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60º COngresso Brasileiro de Química

A Experimentação como Estratégia para Inclusão de Alunos com Deficiência no Ensino de Ciências


ÁREA

Ensino de Química

Autores

Ibiapina, T.M. (UFMA) ; Lima, J.B. (UFMA) ; Sousa, R.C. (UFMA)

RESUMO

O presente trabalho delineia atividades experimentais desenvolvidas com alunos com deficiência. Para tal, realizou-se como método de estudo a pesquisa bibliográfica objetivando compreender as potencialidades da experimentação. Esta pesquisa foi elaborada através da compreensão de dados estabelecidos em trabalhos já existentes relatando os procedimentos adotados e os seus resultados. No que tange os estudos já estabelecidos nos processos de pesquisas em destaque, entendeu-se que as atividades experimentais apresentam uma maior intervenção por parte do aluno, sendo ele agente ativo de sua aprendizagem. Mediante análise da literatura compreendeu-se que a realização de atividades experimentais pode otimizar o processo de ensino/aprendizagem e a interação do aluno em seu processo formativo.

Palavras Chaves

Atividades Experimentais; Aluno com deficiência; Educação Inclusiva

Introdução

A Educação inclusiva tem seguido um importante trajeto para envolver a diversidade mediante a composição de uma escola que apresente uma proposta à comunidade escolar que atenda às necessidades de cada um, principalmente àqueles que correm risco de exclusão em termos de aprendizagem e participação na sala de aula. Nessa perspectiva, o papel da educação inclusiva é de aprimorar a aprendizagem servindo de relógio entre a pessoa e o mundo, alicerçando o desenvolvimento. O termo educação inclusiva se reporta ao ensino para alunos com ou sem deficiência, com condições equitativas para que todos sejam capazes de aperfeiçoar suas competências e habilidades respeitando suas singularidades. A educação para alunos com deficiência apresentou diversas modificações no que tange seu processo legislativo, estabelecendo regras e leis que visam a inserção do aluno especial no contexto educacional, possibilitando o cumprimento da lei que assegura ao indivíduo o acesso à educação de forma integral conforme será discutido na sequência. A proposta de legislação referente a educação inclusiva no Brasil perpassou por diversas modificações ao longo dos anos, a datar de 1961 com a Lei nº 4.024 que referenciava o atendimento à alunos denominados de excepcionais, tendo a relação destes com o ensino regular a medida que possível. Em consonância, no ano de 1971 ocorreu ajustes com a implementação da Lei nº 5.692 na época da ditadura militar, a qual possibilitou a visão para o atendimento diferenciado aos alunos com dificuldades/necessidades especiais que precisassem de tratamento para sua aprendizagem. Em 1988, através da Constituição Federal em seu art. 208 estabelece como condição gratuita e obrigatória a inserção dos alunos especiais e demais de modo a ser obrigação do Estado a estabelecer condições que assegurem o cumprimento e acesso destes para um ensino de qualidade. Nesta constituição, o ensino é visto como um direito pertencente a todos com enfoque a contribuir para o desenvolvimento integral do indivíduo. Sucessivamente, a lei nº 7.853 prevista em 1989, muda a vertente do rumo da instauração do ensino, possibilitando a criação de espaços diferenciados no atendimento a alunos especiais, seja no viés público ou no privado. Em 1990, através da Lei nº 8.069, o Estatuto da Criança e do Adolescente apresentou a possibilidade de estabelecer um atendimento diferenciado aos alunos especiais, permanecendo a sua inserção no ensino regular padrão. De acordo com o Art. 58, da Lei Nº 9.394, a educação especial deve ser oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para educandos com necessidades especiais. Novamente em 2001, a Lei nº 10.172 recoloca o ensino especial diante da educação regular permitindo atendimento diferenciados visando a individualidade de cada estudante. Outros decretos como Resolução CNE/CO nº1/2002, Lei nº 10.436/02, Decreto nº 5.626/05, Plano Nacional de Educação em direitos humanos, Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), Decreto nº 6.571, entre outros. Por fim, em 2020, o Decreto nº 10.502 estabelece a política nacional de educação especial de modo a assegurar a continuidade legislativa que tende a ir contra os processos de retrocesso ao movimento de segurança ao ensino de alunos com deficiências. De acordo com a Lei nº 13.146 que se baseia na inclusão da pessoa com deficiência, define em seu Cap. II, art. 4º, que “toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação”. Para tal, estes indivíduos devem ter acesso a saúde, educação, lazer, entre outros fatores de forma igualitária, levando em consideração que para cada cenário os espaços devem atender essas pessoas de forma especificada. A evolução cronológica das leis referente a educação inclusiva no Brasil se encontra resumida no quadro 01. Segundo Beyer (2006), no processo de inclusão não pode haver “[...] alunos com e sem deficiência, com e sem distúrbios, com e sem necessidades especiais (p. 280)”. Nesse sentido, o princípio da diferença serve de base para entender a unicidade dos indivíduos, não existindo mais os estereótipos como “os especiais”, “os normais”, “os excepcionais”, esse viés pedagógico inclusivo permite-se apenas a existência de alunos que apresentam as mais diversas necessidades e apresentam valores diferentes entre si enquanto pessoas, e não enquanto deficientes ou não deficientes. Assim, o presente trabalho apresenta como objetivo geral identificar atividades experimentais desenvolvidas com alunos com deficiência. O andamento do estudo permeou-se através do método de pesquisa bibliográfica, elencando vertentes visando apresentar estudos de casos que tiveram como método o desenvolvimento dessas atividades específicas mencionadas.

Material e métodos

Foram selecionados e analisados alguns artigos sobre atividades experimentais referentes a temática em questão, dentre os quais podemos destacar Atividades experimentais de Ciências com alunos do Atendimento Educacional Especializado (AEE) de uma Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) que foi apresentada no XI Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – XI ENPEC - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC. 2017. O referido trabalho define a projeção de atividades experimentais no contexto de Ciências em atendimento à alunos com deficiência. O uso das atividades experimentais neste estudo advém do confronto com as atividades propostas para alunos especiais (nomenclatura atual – alunos com deficiência) que em suma exigem apenas condições básicas do aluno e seu processo mínimo de interação. Desta forma, a presença das atividades experimentais propicia ao aluno a interação com aspectos que requerem mais desses alunos contribuindo para a ampliação de seus conhecimentos. Para a realização desta pesquisa do ponto de vista de sua natureza, trata-se de uma pesquisa básica, que impreterivelmente requer revisão bibliográfica, “foi desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos.” (GIL; 2010, p. 50). Assim, quanto aos objetivos, o estudo constituiu-se como descritivo e explicativo, o primeiro intenciona descrever as características de determinado fenômeno ou o estabelecimento de relações entre suas variáveis. O segundo contribui para identificar os elementos que determinam ou subsidiam a ocorrência de determinados fatos, aprofunda o conhecimento da realidade com vistas a explicar a razão e o porquê de um problema específico (KAUARK, 2010). Desse modo, este estudo pauta-se na abordagem qualitativa por não haver preocupação com quantificação de dados. As atividades propostas neste estudo se consolidaram na plantação de feijões e a importância da água tratada para a saúde. Os dois experimentos foram realizados com o mesmo público, de modo a promover um ensino diferenciado visando a obtenção de melhores movimentos de interação por parte dos educandos com deficiência. Como meios metodológicos de instauração do ensino promovendo a aprendizagem de alunos com deficiência, diversos estudos focaram no desenvolvimento de atividades experimentais de modo a possibilitar o andamento dessa aprendizagem garantindo uma oportunidade a esses alunos.

Resultado e discussão

Com relação aos aspectos positivos no que compreende a interação dos alunos com deficiência no que concerne as atividades experimentais, configuram-se importantes quesitos que vão desde o estímulo da atenção e participação dos alunos até a compreensão do que está sendo trabalhado. Essa abordagem permite distinguir a importância da introdução dessas atividades no contexto educacional do aluno em relação à interação com atividades de ciência. Para compreender o tema, foram analisados os títulos do (quadro 02) encontrados na base de dados online – Google Acadêmico. Baseado no estudo, “as atividades experimentais tiveram como objetivo conduzir os alunos ao levantamento de hipóteses, observação, argumentação e registro” (ATIVIDADES, 2017, p. 5), dessa forma, a promoção de conhecimento se estabelece de maneira efetiva propiciando melhores condições de ensino e aprendizagem. Em relação ao método da “muda de feijão”, os relatos destacaram uma logística satisfatória, pois possibilitou ao aluno a comprovação de hipóteses levantadas. Na relação com o segundo experimento referente aos aspectos da água tratada, o autor apresentou a utilização da estória em quadrinhos a qual otimizou a discussão referente a poluição da água. Essas atividades tiveram impacto positivo, representando dois modelos de atividades no que tange os aspectos das ciências naturais na interação com alunos com deficiência em suas propensões ao ensino e aprendizagem. As atividades realizadas permitiram um entendimento referente a experimentação para além dos estudos propostos. Essas atividades possibilitaram aos alunos serem agentes ativos às interações mencionadas de modo a pensar sobre estratégias e desenvolverem os pressupostos. Com relação à reformulação das atividades experimentais, Almeida, Carvalho e Silva (s.d) afirmam para a necessidade de perceber os alunos em suas individualidades e estabelecer modificações nas atividades de modo a estabelecer estratégias que visem potencializar o ensino-aprendizagem em destaque, ao modo que “todas as estratégias foram adaptadas às crianças em questão de acordo com as suas capacidades, as suas ideias prévias/concepções alternativas, bem como na rentabilização dessas aprendizagens para a sua vida futura” (ALMEIDA, CARVALHO, SILVA, s.d, p. 29). O experimento desenvolvido pelos autores se dividiu em diferentes domínios, sendo estes: domínio conceitual, procedimental, atitudinal. E para cada atributo, no que tange o experimento, foram obtidas diversas respostas positivas em referência a interferência do aluno. A atividade experimental desenvolvida busca trazer a percepção do aluno em seu processo de interação com os materiais e os conteúdos. De acordo com Rodrigues et al., (2015), a experiência evidenciou uma interação ativa da aluna com os procedimentos estabelecidos. Essa intencionalidade, por meio de capacitação, prevê que o aprendizado seja melhor desenvolvido de modo que todos os alunos sejam capazes de estabelecer relações com os conhecimentos adquiridos. Alguns princípios são fundamentais para o desenvolvimento de atividades experimentais, sendo elas: tempo hábil para elaboração das atividades levando em consideração os objetivos que se pretendem atingir; tempo suficiente para que os alunos interajam com as atividades e façam suas práticas de intervenção de forma autônoma sob a supervisão dos profissionais da educação. O professor deve ter consciência das necessidades de cada aluno, para tal, exige-se a viabilidade de um tempo hábil para a preparação de suas intervenções educacionais. No que tange a elaboração das atividades é necessário que o professor tenha a compreensão das necessidades e individualidade de cada aluno, de modo a compreender os aportes que deverão ser explorados no andamento de suas aulas. Uma das maiores contribuições com a interação das atividades experimentais consiste no papel do aluno sobre sua aprendizagem, de modo que este se faz ativamente interagindo, se desenvolvendo e não apenas assimilando os conceitos apresentados pelo professor. O professor permanece com sua função de estabelecer e conduzir conhecimentos, contudo, o faz de forma a permitir que o educando se desenvolva por si só. O processo interventivo por meio das atividades experimentais permite a interação do aluno com o contexto e o faz refletir sobre suas ações, pensar e analisar melhores estratégias e compreender os erros. Dessa forma, sua interação é possível com a capacidade de descobrir os conceitos e desenvolvê-los com base nas práticas assertivas. De acordo com Silva (2017, p. 19) “um ensino em que a atividade dos alunos é controlada excessivamente pelo professor, não dá aos alunos a oportunidade destes desenvolverem competências porque as experiências de aprendizagem tornam- se incompletas”. Nas atividades experimentais, a autonomia do aluno é levada em consideração. O professor faz o intermédio dos conteúdos, contudo, o aluno é quem estabelece seu desenvolvimento, gerando dúvidas, questionamentos e compreensões. Esse processo é motivador para o aluno, ao modo que ele aprende não apenas pela interação de outro, mas, sob sua própria logística. O aluno observa e capta os conceitos, emana seus questionamentos e através do auxílio do professor estabelece novos olhares de modo a compreender seus conceitos. “O aluno é preparado para poder tomar decisões na investigação e na discussão dos resultados. O aluno só conseguirá questionar o mundo, manipular os modelos e desenvolver os métodos se ele mesmo entrar nessa dinâmica de decisão, de escolha, de inter-relação entre a teoria e o experimento (SILVA, 2017, p. 28)”. Com tal conotação, o aluno traça o seu caminho, estabelece seus conceitos e refaz suas ações rumo a um ensino de qualidade e uma aprendizagem significativa.

Quadro 1.

Evolução cronológica das leis referente a educação inclusiva no Brasil.

Quadro 2.

Trabalhos analisados (disponíveis no Google Acadêmico).

Conclusões

A educação é um processo formativo que deveria conciliar todas as categorias de indivíduos independentemente de suas diferenças, a lei prevê com que todos tenham acesso a um ensino de qualidade e estejam aptos a se desenvolver de forma integral nos ambientes educacionais. Para que esse movimento ganhe força e se apresente de forma efetiva, o profissional da educação deve se formar e permanecer em constante aperfeiçoamento da prática docente de modo a integrar movimentos favoráveis ao ensino e aprendizagem. O processo de atuação do professor torna-se ainda mais exigente ao se trabalhar com alunos com deficiência, haja vista, o ideal é propor um ensino de qualidade sem defasar ou demonstrar diferenciação de conteúdos no que tange trabalhar com uma educação inclusiva. A sala de aula é um espaço amplo que em determinados contextos tendem a permitir a inserção de atividades diferenciadas, especialmente nos aspectos que visem aprimorar a aprendizagem dos alunos. Dessa forma, as atividades experimentais conduzem a capacidade de inovação por parte do educando agregando valor no processo de ensino e aprendizagem. As práticas direcionadas ao uso de atividades experimentais, especialmente com alunos com deficiência, tende a propor uma modalidade de ensino diferenciada tornando o educando agente ativo de sua aprendizagem. Através dos estudos realizados com atividades experimentais com alunos com deficiência foi possível notar a capacidade deles de serem atuante no processo de aprendizagem, de modo que, diante dos pressupostos apresentados relacionados às atividades experimentais percebeu-se que o educando refletia e organizava ideias de modo a atuar nos experimentos. Trazer essas interações para sala de aula de forma a efetivar o processo ativo de aprendizagem do aluno configura em meios facilitadores para um ensino de qualidade, visando a ampliação de aspectos educacionais consolidando na melhoria do processo de aprendizagem.

Agradecimentos

Referências

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Atividades experimentais de Ciências com alunos do Atendimento Educacional Especializado (AEE) de uma Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). XI Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – XI ENPEC - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC. 2017.
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