Reciclagem de azeite de dendê na preparação de sabão: uma questão ambiental

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Química Verde

Autores

Mota Carvalho, J.R. (IQ/UFBA) ; Machado Rocha, A. (ICS/UFBA) ; Santana Bomfim, C.A. (FAR/UFBA) ; Medeiros de Jesus, M. (POLI/UFBA)

Resumo

O descarte indevido do azeite de dendê utilizado em frituras representa um grande problema ambiental principalmente na contaminação hídrica. A reciclagem desse resíduo é uma alternativa para a diminuição desses impactos. Nesta pesquisa buscou-se aprimorar um procedimento para produção de sabão artesanal a partir do azeite usado e disseminar as boas práticas de produção às baianas de acarajé, que ainda possuem dificuldades no descarte e cumprimento da legislação em vigor. Após estudos teóricos seguidos de testes de formulações, chegou-se a um procedimento simples e seguro para a elaboração do sabão utilizando-se apenas azeite de dendê, hidróxido de sódio e água filtrada para a obtenção do sabão em barra, obtendo assim um produto de qualidade.

Palavras chaves

Azeite de dendê; Sabão artesanal; Reciclagem

Introdução

Os efeitos da degradação ambiental das atividades industriais e urbanas são preocupantes. Um exemplo é a falta de informação sobre o descarte do óleo de fritura de alimentos através da pia. Os óleos vegetais utilizados em processos de fritura de alimentos estão entre os resíduos que não possuem um método de gerenciamento efetivo: coleta, tratamento e descarte. No entanto, existem punições previstas em lei para quem descarta esse e qualquer outro tipo de resíduo de maneira incorreta (GOMES et al., 2013). Esta ação gera impactos ambientais críticos, pois pode causar o entupimento das tubulações, problemas de higiene e mau cheiro, bem como o mau funcionamento das estações de tratamento e encarecimento do processo (RABELO; FERREIRA, 2008). O azeite de dendê é produzido a partir da polpa (mesocarpo) do fruto do dendezeiro (Elaeis guineensis), uma palmeira oleaginosa pertencente à família Arecaceae. Originária do oeste da África, a palmeira foi trazida para o Brasil no século XVII pelos escravos durante o período do tráfico negreiro (CURVELO, 2010, TELES, 2014). É muito utilizado na culinária, especialmente pelas baianas de acarajé. O descarte indevido de óleos como o azeite de dendê provoca sérios impactos ambientais, principalmente no que diz respeito à contaminação hídrica, pois muitas vezes há ligação da rede de esgoto à rede pluvial, possibilitando que o resíduo chegue a rios, lagos e córregos. Em função da insolubilidade do óleo em água, películas oleosas podem se formar na superfície impedindo a troca de gases com o ar atmosférico, resultando no comprometimento da vida aquática (COSTA, 2011, GOMES et al., 2013).

Material e métodos

O objetivo principal de chegar a uma técnica e formulação para o sabão que pudessem ser reproduzidas posteriormente pelas baianas de acarajé de maneira simples, segura e com baixo custo financeiro, foi preciso também identificar quais os riscos envolvidos e medidas de segurança necessárias a serem passadas. Neste contexto, o principal risco identificado, envolvido na preparação do sabão, diz respeito ao uso do hidróxido de sódio, NaOH. Como a saponificação pode ser obtida a partir de processos conhecidos como hot process ou cold process, que é o processo sem aquecimento, após o teste de ambos os métodos, optou-se pelo método cold process, por ser mais simples e seguro, uma vez que não necessita de aquecimento. Inicialmente procedeu-se a preparação do azeite por meio de filtração utilizando-se um funil plástico e algodão e posterior decantação. A filtração do azeite reciclado antes da utilização na fórmula do sabão é uma etapa imprescindível para garantir uma melhor qualidade do produto final, uma vez que nesta etapa são removidas impurezas e resíduos sólidos tornando-o mais fluido e limpo. A partir da formulação definida, composta por: 1L de azeite de dendê, 200mL de água filtrada e 135g de NaOH. Foi preparada com a dissolução do NaOH em água, para ser misturada ao azeite para a reação de formação do sabão. Foram testadas adições de corantes e essências apropriados, sendo testadas diversas colorações e fragrâncias. Na etapa de mistura, foi necessária agitação manual por cerca de 10min, durante os quais o sabão tornou-se mais viscoso, ganhando um aspecto semelhante a um “doce de leite”, sendo posteriormente transferido para as fôrmas. A partir desta etapa, aguardou-se o seu endurecimento e cura, sendo observada a necessidade de 5 dias para sua finalização.

Resultado e discussão

Além de ser um importante ingrediente da culinária baiana, muito utilizado em pratos típicos e especificamente no processo de fritura do acarajé, o azeite de dendê, também conhecido como óleo de palma após sua utilização torna-se impróprio para o consumo e um resíduo que provoca sérios impactos ambientais se descartado de maneira incorreta. Podendo causar desde o entupimento de tubulações a sérias contaminações hídricas e do solo. Neste contexto, a reciclagem deste resíduo pode ser considerada uma forma de gerenciamento do mesmo.A partir da realização deste trabalho foi possível obter um sabão artesanal de qualidade, utilizando-se azeite de dendê reciclado, especificamente o azeite de dendê usado pelas baianas de acarajé e o compartilhamento do conhecimento acerca do processo químico de obtenção do mesmo gerado através da pesquisa no laboratório e passado a estas pessoas, disseminando a conscientização ambiental, bem como o incentivo e movimentação da economia informal, visto que o sabão produzido pode ser comercializado como um souvenir baiano, podendo assim representar uma renda extra para as baianas, sendo essas também inseridas no conceito de economia circular, na qual um resíduo vira matéria-prima para a geração de um novo produto.

Conclusões

Além de ser um importante ingrediente da culinária baiana, muito utilizado em pratos típicos e especificamente no processo de fritura do acarajé, o azeite de dendê, também conhecido como óleo de palma após sua utilização torna-se impróprio para o consumo e um resíduo que provoca sérios impactos ambientais se descartado de maneira incorreta. Podendo causar desde o entupimento de tubulações a sérias contaminações hídricas e do solo. Neste contexto, a reciclagem deste resíduo pode ser considerada uma forma de gerenciamento do mesmo.

Agradecimentos

À Reitoria da UFBA. Ao Instituto de Química da UFBA. À Associação Nacional das Baianas de Acarajé (ABAM).

Referências

CAOBIANCO, G.; Produção de Sabão a partir do Óleo Vegetal Utilizado em Frituras, Óleo de Babaçu e Sebo Bovino e Análise Qualitativa dos Produtos Obtidos. Trabalho de Conclusão de Curso em Engenharia Industrial Química, Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo, 2015.

GOMES, A.P. et al. A questão do descarte de óleos e gorduras vegetais hidrogenadas residuais em indústrias alimentícias. In: XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 2013, Salvador. Anais Enegep, 2013. v. 1, p. 1 - 14. Disponível em: <http://www.abepro.org.br/publicacoes/index.asp?pesq=ok&ano=2013&area=&pchave=A+QUEST%C3O+DO+DESCARTE+DE+%D3LEOS+E+GORDURAS+VEGETAIS+HIDROGENADAS+RESIDUAIS+EM+IND%DASTRIAS+ALIMENT%CDCIAS&autor=Amanda+Pereira+Gomes>. Acesso em: 29 jul. 2019.

MARTINS, A.B.; LOPES, C.V.; AVELINO, M.C.G.S. Reciclagem de óleos residuais de frituras: Rotas para a reutilização. Revista Conexão Eletrônica, Três Lagoas, v. 13, n. 1, p.997-1005, 2016. Disponível em: <http://revistaconexao.aems.edu.br/edicoes-anteriores/2016/ciencias-exatas-e-da-terra-engenharias-e-ciencias-agrarias-5/?page=3&offset=10>. Acesso em: 29 jul. 2019.

MEDEIROS, F.L.F.; ALBUQUERQUE, L. A política nacional de resíduos sólidos e o desenvolvimento sustentável. In: XXII Encontro Nacional do CONPEDI / UNINOVE, D598., 2013, São Paulo. Direito e sustentabilidade. São Paulo: FUNJAB, 2013. p. 117 - 132.

TELES, D.A.A. Características físicas e rendimento mensal em óleo de cachos de duas cultivares de dendezeiro cultivadas, sob irrigação, no Cerrado do Distrito Federal. Brasília: Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Brasília, 2014, 76 p. Dissertação de Mestrado.

RABELO, R.A.; FERREIRA, O.M. Coleta Seletiva De Óleo Residual De Fritura Para Aproveitamento Industrial. 2008.

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