Comportamento de diastereoisômeros, presentes em feromônio comercial de moleque-da-bananeira, sob diferentes temperaturas em sistema aberto.

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Produtos Naturais

Autores

Rebelo, A.M. (EPAGRI) ; Haro, M.M. (EPAGRI)

Resumo

Feromônios são semioquímicos de comunicação empregados no manejo de pragas. Em diferentes condições ambientais estes compostos podem ter sua efetividade modificada. Usando a cromatografia em fase gasosa (CG-MS), empregou-se fibra de SPME para avaliar o comportamento de liberação do feromônio sordidin, em diferentes temperaturas. Assim, uma alíquota do feromônio comercial foi colocada em um tubo aberto por 72 horas, com avaliações no tempo. Identificou-se que estes eram liberados em quantidades e tempos diferentes de acordo com a temperatura. Desta forma, sua efetividade e atuação ao longo do tempo podem ser modificadas dependendo do local utilizado. Visto que a temperatura influencia a disponibilidade, espera-se que outros fatores ambientais possam ser importantes e devam ser estudados.

Palavras chaves

Química analítica; Volatilização; Semioquímicos

Introdução

A forma de controle de insetos se baseia majoritariamente no uso de inseticidas. Tecnologias sustentáveis e de baixo impacto ambiental são demandadas para o controle deste problema. O uso de feromônios se apresenta como uma forma efetiva para o monitoramento e controle de insetos-praga. O feromônio sexual a base de sordidin tem sido usado para captura de Cosmopolites sordidus (moleque-da-bananeira) em bananais. Este produto é composto por uma mistura de isômeros ópticos diastereoisômeros de sordidin - A, B, C, D- (BEAUHAIRE et al., 1995). A distância que um feromônio pode atingir depende da molécula, do receptor e da função do mesmo. Mariposas são capazes de sentir a presença do feromônio sexual bombicol a aproximadamente 20 km. Feromônios são majoritariamente voláteis, sendo que os principais fatores que afetam a volatilização de um composto são as suas propriedades físico-químicas, como pressão de vapor e solubilidade em água e condições ambientais, como temperatura e umidade (VAN DER BERG et al., 1999). Em dias mais úmidos e com chuva, por exemplo, abelhas se perdem, pois o feromônio de trilha da Appis melifera é o geraniol, um álcool facilmente diluído em água (FOGAÇA, 2014). Sabendo que compostos com alta pressão de vapor são mais voláteis e este fenômeno é influenciado pela temperatura. Nosso estudo avaliou o comportamento de sordidin em diferentes temperaturas no tempo, durante 72 horas, determinando sua persistência no frasco aberto, indicando se a temperatura afeta a disponibilidade do produto para o manejo de Cosmopolites sordidus.

Material e métodos

Para avaliar o comportamento da liberação de quatro compostos diastereoisômeros de sordidin presentes em produto comercial, empregado para captura de Cosmopolites sordidus. Foram colocados em vials de 20mL abertos, 10µL do produto sob temperaturas de 10, 20, 30, 40, 50ºC. Procedeu-se análise do conteúdo em 0, 3, 6 9, 12, 24, 48 e 72h, em triplicata. Antes de cada injeção, como padrão interno, foram adicionados 2µL de mentol 1% em hexano. Foi utilizado SPME com da fibra de polydimethylsiloxane de 100 µm de espessura (Supelco) condicionada por 1 h em gás hélio a 250ºC. Com um auto injetor AOC- 5000 (Shimadzu) a análise dos compostos liberados foi feita utilizando a fibra exposta dentro do vial (22mm) com programação para agitação por 5 segundos e 2 segundos no modo estático até 5 minutos de exposição (incubação), sob diferentes temperaturas. A dessorção térmica da amostra foi realizada com penetração da fibra (54mm) por 1min no injetor. Posteriormente a fibra foi limpa por exposição em forno por 1min. As análises foram conduzidas num espectrômetro de massa CG-MS QP-2010 (Shimadzu) com coluna de sílica fundida ZB-5 de 30m com 0,25mm de espessura (Zebron-5% fenil metil poli(siloxano)). O gás de arraste foi o hélio (5.0), com fluxo de 0,65mL/min, modo de análise SCAN, modo de ionização de impacto eletrônico (70 eV). O programa de temperatura foi inicialmente de 60ºC (5min) com taxa de aquecimento de 16ºC/min; até 176ºC, resultando em corrida de 12,25min. Injetor a 250ºC e detecção iniciada em 7min a 210ºC. As amostras foram analisadas no modo “splitless”. Para determinar o comportamento de liberação em função do tempo e temperatura aplicada, foi feita uma relação da integração dos picos dos 4 isômeros com a do padrão interno.

Resultado e discussão

Verificou-se que os isômeros de sordidin possuem comportamento idêntico de liberação pela volatilização, visto que suas intensidades foram maiores e menores nos mesmo período de tempo dependendo apenas da temperatura a que foram expostos. A 10ºC sordidin demorou mais tempo para ser liberado e apresentou sua maior liberação após 12 horas; a 20ºC seu pico de liberação foi a seis horas; a 30ºC a três horas e apesar de não linear constatou-se maior distribuição durante as 72 h; a 40ºC seu pico foi no primeiro tempo de análise e a 50ºC nenhum pico foi detectado, provavelmente pela sua imediata volatilização no período de 5 minutos de incubação (Figura 1). Avaliando os resultados, percebe-se uma influência muito alta da temperatura na dispersão ambiental do sordidin, sendo que a cada 10ºC que se elevou a temperatura o pico de liberação dos compostos foi mais rápido em três horas. Esta informação indica que é necessário estabelecer o período de reposição do produto no campo em função da temperatura do ambiente. Caso contrário, sua efetividade pode ser alterada e esta importante ferramenta de manejo pode ser desacreditada no controle do moleque-da-bananeira, pela falta de instruções específicas.

Figura 1.

Liberação de sordidin (A, B, C, D). Em 0, 3, 6, 9, 12, 24, 48 e 72 h, nas temperaturas de 10, 20, 30, 40 e 50ºC. Área dos picos em função PI.

Conclusões

A temperatura influencia na disponibilidade dos isômeros do sordidin, assim se deve estabelecer especificações para uso em campo deste produto considerando as condições ambientais. O emprego de armadilhas contendo feromônios compostos por sordidin podem ter sua ação modificada pela temperatura ambiental no momento de sua aplicação. Avaliações com outras variáveis como umidade, vento e embalagem assim como testes a campo podem ser necessárias para melhorar a eficiência na indicação do produto.

Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (FAPESC) assim como a Alexandre Ferreira Corrêa e Iremar Ferreira pelo trabalho de apoio nas rotinas laboratoriais.

Referências

BEAUHAIRE, J.; DUCROT, p-h; MALOSSE, C.; ROCHAT, d.; NDIEGE, I .O.; OTIENO, D. O. Identification and synthesis of sordidin, a male pheromone emitted by Cosmopolites sordidus, Tetrahedron Letters, V. 36, I. 7, 1043-1046, 1995.
FOGAÇA, J. Feromônios: o cheiro do amor e a isomeria cis-trans. Disponível em: http://www.brasilescola.com/quimica/feromonios.htm. Acesso em: 04/11/2014.
VAN DER BERG, F.; K UBIAK, R.; BENJEY, W.G.; MAJEWSKI, M.S.; YATES, S.R.; REEVES , G.L.; S MELT, J.H.; VAN DER LINDEN, A.M.A. Emission of pesticides into the air. Water Air Soil Pollut., v.115, 195-218, 1999.

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