Análise de Enunciados de Provas sobre “Tabela Periódica” aplicadas no Ensino Fundamental: Uma reflexão a partir das competências científicas

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Ensino de Química

Autores

Sales, S.N. (UFMA) ; Marques, C.V.V.C.O. (UFMA)

Resumo

No ensino de ciências atual a prova escrita atua de forma bastante evidente como mecanismo de aferição da “aprendizagem”. A presente pesquisa teve por objetivo descrever uma análise em cima dos enunciados de questões de provas de química elaboradas pelos professores do Ensino Fundamental (EF), tendo como referencial Neus Sanmartí e Iván Marchán-Carvajal (2014). A metodologia segue os aspectos de pesquisa qualitativa e fez-se uso da análise documental. Os resultados evidenciaram que a prova escrita é o instrumento mais utilizado no componente de “química” do 9º ano do EF, sendo esta do tipo tradicional, evidenciando assim, questões memorativas e pseudoinformativas que não possibilitam verificar competências científicas desenvolvidas nos alunos.

Palavras chaves

Ensino de Quimica; Avaliação da Aprendizagem; Enunciados de provas

Introdução

A literatura sobre avaliação da aprendizagem é extensa em relação a seus significados, intenções, terminologias e utilizações. De uma maneira geral, ela é entendida como um mecanismo de orientação e regulação da aprendizagem, onde busca utilizar-se de meios para formatação dos perfis normativos dos alunos (LUCKESI, 2006; VASCONCELLOS, 2008; SANMARTÍ, 2009). Luckesi (2006) afirma que no processo de ensino é predominante a pedagogia do exame, onde pais, professores e alunos visam, principalmente, a promoção do estudante no final do processo. Assim, a avaliação atua de forma não reguladora do processo de aprendizagem, mas, na perspectiva classificatória de alunos (SANMARTÍ, 2009). A atual prática de professores na avaliação da aprendizage de Ciências de acordo com Hoffmann (2009) e Vianna (2009) é do tipo reprodutivista, ou seja, os professores acabam aplicando em suas práticas docentes, muitas das vezes de forma inconsciente, métodos de avaliação similares àqueles vivenciados na graduação. Vianna (2009) ainda afirma que essa prática disseminada pelos docentes é ocasionada pela formação inadequada no que compete ao campo da avaliação da aprendizagem, indicando assim que ainda existe uma grande necessidade de discussão sobre o tema avaliação no ensino na formação docente, desde a formação inicial dos professores até a configuração de carreira do professor, uma vez que na graduação o tema avaliação é trabalhado de forma insuficiente para preencher as lacunas existentes acerca do tema (CAPPELLETTI, 2012). Dessa forma, a questão pontual de pesquisa deste trabalho centrou-se na seguinte indagação: Como se configura o formato das questões de química no que compete a aprendizagem da Tabela Periódica elaborada por professores de ciências de uma amostragem de escolas da zona urba

Material e métodos

O presente trabalho teve como caráter metodológico a abordagem qualitativa. A pesquisa qualitativa possui como característica o contato estreito e direto do pesquisador com seu ambiente de coleta de dados, possibilitando assim que o pesquisador possua uma grande riqueza em suas descrições, nesse sentido as investigações do tipo qualitativas são descritivas (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). Esta pesquisa investigou qualitativamente o instrumento de avaliação da aprendizagem mais aplicado nas aulas de ciências o 9° ano do nível do Ensino Fundamental referente ao componente “Química”, de uma amostragem de escolas públicas municipais da zona urbana da cidade de Codó- Maranhão. Para tanto, na obtenção de dados foram utilizados dois instrumentos de pesquisa, a saber: Questionário com perguntas mistas, aplicado a professores de ciências, tendo como objetivo verificar o perfil formativo dos professores de Ciências e quais instrumentos são por eles utilizados para avaliação; Amostragem de provas escritas da disciplina de Ciências aplicadas no 9° ano no ano letivo de 2018. A análise movimentou-se no sentido de verificar as unidades de significados mais citadas, compilando-as posteriormente em categorias e subcategorias respectivamente (BARDIN, 2016). Essa organização possibilitou a estruturação de uma rede sistêmica da seguintes forma: Bloco I: Formato técnico dos enunciados e Bloco II: Formato pedagógico dos enunciados, sendo o Bloco I categorizado nas categorias i) objetiva; ii) discursiva; iii) dedução matemática; iv) associativa; e v) completividade. O Bloco II agrupou as provas tradicionais e provas por competência.

Resultado e discussão

Foram detectadas 5 avaliações concernentes ao conteúdo foco desta pesquisa, perfazendo um total de 12 questões sobre Tabela Periódica. Para a análise geral das provas, utilizou-se como referencial teórico a classificação de estilos de provas escritas de Sanmartí e Carvajal (2014), definida por esses autores como: tradicional e por competências. Portanto, gerou-se uma rede sistêmica com dois blocos de análise: Bloco I: Formato Geral dos Enunciados: Esse bloco buscou analisar como é a estruturação dos enunciados presentes nas provas dos professores de Ciências. Utilizou-se as categorias analíticas apresentadas no trabalho da Silva (2017) com as devidas adaptações, a saber: (i) objetiva; (ii) discursiva; (iii) dedução matemática; (iv) associativa; (v) completividade. Porém, a análise dos dados revelou que as questões selecionadas que dizem respeito a tabela periódica se enquadram em apenas duas das categorias pré-estabelecidas, sendo elas: a objetiva e a discursiva. Bloco II: Formato Específico dos enunciados: A análise realizada nesse bloco teve como intencionalidade identificar quais competências são exigidas pelos enunciados das questões aos alunos. Esse bloco apresentou dois grupos, (i) Enunciados abertos e (ii) Enunciados fechados. A categoria Pseudoinovadora agrupou questões que de acordo com Sanmartí e Carvajal (2014) são questões aparentemente inovadoras, que demonstram brevemente em seus enunciados uma certa contextualização, mas o comando final do enunciado, exige do aluno apenas uma memorização do assunto. A categoria Mnemônica agrupou questões que apresentaram características sobre os elementos, seus grupos e famílias, todavia, as informações apresentadas ao aluno no enunciado são de cunho unicamente memorizante. A categoria Pseudoinformativa agrupou questões que apresentaram brevemente informações sucintas sobre um determinado tema, iniciando um diálogo contextualizado, porém não continuaram nessa linha, interrompendo abruptamente a proposição dialética, ou seja, se fizeram incompletas para o entendimento do aluno.

Conclusões

Por meio das análises das questões da amostragem de provas selecionadas foi possível verificar que os enunciados têm tendência tradicional. Os professores verificam dos seus alunos a aprendizagem de um determinado assunto solicitando apenas que estes tenham em mente minimamente alguns conceitos. Não se observou nenhuma questão que se enquadrasse dentro da classificação estabelecida por Sanmartí e Carvajal (2014) como sendo uma prova por competência, percebendo assim que os professores não fazem uso de questões que estimulem a apresentação de situações atreladas ao mundo que os alunos estão inseridos, que possibilitem verificar a capacidade do aluno em transferir seu aprendizado ou que solicitem deles uma inter-relação dos conhecimentos.

Agradecimentos

SEDUC - Maranhão FAPEMA

Referências

BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.

CAPPELLETTI, I. F. Opções metodológicas em avaliação: saliências e relevâncias no processo decisório. Roteiro, v. 37, n. 2, p. 211-26, jul./dez. 2012.

HOFFMANN, J. M.L. Avaliação Mediadora: uma prática em construção da pré – escola à Universidade. Porto Alegre: Mediação, 2009, 160 p.

LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 18. ed. São Paulo: Cortez, 2006, 180 p.

LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens Qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

SANMARTÍ, N. Avaliar para aprender. Porto alegre: Artemed, 2009.

SANMARTÍ, N; CARVAJAL, I. M. Como elaborar uma prueba de evaluación escrita? Didáctica de las Ciências Experimentales. Alambique, n. 78. Julio 2014.

SILVA, F. S. Análise qualitativa dos enunciados de provas aplicadas em Ciências Naturais nos anos finais do Ensino Fundamental. 2017. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2017.

VASCONCELLOS, C. dos S. Avaliação: concepção dialética – libertadora do processo de avaliação escolar. 18. ed. São Paulo: Libertad, 2008.

VIANNA, H. M. Fundamentos de um programa de avaliação educacional. Meta: Avaliação, v. 1, n. 1, p. 11-27, jan./abr. 2009.


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