Autores
Rodrigues, J.S. (UFVJM)  ; Santos, L.S.D. (UFVJM)  ; Paiva, A.E. (AMBER/TRINITY COLLEGE DUBLIN)  ; Vasquez, J.F.B. (AMBER/TRINITY COLLEGE DUBLIN)  ; Gonçalves, M.P. (UFVJM)  ; Borsagli, F.G.L.M. (UFVJM)
Resumo
Considerando o quantitativo feminino e os problemas de saúde desse grupo 
decorridos de diversos fatores, o presente trabalho objetivou produzir hidrogéis 
quimicamente modificados com incorporação de nanopartículas de carbono para 
aplicação no tratamento da saúde da mulher. Os hidrogéis foram caracterizados 
quimicamente, morfologicamente e opticamente. Os resultados mostraram que o 
material possui boa estabilidade química com fotoluminescência no comprimento de 
onda do azul e tamanho da ordem de 5 nm, os hidrogéis se mostraram homogêneos, 
lisos e flexíveis.
Palavras chaves
Saúde-da-mulher; Hidrogéis; Carbon dots
Introdução
Problemas como discriminação nas relações de trabalho, sobrecarga com as 
responsabilidades domésticas, além do trabalho profissional, desigualdades 
sociais acabam por afetar a saúde da mulher, as quais, adoecem com maior 
frequência comparadas ao homem. A população brasileira em sua maior parte é 
constituída pelo gênero feminino (mais de 50 % da população). Consequentemente, 
esse grupo é hoje o maior usuário do Sistema Único de Saúde (SUS), seja em 
benfeitoria da própria saúde ou no acompanhamento de terceiros, como crianças e 
outros familiares, em especial idosos, os quais muitas vezes estão sob sua 
guarda (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
Todavia, a saúde feminina vem sendo tratada de acordo com a tradição nos 
sistemas de saúde preferindo a área da saúde reprodutiva, destacando o cuidado 
ao pré-natal, parto, puerpério e planejamento reprodutivo, além de cânceres de 
colo de útero e de mama (MINISTÉRIO DA SAÚDE, Instituto Sírio-Libanês de Ensino 
e Pesquisa, 2016). Contudo, além de doenças que atormentam a reprodução 
feminina, diferentes fatores ocasionam desconforto e adversidade a saúde 
feminina, estes podem se acentuar e promover sérias complicações ao sistema 
reprodutor e ao organismo feminino como um todo. 
Nesse aspecto, diversas doenças associadas ou não o sistema reprodutor feminino, 
são originadas por desequilíbrios hormonais. Entre várias dessas doenças têm-se 
a endometriose. A endometriose é uma das doenças mais observada na clínica 
ginecológica. Sua semelhança com dismenorreia, dor pélvica, dispareunia e 
infertilidade faz com sua identificação seja um fato expressivo para a paciente 
(SAMPSON, 1927). A endometriose é definida como a existência de estroma e 
glândulas endometriais em localidades extrauterinas, comumente na região pélvica 
(SCHENKEN, 2016). É uma enfermidade com extensa morbidade sendo assim, vista e 
atestada como o fundamental fator de risco para gravidez ectópica (HWANG et al., 
2016).
A endometriose aparece com maior frequência em mulheres com idade reprodutiva, 
entre 25 e 29 anos, sendo pouco comuns em pré-púberes e no climatério (OLIVE et 
al., 1993). Acontecimentos elevados entre mulheres com ciclo menstrual de 
durabilidade igual ou inferior há 27 dias são verificadas. De tal modo, tempo de 
sangramento alto ou igual a sete dias e aparecimento de spotting pré-menstrual 
relaciona-se a essa doença (DULEBA, 1997). 
Atualmente, as indústrias da área biomédica têm buscado empregar materiais 
biodegradáveis, tais como os hidrogéis, os quais têm se destacado. Os hidrogéis 
tem sido muito utilizado para auxiliar o tratamento de diferentes doenças, pois 
são redes tridimensionais compostas por cadeias poliméricas, aptos a absorver 
elevadas porções de água e fluidos biológicos em sua estrutura sem perder a 
estabilidade química (PEPPAS et al., 2000; ROSIAK E ULANSKI, 1999).
Os hidrogéis possem diversas propriedades que os tornam biomateriais 
formidáveis, em destaque o elevado teor de água que adsorve, assim como sua 
elevada biocompatibilidade (HOFFMAN, 2002), propriedades físicas semelhantes às 
do tecido humano, como textura macia e elástica apresentada por alguns 
hidrogéis, tornando mínimo a irritação mecânica por atrito (RATNER, HOFFMAN, 
1976). Consequentemente, para a obtenção de hidrogéis com atributos almejados os 
polímeros podem ser alterados, tanto pelo seu ajuste criando blendas poliméricas 
quanto pela alteração na quantidade dos elementos na criação (ALCÂNTARA, 2013).
De modo exponencial têm-se intensificado, o empenho no uso de polímeros obtidos 
a partir de fontes biológicas renováveis (PETERSSON, 2009; SURYANEGARA, 2009). 
Nesse enfoque, a carboximetilcelulose (CMC) é um polímero obtido a partir da 
modificação química da celulose, muito utilizado em vários ramos da indústria 
farmacêutica, alimentícia e cosmética, tais como o processo de floculação, para 
a produção de alimentos, medicamentos e produção de detergentes (SCHMITT et al., 
1998).
Segundo OLIVEIRA (2009), a carboximetilcelulose pode ser empregada na produção 
de curativos inteligentes para liberação controlada de medicamentos. O referido 
autor pesquisou a liberação de nutrientes a partir do uso de filmes de CMC e 
alginato de sódio. Trevisol (2018), retratou sobre a liberação de diclofenaco de 
sódio incorporados em filmes de alginato e CMC obtendo bons resultados. Além dos 
referidos pesquisadores, é importante enfatizar pesquisas envolvendo 
nanopartículas de CMC e goma guar para liberação controlada in vitro de tri-
metafosfato tri-sódico concretizado por Dodi et al. (2016). 
Nesse sentido, o presente trabalho teve como objetivo produzir hidrogéis 
quimicamente modificados de carboximetilcelulose (CMC) e ácido cítrico com 
incorporação de nanopartículas de carbono produzidas a partir da matéria-prima 
do semiárido mineiro, os carbon dots (Cdots), para aplicação no tratamento da 
saúde da mulher, visando conforto e proteção durante os ciclos menstruais, 
principalmente os dolorosos proporcionados por doenças, como a endometriose.
Material e métodos
A produção do carbon dots foi realizada a partir de fibras do fruto da Paneira 
Rosa (Ceiba speciosa). Primeiramente, as fibras foram lavadas com água 
deionizada várias vezes e secas na estufa à 60 °C. Após essa limpeza, as fibras 
passaram por um pré-tratamento de deslignificação e branqueamento, seguindo 
procedimento adaptado de Song et al (2019). Para tal, 1 g de fibras lavadas e 
secadas foram imersas em uma solução de 100 mL da água deionizada com (2 %) de 
NaOH em temperatura ambiente e deixada sob agitação por 3 horas. Em sequência, 
as fibras foram lavadas com água deionizada até o pH atingir a neutralidade. 
Sequencialmente, as fibras lavadas em pH neutro foram imersas numa solução 93 % 
de ácido acético (v/v) e 0,3 % de ácido clorídrico (v/v) sob agitação por 3 
horas à 90 °C. Finalmente, a solução foi centrifugada à 15000 rpm por 15 
minutos, o material sobrenadante foi retirado e centrifugado novamente, o 
processo foi repetido até ficar uma solução límpida, com leve coloração marrom 
claro. O material foi então dialisado por 24 horas e levado à geladeira para 
posterior uso.
Posteriormente, foi realizada a produção dos hidrogéis. Para tal, 2 g de 
carboximetilcelulose foi diluído em 100 mL de água deionizada (2 % m/v) mantido 
sob agitação por 24 horas. Após a completa solubilização da CMC, 1 % de carbon 
dots mantendo-se sob agitação por 24 horas. Logo após, acrescentou 15 % (m/m de 
polímero) de ácido cítrico (AC) na solução CMC-Cdots deixando sob agitação por 
20 minutos. Em seguida, 10 mL da solução CMC-Cdot-AC foram vertidas em placa de 
Petri de poliestireno e secos em estufa a 40 ˚C durante 24 h para remoção da 
água. Na sequência, as amostras foram mantidas na estufa com aumento de 
temperatura para 80 ˚C durante 24 h para a reação de reticulação (método de 
evaporação lenta). 
Sequencialmente, foram realizadas as caracterizações da carboximetilcelulose 
(CMC), carboximetilcelulose reticulada com ácido cítrico (CMC_AC), e os Carbon 
dots, usando espectroscopia no ultravioleta-visível (UV-Vis), Fotoluminescência 
(PL) e Microscopia Eletrônica de Transmissão (TEM), Microscopia Eletrônica de 
Varredura (MEV).
Resultado e discussão
A figura 1 (A), mostra os espectros no ultravioleta-visível (UV-Vis) na faixa de 
200-500 nm do carbon dots onde foi possível observar duas bandas de absorções 
correspondentes às transições eletrônicas π-π* (do núcleo grafitizado com 
hibridização sp2) e n-π* (associadas a grupos funcionais de superfície) (LIANG 
et al., 2013).
A fotoluminescência (Figura 1 (B)) dos Cdots, uma banda de transição n-π* em 400 
nm, demonstrando a influência dos heteroátomos na superfície e identificando uma 
luminescência na região do azul, característico de carbon dots (ZHOU et al., 
2017; LIN et al., 2017). A figura 1 (C), mostra a solução do carbon dots 
utilizado para as caracterizações.
Na micrografia (Figura 2) obtida através da microscopia eletrônica de 
transmissão (TEM) foi possível observar a morfologia esférica da amostra e uma 
quantidade considerável de pontos quânticos de carbono com distribuições de 
tamanho estreitas com tamanhos na faixa de 5 nm.
A figura 3 mostra a micrografia obtida através da microscopia eletrônica de 
varredura (MEV) dos hidrogéis. Na figura 3 (A), é possível observar a morfologia 
de uma superfície lisa e homogênea. Já na figura 3 (B), mostra a morfologia de 
uma superfície homogênea, mas com a presença de bolhas, que pode estar ligada ao 
ácido cítrico durante o processo de reticulação dos hidrogéis.
A avaliação qualitativa visual dos hidrogéis, mostrou que em todos os sistemas 
sintetizados ocorreu uma completa solubilização da carboximetilcelulose, 
caracterizada pelo aspecto límpido e transparente das soluções. Após secagem, os 
hidrogéis apresentaram-se lisos e flexíveis, como mostrado na figura 4.


Conclusões
Os resultados do presente trabalho mostraram que é possível produzir hidrogéis 
quimicamente modificados de carboximetilcelulose (CMC) com a incorporação de 
nanopartículas de carbono (carbon dots). Através das caracterizações das 
nanopartículas de carbono foi possível observar as bandas de transições 
eletrônicas, bandas de absorção e pontos quânticos de carbono com distribuição de 
tamanhos na faixa de 5nm. As caracterizações dos hidrogéis produzidos apresentaram 
um material homogêneo. Esses hidrogéis pelas características exibidas apresenta um 
grande potencial para serem aplicados no tratamento da saúde da mulher, visando 
conforto e proteção durante os ciclos menstruais, principalmente os dolorosos 
proporcionados por doenças, como a endometriose.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao BIOSEM-LESMA/UFVJM e o AMBER/Trinity College Dublin pelas 
análises e caracterizações químicas realizadas. Assim como a FAPEMIG (APQ-02565-
21), CAPES, CNPq e UFVJM pelo suporte financeiro ao projeto.
Referências
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