e cada uma foi realizada sem o auxílio de outro aluno para permitir que houvesse um sentimento de limitação ou incapacidade por parte do estudante. A primeira prática aplica foi a Pasta de dente de elefante na qual ocorre a decomposição do peróxido de hidrogênio a partir de uma reação catalisada pela adição de iodeto de potássio produzindo uma reação exotérmica pela liberação do gás oxigênio. A prática 2 foi a utilização de ácido acético como catalizador da decomposição do bicarbonato de sódio. Na prática 3 teve como tema o comportamento da água mediante a adição de Poliacrilato de Sódio cuja fórmula molecular é (C3H3NaO2)n e pode ser obtido em fraldas descartáveis. Nesse caso, a intervenção do professor se deu de forma parcial por conta de que se faz necessário a utilização de objetos perfuro cortantes como tesouras ou estiletes. As fraldas foram cortadas pelo professor e o material interno foi colocado dentro de um saco para que o poliacrilato se soltasse em forma de pó e colocado no interior de um Becker de 50mL. A última experiência realizada foi com a composição de álcool em gel com a utilização de carbopol e trietanolamina.

Resultado e discussão

Durante a aplicação das práticas, notou-se uma maior facilidade do aluno em seguir os procedimentos à medida que o mesmo se adaptava a metodologia utilizada pelo professor. Como todos os reagentes eram colocados à direita e ele sabia que iria ter um recipiente à sua frente, o aluno já sentia a segurança em manusear os materiais e vidrarias. Um fator positivo para o aluno se deu por conta das práticas iniciais serem de caráter exotérmico nas quais ele sentia o aquecimento da proveta durante a formação dos produtos. No quadro 1, foi traçado um comparativo das médias do aluno em relação às médias dos alunos em cada bimestre. Ao estudar o quadro, constatou-se que o rendimento do aluno em relação a turma foi satisfatório visto que em todos os bimestres o aluno atingiu a média determinada pela escola que é 7,0. O rendimento do aluno é mostrado em destaque vermelho no número 21 do eixo das abscissas. O quadro 2 mostra o comparativo da média final do aluno em relação a turma comprovando que o rendimento do aluno durante o ano permitiu que o mesmo atingisse o objetivo principal de um estudante que é a aprovação na disciplina. Para fins de registro, as provas do aluno não tinham nenhuma alteração de nível em relação aos alunos de visão normal. O aluno realizava as provas em extensão PDF, mas com supervisão do fiscal de sala. As únicas alterações feitas, além da forma como era aplicada, era a substituição de questões com gráficos ou tabelas por questões contextualizadas que pudessem ser traduzidas pelo programa de conversão de texto em áudio mantendo o mesmo nível das demais questões da prova. O resultado final foi satisfatório tanto para o aluno quanto para o professor, dentre as limitações existentes na prática docente e pelo aluno em questão.

Quadro 1



Quadro 2



Conclusões

Ao término do ano, a comprovação do aluno com PDV de que seu aprendizado se concretizava veio através da sua aprovação por média sem que houvesse interferência do corpo docente para colocá-lo em caráter especial e aprová-lo. Incluir os alunos com PDV no ambiente escolar não significa aceitá-los em sala, mas fazer com que sua vivência em sala seja tão proveitosa quanto a de qualquer outro aluno. O papel do professor como mediador do conhecimento assume um caráter de possibilitar essa inclusão e guiar esses alunos para além das barreias criadas pelas suas condições.

Agradecimentos

A Escola em particular por ter permitido a experimentação desse trabalho.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 1996.

______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais: Ensino Médio: bases legais. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica, 1999.

BERTALLI, J. G. Ensino de geometria molecular, para alunos com e sem deficiência visual, por meio de modelo atômico alternativo. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Campo Grande, Mato Grosso do Sul: 2010.

SALVADEGO, W. N. C.; LABURÚ, C. E. Uma análise das relações do saber profissional do professor do Ensino Médio com a atividade experimental no ensino de Química. QUÍMICA NOVA NA ESCOLA, 31(3), p. 216-223, 2009.

UNESCO. Declaração de Salamanca: Sobre necessidades educativas especiais. Conferência Mundial sobre Educação para Necessidades Especiais: Acesso e Qualidade. Espanha, Salamanca, 1994. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf />Acesso em: 09 maio 2018.

VARGAS, G. M. S. A inclusão no ensino superior: a experiência da disciplina Prática Pedagógica. Prática de Ensino de uma turma de alunos cegos e com baixa visão. Ponto de Vista, 8 ed , 131-138, 2006.

Patrocinadores

Capes Capes CFQ CRQ-PB FAPESQPB LF Editorial

Apoio

UFPB UFPB

Realização

ABQ