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60º COngresso Brasileiro de Química

Análise fitoquímica dos óleos essenciais das folhas de Eugenia patrisii nos períodos chuvoso e seco da Amazônia


ÁREA

Química de Produtos Naturais

Autores

da Cruz, E.N.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Peixoto, L.S. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ) ; da Costa, J.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Vilhena, E.C.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Santos, P.V.L. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ) ; dos Santos, E.L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; de Lima, M.N.N. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Figueiredo, P.L.B. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ)

RESUMO

Eugenia patrisii é conhecida popularmente como ubaia. Considerando o seu grande potencial fitoquímico, este trabalho analisou a composição química dos óleos essenciais das folhas de E. patrisii nos períodos chuvoso e seco da Amazônia. O espécime foi coletado na Embrapa e a chuva acumulada mensal da área de coleta foi obtida no site do INMET. Os óleos essenciais (OEs) foram extraídos por hidrodestilação com extrator tipo Clevenger modificado por 3h e analisados por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas. Os constituintes identificados em maior teor foram os sesquiterpenos óxido de cariofileno (48,3- 49,0%) no período chuvoso e E-cariofileno (28,7-30,1%) no período seco. Constatou-se variação quantitativa e qualitativa na composição química dos OEs.

Palavras Chaves

Fatores climáticos; Voláteis; Myrtaceae

Introdução

Myrtaceae compreende em torno de 132 gêneros e 5,950 espécies de árvores e arbustos (CHRISTENHUSZ e BYNG, 2016). No Brasil ocorrem cerca de 1,200 espécies, que estão distribuídas em 29 gêneros, sendo Eugenia um dos maiores desta família, apresentando 407 espécies identificadas (SOBRAL et al., 2015; MAZINE e FARIA, 2013). As espécies de Eugenia se destacam pelo potencial econômico e farmacológico evidenciado pelo grande número de estudos científicos sobre a variabilidade química de seus óleos essenciais (DA COSTA et al., 2020). Os óleos essenciais de Eugenia apresentam propriedades biológicas, como antifúngica, antibacteriana, antioxidante, anti-inflamatória, anti larvas, antinociceptivas e analgésicas (STEFANELLO, PASCOAL e SALVADOR, 2011). Eugenia patrisii Vahl. consiste em uma arvoreta com 5-8 m de altura, conhecida popularmente como ubaia (LORENZI, 2009). É uma espécie nativa e não endêmica, com ocorrência nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil (SOBRAL et al., 2015). Os frutos de ubaia são lisos e vermelhos, apresentam polpa carnosa e adocicada, sendo amplamente comercializados nas feiras regionais (LORENZI, 2009). Apesar da existência de poucas investigações botânicas, fitoquímicas e farmacológicas, estudos relataram o potencial citotóxico do óleo essencial de Eugenia patrisii (DA SILVA et al., 2017). Considerando o seu grande potencial econômico e fitoquímico, e a existência de poucos relatos na literatura sobre esta espécie, o presente estudo analisou a composição química do óleo essencial das folhas de E. patrisii durante os períodos chuvoso e seco da Amazônia.

Material e métodos

As folhas de E. patrisii foram coletadas de um espécime existente na Embrapa Amazônia Oriental, localizada em Belém, no Pará. As coletas realizadas nos meses de agosto/2020 e setembro/2020, equivalem ao período seco. Para o período chuvoso, considerou-se as coletas nos meses de fevereiro/2021 e março/2021. A identificação botânica foi realizada por comparação com um espécime autêntico de E. patrisii. A chuva acumulada mensal da área de coleta foi obtida no site do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET, http://www.inmet.gov.br/portal/), do Governo Brasileiro. Os dados meteorológicos foram registrados através da estação automática A-201, no município de Belém. As folhas foram secas em temperatura ambiente (7 dias), moídas e submetidas à hidrodestilação utilizando um extrator tipo Clevenger modificado por 3h. Após as extrações, os OEs foram centrifugados por 5 min, secos com sulfato de sódio anidro (Na2SO4) e centrifugados novamente. Os OEs foram armazenados em ampolas de vidro âmbar e conservados sob refrigeração. Os rendimentos em óleo essencial foram calculados levando em conta o material livre de umidade. A composição química dos OEs foi analisada por cromatografia gasosa- detector de ionização de chama e cromatografia gasosa-espectrometria de massas, onde ambos os sistemas são equipados com um auto injetor AOC-20i e o software GCMS-Solution. A identificação dos componentes químicos foi baseada no índice de retenção linear calculado em relação aos tempos de retenção de uma série homóloga de n-alcanos (VAN DEN DOOL e KRATZ, 1963) e no padrão de fragmentação observado nos espectros de massas por comparação com amostras autênticas existentes nas bibliotecas Nist, Adams e FFNSC 2 (ADAMS, 2007; MONDELLO, 2011; NIST, 2014).

Resultado e discussão

Os rendimentos em óleo essencial do espécime de E. patrisii no período chuvoso foram de 0,7-0,9%. No período seco, os rendimentos obtidos apresentaram variação de 0,8-1,0%. Foram identificados 13 compostos químicos que compreendem em média 74,4% do conteúdo total dos OEs. A classe predominante dos OEs no período chuvoso foram os sesquiterpenos oxigenados (66,7-70,6%) e no período seco foram os sesquiterpenos hidrocarbonetos (55,6-65,3%). A Tabela 1 ilustra os compostos que apresentaram teores acima de 3,0%. De acordo com os dados analisados, o mês de fevereiro/2021 acumulou 635,2 mm de precipitação e em março/2021 precipitou 469,2 mm. Nos meses de agosto/2020 e setembro/2020 precipitou 110,8 mm e 151,6 mm, respectivamente. O sesquiterpeno oxigenado óxido de cariofileno foi o composto principal dos OEs no período chuvoso (48,3-49,0%). Entretanto, no período seco, exibiu-se o sesquiterpeno hidrocarboneto E- cariofileno (28,7-30,1%). A Figura 1 mostra as estruturas químicas dos compostos majoritários. O rendimento em óleo essencial de E. patrisii obtido por Jeronimo et al. (2021) foi de 0,4%. Da Silva et al. (2017) obtiveram o rendimento de 0,7%, valor aproximado ao obtido neste trabalho. Os mesmos autores identificaram como compostos majoritários os sesquiterpenos oxigenados 2E,6E-Farnesol (34,5%), 2E,6Z-Farnesol (23,2%) e Cariofila-4(12)-8(13)-dien-5β-ol (15,6%). De acordo com Pereira, Zoghbi e Bastos (2010), um espécime coletado no município de Maracanã, no Pará, apresentou trans-cadina-1,4-dieno (16,5%) como composto principal do óleo de E. patrisii. No entanto, Jeronimo et al. (2021) identificaram E- cariofileno (32,0%) como constituinte em maior teor, resultado similar ao obtido no período seco.

Tabela 1. Rendimentos e composição química das amostras de E. patrisii

Constituintes com teor > 3,0%

Figura 1. Compostos majoritários dos óleos essenciais de E. patrisii



Conclusões

A partir dos resultados apresentados, foi possível observar que houve variações quantitativas e qualitativas na composição química dos óleos essenciais de Eugenia patrisii nos períodos chuvoso e seco da Amazônia.

Agradecimentos

FAPESPA, Embrapa Amazônia Oriental, UFPA, UEPA e UFOPA.

Referências

ADAMS, R. P. Identification of essential oil components by gas chromatography/mass spectrometry. 4. ed. Carol Stream: Allured Publishing Corporation, 2007.

CHRISTENHUZ, M. J. M.; BYNG, J. W. The number of known plants species in the world and its annual increase. Phytotaxa, v. 261, n. 3, p. 201-217, 2016.

DA COSTA, J. S. et al. Essentials Oils from Brazilian Eugenia and Syzygium Species and Their Biological Activities. Biomolecules, v. 10, p. 1155, 2020.

DA SILVA, J. K. R. et al. Chemical Composition of Four Essential Oils of Eugenia from the Brazilian Amazon and Their Cytotoxic and Antioxidant Activity. Medicine, v. 4, n. 3, p. 51, 2017.

JERONIMO, L. B. et al. Antioxidant and Cytotoxic Activities of Myrtaceae Essential Oils Rich in Terpenoids From Brazil. Natural Product Communications, v. 16, n. 2, p. 1-13, 2021.

LORENZI, H. Árvores brasileiras: Manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. v. 3, 1. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum de Estudos da Flora Ltda, 2009. p. 250.

MAZINE, F. F.; FARIA, J. E. Q. A new species of Eugenia (Myrtaceae) from South America. Phytotaxa, v. 151, n. 1, p. 53-57, 2008.

MONDELLO, L. FFNSC 2: Flavors and Fragrances of Natural and Synthetic Compounds, Mass Spectral Database. New York: John Wiley & Sons Inc., 2011.

National Institute of Standards and Technology (NIST). Mass Spectral Library (NIST/EPA/NIH). v. 2. Gaithersburg: The NIST Mass Spectrometry Data Center, 2014.

SOBRAL, M. et al. Myrtaceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2020. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/. Acesso em: 02 ago. 2021.

STEFANELLO, M. É. A.; PASCOAL, A. C. R. F.; SALVADOR., M. J. Essential Oils from Neotropical Myrtaceae: Chemical Diversity and Biological Properties. Chemistry & Biodiversity, v. 8, n. 1, p. 73-94, 2011.

VAN DEN DOOL, H; KRATZ, P. D. A generalization of the retention index system including linear temperature programmed gas–liquid partition chromatography. Journal of Chromatography, v. 11, p. 463-471, 1963.