Autores
Carvalho, E.L. (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)  ; Peñafiel, M.J.P. (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)  ; Aucélio, R.Q. (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)
Resumo
Quatro sondas fotoluminescentes foram 
avaliadas para a quantificação de putrescina 
usando pontos quânticos de grafeno (GQDs) 
produzidos por fusão e hidro-esfoliação. 
Diferentes GQDs fotoluminescentes foram 
preparados usando ácido cítrico como 
precursor, sozinho ou misturado com outros 
compostos contendo heteroátomos (N e/ou 
S) visando funcionalização da nanoestrutura, 
no caso a tiouréia (TU), a ureia (U) 
e a glutationa reduzida (GSH). Entre os 
trabalhos futuros encontra-se o ajuste das 
condições experimentais para melhorar a 
resposta analítica e obter parâmetros 
analíticos de mérito que permitam a aplicação 
do método em amostra de carne 
bovina, associando uma estratégia para obter 
seletividade na determinação. 
Palavras chaves
Putrescina; Sondas fotoluminescentes; Pontos quânticos de grafe
Introdução
A putrescina (1,4 diaminobutano) faz parte de 
um grupo de bases orgânicas 
nitrogenadas de baixo peso molecular 
denominadas aminas biogênicas, que são 
encontradas no corpo humano, em animais, 
plantas e microrganismos. Como 
consequência elas são encontradas em 
alimentos, tais como carnes bovinas, 
suínas, de frango, pescados, ovos, cogumelos, 
produtos à base de leite, vegetais 
fermentados, produtos de soja, bebidas como 
cervejas e vinhos, dentre outros 
(ÖZOGUL; ÖZOGUL, 2019). 
Apesar de participar de vários  processos 
metabólicos importantes - como o ciclo 
celular - a intoxicação ocasionada por uma 
dieta rica em alimentos com 
putrescina pode ocasionar hipotensão, tétano, 
paresia das extremidades, 
bradicardia e ainda pode potencializar a 
intoxicação de outras aminas biogênicas 
(SHALABY, 1996). Além disso, a putrescina - e 
outras aminas biogênicas - são 
marcadores químicos para o sistema olfativo 
indicando estágio de decomposição em 
tecidos e contaminação bacteriana nas carcaças 
(HUSSAIN et al, 2013). 
Sendo assim, é possível apontar a putrescina 
como indicadores de qualidade de 
alimentos e estabelecer o controle do acúmulo 
em diversos tipos de produtos 
alimentícios, visto que o excesso pode afetar 
a saúde humana. Apesar disso, não 
existe uma legislação específica estabelecendo 
os limites permitidos de cada 
amina biogênica em alimentos. No Brasil, a 
legislação regulamenta apenas a 
histamina em pescados frescos e seus 
derivados, limitando a concentração máxima 
em 100 mg L-1 (BRASIL, 1997).  
Existem diversos métodos analíticos para a 
quantificação de aminas biogênicas. A 
cromatografia líquida de alta eficiência 
(HPLC) com derivatização química (pré 
ou pós-coluna) é muito citada na literatura 
para a separação e quantificação 
dessas aminas em alimentos (ÖNAL, 2007). No 
entanto, os métodos baseados no HPLC 
apresentam alto custo operacional relativo e 
exige muito rigor na preparação das 
amostras para não sobrecarregar as colunas de 
separação.
Atualmente, os nanomateriais de carbono, 
incluindo os ditos pontos quânticos de 
carbono (CQDs) e de grafeno (GQDs), estão 
sendo usados em aplicações para a 
segurança alimentar (SHI et al, 2019; ZHANG et 
al, 2022). Os CQDs e GQDs são 
materiais muito atraentes devido a sua alta 
biocompatibilidade, baixa toxicidade 
relativa e propriedades ópticas peculiares. 
Além disso, põem ser produzidos por 
diversas estratégias, inclusive algumas muito 
simples, gerando nanomaterias que 
se estabilizam coloidalmente em água, 
produzindo intensa fotoluminescência, 
larga faixa de extinção óptica e propriedades 
redox interessantes (NGAFWAN et 
al, 2022).
O presente trabalho se propõe em apresentar um 
estudo visando avaliar o 
potencial dos pontos quânticos de grafeno 
(GQDs) como sondas analíticas 
fotoluminescentes para a quantificação da 
amina biogênica putrescina. Quatro 
dispersões de GQDs em dispersões coloidais 
aquosas produzidos por fusão e hidro-
esfoliação foram analisadas para compara a 
sensibilidade de cada uma à presença 
de putrescina. Diferentes GQDs 
fotoluminescentes foram preparados usando 
ácido  cítrico como precursor, sozinho ou 
misturado com outros compostos contendo 
heteroátomos (N e/ou S) visando 
funcionalização da nanoestrutura, no caso a 
tiouréia (TU), a ureia (U) e a glutationa 
reduzida (GSH). 
Material e métodos
As medições de fotoluminescência foram feitas 
em um espectrômetro de 
luminescência modelo LS 55 (Perkin-Elmer) 
usando velocidade de varredura de 1000 
nm min-1, com banda espectral passante de 10 
nm. Cubetas de quartzo de 
comprimento de caminho óptico de 1 cm foram 
usadas para condicionar as sondas no 
momento da medição. Os GQDs foram preparados 
utilizando a hidro-esfoliação do 
ácido cítrico (1,0 g) sozinho ou na presença 
de outros precursores orgânicos 
(0,3 g) fundidos. Os outros precursores foram 
tiouréia (TU), ureia (U) ou 
glutationa (GSH), todos da Sigma Aldrich 
(EUA).  A preparação foi adaptada de 
Franco (2019), em que o precursor sólido foi 
aquecido em um béquer, a cerca de 
240ºC, até que o material fundido atingisse 
uma coloração marrom clara. Em 
seguida, a massa pirolisada foi despejada em 
um béquer contendo água ultrapura 
(18,2MΩ cm) na temperatura ambiente, obtida do 
ultra purificador Milli-Q 
gradient A10 (Millipore, EUA), sob agitação 
por 20 min, formando uma mistura 
amarelo-pálido rica em GQDs (dispersão 
coloidal denominada de dispersão 
original). A fotoluminescência foi medida após 
as dispersões de trabalho 
originais de GQDs terem sido diluídas em água 
ultrapura. Os parâmetros 
experimentais de todas as dispersões estão 
descritos na Tabela 1. A putrescina 
foi preparada a partir de uma solução estoque 
de 1000 mg L-1.
Resultado e discussão
As dispersões originais foram diluídas conforme o fator de diluição da Tabela 1 
para se adequar a intensidade da fotoluminescência em função da saturação do 
detector do equipamento, pois a fotoluminescência dos GQDs funcionalizados é 
afetada conforme a natureza do modificador químico. O comprimento de onda máximo 
de emissão e excitação de cada dispersão são descritas na Tabela 2.
Para comparação de desempenho, curvas analíticas foram construídas para cada 
tipo de dispersão com a adição de putrescina nas concentrações de 10, 30, 50, 70 
e 90 mg L-1. Os espectros de emissão podem ser observados na Figura 1.
Como pode ser observado na Figura 1, a dispersão de GQD-TU foi a única que 
apresentou resposta satisfatória em função da presença de putrescina. Ademais, a 
sonda fotoluminescente GQD-TU é do tipo turn-on, ou seja, de ativação, com 
aumento da fotoluminescência proporcional ao aumento da concentração de 
putrescina. Provavelmente, os grupos C=S do GQDs-TU interagem com o par de 
elétrons não ligantes dos grupos NH2 da putrescina, favorecendo a transferência 
eletrônica, aumentando a taxa de recombinação excitônica do nanomaterial 
(responsável pela fotoluminescência medida). A confirmação desta hipótese 
depende do estudo de caracterização que será realizado em etapas posteriores.
Tomando como base a resposta encontrada, se realizou uma série de testes de 
diluição em água ultrapura do nanomaterial (GQDs-TU) a fim de otimizar a relação 
concentração de putrescina e quantidade de nanomaterial de forma a otimizar a 
sensibilidade da sonda. Foi encontrado respostas ainda melhores na proporção 2% 
(v/v; GQDs-TU:água) na qual foi possível detectar melhor sensibilidade da 
resposta (capacidade de diferenciar concentrações próximas de putrescina) e 
comportamento linear do sinal líquido (L –L0, onde L é a luminescência medida da 
sonda na presença de putrescina e L é a luminescência medida na ausência de 
putrescina).  Para otimizar a faixa de trabalho, a curva analítica foi 
construída com adição de putrescina nas concentrações de 0,5; 1,0; 5,0; 10,0; e 
30,0 mg L-1, conforme detalhado na Figura 2.
Pode-se observar, na Figura 2A, que a intensidade da fotoluminescência fica mais 
intensa gradativamente na medida que a concentração de putrescina aumenta. A 
curva analítica foi construída usando a fotoluminescência líquida (L - L0) como 
mostrado na Figura 2B.
A resposta linear (R2 = 0,9946) abrangeu uma ampla faixa desde 0,50 até 30,0 mg 
L-1, (concentração final). O modelo de equação da curva analítica foi (L - L0) = 
(0,160) [putrescina]mg L-1 + (19,708). O limite instrumental de quantificação 
(LOQ) foi considerado como a concentração mais baixa na faixa de 0,5 a 30 mg L-
1, que ainda mantêm a resposta linear pelo menos em R2 = 0,9946.

Tabela 1 - Parâmetros experimentais das dispersões de GQDs Tabela 2 - Comprimento de onda máximo de excitação e emissão das dispersões de GQS

Fig1: Espectros das sondas de GQDS com adição de putrescina Fig2: A) Espectro da sonda GQDs-TU com adição de putrescina;B) Curva analítica
Conclusões
A viabilidade de uma sonda fotoluminescente para detecção de putrescina foi 
avaliada usando quatro tipos de GQDs, produzidos com diferentes precursores, com o 
objetivo de encontrar a mais sensível. A dispersão de GQDs-funcionalizados com 
tiouréia foi a única que demonstrou aumento da resposta em termos de intensidade 
da fotoluminescência, proporcional ao aumento da concentração de putrescina. A 
partir disso, é possível dizer que a sonda fotoluminescente GQDs-TU, apresenta 
grande potencial para aplicação em amostra real (carne bovina, por exemplo), 
depois de serem ajustadas condições para melhorar a seletividade da resposta 
analítica. 
Agradecimentos
Os autores agradecem CAPES, FAPERJ e CNPq pelo fomento e bolsas de pesquisa.
Referências
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ÖNAL, A. A review: Current analytical methods for the determination of biogenic amines in foods. Food Chemistry, v. 103, n. 4, p. 1475–1486, 2007.
ÖZOGUL, Y.; ÖZOGUL, F. Chapter 1: Biogenic Amines Formation, Toxicity, Regulations in Food. In: SAAD, B.; TOFALO, R. Biogenic Amines in Food: Analysis, Occurrence and Toxicity. 1 ed. Londres: Royal Society of Chemistry, 2019.. 330 p. cap. 1, p. 1-17. Disponível em: https://pubs.rsc.org/en/content/chapterhtml/2019/bk9781788014366-00001?isbn=978-1-78801-436-6. Acesso em: 1 jun. 2022.
SHALABY, A. R. Significance of biogenic amines to food safety and human health. Food Research International, v. 29, n. 7, p. 675-690, 1996.
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