EFEITO DA SAZONALIDADE NA COMPOSIÇÃO QUÍMICA DE EXTRATO APOLAR DE PRÓPOLIS VERDE DA CAATINGA NA REGIÃO NORTE DO CEARÁ.

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Produtos Naturais

Autores

Moita, E.C.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACRAÚ) ; Frota, V.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ) ; Mendonça, L.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ) ; Costa, M.F. (INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA) ; Fernandes, J.A.B. (INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA) ; Gomes, G.A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ) ; do Vale, J.P.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ) ; Bandeira, P.N. (UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ) ; dos Santos, H.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ) ; Rodrigues, T.H.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ)

Resumo

A própolis é uma mistura complexa de substâncias de base resinosa muito utilizada na medicina popular devido as suas importantes propriedades terapêuticas. Embora seu potencial farmacológico seja atribuído a sua composição fenólica, pouco é relatado sobre sua composição química apolar. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo o estudo da influência da sazonalidade na composição química do extrato hexânico de própolis verde da própolis verde da Caatinga no norte do Ceará. Os resultados mostraram que independente da época de obtenção da própolis, período seco ou chuvoso, a composição química foi pouco influenciada, com a predominância de hidrocarbonetos, ácidos graxos, álcoois superiores e esteroides, sendo a β- Amirina e o Cicloartenol os componentes majoritários.

Palavras chaves

Própolis verde; Composição apolar; Cromatografia gasosa

Introdução

A própolis é uma mistura complexa de substâncias de caráter resinoso produzida pelas abelhas a partir de alíquotas coletadas de diferentes partes das plantas (ANDRADE, 2017). Caracteriza-se por apresentar importantes propriedades farmacêuticas e biológicas, tais como, antibacteriana, anti- inflamatória, antiviral, antioxidante, anestésica, antifúngica, dentre outras (OLEGÁRIO, 2019). De acordo com o relatado até o momento pela literatura, as diversas propriedades associadas à própolis são atribuídas aos compostos fenólicos, como os ácidos fenólicos e flavónoides. Embora esses compostos estejam relacionados à composição química polar, é desprovida informações sobre o potencial da fração resinosa dessa matriz. Alguns estudos relatam outras classes de compostos que podem estar presentes na própolis a exemplo dos triterpenoides, benzofenonas, esteroides, ácidos graxos, hidrocarbonetos e vitaminas (SANTOS et al., 2017). No estado do Ceará, é possível a ocorrência de duas estações, a seca no primeiro semestre, e a chuvosa no segundo semestre do ano. Considerando que o perfil químico da própolis é dependente além do bioma, das condições edafoclimáticas locais, isso torna o estudo da sazonalidade relevante uma vez que a composição química influencia diretamente nas propriedades químicas dessa matriz (REGUEIRA, NETO et al., 2017). Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo relatar pela primeira vez a composição apolar de própolis verde da Caatinga no norte do Ceará bem como a influência da estação (seca e chuvosa) no perfil químico dessa matriz.

Material e métodos

A própolis verde da Caatinga produzida por abelhas Apis mellifera foi coletada no apiário da fazenda São Vicente, distrito Caioca, Sobral-CE, nos períodos chuvoso e seco da região. O material, após o beneficiamento, foi triturado e estocado sob refrigeração. Para a obtenção dos extratos hexânicos, utilizou-se 3g da própolis em aproximadamente 150mL de solvente em sistema soxhlet por 4h. Em seguida, realizouse a evaporação do solvente e determinação dos rendimentos em triplicata. Na determinação da composição química, inicialmente solubilizou-se de 20 mg dos extratos hexânicos em 300µL de piridina, seguida da adição de 150 uL do reagente derivatização (MSTFA). Os extratos foram então submetidos à reação de derivatização em banho-maria à 37ºC durante 30 minutos. Posteriormente, as amostras foram analisadas em sistema de cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas em sistema GCMS modelo GC-2010 (Shimadzu), coluna RTX-5MS metilpolissiloxano (30 m x 0,25 mm x 0,25 μm, Restek), fluxo de 1,00 mL.min- 1 de gás hélio, temperatura do injetor 260 °C e fonte de íons a 230 °C. A programação de temperatura iniciou-se a 120 °C por 3 minutos seguida de acréscimo de 3 °C min‑1 a 320°C ao término da corrida (SILVA et al., 2016). A identificação dos compostos foi conduzida através do cálculo dos índices de retenção (IR) dos analitos (ADAMS, 2017) e pela comparação dos espectros de massas obtidos da biblioteca (NIST versão 2.0) e dados da literatura (SILVA et al., 2016).

Resultado e discussão

Os extratos hexânicos de própolis verde da Caatinga apresentaram rendimentos próximos ao comparar os resultados obtidos no período seco (62,17 ± 2,99 %) e chuvoso (60,52 ± 3,59 %) da região. Além disso, observa-se que a própolis estudada apresenta características resinosas pelos valores expressivos de rendimentos obtidos. Nos estudos de SANTOS et al. (2017), os autores obtiveram cerca de 25% de rendimento de extrato hexânico de própolis marrom da Bahia, resultado inferior ao deste estudo. Na Tabela 1 constam os resultados da composição química dos extratos apolares da própolis obtida no período seco e chuvoso da região. Observa-se que ambas as tabelas apresentaram composição química semelhante nas quais foram identificados ácidos graxos, álcoois superiores, triterpenos, hidrocarbonetos alifáticos. Dentre os componentes majoritários, destacam-se os triterpenos Cicloartenol (19,52 ± 1,75 % e 20,94 ± 2,06 %) e β-Amirina (11,36 ± 2,46 % e 11,53 ± 0,74 %), que foram predominantes em ambas as estações estudadas. Na própolis brasileira, a literatura relata a presença de ácido benzóico (PARK et al., 2002; Righi et al., 2013), no entanto, esse composto foi identificado somente no extrato de própolis produzido na estação seca. Além disso, nota-se a presença em ambos os períodos estudados de triterpenos, como a α-amirina, β-amirina e lupeol, compostos característico do metabolismo de muitos vegetais e em própolis (SILVA et al., 2008; SANTOS et al., 2017).

Tabela 1. Composição química apolar dos extratos hexânicos de própolis

* Identificados na forma de compostos derivatizados. 1 Índice de retenção (IR) calculado. 2 Índice de retenção (IR) da literatura.

Conclusões

Os resultados deste trabalho permitiram o conhecimento do perfil químico apolar de própolis verde da Caatinga do norte do Ceará, com predominância dos triterpenos cicloartenol β-amirina, bem como verificar que a estações (seca e chuvosa) locais pouco influenciam na sua composição química; e provavelmente nas propriedades biológicas dessa matriz pouco estudada.

Agradecimentos

FUNCAP, FINEP, CNPq e Embrapa Agroindústria Tropical (Laboratório Multiusuário de Química de Produtos Naturais - LMQPN).

Referências

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