DETERMINAÇÃO DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA E DA ATIVIDADE ALELOPÁTICA DO ÓLEO ESSENCIAL DE HYPTIS SUAVEOLENS.

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Produtos Naturais

Autores

Costa dos Santos, C. (UFERSA) ; Alves Soares, C.E. (UFERSA) ; L. Queiroz Silva, I.A. (UFERSA) ; Aparecida Viana, L. (UFERSA) ; de Lima Peixoto, S.S. (UFERSA)

Resumo

O óleo essencial das folhas frescas da bamburral, Hyptis suaveolens (L.) Poit, coletadas em Mossoró-RN, foi obtido pelo processo de hidrodestilação. A avaliação da composição química do óleo volátil foi elucidada por cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas. Foram identificados 29 compostos terpenóides responsáveis por 94,59% da composição total do óleo volátil. Os compostos majoritários foram identificados como 1,8-cineol (22,31%) e Germacreno B (20,98%).μ Foram realizados testes para comprovar a atividade alelopática pela ação do óleo essencial da H. suaveolens em sementes de alface. Os testes mostraram resultados promissores com efeito alelopático dose-dependente inibindo a germinação das sementes quando o volume de 100μL foi utilizado.

Palavras chaves

Hyptis suaveolens; Óleo Essencial; Atividade Alelopática

Introdução

O Brasil tem lugar de destaque na produção de óleos essenciais ao lado da Índia, China e Indonésia. Estes países são considerados os quatro grandes produtores mundiais. A posição do Brasil deve-se aos óleos essenciais de cítricos, que são subprodutos da indústria de sucos. No passado, o país teve destaque como exportador de óleos essenciais tais como de pau-rosa, sassafrás e menta (BIZZO, 2009). Nesse sentido despertou em nós a vontade de estudar espécies do gênero Hyptis abundantes na região Nordeste do Brasil. Em geral, são plantas aromáticas e, portanto, o interesse na extração dos óleos voláteis que podem ser aproveitados no desenvolvimento de produtos com atividade biológica, farmacológica e/ou cosmética contribuindo com o crescimento da economia local, utilizando a riqueza disponível na flora da caatinga, em novos empreendimentos. A espécie H. suaveolens, conhecida popularmente como bamburral, apresenta diversas atividades cientificamente comprovadas como: antioxidante e antimicrobiana (XU et al, 2013), repelente e larvicida (SILVA, et al, 2017), etc. Transformar uma espécie daninha em um produto com benefício cosmético associado a alguma das atividades citadas seria de interesse econômico e social. Isto posto, iniciou-se os estudos com o óleo volátil obtido das folhas frescas da bamburral visando a elucidação de sua composição química e testes específicos para a atividade alelopática usando a semente de alface como controle.

Material e métodos

A Hyptis suaveolens foi coletada no Centro de Cuidado ao Idoso na cidade de Mossoró e identificada pelo botânico Dr. Leandro de Oliveira Furtado de Souza. O óleo volátil foi extraído por meio de hidrodestilação das folhas da H. suaveolens no laboratório de processos químicos da UFERSA. O processo de destilação com água por arraste a vapor, ou hidrodestilação consiste em deixar o material a ser destilado em contato com a água em ebulição, flutuando ou imerso no líquido. O vapor arrasta os constituintes voláteis produzidos pelo material vegetal que passa pelo processo de cocção por período de duas horas. O destilado é recolhido em uma vidraria especial o doseador tipo Clevenger que por diferença de polaridade entre o óleo volátil e a água são imiscíveis (KOKETSU, 1991). O óleo volátil é tratado com Na2SO4 para remoção completa da água e purgado com N2. A análise da composição química do óleo volátil foi realizada por cromatografia gasosa acoplada a espectometro de massas em um Agilent Instrumento 7890B-GC / 5977A-MS, equipado com um Coluna capilar de sílica fundida VF-5MS (30 m × 0,25 mm DI, Espessura de filme de 0,25 μm) utilizando uma relação de divisão de 1:30 e hélio a 1,5 mL min-1 como gás transportador. A temperatura do injetor e a temperatura do detector foi regulada para 250 °C. A temperatura do forno foi elevado de 70 para 180 °C a 4 °C min-1 e depois para 250 a 10 °C min-1. Os espectros de massa foram registrados em uma série de relação massa/carga (m/z) entre 30 e 450. Para o experimento que visa identificar a atividade alelopática do óleo essencial de Hyptis suavevolens em sementes de alface foram usadas 25 sementes de alface em triplicata com delineamento inteiramente casualizado. Nas placas do grupo controle foram adicionados 3mL de água destilada, e hidratando à medida em que ficassem secas. Nos grupos experimentais, foram adicionados água e 50µL do óleo essencial em três placas e 100µL do mesmo óleo nas outras três placas, juntamente com a mesma quantidade de água. No decorrer de uma semana pôde-se observar que as sementes do grupo controle germinaram continuamente, mas nos experimentais houve um retardo na germinação, tendo como resultado uma média de 3 germinações por placa, principalmente do experimental de 100µL, que germinou apenas uma semente de uma placa.

Resultado e discussão

As análises cromatográficas acopladas ao espectrômetro de massas (CG-EM) do óleo volátil extraído das folhas de H. suaveolens (OEHSF) foram realizadas no laboratório de Produtos de Naturais da Embrapa Agroindústria Tropical. As identificações dos constituintes foram efetuadas através de pesquisa em espectroteca e comparação com os dados da literatura (ADAMS, 2007). O cromatograma do OEHSF obtido por CG-EM mostrado na Figura 01, apresentou 2 picos majoritários, o pico com tempo de retenção, em minutos, 5,52 refere-se ao 1,8-cineol apresentando um teor de 22,31% e o pico de 18,76 foi identificado como o Germarcreno B com um teor de 20,98%. Foi possível identificar a maioria dos constituintes presentes no OEHSF. Dentre os 36 referenciados foram identificados 29 picos, totalizando um percentual de 94,59%. Outros constituintes que merecem destaque pelo teor considerável são o prezizaeno com 5,11 %, zonareno 8,07% e espatulenol 6,82%. Os estudos de óleos essenciais encontrados na literatura relatam a composição química volátil, de folhas e parte aérea de H. suaveolens, e mostram composições características do habitat em que se encontram, como observados para os quimiotipos, denominados segundo a composição majoritária: β-cariofileno (41%, Malásia); 1,8-cineol e sabineno (38,71 e 19,91%, EUA); (35,3 e 15,05%, Índia); (35,9 e 12,0%, Aruba), 1,8-cineol e β-pineno (37 e 18,7%, Amazônia Brasileira), e 1,8-cineol (30,88%, Nordeste Brasileiro) (AZEVEDO et al, 2002). A composição química identificada neste trabalho para o óleo obtido do material coletado em Mossoró se assemelha ao óleo essencial obtido de espécimens do Nordeste com 1,8-cineol como majoritário, apesar do Germacreno B aparecer como um dos constituintes principais e este não ser mencionado em nenhum dos quimiotipos estudados. Para o teste da atividade alelopática foram produzidas 13 lâminas no total, onde pode-se observar as células da raiz das sementes da alface, algumas, ainda em estado de divisão celular, porém foram encontrados alguns resíduos, no que acredita-se ser resíduos das raízes. Na figura 02 abaixo se encontram os resultados obtidos a partir dos testes com sementes de alface quando expostos ao OEHSF nas concentrações de 50 uL e 100 uL durante 7 dias.

Figuras 01: Cromatograma do OEHSF (CG-EM)



Figura 02: Efeito alelopático do OEHSF em sementes de alface

Efeito alelopático do OEHSF em sementes de alface nas concentrações de 50uL e 100uL, em triplicata, no período de 7 dias.

Conclusões

Os produtos majoritários, por comporem cerca 45% do óleo, podem ser facilmente isolados. Os compostos identificados com maiores percentuais têm propriedades medicinais comprovadas como o 1,8-cineol, antimicrobianas e no caso do Germacreno B, inseticidas. Pode-se observar com este estudo que o óleo essencial de H. suavevolens apresentou efeito alelopático dose-dependente nas sementes de alface, pois inibiu a germinação dessas sementes quando o maior volume (100µL) foi utilizado.

Agradecimentos

O trabalho foi auxiliado pela Embrapa Agraindústria Tropical, que realizou as análises cromatográficas; Pelo Dr. Leandro de Oliveira Furtado de Souza, que identificou a espécie vegetal. Pelo CNPq e UFERSA pelo aporte financeiro.

Referências

ADAMS, Robert P.. Identification of Essential Oil Components by Gas Chromatography/Quadrupole Mass Spectroscopy. 4. ed. Carol Stream: Allured Publishing Corporation, 2007. 804 p.
AZEVEDO, N. R.; CAMPOS, I. F. P.; FERREIRA, H. D.; PORTES, T. A.; SERAPHIN, J. C.; PAULA, J. R.; SANTOS, S. C.; FERRI, P. H. Essencial oil chemotypes in Hyptis suaveolens from Brazilian Cerrado. Biochemical Systematics and ecology, v. 30, p. 205-216, 2002.
BIZZO, Humberto R.; HOVELL, Ana Maria C.; REZENDE, Claudia M.; Óleos essenciais no Brasil: aspectos gerais, desenvolvimento e perspectivas. Química Nova, [s.l.], v. 32, n. 3, p.588-594, 2009. FapUNIFESP (SciELO). DOI: http://dx.doi.org/10.1590/s0100-40422009000300005.
KOKETSU, M.; GONÇALES, S.L. ;Óleos essenciais e sua extração por arraste a vapor. Rio de Janeiro, EMBRAPA-CTAA,1991. 24p.
SILVA, Toshik Iarley da et al. Efeito larvicida de óleos essenciais de plantas medicinais sobre larvas de Aedes aegypti L. (Diptera: Culicidae). Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, [s.l.], v. 12, n. 2, p.256-260, 17 jun. 2017. Grupo Verde de Agroecologia e Abelhas. DOI:http://dx.doi.org/10.18378/rvads.v12i2.4672.
XU, Dian-hong et al. The essential oils chemical compositions and antimicrobial, antioxidant activities and toxicity of threeHyptisspecies. Pharmaceutical Biology, [s.l.], v. 51, n. 9, p.1125-1130, 13 jun. 2013. Informa UK Limited. DOI: http://dx.doi.org/10.3109/13880209.2013.781195.

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