• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

IMPACTO DO TAMANHO E TEOR DE PARTÍCULA DE BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE COMPÓSITOS COM POLICAPROLACTONA

Autores

Oliveira, R.G.M. (UFCG) ; Almeida, T.G. (UFCG)

Resumo

Objetivou-se neste trabalho avaliar o impacto do tamanho da partícula e do teor do reforço nas propriedades mecânicas, térmicas e na biodegradação de compósitos biodegradáveis Policaprolactona (PCL)/bagaço de cana-de-açúcar. Compósitos de PCL com 10, 20 e 30% de fibra de bagaço de cana-de-açúca em duas faixas granulemetricas (75-150 µm e 150-300 µm) foram produzidos em um misturador interno. Os compositos foram caracterizados quanto as propriedades mecanicas de tração através de filmes. As propriedades mecanicas foram afetadas com o aumento de teor de fibras. À medida que se aumentou o teor de fibras, nas duas faixas granulometricas, o módulo elastico aumentou, a tensão de ruptura tendeu a diminuir.

Palavras chaves

Compósitos; PCL; Propriedades mecânicas

Introdução

Segundo Prasad e Kandasubramanian (2019), a policaprolactona (PCL) pertence à família dos polímeros sintéticos renováveis populares e atrativos que são biocompatíveis e biodegradáveis. De acordo com Abrisham et al. (2020), os biopolimeros como a PCL, também podem ser reforçados com cargas vegetais. As fibras naturais são uma fonte importante de materiais de reforço para aplicações em compósitos poliméricos alternativos, gerando uma produção sustentável (RAÍREZ et al, p. 117, 2019). O Brasil é o maior produtor mundial de cana de açúcar, gerando resíduos potencialmente impactantes ao meio ambiente, caso não sejam devidamente tratados. O Brasil é o maior produtor mundial de cana de açúcar, desse modo, o desenvolvimento de um método viável na indústria para a fabricação de compósitos poliméricos à base de bagaço de cana-de-açúcar pode ser denominado como um meio ambientalmente correto de manuseio eficiente de resíduos, bem como agregação de valor (NUNES et al, p.2, 2020; CORDEIRO et al, p.23, 2020). Na literatura, encontra-se diversos trabalhos que estudam o comportamento dos compósitos poliméricos a base de fibra vegetal, como, por exemplo, Mei e Oliveira (2017) que analisaram o compósito polimérico a base de policaprolactona e borra de café. Pereira et al. (2018) estudaram os efeitos da porcentagem de reforço de fibras de eucalipto nas propriedades físico-mecânicas de compósito com matriz termofixa de poliéster. Dzazio e Sowek (2018) obtiveram filmes de polipropileno com cascas de soja com o objetivo de analisarem suas propriedades mecânicas, térmicas, absorção de água, morfologia e biodegradação desse compósito polimérico. Hoffman et al. (2019) estudaram o impacto da carga natural de babaçu no processamento e propriedades de filmes de PBAT/PHB. Nesse contexto, visando minimizar ampliar os estudos relacionados à melhoria de propriedades de materiais compósitos, objetivou-se neste trabalho avaliar o impacto do tamanho da partícula e do teor do reforço nas propriedades mecânicas de compósitos biodegradáveis Policaprolactona (PCL)/bagaço de cana-de- açúcar.

Material e métodos

Todos os insumos e equipamentos utilizados no desenvolvimento deste trabalho foram da Universidade Federal de Campina Grande, Laboratório de Processamento de Materiais e Laboratório de Caracterização de Materiais. A matriz polimérica utilizada foi a policaprolactona de nome comercial Capa™ 6500, fornecida pela Perstorp (Suécia), na forma granular, em pellets de aproximadamente 3 mm. A carga utilizada para a preparação dos compósitos foi o bagaço de cana-de-açúcar, na forma de fibras. O bagaço de cana-de-açúcar foi classificado granulometricamente para a escolha de duas faixas de fração de fibras com comprimento entre 150-300 µm (G2) e 75-150 µm (G1). Para promover uma mistura mais efetiva dos componentes, um misturador interno Rheomix 3000 com rotores de alta intensidade (tipo roller), operando a uma velocidade nominal de 60 rpm, com temperatura da parede da câmara mantida a 150°C, durante 15 minutos com fator de preenchimento de 70% foi utilizado para preparar compósitos de PCL com 0, 10, 20 e 30% de fibras do bagaço de cana-de- açúcar em cada uma das duas faixas granulométricas da carga. A alimentação dos insumos foi feita em duas etapas, primeiramente, com a introdução do polímero seguida da alimentação da carga, após redução do torque visualizada no painel do equipamento, a fim de evitar níveis muito altos de torque com o aumento da viscosidade do fundido. Antes do processamento, os materiais foram secos em estufa a vácuo, durante 24 horas, a uma temperatura constante de 80ºC. Após o processamento no misturador interno, os materiais foram granulados para a produção de filmes. Os filmes foram preparados por compressão em uma prensa hidráulica aquecida a uma temperatura constante de 100°C. Inicialmente realizou-se uma pré-prensagem, sem carga, durante 1,5 min seguida da aplicação de uma pressão de 500 kPa por 2,5 min. Por fim, os filmes foram resfriados em temperatura ambiente Corpos de prova de tração medindo 10 x 1cm foram preparados a partir dos filmes produzidos, segundo a norma DIN EN ISO 527-3. Os ensaios mecânicos de tração foram realizados segundo a norma DIN EN ISO 527-3, em máquina universal de ensaios mecânicos Filizola modelo BME 10KN operando a uma velocidade de deformação de 5 mm/min. Os testes foram realizados nos filmes e conduzidos à temperatura ambiente.

Resultado e discussão

A Figura 1 ilustra o módulo de elasticidade dos compósitos da primeira (1a) e da segunda faixa granulométrica (1b) utilizadas. Na Figura 1, percebe-se que o módulo de elasticidade do polímero puro (PCL) é menor que todos os compósitos estudados. Nota-se que, na Figura 1a, a diferença do módulo da PCL pura com relação ao compósito de maior carga pode ser observada (1,26 GPa). Por fim, o mesmo comportamento foi observado para a segunda faixa granulométrica, na Figura 1b, onde a diferença entre o módulo da PCL pura com relação ao compósito de maior carga pode ser observada (1,18 GPa). O aumento do módulo de elasticidade após a adição de fibra em compósitos poliméricos foi observado por Sousa et al. (2018) ao estudarem compósitos de polietileno e polipropileno reforçados com fibras de bambu. Por fim, o valor para o módulo de elasticidade da PCL pura foi igual a 0,68 GPa, Bardi e Rosa (2005) reportaram valor próximo a 0,18 GPa, embora Dziadek et al. (2015) tenham reportado valor para filmes de PCL pura próximo a 0,38 GPa. Para as duas faixas granulométricas observa-se que à medida que se aumentou o teor de fibras nos compósitos, o módulo elástico aumentou. Nota-se que na Figura 2a a diferença entre o compósito com 10% BCA e o de 30% BCA é igual a aproximadamente 0,96 GPa. O mesmo comportamento foi observado na Figura 2b, onde a diferença entre as composições com 10% e 30% de carga vegetal foi aproximadamente 0,98 GPa. Comportamento similar foi descrito por Franco et al. (2019) ao caracterizarem filmes biodegradáveis com diferentes teores de cana de açúcar, bem como por França et al. (2018) ao caracterizarem filmes de blendas de PBAT/PLA com fibras de babaçu. De acordo com Arrakhiz et al. (2012) o aumento do módulo pode ser atribuído a boa adesão entre as fibras e a matriz. O comportamento do módulo elástico com relação a faixa granulométrica também pode ser observado na Figura 2, sendo a Figura 2a a representação da primeira e menor faixa (75 a 150 µm) e a Figura 2b a representação da segunda e maior faixa granulométrica (150 e 300 µm). Os compósitos com a menor fibra tiveram maiores valores com relação aos compósitos da maior fibra, apesar de ser pouco considerável. Santos et al. (2018) tiveram maiores valores para módulo elástico ao diminuírem o tamanho da fibra do compósito estudado. Segundo Essabir et al. (2013) essa diminuição do modulo de elasticidade com o aumento do tamanho de partícula da fibra pode ser explicada pela diminuição da molhabilidade entre as partículas e a matriz, reduzindo efetivamente o número de ligações entre a matriz e as partículas. Na Figura 2 encontram-se o comportamento quanto a tensão máxima (ruptura) dos filmes de PCL e PCL/BCA para a primeira faixa (2a) e segunda faixa granulométrica (2b) adotadas. Nota-se que a tensão máxima para os filmes de PCL pura foi maior quando comparada aos compósitos nas duas faixas granulométricas, e teve valor igual a 14,50 MPa. Diziadek et al. (2015) obtiveram aproximadamente 14 Mpa como valor para a tensão máxima para filme de PCL pura. Observa-se que, para as duas faixas granulométricas, na Figura 2a e 2b, que o aumento do teor de fibra nos compósitos ocasionou a diminuição da tensão máxima, embora, na primeira faixa granulométrica (Figura 2a), não tenha uma diferença considerável entre o compósito de 20 e 30% de BCA. A diminuição da tensão máxima com o aumento do teor de fibra em compósitos foi observada por Mastalygina e Popov (2017). Esse comportamento devido ao aumento de carga é causado porque quanto maior o teor de carga no compósito, mais provável é a ocorrência de uma aglomeração crítica de partículas que pode atuar como um ponto de partida para fissuras que enfraquecem o compósito, ou seja, as fibras atuam com defeito fragilizando a matriz (SHAHZAD, p.23, 2017; FRANÇA et al, p.10, 2018; PELOTTO et al, p.1, 2009). Nota-se, ainda, que os valores de tensão máxima aumentaram com o aumento do tamanho da fibra, ou seja, maiores valores para a segunda faixa granulométrica.

Figura 1

Módulo de Elasticidade da primeira (a) e segunda faixa granulométrica(b).

Figura 2

Tensão de ruptura da primeira (a) e segunda faixa granulométrica(b)

Conclusões

As propriedades mecânicas foram afetadas devido a presença de carga vegetal. O teor de carga também afetou as propriedades mecânicas, onde quanto maior o teor, maior foi o módulo elástico, mostrando assim um material mais rígido à medida que se aumentou o teor de fibras nos compósitos, ou seja, os compósitos com 30% de fibra de bagaço de cana-de-açúcar foram mais rígidos com valores de módulo de elasticidade igual a aproximadamente 1,94 GPa para primeira faixa granulométrica e 1,86 GPa para segunda. Quanto a tensão máxima, foi afetada pela presença de fibra. À medida que se aumentou o teor de fibras, a tensão de ruptura diminuiu. A primeira e menor faixa granulométrica teve os menores valores quando comparado com a maior faixa granulométrica.

Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com o apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, e da Universidade Federal de Campina Grande.

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