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60º COngresso Brasileiro de Química

ABORDAGEM HISTÓRICA DA TABELA PERIÓDICA EM LIVROS DIDÁTICOS PARA O ENSINO MÉDIO


ÁREA

Ensino de Química

Autores

Ibiapina, T.M. (UFMA) ; Lima, J.B. (UFMA) ; Sousa, R.C. (UFMA)

RESUMO

A Tabela Periódica (TP) compõe um dos assuntos da Química com maior predisposição a uma abordagem histórica ou filosófica. Levando em consideração que as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino médio propõe a inserção da história e filosofia da ciência (HFC) no ensino da referida disciplina, realizou-se uma pesquisa qualitativa de cunho descritivo e interpretativo e procurou-se investigar de que forma a HFC é abordada no livro didático mais especificamente no conteúdo de (TP). Para isso analisou-se 02 (dois) livros e construiu-se considerações relevantes referentes aos livros analisados. Ressalta-se que o livro didático é uma importante ferramenta para a composição do currículo escolar e para a aprendizagem dos discentes no ensino de química.

Palavras Chaves

Tabela Periódica; Livro didático; Abordagem histórica

Introdução

Durante muitos anos o processo de ensino de química no Brasil, enquanto componente curricular da Educação Básica, foi estruturado em abordagens pedagógicas tradicionais, ou seja, no âmbito acadêmico, havia uma carência de propostas metodológicas que, de alguma forma, buscavam a inovação e a construção efetiva do conhecimento dos estudantes. Pesquisas no âmbito do Ensino de Ciências evidenciam que discussões iniciais a respeito de uma transformação no ensino de ciências e, especificamente, no ensino de química, foram iniciadas e este tema passou a fazer parte do escopo de trabalhos acadêmicos como artigos científicos, monografias, dissertações e teses apenas a partir da década de 80. Os documentos oficiais que regem a Educação Básica no Brasil, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) e, mais recentemente, a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017) sugerem uma série de práticas pedagógicas e caminhos metodológicos que podem ser utilizados pelos docentes no processo de ensino de química: como o uso de metodologias alternativas, uso de recursos tecnológicos, trabalhos inter, multi e transdisciplinares e a uma abordagem histórica da química a partir de seus conteúdos estruturantes. Pesquisadores de diferentes áreas têm abordado a questão do ensino de química, principalmente, no que tange ao Ensino Médio. Nessas publicações metodologias, contextos e desafios, geralmente, são os focos das discussões. Assim, dada a ampla abrangência da química nas atividades cotidianas, principalmente àquelas relacionadas à área da saúde, por exemplo, um dos maiores desafios de seu ensino é, justamente, o de possibilitar que os estudantes identifiquem a aplicabilidade da química em atividades de seu dia a dia, o que pode ser potencializado a partir de diferentes abordagens, como é o caso da abordagem histórica. Além desta, no que tange à química do Ensino Médio, outros desafios são elencados na literatura da área, como: a complexidade dos conteúdos para os estudantes; a evolução das práticas de ensino; o desafio da avaliação; o desafio do professor, neste caso referindo-se à sua formação inicial e continuada; o desafio entre os diferentes atores da educação; o desafio de organizar as complementaridades entre a educação formal e não formal; e, por fim, os desafios tecnológicos. Assim, estratégias têm sido estudadas com o intuito de superar e, até mesmo, dirimir os desafios supracitados. Dentre tais estratégias, a inovação de possibilidades pedagógicas tem chamado a atenção de profissionais da área de educação. O processo de ensino e aprendizagem tem sido abordado em inúmeras pesquisas, desenvolvidos na área atualmente. Neste contexto, a formação de todo e qualquer profissional consiste em um processo que busca, dentre outras coisas, prepará-lo para a solução dos problemas de sua profissão e, no caso do Ensino Médio, o foco está na formação plena do sujeito enquanto cidadão de direitos e deveres. No caso desta formação, esta pode ser entendida como um processo contínuo de desenvolvimento social, cujo início se dá logo nas primeiras experiências do sujeito no ambiente escolar e continua ao longo de toda a sua vida. De forma geral, tal formação tem como intuito prepará-lo para sua prática, capacitando-o a partir de uma série de saberes. Dentre os trabalhos já publicados que abordam a questão da formação do estudante do Ensino Médio, é unânime o entendimento de que este processo de formação é plural e com diferentes vertentes, sendo que uma delas diz respeito ao uso de diferentes alternativas pedagógicas, por exemplo, a história e a filosofia da Ciência, no caso da química. Conforme defende Batista (2016), ao incorporarmos a história e a filosofia da Ciência no processo formativo do estudante do Ensino Médio estamos colocando tal processo formativo em bases sólidas, principalmente no que diz respeito a entender o processo de evolução do conhecimento científico. Assim, a abordagem da história e da filosofia da Ciência vista como um instrumento para a transformação da prática docente colabora com o processo de construção dos saberes discentes o que justifica a sua abordagem enquanto prática pedagógica e/ou metodológica. Conforme discutido por Fiurini e Carvalho (2014), o estudo da tabela periódica é imprescindível no ensino da química nos anos referentes ao Ensino Médio. Assim, logo no final do Ensino Fundamental II são trabalhados com os estudantes os embasamentos desta disciplina de maneira explícita e formal, sendo os conteúdos trabalhados elencados a partir da tabela periódica. No entanto, ainda de acordo com os autores supracitados, esta aprendizagem envolve certo grau de abstração tomada por conceitos de uma linguagem científica e é justamente para alcançar esta abstração que uma abordagem histórica pode ser experimentada. Assim, o presente trabalho tem como objetivo investigar a abordagem histórica em livros didáticos para o Ensino Médio, no ensino de conteúdos de química, especificamente, da tabela periódica.

Material e métodos

Este trabalho foi realizado a partir de uma revisão bibliográfica, por meio de uma pesquisa qualitativa de cunho descritivo e interpretativo (STAKE, 2016), explorou- se o processo de ensino da tabela periódica - TP por meio de abordagem histórica e verificou-se como a História e Filosofia da ciência está inserida no conteúdo TP em livros de 1° ano do ensino médio aprovados pelo PNLD 2017. Foram analisados dois títulos (Ser Protagonista: Química, 1º ano Ensino Médio e VIVÁ: Química, Volume 1 Ensino Médio) e construiu-se considerações relevantes. Todas as argumentações estão pautadas em documentos vigentes que regem a educação, como os citados anteriormente na introdução, assim como em pressupostos teóricos a respeito do desenvolvimento da aprendizagem constantes na literatura da área.

Resultado e discussão

Os livros didáticos são importantes ferramentas pedagógicas para o ensino de ciências da natureza, e embora ressaltem os produtos finais da ciência, habitualmente deixam de contemplar outros enfoques, como por exemplo àqueles que fazem relação com a história da evolução dos princípios e conceitos da ciência. Para a composição desse estudo, analisou-se dois títulos, apresentados no Quadro 1. Os livros didáticos analisados foram aprovados no PNLD para o ano de 2017. Os dois livros apresentam um capítulo direcionado ao conteúdo Tabela Periódica (TP). O livro 01 (um) introduz o conteúdo contextualizando a descoberta da Lei Periódica e a criação da Tabela com a necessidade de organização e classificação dos elementos químicos durante o século XIX. Já o livro 02 (dois) apresenta o estudo desde as primeiras tentativas de classificar os elementos químicos até a elaboração da TP, no século XIX. Os dois títulos elencam uma resumida viagem no tempo e apresentam algumas tentativas de organização e classificação dos elementos entre os séculos XIX e XX. Podemos destacar para as duas obras a inclusão das Tríades de Döbereiner, o Parafuso Telúrico de De Chancourtois e as Oitavas de Newlands. Enquanto o livro 01 (um), traz uma representação do parafuso telúrico de Chancortois mostrando os elementos químicos em uma linha vertical (possuem propriedades químicas semelhantes), o livro 02 (dois) cita apenas um esboço do referido parafuso. O livro 01 (um) apresenta Dmitri Mendeleev como o “pai da Tabela Periódica” trazendo inclusive sua tabela criada em 1871. O livro 02 (dois) delineia Mendeleev como - químico russo, considerado o principal criador da Tabela Periódica. Ressalta-se que o livro 01 (um) faz uma explanação sobre a classificação do sistema periódico ser resultado de um processo histórico que teve início com a obediência de critérios levando em consideração as propriedades semelhantes dos elementos químicos. Em relação a forma que os elementos químicos estão dispostos na TP atual, o livro 01 (um) explica a forma que Mendeleev organizou sua tabela e em seguida justifica o porquê de Moseley ter seguido uma maneira diferenciada para a construção da tabela periódica atual. O livro 02 (dois) explana que a disposição dos elementos na tabela periódica é feita da esquerda para direita e segue a ordem crescente de números atômicos. Explica ainda que a descoberta do número atômico foi feita por Henry Monseley a partir da coleta de dados experimentais justificando a construção de sua tabela periódica, até então conhecida como tabela periódica atual. O livro 01 (um) esclarece de maneira detalhada todas as informações relevantes que podem ser encontradas na tabela periódica enquanto o livro 02 (dois) traz essas informações de maneira mais resumida. Ainda que o conteúdo sobre tabela periódica seja, conforme afirmamos anteriormente, um dos mais propensos a uma abordagem histórica e filosófica, e que tradicionalmente os livros didáticos tenham explorado essa característica, observou-se que os livros analisados apresentam diversos elementos dessa abordagem que incorporaram algumas concepções mais recentes e atualizadas sobre o uso da história da ciência no ensino de química. Com relação à esta abordagem no livro didático, vale ressaltar que, de maneira geral, a principal função de um material didático é auxiliar o professor no desenvolvimento de um processo de ensino que possibilite a construção significativa de determinados conhecimentos (SIQUEIRA, 2014). Com o exposto, fica evidente o motivo de parte dos professores fazerem uso do livro didático em sala de aula, seja para aprofundar o estudo de determinados conceitos, preparar suas aulas, selecionar atividades, variar contextos, dentre outras razões. Para não contemplar somente a abstração na explanação do conteúdo sobre (TP) entendeu-se pertinente trazer Lira (2011), haja vista o autor afirmar que a abordagem histórica no processo de ensino de química dependendo da forma como é explorada, permite o trabalho com projetos interdisciplinares, o que potencializa o processo de ensino e aprendizagem da química. Segundo o dicionário Houaiss (2009), o termo interdisciplinar pode ser definido como uma ação que estabeleça relações entre duas ou mais disciplinas ou ramos de conhecimento. Neste sentido, trabalhos com projetos interdisciplinares terão como objetivo estabelecer relações entre diferentes áreas do saber, como física, filosofia, química, dentre outras. De forma semelhante, Pombo, Guimarães e Levy (1994, p. 13) define a interdisciplinaridade como “qualquer forma de combinação entre duas ou mais disciplinas com vista à compreensão de um objeto a partir da confluência de pontos de vista diferentes e tendo como objetivo final a elaboração de uma síntese relativamente ao objetivo comum”. Assim como defende Lira (2011), a interdisciplinaridade possibilita que o professor realize um verdadeiro trabalho de integração entre as diferentes disciplinas, proporcionando um trabalho de cooperação, porém, aberto ao planejamento e ao diálogo. Luccas (2011) afirma que um dos grandes motivos da existência de projetos interdisciplinares nas aulas e, principalmente, a abordagem histórica do conhecimento, é o emprego do conhecimento produzido para alcançar a solução de problemas. Segundo o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), desenvolvido e gerenciado pelo Ministério da Educação que tem como objetivo avaliar e disponibilizar obras didáticas, literárias e pedagógicas às instituições de ensino (BRASIL, 2017), cada escola participante do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), democraticamente, avalia e seleciona o livro didático que irá utilizar dentre uma lista de obras inscritas pelas editoras para compor o Guia do Livro Didático (MENDES; SOUSA, 2014). Os autores supracitados esclarecem que, para compor este Guia, os títulos devem obedecer a vários critérios e, depois de avaliados e aprovados pelo Ministério da Educação (MEC), são resenhados e, periodicamente, enviados para a seleção das escolas. Dentre os critérios exigidos para ser um livro didático, estão fatores como respeitar os conteúdos propostos pelos documentos que regem a educação, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) e a BNCC (BRASIL, 2017) elevar o estudante a pensar, refletir, generalizar e abstrair com base em situações cotidianas, dentre muitos outros critérios. Assim, dados tais critérios, têm-se o livro didático como um recurso colaborador no processo de ensino e de aprendizagem, sendo importante, assim, que esta ferramenta dê conta das necessidades pedagógicas e metodológicas do processo educacional o que inclui, por exemplo, uma abordagem histórica dos conhecimentos.

Quadro 1.

Livros aprovados no PNLD 2017.

Conclusões

Com a finalidade de introduzir uma discussão sobre a abordagem histórica em livros didáticos no ensino de química do Ensino Médio, especificamente da tabela periódica, foram exploradas nesse trabalho algumas relações entre o processo de ensino e de aprendizagem da química e a possibilidade de sua abordagem por meio de um viés histórico e científico a partir de uma pesquisa qualitativa de cunho descritivo e interpretativo. As discussões relacionadas ao ensino da tabela periódica, nos levaram a outras práticas pedagógicas que, a partir da história, podem potencializar o processo de aprendizagem da química, no caso, por exemplo, do trabalho com projetos interdisciplinares no ensino da tabela periódica. Todas as argumentações foram pautadas em documentos vigentes que regem a educação, assim como em pressupostos teóricos a respeito do desenvolvimento da aprendizagem constantes na literatura da área. Com relação à abordagem histórica da tabela periódica, as articulações teóricas mostram que são diversos os objetivos que levam o uso desta em sala de aula. Dentre tais motivos é possível destacar a possibilidade de tornar a aula mais contextual, promover a socialização entre os estudantes, potencializar a aprendizagem dos alunos, aumentar o interesse dos estudantes e desenvolver ou potencializar a criatividade dos mesmos, possibilitando, assim, uma aprendizagem efetiva daquele conteúdo que está sendo ministrado.

Agradecimentos

Referências

BATISTA, I. L. Unidade didática na formação docente: natureza da ciência e a visibilidade de gênero na ciência. Experiências em Ensino de Ciências, v. 11, n. 2, p. 39-59, 2016.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 1998.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2017.
FIURINI, G. F.; CARVALHO, M. O lúdico como ação motivadora no ensino da Tabela Periódica. In: Os desafios da escola pública paranaense na perspectiva do professor PDE, 2014.
Lisboa / Júlio Cezar Foschini et al. Ser Protagonista: Química, 1º ano Ensino Médio Edições SM. 3ª edição. 2016.
MENDES, T. F.; SOUSA, B. N. P. A. Modelagem Matemática Na Educação Matemática E Sua Abordagem Em Livros Didáticos. In: VI Encontro Paranaense de Modelagem em Educação Matemática. Curitiba, 2014.
Novais, Vera Lúcia Duarte Tissoni, Murilo. VIVÁ: Química, Volume 1 Ensino Médio. Editora: Positivo. 1ª edição 2016.
SIQUEIRA, M. A. Modelagem Matemática e Livro Didático no Ensino Médio: um olhar para o PNLD. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e em Matemática, Universidade Federal do Paraná, 2014.
STAKE, R. E. Pesquisa qualitativa: estudando como as coisas funcionam. Penso Editora, 2016.