SEQUÊNCIA DIDÁTICA SOBRE TABELA PERIÓDICA COM MATERIAIS RECICLÁVEIS E DE BAIXO CUSTO

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Ensino de Química

Autores

Ribeiro, M.P. (INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE) ; Lopes, L.A.T. (INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE) ; Antonio, L.M. (INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE) ; Flor, Y.S. (INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE) ; Ney, W.G. (INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE)

Resumo

O ensino de química, muitas das vezes, perpassa por dificuldades com a não contextualização de conceitos. Assim, o objetivo do trabalho visa relatar a construção de uma Tabela Periódica como recurso facilitador no ensino de química. A proposta envolveu o desenvolvimento, aplicação e análise de uma sequência didática com seis encontros, contando com uma pesquisa de caráter qualitativo. Os sujeitos da pesquisa foram vinte alunos do primeiro ano do ensino médio. Os resultados obtidos foram satisfatórios devido ao ambiente diferenciado proporcionado em sala de aula. Concluiu-se que a proposta destacou-se como uma ferramenta de sensibilização dos alunos acerca dos assuntos relacionados ao meio ambiente. Para mais, a construção da tabela mostrou-se um recurso eficaz no ensino de química.

Palavras chaves

Meio Ambiente; Tabela Periódica; Ensino de Química

Introdução

A presença diária da química na vida das pessoas justifica seu ensino como parte da formação cidadã. Contudo, o ensino tradicional de química, muitas das vezes, culmina em interpretações precipitadas dos alunos a respeito da mesma, diminuindo, assim, as possibilidades de associações dos conteúdos químicos fora da sala de aula (ROCHA e VASCONCELOS, 2016). Dessa forma, inúmeras vezes, a disciplina de química é interpretada como difícil e abstrata pelos alunos. Isso normalmente dificulta que os alunos associem as teorias científicas e o comportamento dos materiais. Assim, os estudantes costumam ter dificuldades na construção do conhecimento científico e passam a memorizar fatos e símbolos, causando desinteresse pela matéria (ROCHA e VASCONCELOS, 2016). Nesse ensejo, dentre os conteúdos químicos interpretados como difícil e dependentes de memorização, a tabela periódica contendo apenas letras e números se destaca. A Tabela Periódica, no entanto, é de grande importância para o estudo de Química, pois é nela que se encontra a base primordial para o estudo da ciência. Conforme Trassi e colaboradores (2001) torna-se necessário, dessa forma, a busca por recursos que proporcionem um estudo da tabela periódica sem exaustivas memorizações, isto é “cabe ao professor de química levar ao aluno um estudo da Tabela Periódica que traga conteúdos mais significativos, métodos de preparação, propriedades, aplicações e correlações entre esses assuntos” (TRASSI et al., 2001). Para tanto, conforme Valadares (2001) é necessário a utilização de contextualizações, estratégias diversificadas, propostas de baixo custo, e envolvimento com a comunidade escolar, visando articulação entre o conhecimento exposto em sala de aula e o cotidiano. Assim, o ensino de química torna mais atraente despertando o interesse e motivação nos alunos (SILVA, 2011). Nessa perspectiva, a construção da tabela periódica interativa construída pelos alunos com material reciclável pode se destacar como um instrumento facilitador no processo do ensino de química. A construção da tabela reflete, além disso, em um recurso de conscientização socioambiental, uma vez que para construção da tabela fez-se necessário a reciclagem e reutilização de materiais acumulados pelos alunos e a reflexão acerca da sustentabilidade. A abordagem desta conscientização no ambiente escolar é relevante para o desenvolvimento do pensamento crítico e da cidadania, uma vez que o assunto se relaciona com um contexto abrangente relacionado reutilização de materiais. Assim, o estudante compreende os problemas ambientais e sociais, associando-os as diversas ações do homem, entendendo que é necessária uma mudança individual de postura visando o desenvolvimento sustentável (CARVALHO, 2004). Deste modo, a justificativa do presente trabalho consiste na necessidade de utilizar diferentes estratégias didáticas, a fim de proporcionar um ambiente diferenciado para o ensino de química. Nessa perspectiva, destaca-se a relevância da Tabela Periódica interativa construída pelos alunos, uma vez que os alunos são levados a pesquisar sobre o histórico, característica e utilização dos elementos químicos, reciclar materiais, confeccionar as unidades dos elementos químicos e agrupá-los formando a tabela periódica. Para mais, a construção da tabela possui relevância devido a comemoração dos 150 anos da Tabela periódica completados no ano vigente. Objetiva-se, portanto, com o presente trabalho dinamizar as aulas de química, contextualizar os elementos químicos por meio de pesquisas realizadas pelos alunos e promover uma conscientização socioambiental, de modo a intensificar o interesse pelos assuntos relacionados ao meio ambiente. Além disso, visa-se relatar a construção da tabela periódica gigante interativa como instrumento facilitador no processo de ensino e aprendizagem de química.

Material e métodos

A sequência didática desenvolvida neste trabalho foi aplicada no Colégio Estadual Julião Nogueira localizada no município de Campos dos Goytacazes- RJ. O público alvo foi uma turma de 20 alunos do 1°ano do ensino médio. A proposta teve carga horária total de seis horas distribuídas em uma hora semanal no período de dois meses. Os instrumentos para coletas de dados foram dois questionários, contendo questões abertas e fechadas, aplicados antes e depois da proposta, além da observação da participação dos alunos. A observação proporciona ao pesquisador coletar dados que permeiam a pesquisa (GOLDENBERG, 1997). A análise dos dados obtidos se deu por um caráter qualitativo, uma vez que não havia preocupação com números, mas sim com apreensão de um grupo social (GOLDENBERG, 1997). As questões abertas foram organizadas em categorias conforme Henkel (2017). A categorização remete a avaliação dos significados de palavras e frases culminando no decodificador para criação das categorias (HENKEL, 2017). O primeiro encontro da proposta contou com uma coleta inicial de dados para conhecer o interesse dos alunos relacionados ao meio ambiente e extrair informações acerca da opinião dos alunos sobre a disciplina de Química. Para mais, foi explicado aos alunos acerca dos encontros posteriores e assim foi solicitado que separassem os materiais de papelão utilizados por eles. No segundo encontro houve uma abordagem com os alunos sobre meio ambiente e sustentabilidade, apontando como as atitudes individuais podem contribuir para o desenvolvimento sustentável. No terceiro encontro os alunos iniciaram a preparação do papelão para confecção da Tabela Periódica. Ao final, foi proposto aos alunos uma tarefa em grupo: pesquisar sobre cada elemento de uma família da tabela periódica. Na pesquisa, os alunos deveriam obter informação a respeito da característica, histórico e aplicação de cada elemento de seu respectivo grupo da tabela periódica. O quarto encontro contou com a entrega da atividade solicitada e com auxílio das pesquisas dos alunos foi explicado a diferenças e particularidades entre metais, ametais e gases nobres. O quinto encontro contou com a elaboração das unidades que correspondem os elementos químicos (Figura 1). Os elementos foram confeccionados com material reciclável oriundo do cotidiano dos alunos e a partir das pesquisas dos mesmos. No sexto e último encontro, as unidades dos elementos químicos foram organizadas em ordem crescente de número atômico, culminando na Tabela Periódica Gigante (Figura 2). Além disso, houve também a coleta final de dados. A tabela foi confeccionada no tamanho 4,00 m X 1,40 m. Os materiais utilizados foram: material reciclável (papelão), cola branca, tecido (TNT), folhas coloridas e velcro 1 cm de largura. Cada elemento químico representado contém seu respectivo histórico, característica e utilização. No mais, cabe ressaltar que tabela foi fixada na instituição de ensino, estando disponível a toda comunidade escolar.

Resultado e discussão

Tendo em vista, portanto, conforme Valadares (2001), a relevância da busca de estratégias contextualizadas e dinâmicas para o ensino, a reciclagem e reutilização de materiais dos alunos foi proposto visando a construção de uma tabela periódica interativa. A figura 1 diz respeito aos resultados dos questionários aplicados antes e após a proposta. Já a figura 2 remete a elaboração da Tabela Periódica pelos alunos e o resultado da tabela periódica. A primeira etapa da proposta contou com uma coleta inicial de dados por meio de um questionário contendo quatro indagações aos alunos. A Figura 1 contém a tabela 1 que relata os dados obtidos na coleta realizada antes da execução da proposta, contabilizando 20 alunos. Quando indagados a respeito do interesse relacionado aos assuntos ambientais, parte dos alunos, cerca de 50,00%, relataram por meio de questões fechadas que possuem pouco interesse relacionado ao meio ambiente. Dessa forma, percebe-se a necessidade de inserção de assuntos e conceitos relacionados ao meio ambiente no âmbito da sala de aula, para que a educação ambiental possa ser trabalhada em um contexto interdisciplinar e abrangente (CARVALHO, 2004). O segundo e o terceiro questionamento refere-se ao interesse que as aulas de química despertam nos alunos em estudá-la e como normalmente são as aulas de química, respectivamente. O segundo questionamento contou com questões fechadas. Já o terceiro questionamento baseou-se em uma indagação aberta, onde as respostas foram categorizadas segundo Henkel (2017). Grande parte dos alunos relataram que a disciplina de química não desperta interesse em estudá-la e que as aulas são, normalmente ruins. Tal ponto remete as dificuldades enfrentadas no ensino de química, onde as práticas descontextualizadas e tradicionais se destacam, culminando em interpretações precipitadas dos alunos e diminuindo o interesse pela mesma (ROCHA e VASCONCELOS, 2016). Já a Tabela 2 presente na figura 1 reflete os dados obtidos na coleta realizada após a execução da proposta, contabilizando 20 alunos. Os alunos foram novamente indagados a respeito do interesse aos assuntos relacionados ao meio ambiente. Percebe-se que, após a execução da proposta, o interesse de grande parte dos alunos se intensificou. Dessa forma, entende-se que a construção da Tabela Periódica com material reciclável aumentou o interesse dos alunos pelos assuntos ambientais. Os alunos foram levados a refletir a respeito das causas e consequências de problemas ambientais, bem como a importância do desenvolvimento sustentável. Os alunos foram indagados, por meio de um questionamento aberto, a respeito da importância da tabela periódica interativa. As respostas foram organizadas em categorias conforme Henkel (2017) e percebeu-se, dessa forma, que grande parte dos alunos expressou que a tabela periódica tem importância para agregar conhecimento, além de ser bom para o ensino de química. Ademais, outro questionamento aberto e categorizado de acordo com Henkel (2017), foi proposto aos alunos. Neste, os alunos foram indagados a respeito de situações que chamaram atenção ao longo da proposta. Boa parte dos alunos, cerca de 45,00%, relatou que a união da turma foi um momento que chamou atenção. Além disso, alguns alunos relataram que a preparação dos elementos, cerca de 15,00%, e a montagem da tabela periódica, cerca de 30,00%, foi um momento que chamou atenção. Nesse contexto, Silva (2011) expressa que o ensino e aprendizagem de química pode se tornar agradável e atraente com a utilização recursos diferenciados. Além disso, com a observação da participação dos alunos na construção da tabela, percebeu-se que a maior parte dos alunos participou das atividades, mostrou-se interessado e entusiasmado com a execução da proposta.

Figura 1 - Resultados da pesquisa

Resultados dos questionários aplicados antes e após a execução da proposta.

Figura 2 - Execução e resultado da proposta

Elaboração da Tabela Periódica pelos alunos e resultado da Tabela Periódica Gigante Interativa.

Conclusões

A proposta permitiu uma abordagem abrangente relacionada a impactos ambientais e sustentabilidade. Dessa forma, percebe-se que a construção da tabela periódica com material reciclável contribuiu para intensificar o interesse dos alunos acerca dos assuntos relacionados ao meio ambiente. A construção da tabela periódica, além disso, proporcionou um ambiente diferenciado e dinâmico em sala de aula. Nesse ensejo, verificou-se a participação e interesse dos alunos nas atividades propostas. Com a construção e finalização da tabela periódica os estudantes puderam conhecer e explorar os elementos químicos, conhecendo seu histórico, característica e utilização, reconhecendo onde encontrá-los e suas relevâncias. Aspira-se, dessa forma, que a construção da tabela periódica tenha contribuído para facilitar a aprendizagem e contextualização dos elementos químicos. Além disso, presume-se que a fixação da tabela periódica na sala de aula proporcione uma facilitação nas aulas seguintes. Portanto, a tabela periódica gigante destaca-se como um recurso promissor no ensino de química.

Agradecimentos

Agradecemos a professora titular da turma Tatiana Linhares Curty. Ao professor Wander Gomes Ney pela colaboração na execução do projeto, além do Programa de Educação Tutorial (PET) / MEC – SESU.

Referências

CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental crítica: nomes e endereçamentos da Educação. In: BRASIL. LAYRARGUES, P. P. (Coord.). Identidades da educação ambiental brasileira, Brasília, p.13-24, 2004. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/livro_ieab.pdf> Acesso em: 12 maio 2019.
GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar. Rio de Janeiro, editora Record, p. 34, 1997.
HENKEL, Karl. A categorização e a validação das respostas abertas em surveys políticos. eISSN 1807-0191, p. 786-808 OPINIÃO PÚBLICA, Campinas, vol. 23, nº 3, set.-dez., 2017.
ROCHA, J. S.; VASCONCELOS, T. C. Dificuldades de aprendizagem no ensino de química: algumas reflexões. XVIII Encontro Nacional de Ensino de Química. VIII Eneq, Florianópolis, SC, v. 25, 2016.
SILVA, A. M. da. Proposta para tornar o ensino de Química mais atraente. Revista de Química Industrial - RQI, Rio de Janeiro, n. 731, p. 7-12, 2011.
VALADARES, E. C. Propostas de experimentos de baixo custo centradas no aluno e na comunidade. Química Nova na Escola, n. 13, p. 38-40, 2001.
TRASSI, R. C. M.; CASTELLANI, A. M.; GONÇALVES, J. E.; TOLEDO, E. A. Tabela periódica interativa: “um estímulo à compreensão”. Acta Scientiarum, Maringá, v. 23, Nº 6, p. 1335-1339, 2001.

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