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60º COngresso Brasileiro de Química

Letramento Científico em um colégio estadual: O aquecimento global como tema de debate para aprendizagem efetiva de Química, meio ambiente e inglês.


ÁREA

Ensino de Química

Autores

de Souza, A.P.N.S. (SEEDUC) ; de Marco, F.M. (SEEDUC)

RESUMO

Esse trabalho buscou contribuir para a formação de alunos do 3° ano do ensino médio regular de uma escola pública do estado do Rio de Janeiro através do desenvolvimento do letramento científico. A partir de uma aula interdisciplinar de Química e Inglês, tendo como metodologia a Aprendizagem Baseada em Problemas, abordou-se o tema Aquecimento Global (Global Warming) por meio de um vídeo e de uma folha impressa. Ao final, os alunos foram convidados a debater sobre o tema no modelo da co-participação tático-reflexiva, com o intuito de sintetizar e se posicionar sobre o Aquecimento Global.

Palavras Chaves

Letramento Científico; Metodologias Ativas; Criticidade

Introdução

O letramento cientifico é a capacidade de empregar o conhecimento científico para identificar questões, adquirir novos conhecimentos, explicar fenômenos científicos e tirar conclusões baseadas em evidências sobre questões científicas (INEP, 2010). É de suma importância para a maior conscientização das pessoas em relação ao mundo em que vivem para que possam ter cada vez mais qualidade de vida. Historicamente, a escola sempre foi e continuará sendo um ambiente de socialização e de acesso ao conhecimento. No entanto, se antes o foco era quase exclusivo na transmissão e no domínio de conteúdo, por meio da dimensão cognitiva dos estudantes, hoje se torna urgente construir efetivas oportunidades para permitir, com o mesmo empenho, tanto a aprendizagem quanto o desenvolvimento de um conjunto de competências essenciais para uma atuação social autônoma, responsável, solidária, com capacidade de adaptação dos desafios e de seguir aprendendo ao longo da vida. O pensamento crítico é uma competência que habilita a pessoa a se posicionar de modo racional e analítico frente a situações do cotidiano e, portanto, manifesta-se sempre que alguém se depara com alguma informação, situação ou atitude de outras pessoas e busca fazer uma análise de sua validade (quais são os fatos, a lógica, a coerência argumentativa etc.), sua origem (quem e o que motivou a construção e divulgação da informação) e finalidade (a quem a informação pretende chegar e com qual objetivo). Quando o pensamento crítico é bem desenvolvido, também é caracterizado pela superação de binarismos, simplificações e egocentrismos: uma informação não é categorizada simplesmente como boa ou má, adequada ou inadequada, algo que alguém gosta ou não. O pensamento crítico se expressa pela problematização, decomposição e ressignificação (INSTITUTO AYRTON SENNA, 2020). Buscando desenvolver metodologias para desenvolver o letramento científico dos alunos, usou-se a Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL), exemplo de uma Metodologia Ativa de Aprendizagem. Nela, o conhecimento é construído a partir de uma ação do sujeito sobre o objeto de estudo, como outros métodos construtivistas. O aluno trabalha em equipes, de forma colaborativa, para resolver um problema proposto pelo professor. O professor, por sua vez, orienta o processo, dando razoável grau de liberdade aos alunos para buscarem novos meios para a resolução dos problemas propostos. Partindo de seus conhecimentos prévios, o aluno é incentivado a refletir para chegar a algum resultado (SANTOS, 2015). O objetivo desse trabalho é relatar uma experiência de aula interdisciplinar para alunos do terceiro ano do Ensino Médio de uma escola pública no estado do Rio de Janeiro e divulgar a proposta como uma metodologia interessante para o desenvolvimento de uma aprendizagem efetiva de Química, meio ambiente e inglês. A aula teve como principal meta desenvolver o letramento científico em Química por meio de materiais em inglês que tivessem como tema Aquecimento Global (Global Warming). A partir de um vídeo, os discentes aprenderam sobre desastres naturais, teorias a favor e contra o aquecimento global e GEE. Posteriormente, utilizando o método da co-participação tático-reflexiva (FABRÍCIO, 2006), os discentes debateram sobre Aquecimento Global e puderam tomar decisões, analisar os posicionamentos dos outros, opinar e receber críticas, refletindo sobre sua contribuição para a sociedade enquanto sujeitos críticos.

Material e métodos

O trabalho foi desenvolvido no Colégio Estadual André Maurois - CEAM, localizado no estado do Rio de Janeiro. Os alunos eram do 3º ano do Ensino Médio regular, com idades entre 16 e 19 anos. A metodologia utilizada contemplou os seguintes momentos: 1- Problematização inicial em Inglês - visualização e compreensão do vídeo (link de acesso: https://youtu.be/oJAbATJCugs) - em Inglês - Global Warming 101 | National Geographic 2- Organização do conhecimento – Professora de Química – Power Point – Temas: - Desastres naturais -O que é o Aquecimento Global -O que são os GEE - Principais causas acusadas do Aquecimento Global - Argumentos contra e a favor da teoria do Aquecimento Global 3- Aplicação do conhecimento – Debate em grupos e debate com a turma. Os materiais necessários foram quadro branco e canetas para o quadro branco, projetor, Lap Top e caixas de som. A avaliação foi feita através do debate em sala; trabalho em grupo e formulário. No primeiro momento, os alunos, munidos de folha impressa, leram perguntas em inglês que deveriam ser respondidas após assistir ao vídeo por, no máximo, três vezes. Depois, as respostas foram checadas e perguntas de compreensão foram propostas para verificar se os alunos compreenderam as informações dispostas no vídeo. No segundo momento, a professora de Química passou uma apresentação de slides, em português, adicionando conhecimentos relacionados ao aquecimento global e reforçando alguns que já haviam sido abordados em Inglês. Após a apresentação dos slides, a turma foi dividida em duplas para a discussão do tema aquecimento global. Foi entregue para cada grupo um formulário, com perguntas em inglês, que poderiam ser respondidas em português, através de uma resposta obtida após o debate entre os integrantes dos grupos. Após 20 minutos, iniciou-se um debate com toda a turma no modelo da co-participação tático-reflexiva, que consiste em dois círculos: no círculo fechado ocorre o debate entre os membros da dupla cujo número é 1. No círculo aberto, sentam os membros da dupla cujo número é 2 e cuja função é avaliar seu companheiro de dupla no debate: que argumentos utilizou, que hipóteses defendeu, como foi o exercício da escuta alerta e como foi sua postura Após 15 minutos, os papéis são invertidos: quem debateu irá analisar, quem analisou irá debater. Após 15 minutos, a turma chegou a um consenso sobre o tema que caracterizasse o pensamento da turma. As duplas foram então convidadas a trocar suas reflexões e observações sobre a postura de seus parceiros durante o debate, conforme proposto no trabalho de Fabricio, 2006.

Resultado e discussão

Os alunos, ao final do vídeo em Inglês, se mostraram curiosos e interrogaram de forma constante as professoras mediadoras, tentando ter certeza se era aquilo que haviam entendido do vídeo. Perguntavam a tradução de algumas palavras, e registravam suas reflexões, após assistir ao vídeo em Inglês, a professora de Química apresentou mais contribuições para o debate. O Power Point abordava, em português, a temática e discutia ponto a ponto com a turma, sempre com diálogo aberto sobre, primeiramente, os desastres naturais, tipos, sua naturalidade e periodicidade, o conceito do efeito estufa como algo natural para a manutenção da vida no planeta Terra, o aquecimento global, IPCC (Intergovernmental Painel on Climate Change), os principais gases de efeito estufa – GEE, as principais causas acusadas do agravamento do efeito estufa, argumentos contra e a favor da teoria do aquecimento global. E então se abriu um lugar de fala para dúvidas, sugestões dos alunos, que relacionaram o vídeo com os conceitos discutidos na aula e os pré conceitos anteriores a aula. Os alunos tentaram conectar as ideias tirando dúvidas e abordando conceitos políticos, interesses econômicos, algo que até então não havia sido abordado, mostrando que tiveram uma postura crítica e reflexiva sobre suas realidades. Falou-se, então, em um breve momento sobre a economia do carbono. Então foi entregue um formulário, com questões em Inglês, abordando o tema. Nesse momento também foi observada muita procura dos alunos com as professoras mediadoras, pois a todo momento buscavam defender o ponto de vista. As professoras tentaram mostrar a eles a importância das evidencias cientificas, reforçando a relevância de fontes confiáveis, evitando a todo o custo a primazia do discurso de autoridade, destacando para os discentes que afirmações absolutas e deterministas não são interessantes do ponto de vista científico. Foi mostrado que a ciência está em constante evolução e que não há verdades absolutas. Para Popper, a ciência se desenvolve a partir de revoluções constantes, renovando-se permanentemente. O critério de falseabilidade está associado à ideia de movimentação e rupturas de paradigmas científicos, ao contrário do verificacionismo, que tem como princípio básico a ideia de verdade, portanto algo que se estabiliza em determinado momento; o falseacionismo ou falibilismo não pressupõe uma verdade primeira, mas um enunciado seguido de uma contraprova ou de sua "falseação". A ideia é a de que a ciência ou o conhecimento científico se desenvolve a partir da busca e da tentativa de encontrar lacunas para falsear uma teoria. Nesse caso, os cientistas desenvolveriam teorias (métodos) cada vez mais consistentes e flexíveis, pois contariam com o princípio da incerteza e das mudanças de paradigmas. Tais mudanças seriam constantes. (FRANCELIN, 2004) Foi mostrada aos alunos, através de um assunto contemporâneo como o aquecimento global, a seriedade do combate às fake news, a necessidade de busca por fontes de confiança, conceitos de como funciona a ciência em uma constante mudanças de paradigmas, e os alunos, então, tentaram defender seus pontos de vista por meio da co-participação tático-reflexiva. O vídeo em inglês não os assustou; pelo contrário: os estimulou pela temática. O interesse em desenvolver a escuta em Inglês fez com que os alunos se mostrassem mais curiosos. Os discentes mostraram-se interessados e, em boa parte da aula, faziam questionamentos. No último momento, buscou-se o debate respeitoso com toda a turma. As mediadoras observaram habilidades e competências como comunicação, flexibilidade cognitiva, inteligência emocional, criatividade, capacidade de resolver problemas complexos, negociação, liderança e pensamento crítico. Durante o debate, os alunos deram ideias de como poderiam, como cidadãos inseridos em uma comunidade, contribuir em relação a temática e surgiram ideias como andar de bicicleta, apagar as luzes da casa, usar menos o ar condicionado, trocar lâmpadas incandescentes por fluorescentes, plantar árvores, reciclar e conscientizar as pessoas a seu redor. Assim, essa metodologia se mostrou capaz de instigar a curiosidade e criatividade dos estudantes, e os tornou protagonistas de seu próprio processo de aprendizagem.

Conclusões

Analisando os resultados obtidos nos debates e no formulário, ficou evidente que a contextualização da problemática ambiental com o uso de uma aula pautada na PBL despertou o interesse dos alunos pelas disciplinas, além de fazer com que os mesmos compreendessem melhor os assuntos e tivessem uma aprendizagem mais significativa, quando se mostraram tomadores de decisões que poderiam ajudar em seu dia-a-dia como andar de bicicleta, plantar árvores, entre outras ações apontadas por eles que mostram a conscientização desses alunos ao final dos dois tempos de aula. Isso mostra a importância do ambiente escolar na transformação de uma sociedade por meio do desenvolvimento do Letramento Científico.

Agradecimentos

Colégio Estadual André Maurois - CEAM, Secretaria de estado de educação - SEEDUC.

Referências

FABRÍCIO, B. F. Co-participação tático-reflexiva: formas de (inter)ação na sala de aula de LE com potencial democrático. Calidoscópio, v. 5, n. 2, p. 125–138, 2006.

FRANCELIN, M. M. Ciência, senso comum e revoluções científicas: ressonâncias e paradoxos. Ciência da Informação, v. 33, n. 3, p. 26-34,2004.

INSTITUTO AYRTON SENNA. Guia Criatividade e Pensamento Científico. Disponível em: <https://institutoayrtonsenna.org.br/content/dam/institutoayrtonsenna/guiacpc/instituto-ayrton-senna-guia-criatividade-e-pensamento-critico.pdf?utm_source=site&utm_medium=guia-cpc-1305>

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP). Letramento Científico, Brasília: MEC, 2011. Disponível em:
<https://download.inep.gov.br/download/internacional/pisa/2010/letramento_cientifico.pdf>.

SANTOS, C. A. M. O Uso de Metodologias Ativas de Aprendizagem a Partir de uma Perspectiva Interdisciplinar. IN: Educere - Congresso Nacional de Educação, 12, Paraná. 2015. Disponível em: <https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/20543_10759.pdf>