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60º COngresso Brasileiro de Química

Avaliação larvicida, teste fitoquímico preliminar e toxicidade do extrato bruto etanólico de Astronium lecointei Ducke


ÁREA

Química de Produtos Naturais

Autores

Auzier Coelho, R. (UFOPA) ; Lopes Amorim, V. (UFOPA) ; Lasle Cordeiro da Silva, L. (UFOPA) ; da Silva Lopes, R. (IFMS) ; Olimpio da Silva, A. (UFOPA)

RESUMO

A floresta amazônica é considerada a detentora da maior biodiversidade do mundo, em fauna e flora. Sua biodiversidade apresenta uma grande fonte de plantas ricas em compostos bioativos, cuja exploração racional contribui para o desenvolvimento sustentável da região. Na busca por extratos bioativos, o presente trabalho descreve os resultados dos testes fitoquímicos, a toxicidade frente Artemia salina e atividade larvicida do extrato bruto etanólico de Astronium lecointei Ducke, espécie comumente conhecida como muiracatiara. Os resultados preliminares fitoquímicos demonstraram a presença de taninos e uma toxicidade moderada frente Artemia salina.

Palavras Chaves

Muiracatiara; Extrativos; Larvicida

Introdução

A Amazônia apresenta uma grande diversidade de plantas, sendo uma valiosa fonte de pesquisa na busca de substâncias bioativas. Vários extrativos de plantas exibem bioatividades, como antioxidante, estrogênico, antifúngico, antimicrobiano e atividades antibacterianas (IMAI et al., 2008). Os metabólitos secundários de plantas, representam um vasto arsenal, em potencial de compostos com ampla atividade biológica (HARTMANN et al., 2018). As indústrias madeireiras geram grande quantidade de resíduos que quando dispersos ao meio ambiente podem trazer sérios problemas de poluição, especialmente, em sua incineração sem um prévio controle ambiental (NASCIMENTO, DUTRA, NUMAZAWA; 2004). Dentre estes resíduos encontra-se a muiracatiara (Astronium lecointei Ducke), pertence à família Anacardiaceae, que tem uma larga distribuição na região Amazônica nos estados do Acre, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia (BAUMANN et al. 2020). A dengue é uma doença negligenciada, cuja infecção viral é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, sendo ainda uma ameaça em muitas regiões do Brasil e em outros países. A busca por substitutos para os inseticidas sintéticos tem estimulado muitos trabalhos científicos contemplando inclusive a utilização de óleos, extratos, ou constituintes ativos provenientes de plantas (GUISSONI et al., 2013). Considerando que a principal forma de prevenção a dengue é o combate aos mosquitos, e ainda, os extratos de plantas podem ser usados como alternativa no controle de vetores e que não apresentem impacto ambiental, o objetivo deste trabalho visa realizar um estudo fitoquímico preliminar, a toxicidade e atividade larvicida da espécie Astronium lecointei Ducke.

Material e métodos

A serragem de muiracatiara (Astronium lecointei Ducke) foi obtida em madeireira situada no município de Juruti, região Oeste do Pará. O extrato etanólico foi obtido através de sistema Soxhlet usando etanol 95% como solvente, que posteriormente foi concentrado, seco a temperatura ambiente por 7 dias e determinado o peso seco. Para realização do teste fitoquímico seguiu-se a metodologia descrita na literatura (MATOS, 1988; OLIVEIRA et al., 2010) para detectar os seguintes metabólitos secundários: alcaloides, taninos, flavonoides, saponinas e resinas. O ensaio de avaliação da toxicidade do extrato bruto etanólico foi realizado seguindo procedimento de Meyer et al. (1982) e Mclaughlin et al. (1995), em que soluções de 4 diferentes concentrações (1000, 500, 250 e 125 μg/mL) do extrato foram testadas em triplicata frente a Artemia salina. O ensaio foi acompanhado com um controle negativo (DMSO) e controle positivo (Sulfato de Quinina). Os dados obtidos foram analisados no programa Probitos® a fim de determinar a DL50, ou seja, a dose letal do extrato para 50% dos organismos. Para a atividade larvicida, armadilhas de postura (ovitrampas) foram preparadas para coleta de ovos de Aedes aegypti de acordo com o procedimento de Lima (2017). As palhetas de Eucatex contendo os ovos foram imersos em uma bacia retangular contendo água e protegida com tela para a eclosão. Após a eclosão as larvas foram monitoradas até atingirem o terceiro estágio para serem utilizadas no ensaio de atividade larvicida. O extrato bruto foi testado em quatro concentrações (2500, 1250, 625 e 312 μg/mL). Para cada concentração, 10 larvas foram adicionadas. O teste foi realizado em triplicata e acompanhado de controle negativo (DMSO).

Resultado e discussão

Com a obtenção do extrato bruto etanólico (Figura 1, foto A) foi possível avaliar o rendimento, cujo total foi de 32 g de extrato bruto seco (35% de rendimento). O teste fitoquímico preliminar do extrato bruto etanólico de Astronium lecointei Ducke esta apresentado na tabela 1. Na análise obteve-se apenas resultado positivo para taninos. Os taninos são substâncias naturais que apresentam dois grupos de estruturas químicas: hidrolisáveis e condensados. Apresentam diversas atividades biológicas como: antimicrobianas, antioxidantes, antiparasitárias entre outros. Imai e colaboradores (2008) demonstraram que o extrato EtOAc de Astronium lecointei apresentou atividade antioxidante. Os ensaios realizados com Artemia salina é um método simples o qual permite uma avaliação preliminar na busca de substâncias com potencial atividade biológica. A partir do ensaio de toxicidade (Figura 1, foto B), os dados obtidos foram tratados no programa Probitos®, e a DL50 obtida para o extrato etanólico bruto da serragem de Astronium lecointei Ducke foi de 196,04 μg/mL, podendo este ser considerado moderadamente tóxico, uma vez que extratos brutos vegetais são considerados bioativos quando o valor de DL50 é inferior a 1000 μg/mL. Na atividade larvicida (Figura 1, foto D, E, F), observou-se a evolução em tempo de exposição de 24 h, 48 h e 72 h. Não houve mortalidade em nenhumas das concentrações avaliadas.

Figura 1: Procedimentos realizados.

A) Extração B) Ensaio toxicidade C) Imersão ovos D) Preparo das concentrações E) Adição de 10 larvas F) Atividade larvicida

Tabela 1: Teste fitoquímico preliminar do extrato bruto etanólico

Fonte: Autoria própria.

Conclusões

O extrato bruto etanólico da serragem de Astronium lecointei não apresentou atividade larvicida. No teste fitoquímico preliminar do extrato bruto evidenciou a presença de taninos. Outras classes de metabólitos secundários necessitam ser investigados, e ainda, mesmo apresentando toxicidade moderada frente à Artemia salina, outros estudos podem ser realizados, pois este estudo foi preliminar. Vale ressaltar que um determinado extrato bruto ou constituinte isolado pode não ser bioativo para uma certa atividade biológica, mas muitas vezes apresentam atividade frente a um outro tipo de ensaio.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Universidade Federal do Oeste do Pará, Campus Juruti – CJUR, a Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação Tecnológica – PROPPIT pela bolsa de Iniciação Científica (PIBIC).

Referências

BAUMANN, S. S. R. T.; BRIGIDA, C. A. S.; RABELO, L. K. L.; MAESTRI, M. P.; AQUINO, M. C. Determinação das propriedades físicas da madeira de Astronium lecointei Ducke. Nature and Conservation, v.13, n.3, p.122-128, 2020.

GUISSONI, A. C. P.; SILVA, I. G.; GERIS, R.; CUNHA, L. C.; SLVA, H. H. G. Atividade larvicida de Anacardium occidentale como alternativa ao controle de Aedes aegypti e sua toxicidade em Rattus norvegicus. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 15, n. 3, p. 363-367, 2013.

HARTMANN, I.; SILVA, A.; WALTER, M. E.; JEREMIAS, W. J. Investigação do efeito larvicida de Petiveria alliacea (Guiné) sobre as larvas de mosquitos da espécie Aedes Aegypti. Revista Virtual de Química, n. 10, v. 3, p. 529-541, 2018.

IMAI, T.; INOUE, S.; AHDAIRA, N.; MATSUSHITA, Y.; SUZUKI, R.; SAKURAI, M.; JESUS, J. M. H.; OZAKI, S. K.; FINGER, Z.; FUKUSHIMA,K. Heartwood extractives from the Amazonian trees Dipteryx odorata, Hymenaea courbaril, and Astronium lecointei and their antioxidante activities. Journal of Wood Science, v. 54, p. 470-475, 2008.

LIMA, J. B. P. Metodologia para coleta de ovos Aedes aegypti. Youtube. (2017, Julho 18). Disponível em: www.youtube.com/watch?v=2w89kagSOKM
MATOS, F. J. A. Introdução à Fitoquímica Experimental. Fortaleza: editora da UFC, 1988. 141 p.

MCLAUGHLIN J.L.; SAIZARBITORI T.C.; ANDERSON J.E. Tres bioensayos simples para quimicos de productos naturales. Rev Soc Venez Quim, v. 18, p.13-18, 1995.

MEYER B.N.; FERRIGNI N.R.; PUTNAM J.E.; JACOBSEN L.B.; NICHOLS D.E.; MCLAUGHLIN J. L. Brine shrimp, a convenient general bioassy for active- plant constituents. Planta Med, v. 45, p.31-34, 1982.


NASCIMENTO, S. M.; DUTRA, R. I. J. P.; NUMAZAWA, S. Resíduos de indústria madeireira: caracterização, consequências sobre o meio ambiente e opções de uso. Holos Environment, v. 6, n.1, 2004.

OLIVEIRA, G. L. S.; CASTRO, L. M. R.; ROCHA, P. R. S.; SANTOS, F. J. B.; RESENDE, M. Identificação de metabólitos secundários da casca da Bauhinia forficata platypetala e Bauhinia unguiculata. In: V CONNEPI - Congresso Norte-Nordeste de Pesquisa e Inovação, Maceió-AL, 2010. Disponível em: www.connepi.ifal.edu.br/ocs/anais Acesso em: 2 nov. 2019.