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60º COngresso Brasileiro de Química

IMPACTO DA COVID-19 NA QUALIDADE DO AR DE REPRESENTATIVAS CIDADES GLOBAIS


ÁREA

Química Ambiental

Autores

Luz, J.B. (IFRJ/RJ) ; Barros, A.C.L. (IFRJ/RJ) ; Martins, E.L. (IFRJ/RJ) ; Pinheiro, D.A.V.S. (IFRJ/RJ) ; Souza, S.L.Q. (IFRJ/RJ)

RESUMO

Em função das medidas restritivas, devido a pandemia COVID-19, verificou-se alterações da qualidade do ar relacionada às concentrações de material particulado de 2,5 e 10 micrômetros (MP2.5, MP10), dióxido de enxofre (SO2), dióxido de nitrogênio (NO2), monóxido de carbono (CO) e ozônio (O3) no período de lockdown em várias cidades do mundo. Para tal, analisou-se dados retrospectivos sobre a qualidade do ar em trabalhos publicados em oito cidades globais. Todos os poluentes avaliados, com exceção do O3, mostraram uma redução significativa. Apesar dos resultados serem temporários, os esforços a fim de manter a poluição do ar reduzida, devem ser incentivados aprimorando o transporte público, política públicas, estratégias de mitigação eficientes para proteger a saúde humana e o meio ambiente.

Palavras Chaves

qualidade do ar; medidas restritivas; COVID-19

Introdução

A maior parte das cidades globais são impactadas pela poluição do ar, influenciada pelas emissões de poluentes de fontes veiculares e industriais, provocando em todo mundo mais de dois milhões de mortes devido a danos causados aos pulmões e ao sistema respiratório (SHAH et al., 2013). Sendo assim, cidades globais, que são cidades com elevado grau de desenvolvimento estrutural, econômico e político, enfrentam problemas relacionados à poluição, falta de saneamento básico, moradia, desemprego e outros (CIDADES GLOBAIS, 2021). Tal conjuntura favorece à rápida transmissão de doenças, visto que muitas pessoas vivem em uma pequena região geográfica. Autoridades chinesas, em 31/12/2019, avisaram a Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre uma possível epidemia, entretanto, o novo coronavírus (síndrome respiratória aguda grave coronavírus 2 - SARS-CoV-2, COVID-19) (FARIDI et al., 2021; HUANG et al., 2020) já havia sido transmitido para o mundo (JOHNS HOPKINS, 2020). Mas, somente em março de 2020, a Organização Mundial de Saúde anunciou que o mundo estava num quadro de pandemia (WHO, 2020). A fim de reduzir a taxa de infecção do vírus e o colapso na saúde, diversos países aplicaram medidas restritivas, que incluíam fechamento parcial ou total de fronteiras internacionais/nacionais, escolas, negócios não essenciais e restrição à mobilidade dos cidadãos. Bancos, farmácias, supermercados e pet- shops poderiam permanecer abertos. Sendo recomendado na medida do possível, o home-office (SICILIANO et al., 2020 a,b). Estudos recentes foram realizados e indicaram que tais medidas de bloqueio contribuíram para melhorias na qualidade do ar. Desta forma, este trabalho tem como objetivo comparar as alterações na qualidade do ar durante o lockdown em oito cidades globais nos cinco continentes.

Material e métodos

Alunos do curso técnico de Meio Ambiente, neste período pandêmico, tem realizado sua iniciação científica (PIBIC EM) em metodologia científica. Aprendendo a delimitar a pesquisa, definir palavras-chave, realizar levantamento bibliográfico com o uso de ferramentas de busca, bem como, leitura de artigos e extração de dados, para tratar e avaliar resultados. Sendo assim, estão sendo capacitados de forma didática a fazer pesquisa bibliográfica através de um aprofundamento teórico e científico. Torna-se pertinente a divulgação de tal iniciativa, apontando a eficácia desta estratégia de ensino aprendizagem. Para tal, o tema definido foi a qualidade do ar em tempos de pandemia. O presente trabalho trata de uma breve revisão de literatura, de caráter exploratório que analisou dados retrospectivos sobre a qualidade do ar em alguns trabalhos publicados de março de 2020 a março de 2021, possibilitando uma comparação entre as mudanças ocorridas na qualidade do ar urbano num cenário de restrição antrópica, com as primeiras medidas restritivas, em oito cidades globais, a saber: Delhi, Madrid, Paris, Nova Iorque, Cidade do México, São Paulo, Lagos e Sydney. Tal levantamento bibliográfico (exclusivamente de artigos na língua inglesa) foi realizado mediante o uso de ferramentas de busca do Portal de Periódicos do CAPES, Science Direct e Google acadêmico, utilizando como palavras chave: covid-19, SARS-CoV-2, qualidade do ar e o nome da respectiva cidade. Diante do tratamento e análise dos dados secundários, tem-se como perspectiva fornecer informações úteis em relação as estratégias de controle da qualidade do ar para o período pós-pandêmico, bem como os benefícios a saúde associados.

Resultado e discussão

Considerando os mecanismos de busca, resultados significativos foram encontrados (Tabela 1). Em todas as cidades, com exceção de Lagos, observou- se uma redução da concentração dos poluentes no período de restrições, e em todas o aumento na concentração de O3. A cidade de Lagos apresentou resultados diferentes das demais cidades globais. A cidade foi avaliada nos meses de janeiro a abril de 2020. Para o NO2, houve um decréscimo de -1,4 % no mês de março em relação aos meses anteriores. Entretanto, em abril, houve um pequeno aumento (0,3 %). Em relação ao SO2, em março houve um aumento de 54 % e em abril esse aumento foi de 1,7 %, logo 32 vezes menor que a concentração no mês anterior. E, em relação ao O3, observou-se que em abril houve um decréscimo de 0,7 %. Esse comportamento durante o período de lockdown pode ser atribuído as atividades industriais, a circulação de pessoas para execução das atividades essenciais, viagens locais e atividades domésticas na cidade (FUWAPE et al., 2020). Em relação ao O3, observou-se um aumento da concentração que variou de 0,8 a 31,5 % nas cidades avaliadas. Essa variação em relação aos demais poluentes estudados durante o bloqueio, se deve provavelmente a dois fatores: a) a redução das concentrações de NOx por conta de uma redução na emissão veicular, gerando um aumento das concentrações máximas de O3. Nessas condições o cenário urbano é controlado pelas concentrações (e especiação) de COV (compostos orgânicos voláteis), onde, como exemplo pode-se citar a cidade de São Paulo. b) A concentração de MP10 e MP2.5 reduziu significativamente, permitindo assim uma maior incidência solar, acelerando as reações fotoquímicas, proporcionando um aumento na concentração de O3 (MAHAATO et al., 2020; SICILIANO et al., 2020a; DANG & LIAO, 2019).

Tabela 1

Mudança percentual relativa (%) na qualidade do ar dos poluentes estudados durante o lockdown em relação ao mesmo período em 2019.

Conclusões

Utilizando as técnicas de metodologia científica e os mecanismos de busca, os alunos destacaram que apesar de tais efeitos serem transitórios, acelerar a transição para combustíveis mais limpos, proporcionar um transporte público adequado, aperfeiçoar estratégias de mitigação e adotar políticas públicas são medidas eficazes contra a poluição do ar, proporcionando uma melhor qualidade de vida para as futuras gerações. Destaca-se que o trabalho terá continuidade e está sendo desenvolvido no âmbito da bolsa PIBIC EM (CNPq) no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.

Agradecimentos

Ao IFRJ pela infraestrutura e ao CNPQ pelo auxílio financeiro (bolsa PIBIC EM).

Referências

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