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60º COngresso Brasileiro de Química

Uso da Metodologia Ativa Peer Instruction Implementada Com o Aplicativo Plickers Para o Ensino de Funções Orgânicas no Ensino Médio


ÁREA

Ensino de Química

Autores

Alexandre, J.Y.N.H. (IFCE) ; Bezerra, F.H.A. (IFCE) ; Nascimento, R.J.M. (IFCE) ; Pereira, W.G. (IFCE)

RESUMO

A Peer Intruction (PI) é uma metodologia centrada no aluno que se baseia na resolução de testes conceituais propostos a partir da formação de grupos de debates. De modo a sobrepor as desvantagens de sistemas de votação pouco práticos como flashcards e clickers, o aplicativo Plickers emerge como uma alternativa barata e eficiente na implementação da PI. Apesar do sucesso da PI no ensino de ciências em países do norte ocidental, a metodologia ainda é pouco abordada no Brasil, notadamente em química. Neste trabalho a PI foi implementada, com auxílio do Plickers, em duas turmas de terceiro ano do ensino médio, acerca do conteúdo Funções Orgânicas. Foi observado um aumento no número de acertos após a implementação da metodologia, sendo o ganho conceitual dos estudantes de caráter médio ou alto.

Palavras Chaves

Peer Instruction; Plickers; Metodologias Ativas

Introdução

Diversas pesquisas têm evidenciado que o modelo tradicional de ensino é ineficaz na promoção de aprendizagem acerca dos conhecimentos químicos (SCHNETZLER; ARAGÃO, 1995). Nesse sentido, metodologias alternativas que possam proporcionar maior autonomia aos estudantes são requeridas de maneira a fomentar uma aprendizagem significativa. Foi com essa premissa que Eric Mazur idealizou a PI (Peer Instruction), uma metodologia ativa do conhecimento centrada nos estudantes (ERIC MAZUR, 2015). Na PI o professor inicialmente aplica testes conceituais (questões de múltipla escolha) as quais devem ser respondidas pelos estudantes. A depender da taxa de acerto dos discentes nos testes, estes são direcionados a formar grupos de discussão, no qual estudantes inicialmente corretos discutem com aqueles que não obtiveram êxito. Após este momento os alunos retornam aos seus lugares e devem responder mais uma vez ao teste conceitual proposto, sendo evidenciado o aumento do número de respostas corretas. Apesar do sucesso da PI, a sua implementação exige o uso de um sistema de votação que permita ao professor obter feedback em tempo real. Os sistemas de Clickers presentes em algumas escolas americanas representariam um aumento de gasto para o sistema educacional brasileiro, dificultando a sua implementação. Uma alternativa promissora é o uso do aplicativo Plickers, que permite captar as respostas dos estudantes a partir da leitura de cartões resposta com QR Codes denominados Plickers Cards, usando para tal a câmera do celular do docente (PLICKERS, 2020). Neste sentido, o presente trabalho socializa uma experiência em sala de aula com uso da metodologia PI implementada com o aplicativo Plickers em duas turmas de 3° ano do Ensino Médio acerca do conteúdo de Funções Orgânicas.

Material e métodos

O presente estudo foi desenvolvido no IFCE, campus Tabuleiro do Norte, durante o período letivo 2019.2, sendo aplicado a duas turmas de 3° Ano do Ensino Médio-Técnico Integrado. O assunto de Funções Orgânicas já vinha sendo ministrado na turma, de modo tradicional. Contudo, os estudantes ainda apresentavam dificuldades acerca do conteúdo. No início da aula foi explicada a dinâmica da atividade e distribuiu-se os Plickers Cards para os estudantes. Oito questões de múltipla escolha foram usadas como testes conceituais, das quais as cinco primeiras abordavam o conhecimento referente ao reconhecimento de funções orgânicas e as três últimas a nomenclatura dos compostos orgânicos. A início, os estudantes tiverem 3 minutos para pensar na resposta da questão proposta. Após este tempo os alunos levantavam seus Plickers Cards com o item que lhes parecessem correto (A, B, C ou D) posicionados para cima, de forma que o aplicador pudesse scanear as respostas com o smartphone. Caso o número de afirmativas corretas fosse igual ou superior a 70% subtendeu-se que não havia a necessidade de discussão entre os pares. Caso o número de acertos fosse menor que 70% a metodologia de PI é efetivamente implementada, sendo formados grupos de debate contendo pelo menos um estudante que obteve êxito no teste inicial. Obviamente que os estudantes não dispunham de informação inicial se tinham acertado ou não a questão, apenas o professor estava ciente dos resultados iniciais através do aplicativo Plickers. Após a conclusão dos debates os estudantes voltaram a seus lugares e o teste foi novamente aplicado. A efetividade da PI em cada questão foi mensurada através do Ganho de Hake (HAKE, 1998).

Resultado e discussão

A aplicação da Peer Instruction nas duas turmas de 3º Ano se deu com achados similares, corroborando a reprodutibilidade dos resultados, conforme ilustrado nos gráficos da Figura 1. Por exemplo, em ambas as turmas os testes conceituais 2 e 8 tiveram taxas iniciais de acerto superiores a 70%, não sendo necessário a formação de grupos de debate e implementação da PI. Adicionalmente, a turma II também obteve êxito de 71% já nas respostas iniciais para o teste conceitual 5, sendo que, para este teste conceitual em particular, apenas na turma I houve a formação dos grupos de debates. Para os outros testes conceituais a PI foi implementada em ambas as turmas. Os valores de ganho de Hake estimados são sumarizados na Tabela I. O uso da PI nos testes conceituais 1, 3, 4, 5 e 6 na turma I excederam o valor de 70%, representando um alto valor de ganho conceitual pelos estudantes da turma (HAKE, 1998). Por outro lado, para a Turma II apenas o teste conceitual I ocorreu com alto ganho de Hake (93%), enquanto os testes 3, 4 e 6 ocorreram com ganho médio (entre 40 e 70%). O teste conceitual 7 denotou baixo ganho para ambas as turmas aplicadas, o que sugere que este não é efetivo na implementação da PI. Os valores aqui encontrados estão de acordo ou superam aqueles reportados para outras experiências com uso da Peer Instruction no ensino de ciências da natureza (ARAUJO et al., 2017; PEREIRA; NASCIMENTO, R. J. M.; NASCIMENTO, T. L. Do, 2021), reforçando que a metodologia apresenta potencialidade no ensino do conteúdo de funções orgânicas no ensino médio.

Figura 1 - Porcentagens de acertos na Atividade Proposta



Tabela 1 - Valores de Ganho de Hake Estimados Para os Testes Conceitua

Fonte: Os Autores (2021)

Conclusões

Concluímos que a Peer Instruction se apresenta como uma metodologia de grande potencial para o ensino de funções orgânicas durante o ensino médio, promovendo uma valorosa aprendizagem dos estudantes acerca do conteúdo. Além do grande sucesso retratado por valores quantitativos, destacamos que a PI promove ainda o aprimoramento de habilidades de colaboratividade e comunicabilidade pelos estudantes, potencializando o aprendizado autônomo. Neste processo o professor possui papel mediador fundamental para o sucesso das atividades.

Agradecimentos

Ao programa PIBIC/IFCE pela concessão de bolsas permitindo a dedicação dos estudantes de iniciação científica ao projeto

Referências

ARAUJO, A. V. R. De et al. Uma associação do método Peer Instruction com circuitos elétricos em contextos de aprenizagem ativa. Revista Brasileira de Ensino de Física, 2017. v. 39, n. 2, p. e2401.

ERIC MAZUR. Peer Instruction: A Revolução da Aprendizagem Ativa. Porto Alegre: Penso, 2015.

HAKE, R. R. Interactive-engagement versus traditional methods: A six-thousand-student survey of mechanics test data for introductory physics courses. American Journal of Physics, 1998. v. 66, n. 1, p. 64–74.

PEREIRA, W. G.; NASCIMENTO, R. J. M.; NASCIMENTO, T. L. Do. Uso da metodologia ativa instrução por pares assistida pelo aplicativo Plickers: Uma experiência no ensino de química. Conexões: Ciência e Tecnologia, 2021. v. 15, p. e021018.

PLICKERS. No Title. 2020. Disponível em: <https://www.plickers.com/>.
SCHNETZLER, R. P.; ARAGÃO, R. M. R. Importância, sentido e contribuções da pesquisa no ensino de Química. Química Nova na Escola, 1995. v. 1, p. 27–31.
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