• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

ESTUDO EXPLORATÓRIO POR RMN 1H DA COCAÍNA APREENDIDA NA CIDADE DE FOZ DO IGUAÇU/PR – BRASIL

Autores

Theodoro Toci, A. (UNILA) ; Augusto de Freitas, F. (POLÍCIA FEDERAL)

Resumo

O Brasil, devido a sua localização geográfica, possui papel de destaque no cenário internacional de tráfico de drogas. Como consequência, as apreensões de cocaína realizadas em território nacional têm apresentado uma tendência de crescimento nos últimos 25 anos. A técnica de Ressonância Magnética Nuclear de 1H tem se mostrado promissora para aplicações de rastreabilidade em diversos alimentos. Sendo assim, o presente realizou um estudo exploratório por 1H RMN de amostras de cocaína das apreensões realizadas pela PF na região da Tríplice Fronteira no período de 2019 a 2022. Os resultados de 1H RMN associados a PCA mostrou-se adequada para distinção e identificação de semelhanças nas amostras apreendidas. Foram observados dois agrupamentos distintos, revelando possivelmente duas origens.

Palavras chaves

Cocaína; rmn; rastreabilidade

Introdução

Apesar da produção de cocaína ser restrita aos países andinos compostos por Equador, Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia, o atual estágio da globalização favorece o comércio ilícito de mercadorias e/ou tráfico de drogas, tendo em vista o incremento de acordos de livre comércio entre países, levando ao aumento dos fluxos comerciais e o estabelecimento de zonas de livre comércio, zonas de processamento de exportação, uniões aduaneiras, bem como o aumento do fluxo de pessoas e capitais (UNODOC, 2016). Nesse sentido, o papel relevante desempenhado pelo Brasil nas rotas comerciais globais e suas características geográficas, com uma extensão de 16.886 km limítrofes com 10 países diferentes, contribuem significativamente para que o país tenha uma posição de destaque no cenário internacional de tráfico de drogas. Como consequência desse cenário, as apreensões de cocaína realizadas em território nacional têm apresentado uma tendência de crescimento nos últimos 25 anos, com um recorde histórico de 104.581,88 kg da droga em 2019 (POLÍCIA FEDERAL, 2022). Diversas abordagens analíticas têm sido usadas visando a rastreabilidade da droga apreendida, sendo que alguns estudos visam a detecção de solventes residuais aliada à quantificação de truxilinas (um alcaloide tropânico) por cromatografia líquida de alta eficiência acoplada à espectrometria de massas (BOTELHO, 2012; ZACCA et al., 2014), enquanto outros utilizam a razão isotópica entre carbono (δ13C) e nitrogênio (δ15N) em associação com as concentrações dos alcaloides truxilinas e trimetoxicocaína na droga (EHLERINGER et al., 2000). Como uma alternativa analítica, a utilização da técnica de Ressonância Magnética Nuclear de 1H (1H RMN) pode permitir a obtenção do perfil químico de diferentes amostras. Sendo assim, o presente consistiu no estudo exploratório de amostras de cocaína das apreensões realizadas pela Polícia Federal na região da Tríplice Fronteira por 1H RMN no período de 2019 a 2022, com o intuito de contribuir com o trabalho investigativo realizado pela PF e outros órgãos de repressão ao tráfico.

Material e métodos

Amostras Quinze amostras na forma de cloridrato de cocaína foram utilizadas. As amostras foram apreendidas pela Polícia Federal em Foz do Iguaçu/PR no período de 2019 a 2022. Preparo de amostra 60 mg de amostra foram pesadas em tubo eppendorf fazendo-se uso de balança analítica. Foram adicionados 600 µL de água deuterada (com 0,75% de TMS - Sigma Aldrich) ao tubo de microcentrífuga, seguido de agitação em vortex por 2 minutos. A solução foi transferida para tubos de RMN de alto campo e levadas imediatamente para análise. Experimentos de RMN Os espectros de 1H RMN foram obtidos em RMN Heteronuclear Multidimensional da Bruker, operando em um campo magnético de 9,4 T, o que corresponde a uma frequência de 399,7 MHz para 1H, e equipado com uma sonda (probe) direta com gradiente z. Todos os espectros foram realizados a temperatura de 25°C em modo automático, com 20,0276 de largura espectral e mais de 64 K de pontos. Uma função exponencial com LB = 0.3 foi aplicada antes da Transformada de Fourier. A fase e a linha de base foram ajustadas com o software 3.2 (Bruker Biospin). Processamento dos dados e análise estatística Uma matriz de dados foi construída pela integração dos deslocamentos químicos (região de 0,96 a 7,86 ppm) dos espectros de RMN de 1H. A Análise dos componentes principais foi realizada para a discriminação das amostras.

Resultado e discussão

O espectro de RMN de 1H da cocaína pura é mostrado na Figura 1. O perfil espectral mostrou-se de acordo com outros estudos, onde pôde-se observar os principais deslocamentos químicos de hidrogênio (BENEDITO, 2018; PAGANO et al., 2013). As amostras 3, 4, 5, 6, 13, 20 e 21 apresentaram espectros muito semelhantes ao padrão de cocaína, o que indica a alta pureza dessas amostras. No entanto, todas as demais amostras apresentaram outros deslocamentos. Benedito (2018), analisando amostras de cocaína oriundas de outras apreensões pela Polícia Federal no Brasil, identificou alguns desses sinais como sendo cis e trans-cinamoilcocaína e bezoilecgonina (produtos de degradação da cocaína) e acetato de etila (processamento do produto). A análise de componentes principais reduziu as 34 variáveis do sistema (integrais dos deslocamentos químicos) para 17 fatores, sendo que 5 representam 98,1% da variabilidade total. O cruzamento dos fatores 1 x 4, que representam juntos 69,6% da variabilidade total do sistema é apresentado na Figura 2. Nele foi possível distinguir o agrupamento das amostras de alta pureza (vermelho), todas situadas no quadrante superior esquerdo. Os deslocamentos químicos responsáveis por essa distinção são típicos da molécula de cocaína, variando somente a intensidade nas amostras. Na Figura 2, nota-se um segundo agrupamento (verde) situado no quadrante inferior esquerdo, contendo as amostras 12, 14, 15, 18 e 23. Essas amostras apresentam muita similaridade nos deslocamentos químicos, provavelmente indicando a mesma procedência. Já as amostras 1, 7 e 17 se distinguiram muito das demais e apresentaram muitos outros deslocamentos químicos ainda não identificados.

Figura 1

Figura 1 - Espectro de RMN 1H do padrão de cocaína em água deuterada com 0,75% de TMS.

Figura 2

Figura 2 - Componentes principais, representando os fatores 1 x 4 das integrais referentes aos deslocamentos químicos dos espectros de RMN 1H.

Conclusões

Foram observados dois agrupamentos de amostras decorrentes de suas similaridades químicas. A técnica de RMN 1H associada a análise discriminante mostrou-se adequada para distinção e identificação de semelhanças nas amostras apreendidas. Deste modo, a técnica possui potencial para futuramente ser utilizada como técnica de rastreabilidade de amostras apreendidas. Para efetivação da técnica necessita-se a ampliação da amostragem, testar outras análises discriminantes e também identificar as impurezas contidas nas amostras através de técnicas cromatográficas.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Programa de Auxílio à Integração ao Pesquisador da UNILA (Edital n° 80/2019/PRPPG), bem como à Delegacia Regional de Polícia Federal de Foz do Iguaçu/PR pela celebração do Acordo de Cooperação Técnica.

Referências

BENEDITO, L. E. C. Caracterização de amostras de cocaína por Ressonância Magnética Nuclear de 1H. Tese (Doutorado em Química) - Instituto de Química, Universidade de Brasília, Brasília, 2018.
BOTELHO, E. D. Desenvolvimento de uma nova medotologia analítica para identificação e quantificação de truxilinas em amostras de cocaína baseada em cromatografia líquida de alta eficiência acoplada à espectrometria de massas (CLAE-EM). Tese (Mestrado em Química) - Instituto de Química, Universidade de Brasília, Brasília, 2012.
EHLERINGER, J. R. et al. Tracing the geographical origin of cocaine: Cocaine carries a chemical fingerprint from the region where the coca was grown. Nature, v. 408, n. 6810, p. 311–312, 2000.
PAGANO, B. et al. Use of NMR in profiling of cocaine seizures. Forensic Science International, v. 231, n. 1–3, p. 120–124, 2013.
POLÍCIA FEDERAL. Drogas apreendidas por UF - Série histórica de 1995 a 2022 (até junho). Disponível em: <https://www.gov.br/pf/pt-br/acesso-a-informacao/estatisticas/diretoria-de-investigacao-e-combate-ao-crime-organizado-dicor/drogas_apreendidas_por_uf.pdf/view>. Acesso em: 2 set. 2022.
UNODOC. World Drug Report 2016. Disponível em: <https://www.unodc.org/doc/wdr2016/WORLD_DRUG_REPORT_2016_web.pdf>. Acesso em: 5 set. 2022.
ZACCA, J. J. et al. Brazilian Federal Police drug chemical profiling - The PeQui Project. Science and Justice, v. 54, n. 4, p. 300–306, 2014.

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