Loader
60º COngresso Brasileiro de Química

Análise Experimental do Óleo de Buriti Coletado do Município de Benevides-PA


ÁREA

Química de Produtos Naturais

Autores

Martins, R.B.P. (UFPA) ; Moreira, W.R.D. (UFPA) ; Araújo, A.C.S. (UFPA) ; Alves, C.N. (UFPA)

RESUMO

Sendo de grande interesse científico, o óleo de buriti é o foco deste trabalho, cujo objetivo é otimizar o processo de extração por prensa mecânica deste óleo, bem como aplicar análises experimentais acerca da qualidade do produto obtido, com foco na determinação do rendimento, massa específica, índices de acidez e peróxido, pH e carotenoides totais. Para isso, utilizou-se metodologias para óleos vegetais descritas na literatura e equipamentos como espectrômetro de ultravioleta visível. Obteve-se um rendimento de 3,7%, massa específica de 0,911g/mL, acidez de 2,6mgKOH/g, índice de peróxido de 5,9mEg/Kg, pH de 3,8 e carotenoides totais de 464,3ppm. Os resultados comprovam a qualidade do óleo de buriti obtido por prensa mecânica e contribui com estudos voltados a esse produto.

Palavras Chaves

Buriti; Extração de óleo; Análise físico-química

Introdução

O fruto de buriti provém do buritizeiro, palmeira característica dos biomas amazônico e cerrado. É bastante conhecido ser rico em óleo, principalmente em sua polpa e sua casca. (Sampaio, Carazza). No que se trata de extração mecânica, ainda é bastante divergente o rendimento da extração do óleo de buriti, com alguns autores relatando rendimento entre 3% e 10% para extração mecânica. (Fujita). Há a influência da secagem, em associação com o aumento da superfície de contato por trituração da matéria-prima, no aumento do rendimento do processo. (Vilhena). A composição do óleo, rica em proteínas, carotenoides e tocoferóis, confere ao óleo propriedades como atividade antioxidante, alto teor de ácidos graxos insaturados, ação anticancerígenas e capacidade de absorção de raios ultravioleta. (Sampaio, Carazza). A espectroscopia de ultravioleta é muito utilizada no estudos destes compostos do óleo de buriti, destacando-se a presença de carotenoides e ácidos graxos insaturados. (Silva). Também é importante verificar a qualidade do óleo, com análises experimentais como o índice de acidez, que verifica o grau de decomposição dos glicerídeos, gerando rancidez indesejável ao produto. Outro índice importante é o de peróxido, que são formados quando radicais livre entram em contato com oxigênio molecular, induzindo a formação de hidroperóxido e mais radicais livres. (IAL). Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), os valores máximos para óleos prensados a frio e não refinados deve ser 4mg KOH/g para a acidez e 10mEq/Kg para peróxido (Brasil). Neste cenário, o objetivo desse trabalho é contribuir justamente com a otimização do processo de extração por prensa mecânica deste óleo, bem como aplicar as análises experimentais para verificar a qualidade do óleo obtido.

Material e métodos

Quanto ao preparo da amostra (figura 1), o buriti foi coletado no município de Benevides, no Pará, sendo encaminhado para o Laboratório de Planejamento e Desenvolvimento de Fármacos, onde foi higienizado em solução de hipoclorito a 4%. Após seleção manual, a polpa e a casca de buriti foram levadas à estufa de secagem por de 72 horas, a 60°C. (Yuyama). Fez-se a trituração e o peneiramento do material seco, sendo levada ao aquecimento de 60°C por 1 hora antes da extração, que se seguiu na prensa mecânica. O óleo extraído foi deixado sob decantação por 24 horas e filtrado à vácuo, sendo armazenado em frasco âmbar. O rendimento foi obtido a partir da razão entre a massa de óleo e massa da polpa. (Oliveira et al.). Do óleo obtido, foi analisado o índice de acidez, a partir da titulação da amostra, solubilizada em solução de tolueno e álcool isopropílico, com solução de hidróxido de sódio (0,1N), com fenolftaleína como indicador. (IAL). Para o índice de peróxido, foi feita a titulação da amostra de óleo com tiossulfato de sódio (0,1N), sendo a amostra solubilizada em solução de ácido acético-clorofórmio, água destilada, ácido clorídrico e iodeto de potássio, além de solução de amido como indicador (LANAGRO). Para a determinação da massa específica utilizou-se o picnômetro, pesando- vazio e, em seguida com o óleo, registrando a massa de óleo contida e dividi-la pelo volume do picnômetro. (IAL). O pH foi medido a partir de um pHmetro (Pereira et al.). Os carotenoides totais foram obtidos a partir de uma solução diluída do óleo, com hexano como solvente analisada no equipamento de espetrômetro de ultravioleta visível, cujo resultado foi calculado a partir da absorbância na faixa de 446nm. (Nokkaew, Rayakorn)

Resultado e discussão

O rendimento foi calculado a partir de 1kg de polpa e casca de buriti, que resultaram em 37 gramas de óleo, após a filtração a vácuo, um rednimento de 3,7%. Carvalho obteve rendimento de 4% para a extração artesanal. Ambas um processo mecânico, mas vale ressaltar que a máquina garante um maior controle do processo. O índice de acidez foi de 2,59 mgKOH/g, obedecendo à ANVISA. Araújo et al. (2017) obteve 1,5 mgKOH/g de acidez do óleo de buriti, diferença que pode estar no método de extração e na presença de impurezas. A massa específica foi de 0,9g/mL para o óleo extraído, sendo próximo ao valor de Oliveira (2019), de 0,911g/mL. O valor do pH foi de 3,8, igual ao de Souza (2013). O índice de peróxido foi de 5,92 mEg/Kg, também nos parâmetros da ANVISA. Moura et.al (2019) encontrou 6,2 mEq/Kg para o mesmo óleo. Com os valores absorbância lidos pelo equipamento, calculou-se 464,29ppm para os carotenoides totais do óleo. 1707ppm e 1043ppm são os valores citados por Silva (2009), ambos acima do valor deste trabalho, que pode ter diminuído na secagem térmica, pois carotenoides apresentam baixa estabilidade térmica. Quanto ao espectro (figura 2), destacam-se as absorções entre 400 e 500nm, demonstrando a presença de carotenoides, como o β-caroteno, as bandas abaixo de 375 nm, podendo ser alfa-tocoferol, ácido oleico ou trioleína.

Fluxograma do preparo da amostra

Etapas envolvidas no preparo do fruto de buriti para a extração

Caracterização físico-química e espectro de ultravioleta do óleo

Rendimento, pH, massa específica, acidez, peróxido, carotenoides totais e espectro de ultravioleta do óleo de buriti

Conclusões

Com os resultados deste trabalho pode-se demonstrar a importância de diversos parâmetros de qualidade e conservação para o óleo de buriti, visando explorar todo o seu potencial, principalmente pela presença de carotenoides, presença esta que foi atestada pelo uso de análises de espectroscopia no ultravioleta. Os resultados do estudo vêm a somar com as metodologias de extração do óleo de buriti por prensa mecânica, já que não decai o rendimento, enquanto oferece maior controle sobre o procedimento e facilita a higienização durante o processo.

Agradecimentos

Ao CNPq pela concessão de bolsa de iniciação científica (processo 154348/2020- 1), ao orientador do projeto Profº Dr. Claudio Nahum e ao Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos da UFPA, pelo espaço concedido.

Referências

ANVISA. Regulamento Técnico para Óleos Vegetais, Gorduras Vegetais e Creme Vegetal. Diário Oficial da União N° 184, p. 373, 2005.

ARAÚJO, C. S.; VALENTE, M. C. C.; SANTANA, E. B.; CORUMBÁ, L. G.; COSTA, C. M. L. Avaliação da Qualidade do Óleo de Buriti (Mauritia Flexuosa L.) em Diferentes Condições de Estocagem Visando a sua Utilização em Biocosméticos Naturais. Congresso Brasileiro de Engenharia Química em Iniciação Científica, Blucher Chemical Engineering Proceedings, Volume 1, 2017

CARVALHO, C. O., Comparação entre métodos de extração do óleo de Mauritia flexuosa para o uso sustentável na reserva de desenvolvimento Tupé: rendimento e atividade antimicrobiana. Dissertação do curso de biotecnologia e recursos naturais, Universidade Estadual do Amazonas, Manaus, 2011.

FERREIRA, L; SANTOS, M; FIGUEIRA, L; NAGATA, K; REMÉDIOS, C; SOUSA, F. Caracterização de óleos vegetais da Amazônia por espectroscopia de absorção. Scientia Plena, v. 13, n. 1. Pará, 2017.

FUJITA, E. Qualidade e conservação frigorificada do fruto de buriti (mauritia flexuosa l. F.). Dissertação de mestrado - Universidade Estadual Paulista “Julio De Mesquita Filho”/FCA – Botucatu, SP. 2007

INSTITUTO ADOLFO LUTZ - IAL. Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz. Métodos físico-químicos para análises de alimentos. 4ª ed. (1ª Edição digital). São Paulo, 2008. 1020 p.

Laboratório Nacional Agropecuário - LANAGRO/RS. Laboratório de Produtos de Origem Animal/SLAV Método de Ensaio - MET Código: MET POA/SLAV/29/02/01. 92, p. 1-10. Emissão: 25/07/2014. Determinação do índice de peróxidos em produtos de origem animal por oxidimetria.

MOURA, C; SILVA, B; CASTRO, A; MOURA, E; VELOSO, M; SITTOLIN, I; ARAÚJO, E. Caracterização Físico-Química de Óleos Vegetais de Oleaginosas Adaptáveis ao Nordeste Brasileiro com Potenciais para Produção de Biodiesel. Revista Virtual de Química, Teresina, v. 11, n. 3, p. 573-595, 2019. Disponível em: http://static.sites.sbq.org.br/rvq.sbq.org.br/pdf/v11n3a03.pdf. Acesso em: 15 ago. 2021

NOKKAEW; RAYAKORN. Determination Of Carotenoids And Dobi Content In Crude Palm Oil By Spectroscopy Techniques: Comparison Of Raman And Ft-Nir Spectroscopy. International Journal of GEOMATE. 2019.

OLIVEIRA, R. Caracterização do óleo de buriti (mauritia flexuosa) como material dielétrico em transformadores para energia elétrica. 2019. 67 f. Dissertação (Mestrado em Ciência e Engenharia de Materiais) - Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2019.

OLIVEIRA, R. M. M.; PEREIRA, F. T.; PEREIRA, E. C.; MENDONÇA, C. J. S. Óleo de Buriti: Índice de Qualidade Nutricional e Efeito Antioxidante e Antidiabético. Revista Virtual de Química, v. 12, n. 1, p. 2–12, 2020.

PEREIRA, F. D.; SANTOS, M.; BRASIL, V.; CHAVES, J. Características físico-químicas de um sérum desenvolvido à base do óleo de buriti (Mauritia flexuosa) para pele idosa. Revista Enfermagem Atual In Derme, v. 95, n. 33, p. e-021002, 15 jan. 2021.

SAMPAIO, M. B.; CARAZZA, L. R. Manual tecnológico de aproveitamento integral do fruto e da folha do buriti (Mauritia flexuosa). Brasília: ISPN, 2012.

SILVA, C. Bioativos tropicais com eficácia comprovada. Cosmetics & Toiletries, São Paulo, 2002.

SILVA, S. Desacidificação por via física de Óleo de Buriti (Mauritia flexuosa). Orientador: Antonio José de Almeida Meirelles. 2009. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Alimentos) - Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2009. Disponível em: http://repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/255166/1/Silva_SimoneMonteiroe_M.pdf. Acesso em: 15 ago. 2021.

VILHENA, C. Avaliação do Processo de Obtenção de Óleo de Buriti por diferentes Métodos de Extração. 2013. 75 p. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) - Universidade Federal do Pará, Belém, 2013.

YUYAMA, L. K. O.; MAEDA, R; PANTOJA, L; AGUIAR, J. P. L. & MARINHO, H. A. 2008. Processamento e avaliação da Vida-de-prateleira do tucumã (Astrocaryum aculeatum Meyer) desidratado e pulverizado. Cienc. Tecnol. Aliment, 28 (2): 408 - 412.