Autores
Batista, M.C.B. (INSTITUTO FEDERAL DE GOIÁS - CAMPUS INHUMAS)  ; Braga, E.A.F. (INSTITUTO FEDERAL DE GOIÁS - CAMPUS INHUMAS)  ; Silva, T.F.P. (INSTITUTO FEDERAL DE GOIÁS - CAMPUS INHUMAS)  ; Silva, J.S. (INSTITUTO FEDERAL DE GOIÁS - CAMPUS INHUMAS)  ; Fógia, M.P.S.A. (INSTITUTO FEDERAL DE GOIÁS - CAMPUS INHUMAS)
Resumo
Neste trabalho visou-se a produção de sílica, a partir de um subproduto da 
agricultura, a casca de arroz, e sua modificação química, através da etapa de 
sililação, usando o 3-aminopropiltrimetoxisilano. Os pós híbridos foram 
caracterizados por espectroscopia do Infravermelho, Termogravimetria, e por 
Difração de raios-X. Finalmente, tem-se o processo de adsorção das soluções 
contendo o corante alimentício amarelo de tartrazina com os pós híbridos 
obtidos. O material produzido com o APTES, apresentou um rendimento de adsorção 
de 94 % em 12 horas de reação, enquanto o SiAr 16 % no mesmo intervalo de tempo. 
Com este estudo foi tornar mais acessível e mais barato o tratamento dos 
efluentes dos mais variados ramos da indústria química, usando como matéria 
prima um subproduto da agricultura.
Palavras chaves
Adsorção; Sililação; Corantes
Introdução
A produção de resíduos na agroindústria tem causado grande preocupação nos 
últimos anos, visto que seu descarte vem desencadeando diversos problemas 
ambientais, como a poluição do solo, de mananciais e até mesmo do ar. Dentre os 
resíduos agrícolas, destacamos neste projeto a casca de arroz, produzida durante 
o seu beneficiamento, apresentando cerca de 23% do peso do arroz. Esta casca 
possui alta dureza, fibrosidade, natureza abrasiva, baixa propriedade nutritiva, 
boa resistência e muita cinza na sua queima. Uma grande quantidade desta casca é 
reaproveitada dentro da própria usina de beneficiamento do arroz onde, a partir 
da sua combustão, é gerado calor para a parbolização dos grãos. Como resíduo 
desta combustão, é produzida a cinza de casca de arroz, que possui um elevado 
teor de sílica (SiO2) ou dióxido de silício (SILVA e SANTOS, 2019).
A sílica gel é um polímero inorgânico inerte, resistente, amorfo, com alta 
porosidade, que possui muitas aplicações tecnológicas, tais como a fabricação de 
vidros, cerâmicas, isolantes térmicos e silicones (GREENWOOD et al.,  2002). A 
presença de grupos silanóis (Si-OH) em sua superfície permite sua modificação 
química, no sentido de produzir novos materiais com aplicações tecnológicas 
diversas. A sílica desempenha um papel importante na função de suporte para uma 
grande gama de substâncias e sua modificação permite a obtenção de compostos de 
maior versatilidade e com propriedades específicas, relacionadas às espécies 
ligadas à sua superfície (GUPTA et al., 2010). Entre suas diversas 
aplicabilidades pode-se destacar a capacidade de troca catiônica (GUSHIKEM et 
al.,  2002) a   quelação de espécies (PRADO et al,  2001),  adsorção de 
pesticidas (AIROLDI et al., 2001) e  a catálise (NASSAR et al.,  2002).
A sílica apresenta-se em unidades tetraédricas de SiO4 distribuídas 
aleatoriamente e unidas em seu interior por pontes de siloxanos Si-O-Si, e 
contém grupos silanóis vicinais, Si-OH, e geminais, HO-Si-OH, dispersos na 
superfície, os quais são sensíveis às reações que possibilitam as modificações 
químicas desta matriz (PRADO et al., 2005).
O método mais comum de modificação da sílica  com grupos orgânicos pendentes 
está baseado na reação dos grupos silanóis com agentes sililantes, como o 3-
aminopropiltrimetoxisilano. Estes compostos possuem estrutural geral (RO)3SiY, 
onde Y é a cadeia carbônica contendo o grupo funcional desejado (ALCANTARA et 
al.,  2007) (SANKAR et al., 2019).  Este processo denominado de sililação 
refere-se à fixação do agente modificador ao suporte obtendo-se um composto 
organofuncionalizado, ou seja, um híbrido orgânico-inorgânico com a finalidade 
unir em um só material as propriedades químicas do organossilano imobilizado 
covalentemente ao suporte, com a resistência mecânica e estabilidade térmica do 
óxido, com as caracteristicas adosrventes do agente sililante. 
Uma grande aplicação destes materiais é em adsorção de corantes, o que contribui 
para a despoluição ambiental.  Corantes em água são facilmente visíveis e podem 
ser tóxicos, além de prejudicial tanto na vida aquática quanto ao seres humanos 
(MICHAELSEN et al., 2019).  Portanto, a remoção dos corantes das águas torna-se 
de importância fundamental para o meio ambiente. Por outro lado, a produção da  
matriz utilizada, a sílica, será obtida a partir da queima da casca de arroz, um 
subproduto da agricultra, contribuindo ainda mais com a preservação do  meio 
ambiente. 
Nesta perspectiva, este trabalho tem como objetivo a obtenção, cracterização e 
modificação química da SiO2 obtida da casca de arroz e seu uso na remoção de 
corante alimentício, o amarelo de tartrazina, em um híbrido orgânico-inorgânico 
de sílica gel.
Material e métodos
 2.1 - Obtenção da Sílica a partir do casca de arroz 
A sílica foi obtida por meio da calcinação da casca de arroz. Inicialmente, 20 g 
da casca de arroz passou por um pré-tratamento químico em solução básica de NaOH 
(2,0 mol.L-1) para a retirada de matéria orgânica e impurezas presentes na 
estrutura das cascas. Em seguida, a casca foi lavada com água destilada várias 
vezes para garantir sua limpeza e eliminação do excesso de NaOH. Finalmente, a 
casca de arroz foi calcinada em mufla à temperatura de 600 ºC/24 h e esse 
material denominado SiAr.
2.2 - Modificação da superfície da sílica
 Para modificação da SiAr foram aferidas 15,0 g de cinza, posteriormente levada 
para aquecimento à estufa na temperatura de 120OC por 24h, para retirar as 
moléculas de água de hidratação presente no material, afim de ativar os grupos 
Si-OH. Após o tratamento térmico, a SiAr foi suspensa em 50,0 mL de tolueno, com 
10 mL de APTES. Esta suspensão ficou sob agitação magnética por 48 h, a 60oC sob 
refluxo. A solução resultante foi filtrada e lavada diversas vezes com etanol e 
água. O material obtido, foi denominado de SiArN, e foi seco em estufa a 900C 
por 12h.
2.3 -  Caracterização das cinzas obtidas: SiAr e SiArN
Para confirmar a formação da SiO2 na cinza da casca de arroz, analisar seu grau 
de cristalinidade, ligações químicas formadas e fases por ventura formadas 
utilizou-se as técnicas de difração de raios-X (DRX), espectroscopia na região 
infravermelho (FT-IR) e termogravimetria (TG). 
 
2.4 - Adsorção dos corantes 
O processo de adsorção foi realizado em uma série de amostras, sendo estas na 
forma de pós, onde cerca de 50 mg das cinzas de SiAr e SiArN foram suspensas em 
50,0 mL de solução aquosa contendo o corante AT. Estas soluções do corante 
tinham concentração da 30 ppm e permaneceram sob agitação constante a 25°C/12 h 
nesta batelada. A quantidade adsorvida do corante foi determinada na região do 
UV-visível, utilizando um espectrofotômetro BEL-Engineering modelo UV-M51, onde 
todas as amostras foram analisadas em triplicata. A porcentagem de remoção do 
corante foi calculada pela Equação 1 abaixo:
Remoção (%) =  Ci  -  Ce    x 100    (1)                                                                                                                                                  
                   Ci
  
sendo:  Ci e Ce são as concentrações iniciais e no equilíbrio do corante, 
respectivamente.
Resultado e discussão
O teor de sílica presente na casca de arroz depende de vários fatores, dentre 
eles o tipo do solo. Quanto maior a acidez do solo, maior é o teor de sílica 
bio-acumulada nos tecidos vegetais. Nas cascas analisadas tivemos um rendimento 
de cerca de 34% em peso na queima das cinzas, na Figura 2 tem-se as imagens da 
matéria prima (Figuara 2a)  e a sílica produzida após a calcinação a temperatura 
de 600°/24h . 
		Foram empregadas as técnicas de difratometria de raios-X (DRX), 
termogravimetria (TG)e espectroscopia no infravermelho (FT-IR),  para análise 
estrutural e de composição das cinzas obtidas pela queima da casca do arroz e 
dos pós híbridos obtidos após sua posterior sililação. No difratograma de raios-
X apresentado, pode-se observar a presença de um halo característico de material 
amorfo, entre os ângulos de 15,00 e 35,00, para a casca de arroz tratada na 
condição de  600ºC/24h, com máximo do halo em 22,50 de 2θ (LIMA et al., 2011).
Para a obtenção da amostra de SiArN, a sílica ativada termicamente ficou em 
reação a temperatura de refluxo com o APTES, afim de incorporar na sua 
superfície grupos amino (-NH3) básicos, possibilitada pela substituição dos 
grupos OH existentes na superfície da sílica. Os espectros de infravermelho, 
indicam o sucesso da reação de funcionalização realizada neste processo. 
Observando os espectros obtidos de SiAr e SiArN, em ambos espectros tem-se a 
presença dos picos característicos da estrutura da sílica, tais como: i) uma 
banda larga entre 3750 a 3000 cm-1, a qual é atribuída ao estiramento O-H dos 
grupos silanois e, também, à água remanescente adsorvida; ii) dois picos 
intensos relacionado aos estiramentos assimétricos dos grupos siloxanos (as Si-
O-Si) em 1200 e 1100 cm-1; iii) uma banda relacionada ao estiramento silanol Si-
OH em 900 cm-1; iv) uma banda em 920 cm-1, atribuída ao estiramento simétrico 
dos grupos siloxanos (s Si-O-Si); v) um pico relacionado à vibração ( O-Si-O) 
em 480 cm-1, sendo possível observar na região entre 400-800 cm-1, as bandas 
atribuídas às ligações metal-oxigênio (O-Si-O), e em vi) uma banda em torno de 
1650 cm-1, atribuída às vibrações angulares das moléculas de água. No entanto, a 
sílica SiArN apresenta um pico característico em 2950 cm-1, relacionado ao 
estiramento C-H de carbono tetraédrico, o qual confirma o ancoramento da 
molécula de APTES na superfície da SiAr (FARIA  et al, 2008). Os espectros de 
infravermelho corroboram com o dado obtido por DRX, evidenciando a formação da 
sílica, porém, em forma amorfa.
O comportamento temogravimétrico das cinzas de SiAr e SiArN apresenta para 
amostra de SiAr duas pequenas pedas de massa, a primeira equivalente a 1% de 
massa que ocorre entre 27oC a 150,3oC, atribuída a evaporação de água 
fisicamente adsorvida na superfície da sílica e a outra correspondente a 2,3% 
entre 239 oC a 607 oC, esta perda é referente a condensação dos grupos silanóis. 
Na curva TG da SiArN , percebe-se uma perda de massa mais acentuada, que também 
ocorre em dois estágios, a primeira equivlente a 3%, entre 30oC a 126oC, 
relacionada a perda de água como já mencionada e a segunda entre 310oC e 579oC, 
equivalente a aproximadamente 4% de perda de massa,  relacionada a decomposição 
dos gurpos orgânicos presentes (que evidenciam a eficiência da sililação) e às 
condensação dos grupos silanóis.
	Os ensaios de adsorção realizados em batelada, foram realizados com os 
dois materiais, a SiAr e a SiArN, com um tempo máximo de 12 horas em agitação 
constante, em temperatura ambiente e pH neutro. Os resultados das adsorções dos 
materiais com o corante amarelo de tartrazina, nas Figuras 1 (a e c) temos as 
absorbâncias em relação ao tempo de agitação das amostras e nos gráficos (b e d) 
temos os rendimentos em porcentagem das adsorções pelo tempo de reação. A 
amostra de SiArA (Figura 1 a e b) não apresentou muita eficiência na adsorção do 
corante, onde apenas cerca de 16 % deste foi adsorvida pela cinza em 12 horas de 
reação (Figura b). Já para a SiArN (Figura 1 c e d), teve-se um grau de remoção 
de  94,2 % do corante,  para o  mesmo tempo em reação de adsorção (Figura 1 d). 
Esta diferença na adsorção se deve à modificação química da sílica com a 
incorporação do grupo amino, que melhora a capacidade de adsorção do material.

Espectros de UV-Vis e porcentagem de adsorções para o SiAr (a/b) e para o SiArN(c/d), com o corante amarelo de tartrazina.
Conclusões
Neste projeto, foi possível sintetizar a sílica amorfa a partit da  casca de 
arroz,  o difratograma de raios-X característico de material amorfo comprova a 
obtenção da mesma. A de sililação foi capaz de promover a incorporaç~o dos grupos 
amino na superfície da mesma, conforme análises de FTIR e TG. Esta modificação 
química em sua estrutura mostrou -se bastante  eficiente em estudos de adsorção 
para o corante alimentício amarelo de tartrazina. O máximo de remoção do corante 
chegou a 94,2% em 12 horas de reação. Vale lembrar, que os resultados obtidos são 
satisfatórios, principalmente se levarmos em consideração que foi utilizado um 
subproduto da agricultura como matriz para obtenção da sílica, contribuindo assim 
para  a presevação do meio ambiente, e a diminuição dos resíduos agrícolas.
Agradecimentos
Programa de apoio à produtividade em pesquisa (PROAPP -Edital nº 12/2020)
Núcleo de Pesquisa NuQMMA
Referências
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