AVAVIAÇÃO DA ATIVIDADE LEISHMANICIDA DE Eleutherine bulbosa Herb. (Iridaceae) CONTRA Leishmania amazonenses IN VITRO

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Produtos Naturais

Autores

Nunes, B.G. (PGDRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA) ; Azevedo, M.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA)

Resumo

Eleutherine bulbosa (Iridaceae) foi apontada pela população ribeirinha de Rondônia, no combate a doenças renais, ameba e diarréia. Com os bulbos da planta foi preparado o extrato etanólico, que forneceu as frações clorofórmio e acetato de etila. Da fração clorofórmio obteve-se fitoesterois e a Eleutherine e Isoeleutherine. Os testes leishmanicida in vitro, foram realizados com o extrato etanólico, as frações e a mistura de isômeros, que apresentaram atividade inibitória contra promastigotas de L. amazonenses, com concentração inibitória de 9,12μg/ml, 0,84μg/ml, 0,31μg/ml e 0,92μg/ml, respectivamente. No teste de citotoxicidade realizado as frações e compostos isolados apresentaram baixa citotoxicidade, onde a espécie demonstrou pode contribuir obtenção de novas drogas antiparasitárias.

Palavras chaves

Eleutherine bulbosa; naftoquinonas; Leishmania amazonensis

Introdução

Eleutherine bulbosa Herb., conhecida como Marupazinho e Ruibarbo-do-campo (ALVES, 2003), cujos bulbos e folhas são usados em comunidades, na forma de chá, para tratar ameba, problemas estomacais, dores em geral e no tratamento do câncer. A leishmaniose é uma doença infecto-parasitária não contagiosa causada por protozoários do gênero Leishmania (ALVES et al, 2003), que ocorrem predominante em regiões tropicais e subtropicais (MOURA et al, 2005). Doenças causadas por parasitos protozoários são responsáveis por inúmeros casos de morbidade e mortalidade em vários países, o que retrata um sério problema de saúde pública (TIUMAN et al, 2005). A leishmaniose é transmitida ao homem através da picada das fêmeas do flebotomíneo infectada, que busca alimento - repasto sanguíneo para a maturação dos ovos. No Brasil a espécie do gênero Lutzomynia longepalpis estão presentes em todas as regiões do país, e recebem nomes populares “mosquito-palha” (COSTA, 2011). Sendo uma doença endêmica, de regiões tropicais e subtropicais, os agentes quimioterápicos disponíveis são administrados por um longo período e possuem eficácia variável e alta toxicidade. As características indesejáveis como severos efeitos colaterais, aliado a formas resistentes de Leishmania (HOLANDA, 2018), tem levado a busca de novos fármacos, mais eficazes e menos tóxicos. Nesse contexto, este trabalho teve como objetivo avaliar a ação do extrato etanólico, das frações clorofórmio e acetato de etila, e mistura de isômeros, Eleutherine-Isoleutherine frente à promastigotas de L. amazonenses.

Material e métodos

A E. bulbosa foi coletada no Campus da Universidade Federal de Rondônia e um espécime foi encaminhado ao Herbário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, tendo como registro RB 371008. O material botânico coletado foi lavado, cortado e pesado (m=1,16 kg), em seguida foi condicionado em estufa a 40OC, por 72 h, O material seco pesou 570g. O material vegetal foi extraído com EtOH 95%, por 7 dias, sendo posteriormente filtrado e o solvente evaporado. O procedimento de extração foi repetido, obtendo-se 432g do extrato. Para obtenção das frações, 1503g do extrato foi submetido cromatografia em coluna em silíca gel 60, sob eluição com solventes em gradiente de polaridade. A fração CHCl3 foi submetida a cromatografia em coluna, com concentrações dos solventes Hex, CHCl3 e EtOac, havendo necessidade de recromatografias com as frações obtidas. Avaliação biológica: As formas promastigotas, cepa PH8, foram inoculadas em meio de cultura e mantidas a 23oC em estufa DBO. Camundongos foram infectados e as cepas foram isoladas e transferidas para o meio de cultura para a propagação. As drogas foram testadas sobre o crescimento de formas promastigotas in vitro, em diferentes concentrações. Os ensaios foram realizados em triplicata. Como controle negativo foi usado a Penamidina (medicamento para leishmaniose), para o controle negativo usou-se o solvente de dissolução das amostras. Realizou-se análise citotóxica frente aos macrófagos peritoneais murinos. As células (5x105 cel/mL) foram incubadas por 24h em diferentes concentrações do extrato etanólico, frações EtOAc e CHCl3, e do composto Eleutherine-Isoleutherine (MIS-EI) e a porcentagem de macrófagos foi avaliada. Foi utilizado a análise de Probit para obter as concentrações inibitórias de 50% das promastigotas de L. amazonensis.

Resultado e discussão

A Eleutherine bulbosa foi identificada com número de registro RB 371008. A fração CHCL3 forneceu a mistura de isômeros Eleutherine-Isoleutherine (1,48g) (Figura 1), sendo identificada por RMH 1H e 13C, e espectroscopia de massas. A eleutherine é uma piranonaftoquinona, que foi isolada da Eleutherine bulbosa, anteriormente por Alves (2003), apresentando atividade fungitóxica para Cladosporium sphaerospermum. O presente trabalho a ação de EE, F-EtOAc e F- CHCl3, e MIS-E foram avaliadas quanto a atividade para promastigotas de L. amazonensis. O EEEB (50μg/mL) promoveu a morte de 76%, e em 25 e 12μg/mL, não houve variação significativa da porcentagem de inibição (IC50=9,12 μg/mL). A F-EtOAc (6 e 3μg/mL) promoveram a morte de 97 e 83,37% dos parasitas, respectivamente, com IC50=0,84μg/mL. A F-CHCl3 demonstrou atividade em 1 e 0,5 μg/mL, com inibição de 67,3% e 52% respectivamente, obtendo-se IC50=0,31μg/mL). O MIS-EI (5 μg/mL) apresentou a inibição de 85% (IC50=0,92 μg/mL) (Tabela 1). Os compostos não demonstraram citotoxicidade, não afetando a viabilidade celular nem a morfologia das células hospedeiras. O uso de plantas, de forma empírica, no combate a Leishmania é uma prática pela população, porém apenas uma pequena porcentagem dos extratos apresentam atividade anti-parasitária (MOREIRA, 2007). Braga (2006) relata que dos 16 extratos avaliados, apenas 7 extratos demonstraram ação contra formas promastigotas de L. amazonenses, com IC50 entre 120 a 14μg.ml-1, que se comparado a presente pesquisa tiveram IC50 maiores em relação a E. bulbosa. Quanto a E. bulbosa, os resultados obtidos no presente estudo são promissores, favorecendo o aprofundamento da pesquisa com a planta.

TABELA 1

Taxa de inibição do crescimento das promastigotas de L. amazonensis do extrato EtOH, F-EtOAc e F- CHCl3 e MIS-EI e IC50.

FIGURA 1

Estrutura molecular da Eleutherine e Isoeleutherine

Conclusões

Os resultados demonstram que o aprofundamento do estudo da atividade leishmanicida da E. bulbosa é pertinente, já que as drogas foram eficientes e não demonstraram citotoxicidade. Ressalta-se que a E. bulbosa apresentou eficiente atividade leishmanicida in vitro, não apresentou citotoxicidade nas concentrações testadas sobre macrófagos peritoniais murinos e mostrou que as piranonaftoquinonas interferem no desenvolvimento intracelular das formas amastigotas.

Agradecimentos

CAPES CNPq FAPERO - Fundação Rondônia de Amparo ao Desenvolvimento das Ações Científicas e Tecnológicas e à Pesquisa do Estado de Rondônia

Referências

ALVES, T.M.A.; KLOOS, H.; ZANI, C.L. Eleutherinone, a Novel Fungitoxic Naphthoquinone from Eleutherine bulbosa (Iridaceae). Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 98, n. 5, p. 709-712, 2003.
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