Relato de Experiência do primeiro semestre do Programa de Residência Acadêmica realizado no IFPE – Campus Caruaru pelos alunos do curso de Química Licenciatura da UFPE – Centro Acadêmico do Agreste

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Ensino de Química

Autores

Raimundo, L.H. (UFPE - CAA) ; Monteiro, N.S. (UFPE - CAA) ; Silva, J.R.T.R. (UFPE - CAA) ; Pereira, P.D.M. (IFPE - CAMPUS CARUARU)

Resumo

Esse trabalho tem como foco apresentar um recorte da experiência dos bolsistas do Programa Residência Pedagógica no Instituto Federal de Pernambuco - IFPE, no primeiro semestre de 2019. Contudo, o objetivo é relatar nossas vivências na instituição de ensino, optando por apresentar as vivências referentes às regências realizadas por nósem sala de aula. Diante mão, observamos que o ensino de Química no instituto referido é de boa qualidade e os alunos são bastante aplicados, realidade distinta comparada com algumas escolas estaduais e municipais. Além disso, a importância do Programa, que permite a aproximação do professor em formação com o seu ambiente de trabalho, possibilitando a relaçãoda teoria com a prática e as responsabilidades do “ser professor”.

Palavras chaves

Ensino de Química; Relato de Experiência; Residência Pedagógica

Introdução

O Programa de Residência Pedagógica é um projeto da Capes que tem por objetivo oportunizar o aprimoramento da prática dos professores em formação, inserindo-os em escolas de educação básica, durante a segunda metade de seu curso. A imersão dos licenciandos deve abranger atividades como regências em sala de aula e intervenções pedagógicas que devem ser orientadas e acompanhadas por um docente orientador da instituição formadora e outro da escola campo que o licenciando será inserido, esses devem possuir formação na área de ensino do curso do licenciando (CAPES, 2018). Diante disso, a residência pedagógica pode ser vista como um campo para fortalecer ainda mais a formação do professor e possibilitar que ele aprofunda e construa seus saberes docentes, uma vez que segundo Tardif (2002) eles são plurais e heterogêneos, pois são constituídos por meio da integração de saberes profissionais, disciplinares, curriculares e de experiência. Esses saberes são construídos a partir da significação social da identidade da profissão docente, a qual segundo Pimenta (1999, p.19) deve passar pela: Significação social da profissão; da revisão constante dos significados sociais da profissão; da revisão das tradições. Mas também da reafirmação das práticas consagradas culturalmente e que permanecem significativas. Práticas que resistem a inovações porque prenhes de saberes válidos às necessidades da realidade. Do confronto entre as teorias e as práticas, da análise sistemática das práticas à luz das teorias existentes, da construção de novas teorias. Tudo isso se atrela a importância de considerar que o professor sempre deve está em um processo de auto-formação, pois seus saberes prévios estão sempre em confronto e sendo reelaborados durante sua prática, por meio de um processo reflexivo. Podemos então considerar que quanto mais experiência prática esse profissional obtiver, mais saberes docentes e conhecimento profissional ele construirá. Com isso, devemos considerar que a formação do professor não pode ser dissociada do campo prático, pois é nele que se constrói um dos mais importantes saberes que é o da experiência, que se responsabilizará pela competência profissional, a qual surge por meio da vivência no ambiente de trabalho. Algumas teorias referentes ao uso dos conhecimentos prévios dos alunos, importância à alusão histórica dos conhecimentos científicos e contextualização do ensino serão abordadas nesse trabalho, pois serviram como base teórica para elaboração das regências. Diante disso, é necessário conhecemos um pouco a respeito dessas teorias, em que se tratando da alusão histórica, segundo a Unesp (2011, p.4): Entender como a Química evoluiu como ciência, quais paradigmas foram modificados, quais teorias foram refutadas, os contextos políticos, sociais, econômicos, filosóficos, e até religiosos em que emergiram as teorias, faz com que ampliemos nosso entendimento de como uma ciência se constitui e evolui. E é nesse entender de como a ciência é constituída e evolui que conseguimos repassar a ideia de que os conhecimentos não são construídos do nada, e sim de uma série de descobertas que ao longo do tempo vão sendo compreendidas e compondo novas teorias capazes de explicar determinados fenômenos.Dessa forma, se tratando de conhecimento pré-construídos anteriormente ao um novo saber, vemos também a relação que isso temcom uma aprendizagem significativa no ensino, pois para que a mesma seja atingida, é importante pensarmos dessa forma e começarmos a levar em consideração o que o aprendiz já traz consigo a respeito do assunto que queremos lhe apresentar. O que o aluno já sabe o conhecimento prévio (conceitos, proposições, princípios, fatos, ideias, imagens, símbolos), é fundamental para a teoria da aprendizagem significativa, uma vez que se constitui como determinante do processo de aprendizagem, pois é significativo por definição, base para a transformação dos significados lógicos dos materiais de aprendizagem, potencialmente significativos, em significados psicológicos (AUSUBEL, NOVAK, HANESIAN, 1980; AUSUBEL, 2003 Apud ALEGRO, 2008). Então, por meio de um processo de “reinterpretação”, referente ao que já se sabe a respeito do assunto e o novo que lhe está sendo apresentado, o aluno consegue com mais facilidade compreender o assunto, pois ele apenas receberá agora alguns outros significados a mais. Atrelado a esse processo de significação do conhecimento, é possível se pensar em diferentes estratégias didáticas que culminam para esse objetivo, um exemplo é a abordagem do ensino contextualizado. Diante disso, o objetivo desse trabalho é relatar nossas vivências na instituição de ensino, bem como proporcionar uma visão do programa residência pedagógica, por meio da apresentação das experiências vivenciadas até o momento.

Material e métodos

Este trabalho foi realizado em um Instituto Federal de Pernambuco, na turma de primeiro período de Química (1° ano) do curso de Segurança do Trabalho da modalidade integrado, através do Programa da Residência Pedagógica, o qual nos inseriu na instituição de ensino nos permitindo realizar atividades de regências e de observações de aulas a partir do ano letivo de 2019. A cada aula observada, ou ministrada, descrevíamos como memória de aula os principais pontos, acrescentando algumas informações subjetivas que eram perceptíveis nas atitudes tanto dos discentes como do docente (preceptor) em sala de aula e fora dela. A partir destes memoriais produzimos este trabalho que resumiram o primeiro semestre da Residência Pedagógica no IFPE.

Resultado e discussão

A seguir, iremos apresentar algumas experiências de regências vivenciadas em cada mês na instituiçãode ensino. Experiência do mês de Fevereiro: A primeira regência (19/02) que elaboramos foi a respeito da evolução dos modelos atômicos, através de slides com discussões entre residentes, preceptor e alunos a cerca de observações dos cientistas em seus experimentos, tendo antes as abordagens das teorias dos filósofos gregos, e explicação do que podemos definir como modelo e o conceito de matéria, com exemplos para melhor compreensão dos discentes. Surgiram dúvidas entre os discentes, em que uma delas foi “Por que não podemos ver os átomos?”, a resposta obteve-se de outros estudantes que responderam que “deve-se ao tamanho dos átomos, por ser muito pequeno”; Outra indagação surgiu com a apresentação do modelo proposto por Rutherford, sendo “Se os átomos contêm em seu maior tamanho um espaço vazio, porque os objetos são tão concretos?” tendo como resposta a relação existente entre as interações e ligações intramoleculares e intermoleculares que contribuem para a formação de objetos e acrescentando que eles não são formados apenas por átomos isolados, mas sim por interações existentes entre eles. Abordando a afirmação de que “os aspectos históricos, filosóficos e epistemológicos [...] é de suma importância para nossa compreensão sobre a Química” (SILVA; OLIVEIRA; FARIA OLIVEIRA, 2011, p. 04), a alusão histórica abordada no início da aula deve-se a importância que é demonstrar ao discente como ocorreu toda a construção até os dias atuais, para que através desta análise feita por eles seja possível a melhor compreensão do conteúdo. Com a experiência desse primeiro mês a maioria dos alunos teve dificuldades nos conteúdos e nas formas de abordagens, pelos ministrantes, devido ao sistema anterior de ensino que não estava tão adequado ao nível de um instituto federal. Experiência do mês de Março: A segunda regência (12/03) iniciou-se com a explicação dos conceitos de substância e mistura, classificando a primeira como simples e composta e as misturas entre homogêneas e heterogêneas, para então expor os tipos de separação entre misturas sólido-sólido, líquido-líquido e outros. Baseado nos conhecimento prévios dos discentes, sendo que o “conhecimento prévio define-se num trânsito, em função de uma mudança, na qual certa estrutura cognitiva inclusiva já existente está em relação a um novo conhecimento” (ALEGRO, 2008, p. 39) então ele foi considerado como uma ponte entre o “prévio” e o “novo” conhecimento. Com está ideia, utilizamos de imagens para que os alunos buscassem dizer no que consistia determinada técnica de separação, baseando-se nos seus conhecimentos prévios, seja eles vistos em outros ambientes de ensino, ou no cotidiano. E na maioria das técnicas eles conseguiram identificar o que elas faziam, e isso dinamizou a aula. Na técnica de sifonação surgiram algumas perguntas a respeito de como ocorreria sua diferença de altura, então para melhor compreensão explicou-se através de fatos ocorridos no cotidiano para que ficasse mais claro que a diferença de altura auxilia na separação devido à ação da gravidade, sendo isso demonstrado também em vídeo. Após esses estudos aplicamos uma situação-problema com os alunos para que eles definissem uma sequência de separações (de acordo com as abordadas em aula) para que eles isolassem os componentes da mistura elaborada por nós. Neste segundo mês os discentes encontravam-se mais adequado ao novo sistema deensino e sentiam-se mais seguros em retirar suas dúvidas tanto com o preceptor, como com osresidentes. As regências foram dadas de formas distintas entre os residentes e o preceptor paraque não se tornassem aulas monótonas, assim tentando ao máximo expandir osconhecimentos dos alunos. Experiência do mês de Abril: No dia 9 de abril efetuamos uma regência explanando a alusão histórica da Tabela Periódica, iniciando com a primeira proposta de organização dos elementos tida por Dalton até a tabela atual proposta pela International Union ofPureandAppliedChemistry (IUPAC). Os estudantes demonstraram participação ao relacionar a descoberta do elemento Fósforo (P) por Henning Brand com a Pedra Filosofal do filme de Harry Potter, por não acreditarem que em alguma época ela realmente foi símbolo de pesquisa e ainda pelos alquimistas. Na Lei das Tríades solicitou-se aos discentes que realizassem os cálculos e percebessem o erro existente nesta teoria, assim propomos a média aritmética de alguns elementos químicos, onde uma das combinações daria certo e outra não, demonstrando então a falta de exatidão desta teoria. Os demais modelos da tabela periódica (Mendeleev, Parafuso Telúrico, Lei das Oitavas, tabela de Meyer e Moseley), buscou-se demonstrar o porquêda necessidade de suas criações e como aconteceram. Através da regência deste mês, os alunos obtiveram uma forma de conhecimento baseado na análise dos erros dos cientistas, e através das tentativas propostos pelos residentes, eles conseguiram compreender de forma concreta (através de cálculos e outros métodos) o ponto que deixava a desejar nas teorias. Assim, tornando-os mais investigativos. Experiência do mês de Maio: No dia 14 de maio ministramos uma aula abordando o conteúdo de ligações químicas, a mesma partiu da temática “O quão prejudicial para nossa saúde o refrigerante Coca-Cola pode ser?”, pois, verifica-se que na composição da bebida existe uma grande quantidade de açúcar, como também de sal, sendo que em conjunto com o ácido fosfórico (também presente na bebida) mascaram a sensibilidade ao doce. Em cima disso, a ideia da aula se voltou para a apresentação do contexto da bebida e com base em suas substâncias explanamos as definições da ligação química iônica e covalente. Em relação à existência do Ácido Fosfórico (H3PO4) na Coca-cola, um dos alunos indagou: “Se é um ácido, porque quando ingerimos a Coca-cola ele não corrói todo o nosso organismo?”, explicou-se que o H3PO4 é um ácido fraco e não teria tanto efeito no corpo e por ele está em uma mistura na Coca-cola e não isolado acarreta na diminuição do seu efeito. Analisando as substâncias contidas na bebida, outra aluna perguntou: “O que ocasiona o vício na Coca-cola por algumas pessoas?”, esclarecemos tal pergunta descrevendo relativamente os efeitos da Cafeína (C8H10N4O2) que causa dependência nos seus consumidores, citando o exemplo do café. Outro composto tido como base para discussão do conteúdo a ser ensinado em sala de aula foi o Cloreto de Sódio (NaCl), através dele iniciou-se a explanação de ligações iônicas, dado que ele resulta de uma ligação entre um metal (Na) e um ametal (Cl), apresentando em seguida a sua fórmula de Lewis para representação melhor desta ligação, demonstrando através desse modelo a saída do elétron de um átomo e a sua entrada na órbita do outro. Para explanação da ligação covalente manuseou-se de outras duas substâncias na Coca-cola, a Sacarose e a Cafeína, demonstrando inicialmente as estruturas químicas de cada uma delas e pedindo que os alunos identificassem os elementos que estavam presentes, ao comparar a classificação deles é concluído que todos são ametais ou semimetais, então completamos a ideia que a ligação entre estes elementos identificados são ligações covalentes que distinta da iônica ocorre entre elementos semimetais, ametais ou com H. Com a experiência deste mês os discentes compreenderam no que acarretaria o uso da Coca-cola de forma descontrolada, em conjunto com os tipos de ligações interatômicas (iônica, covalente e metálica), impactando no cotidiano para conhecimento dos efeitos da sua alimentação. Durante o período de observação das aulas do docente da instituição de ensino, pudemos conhecer didáticas interessantes, que em sua maioria possibilitaram que os alunos participassem ativamente do processo de ensino-aprendizagem, pois estavam sendo questionados o tempo todo e lançando também questionamentos para o professor.

Conclusões

Com os diversos tipos de atividades realizadas neste curto período de tempo, percebemos a importância de projetos que direcionem os discentes da licenciatura para a sala de aula, pois ao está realizando concretamente a sua prática ele consegue perceber quais suas características que devem ser melhoradas e mais desenvolvidas, ou até retiradas do seu critério de formação, atingindo uma formação mais dinâmica e real com as salas de aula nesses tempos atuais. O que pudemos perceber com as nossas primeiras regências no instituto foi à interação dos alunos e o nível de envolvimento dos mesmos, como também de questionamentos, algo que nos surpreendeu bastante, pois nos deparamos com estudantes muito bons o que nos exigiu aulas bem elaboradas e aprofundadas, algo que enriqueceu ainda mais a nossa prática, pois nos sentimos incentivados a estudar mais sobre a Química, nos aproximando mais da realidade do ser professor (a). Com o objetivo de oportunizar o aprimoramento da prática dos professores em formação, inserindo-os em escolas de educação básica, durante a segunda metade de seu curso, a Residência Pedagógica cumpriu seu papel disponibilizando diversos momentos de regência durante a sua aplicação nesse primeiro semestre do ano, como foi descrito nos resultados e discussões acima, tendo em todas elas a análise do preceptor para aconselhar sobre alguns pontos que ainda estavam em desenvolvimento, como o método de ensino em alguns momentos da aula que exigiam uma descrição mais concreta. Tentando sempre ao máximo manter o foco para que se tenha um maior rendimento em conhecimento por toda a turma. A perspectiva para o segundo semestre é melhorar as deficiências que estavam contidas nesse primeiro semestre, aperfeiçoando cada vez mais a prática docente a partir das regências e contribuindo de forma construtiva com o conhecimento dos alunos do IFPE.

Agradecimentos

Referências

ALEGRO, Regina Célia. Conhecimento Prévio e Aprendizagem Significativa de Conceitos Históricos no Ensino Médio. 2008. 239f. Tese de Doutorado – Universidade Estadual Paulista, Marília, 2008. Disponível em: <https://www.marilia.unesp.br/Home/Pos-Graduacao/Educacao/Dissertacoes/alegro_rc_ms_mar.pdf>.Acesso em 20 de abr.2019.

CAPES. Programa de Residência Pedagógica. Disponível em:<https://uab.capes.gov.br/educacao-basica/programa-residencia-pedagogica>. Acesso em 18 de abril de 2019.

PIMENTA, S.G. Formação de professores: Identidade e saberes da docência. In: PIMENTA, S.G. (Org.) Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo: Cortez, 1999.

SILVA, Camila Silveira da; OLIVEIRA, Luiz Antonio Andrade de; OLIVEIRA, Olga Maria Mascarenhas de Faria. Evolução Histórica da Química. 2011. Disponível em: <https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/40346/6/2ed_qui_m1d1.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2019.

TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

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