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60º COngresso Brasileiro de Química

Avaliação fitoquímica preliminar e toxicidade do extrato bruto etanólico das folhas de Cochlospernum orinocense (Kunth) Steud


ÁREA

Química de Produtos Naturais

Autores

Auzier Coelho, R. (UFOPA) ; Lasle Cordeiro da Silva, L. (UFOPA) ; Lopes Amorim, V. (UFOPA) ; da Silva Lopes, R. (IFMS) ; Olimpio da Silva, A. (UFOPA)

RESUMO

O uso de produtos naturais com finalidade medicinal pela humanidade é uma constante desde os primórdios. Na busca por extratos bioativos, o presente trabalho descreve os resultados dos testes fitoquímicos e a toxicidade frente Artemia salina do extrato bruto etanólico das folhas de Cochlospernum orinocense (Kunth) Steud. As classes de compostos investigadas foram alcaloides, tanino, flavonoides, saponinas e resinas. Os testes apresentaram resultado positivos para taninos, flavonoides e resinas. O extrato etanólico apresentou DL50 = 0,51 μg/mL, indicando alta toxicidade.

Palavras Chaves

Envieira; Extratos vegetais; Teste fitoquímico

Introdução

Vários grupos de pesquisas no Brasil vêm realizando buscas por novas moléculas bioativas, sendo a biodiversidade da Amazônia uma região abundante em plantas com interesse biológico. Os produtos naturais de origem vegetal são considerados uma das principais fontes de novas substâncias, no qual contribuem significativamente no combate a doenças, principalmente as doenças negligenciadas. A espécie Cochlospernum orinocense (Kunth) Steud (Figura 1, foto A), comumente conhecida como algodão-bravo, envieira, envira-mamão, dentre outros nomes pode ser encontrada no Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia e Maranhão. Apresenta emprego medicinal como cicatrizante, e ainda, sua casca é usada em contusões, e o chá é antitérmico (RIOS e PASTORE JÚNIOR, 2011). Em uma revisão da literatura, a espécie esta entre as plantas citadas por etnias indígenas brasileiras com possível ação no Sistema Nervoso Central (MARTINEZ; MUÑOZ-ACEVEDO; RAI, 2018). Extratos hidroetanólicos das folhas de Cochlospernum orinocense demonstrou boa atividade frente a importantes bactérias Gram-negativas, principalmente para Helicobacter pylori com CIM de 12,5 μg/mL, e ainda, atividade antioxidante com CI50 = 0,37 ± 0,01 μg/mL (SILVA, 2015). Entretanto, há poucos relatos na literatura de bioensaios com o extrato vegetal de Cochlospernum orinocense, razão pela qual o presente trabalho tem como objetivo realizar um estudo fitoquímico preliminar e a toxicidade frente Artemia salina do extrato bruto etanólico das folhas de Cochlospernum orinocense (Kunth) Steud, e, posteriormente realizar outros bioensaios que permitirão conhecer seu potencial farmacológico.

Material e métodos

Os bioensaios foram conduzidos no laboratório de ensino da Ufopa Campus Universitário de Juruti, CJUR. A espécie Cochlospernum orinocense (Kunth) Steud foi coletada na comunidade Mariá, situada no município de Juruti, região Oeste do Pará. Folhas e ramos foram lavados (Figura 1, foto B) e submetidos à secagem a temperatura ambiente pelo período de uma semana (Figura 1, foto C). As folhas previamente secas foram trituradas e submetidas a uma extração com etanol 95% pelo método de extração Soxhlet. O extrato obtido foi concentrado e seco a temperatura ambiente. Para o estudo fitoquímico preliminar seguiu-se a metodologia descrita na literatura (MATOS, 1988; OLIVEIRA et al., 2010) com o propósito de detectar os possíveis grupos de metabólitos secundários presentes como: alcaloides, taninos, flavonoides, saponinas e resinas. O ensaio de avaliação da toxicidade do extrato bruto etanólico foi realizado seguindo procedimento de Meyer et al. (1982) e Mclaughlin et al. (1995). Foram preparadas diluições do extrato bruto etanólico, obtendo-se as seguintes concentrações: 750, 375, 187,5 e 93,7 μg/mL. As concentrações do extrato foram testadas em triplicata frente a Artemia salina. O ensaio foi acompanhado com um controle negativo (DMSO + solução salina) e controle positivo (Sulfato de Quinina + DMSO + solução salina). Os dados obtidos foram analisados no programa Probitos® a fim de determinar a DL50, ou seja, a dose letal do extrato para 50% dos organismos.

Resultado e discussão

Os testes fitoquímicos são de fundamental importância para identificar classes de compostos e na descoberta de novos constituintes químicos de espécies vegetais que poderão ter uso terapêutico (SILVA; BIZERRA; FERNANDES, 2018). O extrato bruto etanólico da folha de Cochlospernum orinocense (Kunth) Steud foi ensaiado para uma análise fitoquímica exibindo a presença de metabólitos secundários como taninos, flavonoides e resinas (Tabela 1). O resultado positivo para flavonoides esta de acordo com o apresentado na literatura (SILVA, 2015), a autora relatou ainda, a presença de cumarinas. O ensaio de toxicidade frente a Artemia salina é um ensaio biológico considerado como uma das ferramentas mais utilizadas para a avaliação preliminar de toxicidade, cujo resultado de extratos com alta toxicidade sugere potencial para atividades biológicas. A partir do ensaio de toxicidade, os dados obtidos foram tratados no programa Probitos®, e a DL50 obtida para o extrato etanólico das folhas de Cochlospernum orinocense foi de 0,51 μg/mL, podendo este ser considerado altamente tóxico. Extratos brutos com valores de DL50 menores que 100 μg/mL são considerados altamente tóxicos, entre 100 μg/mL e 500 μg/mL moderadamente tóxico, valores entre 500 μg/mL e 1000 μg/mL, ligeiramente tóxicos e acima de 1000 μg/mL, são considerados não tóxicos (FERRAZ FILHA, 2012).

Figura 1: Cochlospernum orinocense (Kunth) Steud

A. Folhas e Flores B. Folhas lavadas. C. Folhas secas e trituradas.

Tabela 1: Ensaio fitoquímico do extrato bruto etanólico

Fonte: Autoria própria.

Conclusões

Através do presente estudo, podemos verificar que o extrato etanólico das folhas de Cochlospernum orinocense (Kunth) Steud resultou em uma alta toxicidade frente a Artemia salina, contribuindo para que outros bioensaios sejam realizados. O teste preliminar fitoquímico indicou a presença de taninos, flavonoides e resinas. Dessa forma, estudos da avaliação larvicida do extrato etanólico encontra-se em andamento.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Universidade Federal do Oeste do Pará, Campus Juruti – CJUR, a Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação Tecnológica – PROPPIT pela bolsa de Iniciação Científica (PIBIC).

Referências

FERRAZ FILHA, Z. S.; LOMBARDI, J. A.; GUZZO, L. S.; SAÚDE-GUIMARÃES, D. A. Brine shrimp (Artemia salina Leach) biossay of extracts from Lychnophoriopsis candelabrum and different Lychnophora species. Rev. Bras. PI. Med., v. 14, n. 2, p. 358-361, 2012.

MARTINEZ, J. L.; MUÑOZ-ACEVEDO, A.; RAI, M. Ethobotany: aplication of medicinal plants. Boca Raton, FL: CRC Press/Taylor & Francis Group, 2018.

RIOS, M. N. S.; PASTORE JÚNIOR, F. Plantas da Amazônia: 450 espécies de uso geral. Brasília: Universidade de Brasília, Biblioteca Central, 2011. 3140 p.

SILVA, F. A.; BIZERRA, A. M. C.; FERNANDES, P. R. D. Testes fitoquímicos em extratos orgânicos de Bixa orellana (URUCUM). Holos, v. 2, 2018.

SILVA, L. I. Avaliação da atividade antimicrobiana, antioxidante e análise fitoquímica preliminar de plantas medicinais utilizadas pelas populações da região do Vale do Juruena e microrregião no Norte Araguaia, Mato Grosso, Brasil. 2015. 112 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde), Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2015