Autores
Michereff, M. (EMBRAPA RECURSOS GENÉTICOS E BIOTECNOLOGIA)  ; da Silva, S. (EMBRAPA RECURSOS GENÉTICOS E BIOTECNOLOGIA)  ; Borges, M. (EMBRAPA RECURSOS GENÉTICOS E BIOTECNOLOGIA)  ; Laumann, R. (EMBRAPA RECURSOS GENÉTICOS E BIOTECNOLOGIA)  ; Ribeiro, C.S.C. (EMBRAPA HORTALIÇAS)  ; de Carvalho, S. (EMBRAPA HORTALIÇAS)  ; Reifschneider, F. (EMBRAPA HORTALIÇAS)  ; Blassioli Moraes, M. (EMBRAPA RECURSOS GENÉTICOS E BIOTECNOLOGIA)
Resumo
O objetivo desse estudo foi identificar os compostos orgânicos voláteis produzidos 
por três linhagens brasileiras de pimenta Capsicum chinense e a influência destes 
compostos no seu odor. Para identificar os ésteres presentes nas pimentas estas 
foram submetidas a aeração para a coleta dos voláteis e na sequência os extratos 
obtidos foram submetidos a hidrólise alcalina. Todos os genótipos apresentaram 
como componentes majoritários os ésteres  2-metilbutanoato e 3-metilbutanoatode 4-
metilpentila; o genótipo 15744 produziu os ésteres 2-metilbutanoato e 3-
metilbutanoato de 6-metil-(E)-4-heptenil em quantidades superiores comparado aos 
outros dois genótipos. Os compostos 2-metilpropanoato e 3-metilbutanoato de (Z)-3-
hexenila estão relacionados com o odor das pimentas. 
Palavras chaves
GC-nose; ésteres; odor
Introdução
As pimentas pertencentes ao gênero Capsicum possuem grande interesse comercial 
devido às suas propriedades aromáticas e condimentares para uso na indústria 
alimentícia. Vários estudos mostraram que ésteres com baixo peso molecular estão 
envolvidos com a percepção do cheiro da pimenta (Bogusz et al., 2011, 2012; 
Almeida 2015, Sganzerla 2015). Garruti e coautores (2021), trabalhando com uma 
cultivar brasileira de pimenta tabasco BRS Avai (Capsicum frutescens), relataram 
três compostos: 4-metilpentil 2-metilbutanoato, um composto não identificado e o 
monoterpeno α-pineno como os compostos relacionados ao cheiro de pimenta. Três 
linhagens de pimentas habanero (Siriema. Biquinho e CNPH 4080), esta última do 
programa de melhoramento genético da Embrapa, apresentam 3-metilbutanoato de 
hexila e 2-metilbutanoato de hexila como compostos majoritários e os autores 
relacionaram esses dois compostos ao odor de pimenta e frutado (Garruti et al., 
2013). Alguns estudos relatam a importância das pirazinas para o aroma de C. 
chinense; o olfato humano apresenta alta sensibilidade a essas moléculas (Pino 
et al., 2006), como o composto 3-metóxipirazina de 2-isobutila identificado em 
frutos verdes de pimenta habanero (C. chinense) (Pino et al., 2006). Os ésteres 
identificados em todas as pimentas C. chinense apresentam a ramificação metil na 
parte ácida no carbono 2 ou 3, enquanto a ramificação metil na parte alcoólica 
do éster pode estar nos carbonos 2 a 6 (Pino et al., 2006, 2011, Garrutti et 
al., 2012, 2021). Em termos de terpenos, diferentes variedades de C. chinense 
apresentam uma série de sequiterpenos; os principais são: β-cariofileno, α e β-
himachalenos, β-farneseno e germarcreno D. Portanto, determinar quais compostos 
estão envolvidos no odor das pimentas pode fornecer informações para mapear as 
características organolépticas dessas frutas. A Embrapa Hortaliças está 
desenvolvendo diferentes genótipos visando obter genótipos com resistência a 
diversos vírus, como Oidiopsis sicula, e Meloidogyne javanica, como BRS Juruti, 
e com frutos de alta qualidade, pungência e qualidade de odor para o mercado de 
alimentos (Ribeiro et al., 2015). Assim, o objetivo deste trabalho foi 
identificar os principais compostos voláteis presentes nas três novas linhagens 
brasileiras do tipo habanero desenvolvidas pelo programa de melhoramento de 
Capsicum da Embrapa (CNPH 15740, CNPH 15744, CNPH 15749) relacionados à sua 
aromaticidade.
Material e métodos
As linhagens de habanero CNPH 15744, CNPH 15740 e CNPH 15749 (C. chinense), 
originárias da população base CNPH 15469 foram cultivadas em casa de vegetação, 
em Brasília, DF Brasil (coordenadas 48°08′34,2″ Sul; 15°55′ 59,8″ W; altitude 
990 m), de janeiro a julho de 2019, sob condições edafoclimáticas do Cerrado 
brasileiro, com faixa de temperatura média de 12,7 a 31,1 °C.  Coleta de 
voláteis dos frutos. Dois frutos de cada genótipo (CNPH 15744, CNPH 15740, CNPH 
15749) foram cortados em quatro e imediatamente colocados em uma câmara de vidro 
e os voláteis foram coletados por 2 horas. Os voláteis foram capturados em tubo 
contendo adsorvente Porapak Q . Os tubos adsorventes foram eluídos com hexano 
redestilado. As amostras foram analisadas por CG-DIC e CG-EM. Para auxiliar na 
identificação da estrutura dos ésteres emitidos pelos frutos da pimenta, os 
extratos foram submetidos à hidrólise; então através dos álcoois e ácidos 
formados, combinados com os espectros de massa dos ésteres, pudemos propor os 
ésteres presentes nos extratos. Os extratos de aeração da pimenta foram levados 
a quase secura em fluxo de nitrogênio e os extratos foram submetidos à hidrólise 
alcalina adicionando 1mL de metanol e 500 µL de NaOH 2M em um frasco cônico de 
vidro de 1,5 ml e mantidos a 60oC por 1 hora. Após hidrólise, 1mL de HCl 1M foi 
adicionado a cada amostra para atingir pH 3-4 e a fase orgânica foi extraída 3x 
com 500 µL de éter dietílico. À fase orgânica foi adicionado NaHCO3 até parar de 
formar CO2. O sal de ácido carboxílico formado foi extraído com água e a fase 
orgânica contendo o álcool foi adicionado MgSO4, filtrado e concentrado até 100 
µL para análise por GC-MS. À fase aquosa, contendo os sais de ácido carboxílico, 
foi adicionado 1,0 mL de éter dietílico e HCL 1 M para atingir pH 5-6. Em 
seguida, a fase orgânica com os ácidos carboxílicos foi extraída com 3x 1mL de 
éter dietílico, seca com MgSO4, filtrada com tampão de lã de vidro em pipeta 
Pasteur e analisada por GC-MS. Os voláteis coletados foram analisados por 
cromatografia gasosa usando uma coluna de 60 m × 0,25 mm de diâmetro interno e 
0,25 µm de espessura de filme (DB-5MS). A temperatura do forno foi mantida a 
50°C por 2 min e programada de 5°C min-1 até atingir 180°C, depois 10°C min-1 
até atingir 250°C e mantida por 20 min. O gás de arraste usado foi hélio. A 
resposta ao odor a compostos voláteis dos extratos de frutas de C. chinense foi 
avaliada por uma análise GC-olfatometria equipado com um detector de ionização 
de chama (FID) e uma coluna DB-5MS (60 m x 0,32 mm i.d. 0,25 µm de espessura de 
filme). A detecção do volátil por FID e por olfato humano ocorre 
simultaneamente. Trinta juízes avaliaram o aroma das amostras voláteis coletadas 
dos frutos do três genótipos, CNPH 15740, CNPH 15.744 e CNPH 15.749. Os juízes 
respondem a detecção de odor usando uma escala de aromas, ou seja, frutado, 
pimenta, ácido, rosa, floral e verde. 
Resultado e discussão
A análise química dos voláteis da amostra de frutos de pimenta do tipo habanero 
mostrou a presença de 50 compostos voláteis. Nas três linhas de habanero, os 
ésteres 2-metilbutanoato 4-metilpentila e 3-metilbutanoato 4-metilpentila são os 
majoritários (Fig. 1). A análise química da hidrólise básica dos extratos de 
voláteis das amostras CNPH 15749, CNPH 15744 (Fig. 2 A) e CNPH 15740 mostrou a 
presença dos ácidos 3-metilbutanoico e 2-metilbutanóico como majoritários, e 
pequenas quantidades de ácidos 2-metilpropanóico, pentanóico, butanóico, 
metilpropanóico, 4-metil-pentanóico e 8-metil-6-nonenóico (Fig. 2B). Os 
principais álcoois identificados nas três linhas de habanero foram 4-metil-
penta-1-ol,  (Z)-3-hexen-1-ol, (E)-2 hexen-1-ol e hexanol (Fig 2C e 2D); os 
compostos  6 metil 4-hepten-1-ol e  6-metil heptan-1-ol estavam presentes em 
maiores quantidades apenas nas amostras de CNPH 15744 (Fig. 2D). Considerando 
que o álcool 4-metil-1-pentanol e o ácido 3-metilbutanóico foram identificados 
em grandes quantidades nas amostras submetidas a hidrólise alcalina, os 
principais ésteres propostos foram 2-metilbutanoato de 4-metilpentila e 3-
metilbutanoato de 4-metilpentila (Fig. 1), e a identificação desses ésteres foi 
confirmada com a injeção de padrões autênticos. Frutos do CNPH 15744 emitiram 
maior quantidade de compostos KI = 1384 e KI = 1387, que foram atribuídos como 
3,3 e 3,2 dimetilciclohexanol em estudos anteriores (Pino et al. 2006, 2011; 
Garruti et al. 2000). No entanto, os espectros de massa destes compostos 
apresentam um m/z 81 que não está presente nos espectros de massa da biblioteca 
NIST e 3,2 dimetilciclohexanóis (Fig. 2 à esquerda). Além disso, quando os 
extratos de CNPH 15744 foram submetidos à hidrólise alcalina esses picos 
desapareceram, sugerindo que esses compostos são ésteres. O produto da hidrólise 
alcalina do CNPH 15744 formou o álcool 6 metil- -hepten-1-ol, RI = 1019 e 6-
metil-heptan-1-ol RI = 1036, e o ácido majoritário o ácido 3-metilbutírico; 
então sugerimos que esses picos são os ésteres 2-metilbutanoato de 6-metil-
(E)-4-heptenila e 3-metilbutanoato de 6-metil-(E)-4-heptenila (Fig. 2). Murakami 
et al (2018) realizaram um estudo e confirmaram a presença desses ésteres nas 
cultivares Red Savina e Orange Habanero (C. chinense). Os espectros de massa de 
3-metilbutanoato e 2-metilbutanoato de 6-metil-(E)-4-heptenila relatados em 
Murakami et al (2018) resolvem perfeitamente com os espectros de massa do pico 
com KI = 1384 e KI = 1387 obtidos nesse trabalho.
Os juízes reconheceram como odor de pimenta em quatro compostos 2-
metilpropanoato de Z-3-hexenila, 2-metilpropanoato de hexila, e um forte odor de 
pimenta foi identificado a partir do composto 2-metilbutanoato de Z-3-hexenila, 
e de seu isômero (E), porém menos intenso. 
Conclusões
Os resultados mostraram que os compostos majoritários identificados no perfil 
químico das três variedades de pimentas, CNPH 15740, CNPH 15749 e CNPH 15744, não 
estão relacionados ao odor da pimenta. A abordagem utilizada neste estudo 
realizando a hidrólise básica da amostra contendo os componentes voláteis das 
pimentas e posterior análise para identificar os álcoois e ácidos formados foi 
essencial para a correta identificação dos ésteres presentes nas amostras. Estudos 
futuros poderiam avaliar se outros genótipos e variedades de pimenta do C. 
chinense apresentam esses componentes e sua influência no odor da pimenta.
Agradecimentos
Este trabalho recebeu apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento 
Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal 
(FAP-DF) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). 
Referências
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