Autores
Priori, G.A. (IQ/UFRJ)  ; Rocco, M.L.M. (IQ/UFRJ)  ; Rizzo, M.M. (EBA/UFRJ)
Resumo
Neste trabalho foi realizada a caracterização de um microfragmento de uma pintura 
atribuída ao Padre Jesuíno do Monte Carmelo (1764 - 1819), importante autor 
paulista do período barroco. Para a caracterização foram utilizadas as técnicas de 
microscopia ótica (MO), microscopia eletrônica de varredura (MEV) acoplada a 
espectroscopia por energia dispersiva (EDS) e espectroscopia de fotoelétrons de 
raios X (XPS). As análises permitiram a identificação de diversos materiais 
utilizados na composição da obra, além de indicar uma intervenção posterior na 
região estudada, além de contribuir multidisciplinarmente no estudo da produção 
artística de Jesuíno.
Palavras chaves
arqueometria; MEV/EDS; XPS
Introdução
Atualmente, uma nova luz vem sendo lançada sobre o trabalho de Padre Jesuíno do 
Monte Carmelo (Santos, 1764 - Itu, 1819), pintor, arquiteto e músico santista. A 
história e estilo de suas obras, que figuram entre as principais representantes 
da arte colonial Barroca no estado de São Paulo, já foi extensamente estudada, 
tendo na figura de Mario de Andrade (1893-1945) seu principal biógrafo. Para 
Andrade, Jesuíno era “a mais curiosa e importante figura da arte colonial 
paulista” (ANDRADE, 1945). Jesuíno decorou tetos de igrejas e trabalhou com 
pinturas de cavalete. Importantes exemplares de sua obra se encontram, 
principalmente, nas cidades de Itu e São Paulo (SALOMÃO, 2020) (MURAYAMA, 2016). 
A arqueometria (do inglês, archeometry) é uma área multidisciplinar que visa 
conhecer a composição dos diferentes materiais utilizados pelos artistas em uma 
determinada obra de arte, assim como possíveis alterações físicas, químicas e 
biológicas na obra, e se houve adição posterior de material. As informações 
obtidas fornecem dados acerca a história da peça e do processo criativo do 
autor, além dar indícios acerca da autenticidade da obra e auxiliar na criação 
de estratégias de conservação e restauro (RIZZUTTO, 2015) (AUCOUTURIER; DARQUE 
CERETTI, 2007). 
Neste trabalho, foi realizado o estudo dos pigmentos em um 
microfragmento da pintura Bodas Místicas de Santa Teresa (1796-1797), atribuída 
ao Padre Jesuíno do Monte Carmelo, por microscopia ótica, microscopia eletrônica 
de varredura (MEV) acoplada à espectroscopia por energia dispersiva (EDS) e 
espectroscopia de fotoelétrons de raios X (XPS).
Material e métodos
As amostras foram montadas em um bloco de resina poliéster, que foi cortado com 
uma serra fina e polido lentamente, com lixa G-200, passando por G-320, G-400, 
G-600, e finalizada com G-2000, expondo o corte estatigráfico da amostra. A 
amostra foi, então, fotografada em microscópio ótico ZEISS AxioZoom v.16, 
analisada por MEV-EDS em equipamento VEGA3 TESCAN com metalização em ouro com 20 
KV de tensão por 3 minutos. Para o XPS, o espectro survey foi obtido com fonte 
Al-Kα sem monocromador e energia de passagem de 70 eV, enquanto os espectros 
para cada elemento de interesse foram obtidos com energia de passagem de 30 eV. 
Todas as análises foram realizadas sobre a mesma amostra. A identificação dos 
pigmentos foi realizada a partir da comparação entre a composição elementar e a 
cor apresentada e pela confirmação por XPS.
Resultado e discussão
A obra Bodas Místicas de Santa Teresa se trata de uma têmpera sobre madeira, 
medindo 1,68 m por 1,20 m. Na obra observamos Santa Teresa vestindo um hábito 
carmelita marrom e branco, e Jesus Cristo, vestindo uma túnica vermelha e azul. 
Este painel é parte de uma série de 19 painéis presentes na Igreja da Venerável 
Ordem Terceira do Carmo, em São Paulo – SP. A figura 1 mostra a pintura 
estudada, a região de remoção da amostra, em violeta. A figura 2 mostra a 
fotografia em microscopia ótica do corte estratigráfico da amostra, mostrando 
todas as camadas de material sobrepostos utilizados na produção da obra. Na 
figura 3, vemos a micrografia obtida pela técnica de MEV e os pontos de análise 
pela técnica de EDS. É possível observar a presença de diversas camadas de 
material sobrepostas. Na tabela 1, a compilação dos resultados obtidos, 
incluindo os materiais confirmados por XPS. O ponto A é relativo à camada 
pictórica (parte mais externa e visível da pintura), enquanto os demais pontos 
indicam camadas mais abaixo, colocadas conforme a intenção do artista. As 
análises indicam a utilização de gesso (CaCO3) como base de preparação (ponto 
G). A presença combinada de Al2O3, SiO2, FeO, Fe2O3 nas mesmas regiões (pontos B 
e C) indicam a presença de bauxita, mineral natural com alto teor de Al2O3 
(SAMPAIO; ANDRADE; DUTRA, 2005). Na obra, devido a alta concentração de óxidos 
de ferro, a bauxita se apresenta com tonalidade marrom. No ponto A, há a 
presença de ZnO, pigmento branco cujo uso é posterior a produção da obra 
(CABRAL, 1995), indicando que em tal região houve uma intervenção posterior. 
Alguns destes materiais foram encontrados em outra pintura da mesma série (RIZZO 
et al., 2019).


Conclusões
A presença dos principais materiais encontrados é condizente com o período de 
produção da obra e com materiais já encontrados em outras obras produzidas pelo 
autor na mesma época. Há também indícios de uma intervenção posterior na área 
estudada. Os resultados auxiliam na elucidação do processo criativo do artista, 
indicando a construção da pintura.
Agradecimentos
À CAPES pela bolsa de estudos, ao CENABIO pelas medidas de microscopia ótica, ao 
Núcleo de Microscopia Eletrônica da COPPE/UFRJ pelas medidas de MEV/EDS e ao Prof. 
Dr. Abner de Siervo do IF/UNICAMP pelas medidas de XPS.
Referências
ANDRADE, M. DE. Padre Jesuíno do Monte Carmelo. Publicações do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n. 14, 1945.
AUCOUTURIER, M.; DARQUE-CERETTI, E. The surface of cultural heritage artefacts: physicochemical investigations for their knowledge and their conservation. Chemical Society Reviews, v. 36, n. 10, p. 1605, 2007. 
CABRAL, J. M. P. Exame científico de pinturas de cavalete. Colóquio/Ciências, n. 16, p. 60–83, 1995. 
MURAYAMA, E. T. A Pintura de Jesuíno do Monte Carmelo em São Paulo e Itu: Busca de Referenciais Iconográficos e Novas Considerações. [s.l.] Universidade Estadual Paulista - UNESP, 2016.
RIZZO, M. M. et al. Discovery of a ceiling painting from an 18th century chapel collapsed under the paintings of Friar Jesuíno of Mount Carmel: an interdisciplinary work. TECHNART. Anais...Burge, Bélgica: 2019
RIZZUTTO, M. A. Métodos físicos e químicos para estudo de bens culturais. Cadernos do CEOM, v. 28, n. 43, p. 67–76, 2015. 
SALOMÃO, M. Tradição Clássica e Historiografia da Arte na obra Padre Jesuíno do Monte Carmelo de Mário de Andrade. MODOS: Revista de História da Arte, v. 4, n. 2, p. 181–194, 21 maio 2020. 
SAMPAIO, J. A.; ANDRADE, M. C. DE; DUTRA, A. J. B. Bauxita. In: Rochas & minerais industriais: usos e especificações. Rio de Janeiro: CETEM, 2005. p. 279–304.








