ESTUDO DAS HORTALIÇAS PERANTE OS METAIS TÓXICOS: UMA REVISÃO

ÁREA

Química Analítica

Autores

Ribeiro, A.R.A. (IFPR) ; Borges, A.R. (IFPR)

RESUMO

Atividades antrópicas, como o uso de agroquímicos, são responsáveis pelo aumento da concentração de metais no ambiente. Considerando a preocupação do tema, o objetivo deste trabalho é realizar uma revisão sistemática da literatura, a fim de verificar as similaridades entre as formas de absorção de metais pelas hortaliças e caracterizar sua influência na absorção de nutrientes contribuindo assim com subsídios para novos estudos na área. Sete artigos foram selecionados para o estudo e o chumbo foi o metal mais investigado. Os estudos retratam a influência entre a presença de chumbo e a absorção de micronutrientes em hortaliças do grupo das folhosas e raízes. A raiz foi a parte que mais acumulou chumbo e, portanto, baixa translocação deste metal nas hortaliças.

Palavras Chaves

Hortaliças; metais; contaminação

Introdução

A presença de metais no solo e a possibilidade de transferência desses metais para as plantas, principalmente as que fazem parte da nossa alimentação é muito preocupante, devido a sua permanência no organismo humano e sua toxicidade. Ao contrário dos contaminantes orgânicos, os metais não são biodegradáveis e sua contaminação é estável a longo prazo, apesar de sua mobilidade. Os metais tóxicos presentes no solo, tornam as plantas receptoras passivas e influenciam na translocação ou rejeição de alguns elementos, causando várias modificações fisiológicas ou nutricionais. Atividades antropogênicas como o descarte incorreto de resíduos e o uso de agroquímicos são fatores responsáveis pela degradação do solo, além de aumentar a acumulação de metais potencialmente tóxicos nos solos e plantas (OLIVEIRA, 2018).Por outro lado, a ingestão de nutrientes propiciada pela boa alimentação, é essencial para a boa saúde. As hortaliças possuem papel de destaque, pois são ricas em vitaminas, minerais, fibras e antioxidantes. Porém, em contato com solo contaminado, as hortaliças podem absorver grande quantidade de metal. O estudo da acumulação de metais potencialmente tóxicos é muito importante, pois avalia os possíveis riscos de contaminação alimentar. Plantas que apresentam concentrações de metais como cádmio, chumbo e níquel acima do permitido podem causar muitos distúrbios em seres humanos sendo eles neurológicos e genéticos (TURKDOGAN et al., 2002). Desta forma, o objetivo deste trabalho é realizar uma revisão sistemática da literatura, a fim de verificar as similaridades entre as formas de absorção de metais pelas hortaliças e caracterizar sua influência na absorção de nutrientes contribuindo assim com subsídios para novos estudos na área.

Material e métodos

Uma revisão sistemática contém uma pergunta norteadora elaborada de forma clara, a qual utiliza métodos sistemáticos capazes de identificar, selecionar e avaliar de fato pesquisas relevantes, coletando e analisando os dados desses estudos que são incluídos na revisão. A questão norteadora para esta investigação foi: De que maneira os estudos científicos investigam a absorção de metais tóxicos em hortaliças? Desta forma, o estudo foi baseado no Modelo PRISMA (Principais Itens para Relatar Revisões Sistemáticas e Meta – Análises). A seleção dos documentos científicos ocorreu entre Julho e Agosto de 2021, utilizando para a pesquisa as palavras-chave: “metal, hortaliça, Brasil”; e “metals, vegetables, Brazil”. Os critérios de busca foram artigos científicos publicados nos últimos dez anos, revisados por pares, com estudos feitos no Brasil, sendo as principais bases de dados: Scientific Eletronic Library (SCIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A busca totalizou dois mil quatrocentos e oitenta documentos, as exclusões ocorreram após a leitura do título, em seguida após a leitura do resumo. E após a leitura do artigo completo, foram selecionados sete artigos. As informações encontradas foram organizadas com o auxílio de planilhas eletrônicas do Microsoft Excel 365, seguindo a ordem: título, ano, ISSN, revisão por pares, tipo de hortaliça, metal, investigação de metal em diferentes partes da planta e interferência do metal tóxico na absorção dos micronutrientes na planta. A seguir é apresentado o fluxograma , o qual mostra as etapas realizadas nesta revisão sistemática.

Resultado e discussão

As hortaliças podem ser classificadas por grupos de acordo com a parte da planta mais usada para a alimentação. As hortaliças podem ser: do tipo folhosas, flores, frutos, legumes, raízes, tubérculos, bulbo e haste. As hortaliças mais investigadas foram as do tipo folhosas e raízes, com ênfase na alface e cenoura (BORTOLETTO et al. 2019; CORREIA et al. 2016; DALA-PAULA et al. 2018; LIMA et al. 2013; LIMA, NASCIMENTO, SOUSA, 2015; MANCARELLA et al. 2017; RAMOS, ALVES, LIMA, 2014). De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2018, as dez hortaliças mais consumidas no Brasil são: tomate, batata-inglesa, cebola, cenoura, batata-doce, abóbora, repolho, alface, chuchu e alho (CEPEA, 2021). Dos sete artigos selecionados todos tem seus estudos voltados ao chumbo, cádmio, arsênio (considerado metaloide ou ametal) e/ou cromo. De acordo com a Agency for Toxic Substances and Disease Registry, justamente estes são os elementos que estão entre os mais tóxicos (US DEPARTMENT, 2019). Vale ressaltar que o chumbo está presente nos sete estudos e foi possível observar que quatro deles fizeram relação linear entre a presença dos metais tóxicos e os micronutrientes nas partes comestíveis das hortaliças CORREIA et al., (2016) LIMA et al. (2013) Lima (2015) Ramos (2017). Destaca-se o zinco e o ferro com relação linear positiva com o chumbo nas partes comestíveis, porém com diminuição de absorção de manganês e níquel. Três artigos abordaram sobre a parte da hortaliça em que mais se concentrou o metal (LIMA et al. 2013; LIMA, NASCIMENTO, SOUSA, 2015; RAMOS, ALVES, LIMA, 2014), todos tiveram o chumbo como metal de investigação e em todos os casos, independentemente do tipo de hortaliça, foi referido que a raiz é o local em que o chumbo mais se concentra.

o Fluxograma mostra as informações das diferentes fases da revisão sistemática. Como o número de doc. identificados, incluídos, excluídos e motivos.

Conclusões

Este estudo foi capaz de delinear que existem poucos estudos sobre as hortaliças em grupos específicos de classificação; foi identificado que os mais estudados foram das folhosas e das raízes. Dentre os metais tóxicos, o chumbo é o mais estudado. Constatou- se a interferência do chumbo na absorção de micronutrientes pelas hortaliças, o que resulta em uma desregulação nutricional às plantas. Por fim, foi identificado baixos índices de translocação de metal para a parte aérea. Destaca-se a importância de estudos envolvendo outros grupos de hortaliças, garantindo a qualidade nutricional alimentar

Agradecimentos

IFPR/Palmas.

Referências

BORTOLETTO, L. A. et al. Avaliação de metais tóxicos de alface cultivadas em horta urbanana cidade de São Paulo, São Paulo. Brazilian Journal of Environmental Sciences. n. 52. Jun. 2009.
CEPEA- Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - ESALQ/USP – Ano 20 – nº209, Mar. 2021. Disponível em: lt;https://www.hfbrasil.org.br/br/revista/acessar/completo/edicao-de-marco-o-que-mudou-no-consumo-do-brasileiro-nos-ultimos-anos.aspx> Acesso em 13 set. 2021.
CORREIA O. L. et al. Bioacumulação de chumbo em plantas de cenoura (Daucus Carota) e seus efeitos na saúde humana. Gaia Scientia. v. 10, n. 4, p. 301-318. 2016.
DALA- PAULA, B. M et al. Cadmium, copper and lead levels in diferents cultivars of lettuce and soil from urban agriculture. Environmental Pollution. p. 383-389. 2018.
LIMA, F. S.; et al. Bioconcentração de chumbo e micronutrientes em hortaliças cultivadas em solo contaminado. Revista Ciência Agronômica, Fortaleza, v. 44, n. 2, p. 234-241. 2013.
LIMA, F. S.; NASCIMENTO, C. W. A.; SOUSA, C. S.; Alocação de chumbo e nutrientes em hortaliças cultivadas em solo contaminado por baterias. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 36, n. 4, p. 2483-2492. 2015.
MANCARELLA et al. 2017. Metal(oids) contamination in rural and urban vegetable gardens of Teresina (Brazil). Acta Horticulturae. p. 465-468. 2017.
OLIVEIRA, J. L. S.; LIMA A. C. B.; MININI D., SILVA, E.; Usos, efeitos e potencial tóxicodos agrotóxicos na qualidade do solo. Agrarian Academy. v. 5, n. 9; p. 455–458. 2018.Disponível em: <DOI:10.18677/Agrarian_Academy_2018a45> Acesso em 15 set. 2021.
RAMOS, R. M. B.; ALVES, E. R.; LIMA, A. F.; Avaliação do desenvolvimento de alface crespa cultivar Vera: absorção de ferro e chumbo. Revista Agropecuária. v. 38, n. 4, p. 185-190, 2017. Disponível em: <DOI: 0.25066/agrotec.v38i4.34399> Acesso em 22 set. 2021.
TURKDOGAN, M. K.; KILICEL, F.; KARA, K.; TUNCER, I.; UYGAN, I. Heavy metals in
soil, vegetables and fruits in the endemic upper gastrointestinal cancer region of Turkey.Environmental Toxicology and Pharmacology, v. 3, p. 175-179, 2002.
US Department of Health and Human Services, Public Health Service, ATSDR (Agency for Toxic Substances and Disease Registry). ATSDR/EPA Priority List for 2019. Disponível em: <https://www.atsdr.cdc.gov/spl/index.html#2019spl> Acesso em 09 set. 2021.