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60º COngresso Brasileiro de Química

O ensino de química básica no contexto da pandemia: o acesso ao conhecimento de quem já tinha limitações – um relato de experiência das aulas remotas em uma escola da Zona Rural de Nhamundá, Amazonas


ÁREA

Ensino de Química

Autores

Santos, C.L. (SEMED) ; Souza, M.M. (SEDUC)

RESUMO

Os desafios enfrentados pelos professores do ensino público já são grandes, mas com a realidade da pandemia de COVID-19 e o difícil acesso ás Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs) pelas comunidades ribeirinhas, as aulas remotas trouxeram mais uma barreira para a continuação do trabalho docente. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo descrever como foram desenvolvidas as atividades remotas da disciplina de Ciências da Natureza, com enfoque na educação química básica. O público alvo foram alunos do ensino fundamental do 6º ano 9º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Vereador Sebastião Andrade Machado, na comunidade do Curiá, zona Rural do Município da cidade Nhamundá, Amazonas.

Palavras Chaves

Ensino de Ciências; Educação Química; Educação à distância

Introdução

A pandemia de COVID-19 alterou o modo de vida do mundo, obrigando diversos setores da sociedade ao contato remoto como principal forma de interação, inclusive a educação, que teve o ensino presencial transformado em educação à distância em todos os níveis de ensino (BARRETO E ROCHA, p.2, 2020). Os aplicativos de reunião online e as redes sociais entraram em cena para divulgação dos conteúdos do currículo de modo a minimizar os impactos trazidos pela interrupção repentina do cotidiano escolar (BARBOSA et al., p. 380, 2020). Nesse sentido, o uso de Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs) foi proposta pelo Governo Federal como medida emergencial para dar continuidade às aulas (BRASIL, 2020). No entanto, diante da profunda desigualdade social e econômica histórica do Brasil, os estudantes e professores que moram em locais sem acesso à internet e/ou não dispõem de aparelhos tecnológicos como computadores, smarthphones e internet, somados à falta de estrutura adequada para estudo em casa foram fortemente afetados pela falta desses recursos (AVELINO E MENDES, p.60, 2020). No Amazonas, a grande extensão territorial e o difícil acesso a muitas comunidades, o uso de tecnologias digitais é praticamente inalcançável para professores e alunos (RODRIGUES, p.67, 2021). Para ter acesso ao sinal de telefonia móvel é necessário estar próximo de algum centro urbanizado equipado com torre de distribuição. Nesse sentido, este trabalho objetiva descrever a realização das atividades da disciplina de Ciências da Natureza, com enfoque nos conteúdos de química básica, em uma comunidade do interior do município de Nhamundá, Amazonas, com destaque aos relatos dos desafios enfrentados pelo professor.

Material e métodos

A Escola Municipal Vereador Sebastião Andrade Machado localiza-se na comunidade do Curiá, município de Nhamundá, a 381 km de Manaus, Amazonas. O público atendido foram os 41 alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental. O trabalho é apresentado de forma descritiva e os conteúdos abordados foram baseados no livro didático recebido pelos alunos, tais como: a composição dos gases da água dos rios, estados físicos da matéria dos corpos que encontramos na natureza, ciclo da água e subida e descida dos rios, a composição química dos alimentos e misturas do dia a dia. Para realizar as atividades o professor da disciplina produziu atividades de forma impressa ou copiada e entregou nas residências dos estudantes. Ele usou como transporte uma canoa equipada com um motor rabeta e percorreu os caminhos entre os lagos e rios próximo à comunidade que trabalha.

Resultado e discussão

O primeiro desafio foi minimizar as perdas no ano letivo aos estudantes, pois afastados do ambiente escolar, há o risco de evasão. Para os pais, a ida do professor em casa foi importante (Figura 1): ‘[...] Quando os professores vieram em casa pra orientar, pois muitas vezes eu não conseguia ajudar devido eu não ter muito conhecimento, se tornou muito melhor. (J.O., pai de estudante) “ [...] com as atividades em casa e o professor acompanhando, tirando as dúvidas, meus filhos não ficaram muito desamparados [...]. (E.A, mãe de estudante) Percebe-se a preocupação dos pais com o afastamento da escola, a dificuldade em auxiliar os filhos nas tarefas e importância do professor no processo de ensino. Para os alunos, que não tinham alternativas senão com a presença do professor na residência, foi um alívio: “Pra mim foi uma surpresa [...] esse trabalho dos professores de levar as atividades em casa foi muito importante e não somente para mim [...]. (M. A, estudante) No Amazonas, disponibilizaram-se ferramentas do projeto Aula em Casa, do Governo do Estado, como aplicativo de celular e grupos de WhatsApp, mas que não atenderam às necessidades dos estudantes das zonas rurais (RODRIGUES, p. 66, 2021). O desafio dos professores que lecionam nestas áreas vai além da precariedade de materiais nas escolas (AVELINO E MENDES, p.57, 2020). Trouxemos vários exemplos relativos à vivência dos estudantes, possibilitando que as informações simbólicas trazidas em livros didáticos façam sentido no concreto vivenciado. Portanto, a educação química básica pode ganhar significado novo, além de conceitos repetitivos e mecânicos (CHASSOT et al., p.48, 1993; PELIZZARI et al., p. 38, 2001).


Figura 1-Professor da zona rural de Nhamundá em realização das atividades remotas. (A) Chegando às residências dos alunos. (B) Realizando orientações.

Conclusões

Portanto, os desafios enfrentados para manter a educação funcionando no período da pandemia de COVID-19 foram diversos. Os professores tiveram que reinventar suas metodologias e práticas e embora com adversidades, mantiveram seus compromissos com o aprendizado. É necessário, muito além de atualização para aprender as tecnologias educacionais e usar em sala de aula, promover políticas públicas de melhorias do ensino, pautado na dignidade e igualdade educacional, levando em consideração a necessidade de cada região do Brasil.

Agradecimentos

Referências

AVELINO, W.F., MENDES, MENDES, J.G., A realidade da educação brasileira a partir da COVI-19. Boletim de Conjuntura. v.2, n.5, p.56-72, 2020.

BARBOSA, A.T., FERREIRA, G.L., KATO, D.S. O ensino remoto emergencial de ciências e biologia em tempos de pandemia: com a palavra as professoras da regional 4 da SBENBIO (MG/GO/TO/DF). Revista de ensino de Biologia da SBEnBio. v. 13, n.2, p379-399, 2020.

BARRETO, A.C,F. ROCHA, D.S. Covid-19 e educação: resistência, desafios e (im)possibilidades. Revista Encantar – Educação, cultura e sociedade.v.2, p.1-11, jan-dez. 2020.

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional da Educação. Conselho Pleno. Parecer. CNE/ CP nº9/2020. Brasília, 2020. Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=downloads&alias=147041-pcp009-20&category_slug=junho-2020-pdf&Itemid=30192. Acesso em 20 de jul. 2020.

CHASSOT, A.I., SCHROEDER, EO; DEL PINO, J.C., SALGADO, T.D.M.; KRUGER, V. Química do cotidiano: pressupostos teóricos para a elaboração de material didático alternativo. Espaços da escola, v.10, n.3, p.47-53, 1993.

PELIZZARI, A.; KRIEGL, M.L., BARON, M.P.;FINCK, N.T.L. DOROCINSKI, S.I. Teoria da aprendizagem significativa de segundo Ausubel, Ver. PEC, Curitiba, v.2, n.1, p37-42, jul. 2001-jul. 2002. Disponível em https://goo.gl/geA25C. Acesso em 20/07/2021.