Loader
60º COngresso Brasileiro de Química

Relato de experiência sobre a argumentação científica nas aulas de química no ensino remoto emergencial durante o estágio de observação.


ÁREA

Ensino de Química

Autores

Junior, A.C.A. (IFMT) ; Alencar, S.B.A. (IFMT)

RESUMO

Este trabalho é um relato de experiência da disciplina Estágio Supervisionado IV do curso de licenciatura em Química que objetivou a observação das aulas de um profissional experiente de química no ensino médio em uma escola pública de Cuiabá-MT. Dentre dez quesitos analisados durante o estágio, o uso da argumentação científica nas aulas durante o período remoto emergencial será discutido. A metodologia de pesquisa empregada foi qualitativa e as observações ocorreram durante uma semana (duas aulas da disciplina de Química). Verificou-se a falta de momentos argumentativos direcionados pelo professor mesmo com o material didático trazendo recursos capazes de propiciar a integração de momentos reflexivos e os conhecimentos químicos estudados.

Palavras Chaves

Ensino de Química; Estágio supervisionado; Argumentação científica

Introdução

A disciplina de Estágio Supervisionado IV no curso de Licenciatura em Química do IFMT Campus Cuiabá Bela Vista - Cuiabá/MT proporciona a observação das aulas de química no Ensino Médio. Para Broietti e Stanzani (2016), o estágio tem a finalidade de compreender a unidade escolar e o processo de ensino-aprendizagem a fim de que ao chegar o momento de assumir as aulas na educação básica, o professor possa subsidiar discussões teóricas e inovações pedagógicas. Corroborando, Assai (2019) afirma que o estágio é uma atividade que instrumentaliza a práxis, pois a formação inicial de professores precisa da indissociabilidade da teoria e da prática. Considerando o momento atual percebe-se que o processo de ensino e aprendizagem precisou ocorrer com o distanciamento social mediado pelas tecnologias da informação, assim, o ensino remoto emergencial difere-se da educação à distância pelo acesso temporário aos conteúdos curriculares em ambiente virtual (Hodges apud RONDINI; PEDRO; DUARTE, 2020). Os professores e também os alunos precisaram se (re)inventar para se sentirem parte do ensino remoto. As observações das aulas desse tipo de ensino se constituíram em um desafio que os estagiários dos Cursos de Licenciatura tiveram que enfrentar. Elaborar e avaliar argumentos nas aulas possibilita o pensamento crítico para validar ou refutar as hipóteses levantadas (SCARPA, 2015), no entanto, não é qualquer discurso que se enquadra na argumentação. Segundo Jiménez-Aleixandre e Brocos (2015), o processo argumentativo é caracterizado pelo contraste de posições que leva (re)formulação de ideias e conclusões. Dessa forma, esse trabalho tem o objetivo de analisar o uso da argumentação científica nas aulas de química na educação básica na realização do estágio de observação no Ensino Médio.

Material e métodos

Nesse trabalho foi empregada a metodologia qualitativa que buscou analisar os aspectos argumentativos nas aulas de química na turma de primeiro ano do Ensino Médio de uma escola da rede estadual de ensino no município de Cuiabá/MT. As aulas de química foram observadas por dez semanas com um quesito de análise por semana, as questões referentes à argumentação dos estudantes durante as aulas serão explanadas nesse trabalho. Durante esse período, as aulas ocorreram exclusivamente no formato remoto mediadas, na maior parte do tempo, pelo aplicativo WhatsApp Messenger para os estudantes que possuíam acesso à internet e por apostilas aos que não tinham o acesso. Em algumas aulas videoconferências foram empregadas, no entanto, eram rápidas e centradas na resolução de exercícios.

Resultado e discussão

A argumentação está ligada a habilidade de pensar (KUHN, 1993 apud IBRAIN; JUSTI, 2021) e para isso o professor deve levar a turma a momentos de investigação para criarem hipóteses e argumentos que os subsidiem e consigam julgar os argumentos alheios (LEITÃO, 2011). Dessa forma, os momentos de argumentação durante as aulas observadas restringiam-se em leituras dos textos no livro que apresentou um texto sobre a inexistência do buraco na camada de oxônio inserido no capítulo que trata de nomenclatura e símbolos dos elementos e substâncias químicas, contudo, o professor regente não incentivou argumentações em relação ao tema. Percebe-se que dentre as várias maneiras de estimular os estudantes, uma forma seria a utilização de gravação de áudios pelo próprio aplicativo que, por meio dele, os alunos teriam a oportunidade de opinar sobre o assunto (na semana anterior já haviam estudado sobre a reação de decomposição do gás ozônio pelos CFC’s). Para os estudantes que, por razões socioeconômicas, estudavam pelas apostilas em momentos assíncronos, poderia ser solicitada, por exemplo, um pequeno texto que apresentasse ideias e conclusões. Dentro dessa perspectiva parece que o professor regente deixou de incentivar a argumentação dos seus alunos não possibilitando discussões ricas no sentido de validar ou refutar o texto estudado proporcionando reflexões estudantis sobre o assunto. Nesse sentido considera-se que o momento poderia ter sido melhor utilizado. As implicações políticas, ambientais, sociais, econômicas, éticas e científicas sobre o tema (BATINGA; BARBOSA, 2021) poderiam ser abordadas e debatidas em grupo. Assim, os recursos argumentativos poderiam desenvolver o pensamento crítico, a alfabetização científica além da comunicação (BARBOSA; SOUZA, 2021).

Conclusões

O estágio possibilitou observar aulas de química em uma escola estadual, analisar a argumentação científica em período pandêmico e a prática do professor regente além de inserir o estagiário na vida docente. Constatou-se que a prática argumentativa durante o período não foi realidade ainda que o livro didático permitisse a discussão, sendo assim, a limitação pode estar relacionada ao uso da metodologia tradicional visto que momentos poderiam ser criados. Cabe aqui novos estudos para reconhecer o fator determinante dessa limitação estabelecida durante a pandemia associada ao ensino remoto.

Agradecimentos

Agradeço ao professor que permitiu a observação das aulas durante o ensino remoto emergencial.

Referências

ASSAI, N. D. S. Um estudo das ações pretendidas e executadas por licenciandos em Química no Estágio Supervisionado. Disponível em http://www.uel.br/pos/mecem/portal/pages/arquivos/Teses/2019/ASSAI%20Natany%20Dayani%20de%20Souza%20Tese.pdf. Acessado em 23 ago. 2021.
BATINGA, V. T. S.; BARBOSA, T. V. S. Questão socio científica e emergência da argumentação no Ensino de Química. Química Nova na Escola. Vol. 43, N° 1, p. 29-37, 2021.
BARBOSA, S. M.; SOUZA, N. S. Investigação orientada por argumentos no ensino de Química de nível médio: uma proposta em cinética. Química Nova na Escola. Vol. 43, N° 1, p. 74-85, 2021.
BROIETTE, F. C. D.; STANZANI, E. L. O estágio e a formação inicial de professores: experiências e reflexões no curso de licenciatura em Química da UEL. Química Nova na Escola. Vol. 38, N° 3, p. 306-317, 2016.
IBRAIN, S. S.; JUSTI, Rosaria. Contribuições de ações favoráveis ao ensino envolvendo argumentação para a inserção de estudantes na prática científica de argumentar. Química Nova na Escola. Vol. 43, N° 1, p. 16-28, 2021.
JIMÉNEZ-ALEIXANDRE, María Pilar; BROCOS, Pablo. Desafios metodológicos na pesquisa da argumentação em ensino de ciências. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências (Belo Horizonte), v. 17, p. 139-159, 2015.
LEITÃO, S. O lugar da argumentação na construção do conhecimento em sala de aula. In: LEITÃO, S. e DAMIANOVIC, M. C. (Ed.). Argumentação na Escola: O Conhecimento em Construção. Campinas: Pontes Editores, 2011.
RONDINI, C. A.; PEDRO, K. M.; DUARTE, C. S. Pandemia da COVID-19 e ensino remoto emergencial: mudanças na prática pedagógica. Disponível em https://periodicos.set.edu.br/educacao/article/view/9085/4128. Acessado em 27 ago. 2021.
SCARPA, Daniela Lopes. O papel da argumentação no ensino de ciências: lições de um workshop. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências (Belo Horizonte), v. 17, p. 15-30, 2015.