Potencialidade da vinagreira branca (Hibiscus sabdariffa L.) na proteção contra radiação ultravioleta

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Produtos Naturais

Autores

Marques Mandaji, C. (UFMA) ; Bispo Pinheiro Camara, M. (UFMA) ; Rodrigues do Nascimento, J. (UNESP) ; Silva Nunes, G. (UFMA) ; Quintino da Rocha, C. (UFMA)

Resumo

As atuais mudanças na composição da atmosfera ocasionaram o aumento da intensidade da radiação UV na superfície terrestre criando uma necessidade de encontrar compostos com propriedades fotoprotetoras, em sua maioria, de fontes naturais. Como a literatura relata bioatividade potencialmente útil para o Hibiscus sabdariffa L., este trabalho estudou uma de suas variedades, vinagreira branca, através do potencial antioxidante (PRI%), fator de proteção solar (FPS) e capacidade de bloquear radiações UV. Os resultados mostraram que o extrato da planta apresentou PRI de 52,05 ± 1,87%, FPS de 6,03 ± 0,006 e 83,41% da radiação UV bloqueada. Assim, os resultados fornecem informações que poderão ser exploradas tanto nos setores da biotecnologia quanto nas indústrias de cosméticos e fármacos.

Palavras chaves

Propriedade fotoprotetora; potencial antioxidante ; bioatividade

Introdução

Os raios ultravioletas (UV) são radiações emitidas pelo sol e compreendem de 3% a 5% de toda radiação solar que penetra a superfície terrestre. Essa radiação alcança a Terra em forma de ondas eletromagnéticas muito curtas, apresentando espectros de comprimento de ondas, entre 200 e 400 nanômetros (nm). Esses espectros são divididos em três comprimentos de onda: UVA (320 a 400nm), UVB (290 a 320nm) e UVC (100 a 280nm) (LOPES; SOUSA; LIBERA, 2017). As radiações UV mais estudadas, em virtude da ação sobre a saúde humana, são as UVA e UVB, pois, a UVC tem boa parte do seu efeito anulado na atmosfera, principalmente pela camada de ozônio. A radiação UVA em geral causa envelhecimento da pele, eritema e queimadura. Enquanto que, a radiação UVB pode provocar alterações no DNA humano e consequentemente câncer de pele (COSTA, 2015). As atuais mudanças na composição da atmosfera, principalmente a redução do ozônio, ocasionaram o surgimento de preocupações em relação ao aumento da intensidade da radiação UV solar na superfície terrestre (SANTOS, 2010). Os filtros orgânicos ou químicos podem ser protetores UV abrangendo radiações tanto UVA quanto UVB. Eles apresentam uma estrutura com compostos aromáticos conjugados com grupos carboxílicos, estes compostos absorvem a radiação UV, que possui uma alta energia, pois entram em um estado de ressonância e ao voltar a sua forma original convertem a energia absorvida em outra menos energética. Os filtros químicos naturais vêm ganhando espaço no desenvolvimento de pesquisas em virtude das possíveis reações fotossensibilizantes dos fotopotetores sintéticos (COSTA 2015). Somado a isso, atualmente, há um interesse crescente em relação ao desenvolvimento de fotoprotetores baseados em produtos naturais como as plantas, que apresentam altos teores de substancias antioxidantes, metabolitos fenólicos, considerados importantes para proteção vegetal frente aos raios UV. De acordo com esta informação, uma opção em produtos cosméticos com finalidade fotoprotetora é recorrer aos extratos vegetais (TEXEIRA, 2016). Pertencente à família botânica Malvaceae, Hibiscus sabdariffa L., é uma importante planta medicinal, originária da Índia, do Sudão e da Malásia, sendo posteriormente levada para a África, Sudeste da Ásia e América central. Esta planta apresentou boa adaptação às condições brasileiras e é conhecida por diversos nomes populares, dentre eles, vinagreira (VIZZOTTO; PEREIRA, 2008; RAMOS, 2011). A vinagreira é bastante cultivada no Estado do Maranhão e é tradicionalmente consumida na culinária regional (GOMES et al., 2015). Estudos fitoquímicos dessa espécie revelaram a presença de flavonoides e outros compostos fenólicos, como aqueles realizados por: Zhen et al.(2016), Borrás-linares et al.(2015) e Wang et al. (2014). Além disso, ela não necessita do uso de agrotóxicos em nenhuma fase da sua produção (GOMES et al., 2015), sendo uma ótima opção para o cultivo de espécies biologicamente ativas de grande interesse para a indústria farmacêutica. Portanto, este estudo objetivou a avaliação do potencial antioxidante do extrato bruto de uma variedade de Hibiscus sabdariffa L., popularmente conhecida como vinagreira branca, assim como, a determinação do seu fator de proteção solar (FPS) e a porcentagem de radiação ultravioleta bloqueada pelo extrato da planta.

Material e métodos

Foi contemplada, nesse estudo, a espécie Hibiscus sabdariffa L., popularmente conhecida como vinagreira branca adquirida em seu ambiente de produção (Horta) na cidade de Pinheiho (MA), no povoado São Jerônimo. Para obtenção do extrato, a planta teve suas folhas juntamente com seus caules, secos e pulverizados, sendo submetidos a extração em etanol 70% (v/v) durante 48 horas (essa etapa foi realizada três vezes). Feito isso, a amostra foi concentrada em evaporador rotativo e seca em liofilizador obtendo-se seu extrato seco. A capacidade antioxidante foi determinada por meio do método colorimétrico Nitro azul tetrazólio (NAT), conforme metodologia descrita por Cortina-Puig et al. (2009) com adaptações para microplaca de 96 poços descrita por Becker et al. (2009) a qual baseia-se na atividade antioxidante do extrato diluído em tampão (pH 7,5), com concentrações variando de 0,125- 1mg.ml-1 , que inibe competitivamente o radical superóxido gerado in vitro pelo sistema hipoxantina /xantina oxidase, seguida de redução do cromóforo (NAT) ao produto colorido formazan. O aumento da absorbância durante 15 min foi registrado a 492 nm num leitor de placas ELISA (Kasuaki). A porcentagem de inibição do radical superóxido (PIR%) para o extrato foi calculada pela equação (1). Equação 1.Equação para determinação da porcentagem de inibição do radical superóxido: PIR%=100.((Abs.controle-Abs.amostra)/Abs.controle) Onde: Abs.controle é a absorbância do formazan gerado no ensaio sem a adição da amostra; Abs.amostra é a absorbância do formazan gerado com a adição da amostra. Para a determinação do fator de proteção solar (FPS) do extrato bruto foi utilizado o método in vitro desenvolvido por Mansur et al. (1986) que mede a absorbância da amostra diluída em etanol PA, com concentração de 0,1mg.ml-1, em vários comprimentos de onda (290 a 320nm em intervalos de 5 nm). Os valores das absorbâncias geradas foram aplicadas na equação descrita por Mansur (2) e, em seguida, na equação descrita por Nash e Tanner (2006) (3). Obtendo-se o FPS e a porcentagem de radiação UV bloqueada, pelo extrato da planta, respectivamente. Equação 2. Equação para determinação in vitro do fator de proteção solar: (FPS espectrofotometrico)=FC*∑ _290^320 (EE(λ)*I(λ)*Abs(λ)) Onde: FC é o fator de correção (igual a 10), EE (λ) é o efeito eritematogênico da radiação de comprimento de onda λ, Ι (λ) é a intensidade da luz solar no comprimento de onda λ e Abs (λ) é a leitura espectrofotométrica da absorbância da solução da amostra no comprimento de onda (λ). Equação 3. Equação para determinação da radiação ultravioleta bloqueada em porcentagem: UV bloqueada(%)=(1-1/FPS)*100

Resultado e discussão

Foi obtido 6,35g de extrato bruto com rendimento de 6,35%. Embora não existam parâmetros de rendimentos de biomassa, buscando na literatura, nota-se que o rendimento do extrato pode ser considerado bom quando comparado com resultados de outros estudos como os apresentados por Mandelli et al. (2010). Os resultados obtidos para avaliação do potencial antioxidante, da determinação do fator de proteção solar (FPS), assim como, da porcentagem de radiação ultravioleta bloqueada pelo extrato da planta são apresentados na Tabela 1. Em relação à capacidade do extrato de sequestrar o radical livre superóxido, expressa como quantidade de NAT que é reduzida a formazan, verificou-se que a ação antioxidante foi significativamente maior nos extratos mais concentrados sendo que a concentração de 1 mg.ml-1 foi a que apresentou o melhor desempenho, como mostra o Gráfico 1. Portanto, essa concentração foi selecionada para calcular a porcentagem de inibição do radical O2 •- (PIR %) da planta, que é apresentada na Tabela 1. De acordo com os resultados o método colorimétrico, Nitro azul tetrazólio, empregado mostrou ser uma alternativa bastante viável para a determinação da capacidade antioxidante em vegetais, ademais, o extrato da planta foi eficiente em relação à inibição dos radicais livres, podendo, esse potencial, indicar uma ação fotoprotetora, como evidência a forte correlação positiva entre os resultados dos testes antioxidante e de FPS da vinagreira branca (r = 0,89). A exposição ao sol pode resultar em muitos benefícios às pessoas. No entanto, também pode causar danos à pele quando feita de modo excessivo. Para prevenção dos efeitos maléficos causados pela radiação no UV, torna-se fundamental que durante a exposição solar sejam adotadas medidas preventivas como o uso regular de fotoprotetores (PINHO, 2015). O fator de proteção solar (FPS) do extrato bruto de Hibiscus sabdariffa L. foi determinado mediante o método descrito por Mansur et al. (1986) que trabalha com a faixa ultravioleta (UV-B), já que ela causa maiores prejuízos à pele, ou seja, é mais eritematosa que a radiação UVA, e é mostrado na Tabela 1. Este fator indica que o indivíduo poderá permanecer por um tempo de 6,03 ± 0,006 vezes a mais, do que aquele que sua pele poderia suportar sem proteção, exposto ao sol sem que apresente eritema solar (COSTA, 2015). Segundo a Resolução da Diretoria Colegiada, RDC Nº 30 de 1º de junho de 2012, o fator de proteção solar medido para o extrato bruto da vinagreira branca é classificado como baixo (estando entre 6,0 e 14,9), sendo assim, ele poderá atender as necessidades de peles pouco sensíveis a queimadura solar, quando trabalhado com a concentração indicada nesse estudo. Somado a isso, o FPS apresentado pelo extrato da planta foi capaz de bloquear 83,41% da radiação UV, como é apresentado na Tabela 1, mostrando assim, um significante potencial de proteção.

Tabela 1. Parâmetros avaliados para o extrato bruto de “vinagreira bra

Os resultados referem-se a média de 3 repetições para cada teste

Gráfico 1. Representação da produção média de formazan



Conclusões

Os resultados obtidos revelaram informações úteis para os setores da biotecnologia sobre o extrato bruto de vinagreira branca (Hibiscus sabdariffa L.). Visto que ele apresentou uma significativa atividade antioxidante (52,05 ± 1,87%), fator de proteção solar (6,03 ± 0,006) e uma grande capacidade de bloquear a radiação UV (83,41%). Assim, o extrato bruto de Hibiscus sabdariffa L. pode ser considerado uma fonte promissora para exploração industrial, farmacológica e para o desenvolvimento de biocosméticos.

Agradecimentos

À Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e ao grupo de pesquisa Laboratório de Estudos Avançados em Fitomedicamentos (LEAF)

Referências

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