Autores
Alves, E.R. (IFPB - CAMPINA GRANDE)  ; Monteiro, A.C.A. (IFPB - CAMPINA GRANDE)  ; Souto, D.V.L.R. (IFPB - CAMPINA GRANDE)  ; Gadelha, A.J.F. (IFPB - CAMPINA GRANDE)  ; Rocha, C.O. (IFPB - CAMPINA GRANDE)
Resumo
As técnicas de Análise Multivariada fornecem uma visão ampliada dos parâmetros de 
qualidade de combustíveis. Este trabalho apresenta uma análise multivariada da 
qualidade da gasolina comercializada na mesorregião do agreste da Paraíba através 
da técnica de “análise de componentes principais” (PCA). Amostras de 12 postos de 
abastecimento foram coletadas em 10 cidades, nos meses de junho, julho e agosto. 
Para essas amostras foram analisados 04 parâmetros, pH, densidade, índice de 
refração e teor de etanol. As PC1 e PC2 explicam 62,00% da variância total dos 
dados. A PCA mostra que houve uma mudança nos padrões entre os períodos 
analisados. Verificou-se também que algumas amostras apresentam uma diferença 
expressiva em sua composição, o que pode significar alguma alteração na gasolina.
Palavras chaves
Análise multivariada; PCA; combustíveis
Introdução
A gasolina é o combustível que mais sofre adulteração no Brasil por ser o mais 
utilizado em território nacional. Esse ato ilícito consiste no acréscimo de 
solventes, como o álcool anidro ou tolueno, em uma quantidade maior que a 
admitida e especificada pelos limites estabelecidos pela Agência Nacional do 
Petróleo - ANP (teor 27% e 0% em volume, respectivamente) (FIGUEIRÔA, 2016).
Cunha et al. (2016) e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT, 2017) revelam 
que o aumento na procura desses combustíveis faz com que alguns revendedores os 
adulterem, provocando danos quase que irreparáveis no veículo, tais como: queda 
repentina do motor; dificuldades de arranque; o rendimento fica insatisfatório; 
há perda de potência do motor; aumento do consumo de combustível e aumento das 
emissões de partículas e gases. Isso ocorre, normalmente, pela adição de um 
produto mais barato com boa miscibilidade com o combustível. Tal fraude visa ao 
lucro ilegal.
A ANP é a agência responsável pela fiscalização desses combustíveis, para que 
não ocorra práticas de adulteração e de sonegação, que acarretam perdas 
irreparáveis tanto para as empresas quanto para os consumidores (PIRES, 2016).
Sendo assim, com o aumento no número de automóveis e no consumo de combustíveis 
ocorrem maiores congestionamentos, maior poluição atmosférica, aumentos nos 
acidentes e nas mortes, principalmente porque há aumento também na idade dos 
veículos que estão trafegando nas ruas do país.
No município de Campina Grande, por exemplo, existe 195.806 veículos 
registrados, que utilizam combustíveis fósseis para abastecer os automóveis e 
espera-se que sejam de boa qualidade, evitando que o consumidor sofra com o dolo 
econômico e que o funcionamento do veículo não seja prejudicado (IBGE, 2020).
Fogaça (2016) declara que alguns postos e distribuidoras realizam medidas 
fraudulentas, quando se adicionam solventes ou outros compostos aos combustíveis 
a fim de tornar o produto mais barato. No entanto, a sua qualidade diminui 
drasticamente e pode trazer prejuízos para o carro e, consequentemente, para o 
bolso do consumidor. Por exemplo, a adulteração na gasolina ocorre quando 
adiciona etanol anidro acima do limite especificado por lei. Podem ser 
adicionados à gasolina, também, óleo diesel e querosene, por serem mais baratos 
e perfeitamente miscíveis. Isso poderá resultar numa carbonização da câmara de 
combustão. E, também, como sua octanagem é muito baixa, pode causar detonação em 
baixas rotações.
Neste sentido, surgem como alternativa as técnicas de análise estatística 
multivariada, que podem ser ferramentas muito úteis para compreender as 
características da gasolina que afetam o controle de qualidade pela ANP.
De acordo com Carvalho et al. (2015), nos últimos anos a aplicação de métodos 
estatísticos multivariados como análise de componentes principais (PCA) e a 
análise hierárquica de agrupamentos (HCA) têm sido utilizados com frequência em 
diversos estudos reportados na literatura como ferramenta quimiométrica útil 
para extrair um maior número de informações obtidas através de análises de 
parâmetros físico-químicos, microbiológicos e elementos metálicos em amostras de 
combustíveis e outros materiais.
Segundo Manly & Alberto (2019), a análise de componentes principais (PCA, do 
inglês Principal Component Analysis) é elaborada para reduzir o número de 
variáveis que necessitam ser consideradas a um número menor de índices 
(componentes principais), os quais são combinações lineares das variáveis 
originais. A PCA fornece uma maneira objetiva de obter esses índices, de modo 
que a variação nos dados pode ser levada em consideração tão precisa quanto 
possível. Essa transformação, em outro conjunto de variáveis, ocorre com a menor 
perda de informação possível, e também busca eliminar algumas variáveis 
originais que possuam pouca informação. 
Em resumo, a PCA é um método de reconhecimento de padrões não supervisionado 
capaz de transformar um conjunto de dados experimentais em gráficos informativos 
acerca da similaridade entre as amostras e as respectivas variáveis (VALDERRAMA 
et al., 2016).
Material e métodos
O estudo foi conduzido na mesorregião do agreste do Estado da Paraíba, em postos 
de combustíveis localizados nos municípios de Pocinhos (1), Boa Vista (2), 
Queimadas (3), Ingá (4), Campina Grande (5), Juazeirinho (6), Soledade (7), 
Lagoa Seca (8), Esperança (9) e São Sebastião de Lagoa de Roça (10). Em cada 
cidade foi amostrado um único posto, com exceção de Campina Grande, onde foram 
amostrados 3 postos.
Amostras de 1 litro de gasolina foram coletadas nos 12 postos de serviço em 
recipientes apropriados nos diferentes municípios, durante os meses de junho, 
julho e agosto de 2022. 
Para essas amostras foram analisados 04 parâmetros físico-químicos, potencial 
hidrogeniônico - pH (índice), densidade (g.cm-3), teor de álcool (%), índice de 
refração (índice). A metodologia utilizada nas determinações dos parâmetros 
físico-químicas foi feita de acordo com o descrito por Lima et al. (2019).
Para a análise estatística multivariada foi utilizada a técnica de análise de 
componentes principais (PCA), com o auxílio do software Microsoft Excel 2016 e 
do software The Unscrambler, versão X, CAMO.
Inicialmente foi construída uma matriz de dados, contendo 36 linhas (referentes 
aos 12 poços amostrados em 3 momentos diferentes) e 04 colunas (referentes aos 
04 parâmetros analisados), as 12 primeiras linhas da matriz se referem aos dados 
dos parâmetros de qualidade ao avaliados no mês de junho, as 12 linhas seguintes 
referem-se aos dados do mês de julho e as 12 últimas linhas da matriz se referem 
aos dados dos parâmetros no mês de agosto. Como recurso de pré-processamento das 
matrizes de dados originais utilizou-se o autoescalamento, o qual tem por 
objetivo eliminar a influência de diferentes unidades de medida, ao tempo em que 
todas as variáveis passam a ter média zero (0,0) e desvio padrão um (1,0).
O uso da PCA tem como objetivo verificar a associação entre parâmetros que 
influenciam a qualidade do combustível, reduzindo o número de variáveis e 
verificando quais variáveis ou quais conjuntos delas explicam a maior parte da 
variabilidade total, apresentando quais relações existem entre elas. Como 
resultado, obtém-se os gráficos bidimensionais de scores e de loadings, que 
permitem uma melhor visualização da distribuição dos dados experimentais e das 
relações entre variáveis e entre as amostras (Souza, & Poppi, 2012).
Resultado e discussão
A seguir são apresentados os resultados da análise multivariada. Como a PCA 
provoca uma alteração no espaço vetorial do conjunto de dados, cada objeto (cada 
um dos 12 postos amostrados) que era representado num espaço com 04 variáveis 
(04 parâmetros físico-químicos), passa a ser representado por 04 componentes 
principais. Avaliando-se os autovalores de cada PCA, verifica-se que apenas a 
PCA1 e a PCA2 apresentam autovalores maiores que 1 (hum). O que permite inferir 
que as duas primeiras componentes principais são responsáveis pela maior parte 
da variância dos dados. Assim, pode-se concentrar a análise focando num menor 
número de variáveis, sem que seja observada uma perda significativa na 
informação. Nesse caso, as componentes principais PC1 e PC2 explicam 62% da 
variância total.
As Figuras 1 e 2 apresentam os gráficos de scores e de loadings, 
respectivamente, para as PC1 e PC2, nesse caso, para os meses de junho, julho e 
agosto. Segundo Lyra et al (2010), os scores, ou escores, são projeções dos 
objetos originais no espaço das PCs, ou seja, são as novas coordenadas dos 
objetos nas novas variáveis. Nesse caso, o gráfico de escores indica as relações 
entre os postos amostrados. Ainda de acordo com Lyra et al. (2010), os loadings, 
ou pesos, representam geometricamente os cossenos dos ângulos que as componentes 
principais fazem com as variáveis originais. Nesse caso, no gráfico de loadings 
podemos observar as relações entre as variáveis, ou seja, entre os parâmetros 
físico-químicos avaliados.
Ao analisar o gráfico de scores da Figura 1 pode-se notar alguns padrões 
importantes. Por exemplo, os postos dos municípios Pocinhos (1), julho, e Lagoa 
Seca (8), junho, se encontram no lado negativo da PC1, isolados dos demais 
postos, o que indica que estes diferem significativamente dos demais em relação 
à sua composição química. Isso pode ser verificado ao se consultar os dados 
brutos, que apresentam os valores dos parâmetros físico-químicos avaliados, em 
que se constata o elevado teor de etanol nesses dois poços, em específico. 
Lembrando que a legislação brasileira estabelece um limite máximo de 27% para o 
teor de álcool na gasolina.
Ainda analisando o gráfico de scores da Figura 1, chama a tenção os postos dos 
municípios Boa Vista (2), Campina Grande (5) e Soledade (7), amostrados no mês 
de junho, os quais se concentram no extremo do lado direito da PC1. Ao comparar 
com o gráfico de loadings da Figura 2 verifica-se que esses postos apresentam 
baixo teor de etanol (municípios 2 e 5), além de elevados valores para o índice 
de refração (amostras 2, 5 e 7).
Outro padrão observado no gráfico de scores é que os poços amostrados no mês de 
junho se concentram no lado negativo da PC2, o que indica que apresentam 
similaridade quanto aos valores de densidade, conforme verificado no gráfico de 
loadings.
Comportamento semelhante é observado no mês de julho no que se refere ao 
parâmetro do teor de etanol (lado negativo da PC1).
A análise da Figura 2, em que é apresentado o gráfico de loadings, mostra que há 
uma similaridade na variância dos dados dos parâmetros pH e índice de refração, 
que encontram no mesmo quadrante da PCA, enquanto os parâmetros de densidade e 
teor de álcool não apresentam uma correlação significativa.

Gráfico de scores da PCA para os 12 postos nos meses amostrados

Gráfico de loadings da PCA para os 04 parâmetros avaliados
Conclusões
Diante dos resultados apresentados, verificou-se que a gasolina amostrada em 
postos de combustíveis localizados na mesorregião do agreste paraibano apresenta 
valores, em sua maioria, de acordo com o estabelecido na legislação brasileira, 
principalmente quanto ao teor de etanol adicionado. O pH, a densidade e o índice 
de refração não apresentaram valores extremos nas amostras avaliadas.
A PCA mostra que é possível identificar padrões em grandes quantidades de dados 
oriundos de parâmetros físico-químicos de gasolina. Verificou-se ainda que houve 
uma mudança nos padrões entre os meses analisados, junho, julho e agosto. As PC1 e 
PC2 explicam 62% da variância total dos dados. 
Avaliando-se o gráfico de scores da PCA, pode-se identificar amostras que 
apresentam alguma diferença expressiva e sua composição, o que pode soar como uma 
alerta para adulteração do combustível. A PCA mostra ainda, em seu gráfico de 
loadings, que alguns parâmetros estão bem correlacionados, como pH e índice de 
refração, ao passo que, o teor de etanol e a densidade não apresentam correlação 
entre si nem com outros parâmetros.
Agradecimentos
Ao Campus Campina Grande e à Pró-Reitoria de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação do 
IFPB.
Referências
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