Autores
Castro, H.G.C. (SEEC-RN)  ; Moura, M.F.V. (UFRN)  ; Dantas, T.N.C. (UFRN)  ; Neto, M.H.L. (UFCG)
Resumo
Neste trabalho determinou-se as constantes de velocidade de hidrólise da 
sacarose em meio micelar, ou seja, verificou-se a influência do meio micelar 
(presença de um tensioativo) sobre as constantes de velocidades  de hidrólise da 
sacarose, catalisada pelo íons H+, além disso verificou-se a influência do meio 
salino (utilizando-se soluções de cloreto de sódio). Utilizou-se como meios 
micelares dois tensioativos (um catiônico e um aniônico) em diferentes 
concentrações, com e sem adição de sal. Observou-se que não houve diferença 
significativa na velocidade de hidrólise da sacarose num meio micelar simples, 
apenas houve leve diminuição quando do aumento na concentração do tensioativo, o 
que ocorreu tanto para concentração de sacarose a 5% quanto para 10%. Foram 
observadas maiores variações.
Palavras chaves
SACAROSE; HIDRÓLISE; TENSIOATIVOS
Introdução
O estudo de reações em meio micelar tem sido de muito interesse devido a sua 
grande importância em muitos campos. Por exemplo, muitas das reações que ocorrem 
nos organismos vivos ocorrem no meio micelar. Reações que dificilmente 
ocorreriam em meio não-micelar, se realizam rapidamente ou diminuem muito seu 
tempo de reação num meio micelar adequado. E, ainda, pode-se utilizar um meio 
micelar para impedir que uma reação ocorra.
A cinética é a parte da físico-química que trata dos detalhes que ocorrem numa 
reação química, tomando como variável fundamental o tempo. A interpretação dos 
resultados das medidas de concentração em vários tempos, juntamente com os 
resultados obtidos da termodinâmica, permitem a compreensão dos mecanismos das 
reações. Assim, a cinética é usada para medir quantitativamente as variações de 
concentração que ocorrem com as reações químicas em intervalos de tempo. Essas 
medidas podem ser obtidas a partir da observação de propriedades aplicáveis ao 
meio reacional. Assim, pode-se utilizar propriedades que sofram variações 
conforme os reagentes se transformam em produtos; ou seja, à medida que a 
composição do meio reacional sofre variação. Exemplos desses tipos de 
propriedades são: medidas de variação de volume num sistema que evolui à pressão 
constante; medidas da variação de condutividade elétrica, que ocorrem com a 
maioria das reações com espécies iônicas em solução; medida da variação da 
rotação óptica, que ocorre quando reagentes ou produtos são opticamente ativos; 
medidas da intensidade de luz que atravessa uma solução quando reagentes ou 
produtos absorvem luz em diferentes comprimentos de onda.
Neste trabalho, para medir a velocidade de reação entre a sacarose e a água, 
catalisada pelo íon H+, utilizou-se a medida do ângulo de rotação da luz 
polarizada que atravessa a solução contida no tubo de um polarímetro. A sacarose 
é uma substância opticamente ativa, desviando o plano da luz polarizada para a 
direita (dextrógira); entretanto, a mistura resultante de sua hidrólise é 
levógira. Portanto, pode-se observar o desenvolvimento dessa reação a partir da 
medida da rotação óptica, utilizando-se um polarímetro que é um instrumento a 
partir do qual se pode obter medidas da rotação do plano da luz polarizada. Um 
polarímetro consiste em um tubo reto cujas extremidades estão interrompidas por 
dois prismas de Nicol, dispostos em paralelo, onde a função do primeiro consiste 
em polarizar a luz recebida de uma fonte (que pode ser uma lâmpada de vapor de 
sódio), enquanto, que o segundo indica a medida de quanto foi o ângulo de desvio 
da luz polarizada ao atravessar a solução. Foram utilizados vários autores como 
base para o desenvolvimento da parte experimental dessa pesquisa, os principais 
estão descritos nas referências deste trabalho.
Material e métodos
Na parte experimental, tentou-se verificar a influência da presença de 
tensioativos sobre a reação de hidrólise da sacarose, que é uma reação bastante 
conhecida e cujo desenvolvimento é fácil de ser observado. A sacarose reage com 
água, numa reação que é catalisada pelo íon hidrogênio. Pode-se verificar o 
desenvolvimento da reação por meio de um polarímetro, porque, durante a reação, 
há inversão do ângulo da rotação da luz plano polarizada, que é positivo no 
início da reação e vai diminuindo até se tornar negativo no final da reação.
As micelas são formadas por várias moléculas de tensioativo, chamadas monômeros, 
que se ajuntam por interações hidrofóbicas dos componentes da cadeia 
hidrocarbonada (forças de Van der Waals) e adquirem estabilidade devido à ação 
da dupla camada iônica na superfície da micela. Os monômeros se aglomeram 
geralmente em torno de 50 a 100 por micela, considerando a influência do tamanho 
da cadeia hidrocarbônica. A estabilidade da micela é afetada por adição de sais 
ao meio micelar, em decorrência da ação de íons de carga oposta sobre a parte 
iônica da micela. Dependendo da concentração de sal no meio, a micela pode ser 
precipitada por quebra da dupla camada iônica. A camada de íons que circunda a 
superfície externa da micela (contraíons) faz com que as micelas mantenham-se 
afastadas umas das outras por forças de repulsão.
Num meio micelar, as micelas mantêm-se em equilíbrio dinâmico, o que significa 
que ao se estabelecer o equilíbrio há formação e destruição de micelas 
continuamente. As micelas se desfazem tão rapidamente quanto se formam (na 
escala de ms). Além disso, em concentrações maiores que a CMC, as micelas 
mantêm-se equilíbrio com o meio, perdendo e recebendo monômeros simultaneamente 
(na escala de ms). A influência dos meios micelares nos foi limitada à 
observação do aumento ou diminuição na velocidade de consumo de sacarose (g) por 
unidade de tempo (min). As misturas foram obtidas de modo que as concentrações 
de todas as substâncias 
no meio reacional fossem inicialmente conhecidas. Primeiro dissolveu-se a 
sacarose (no momento em que ia ser utilizada) em quantidade de água deionizada 
inferior à capacidade do tubo do polarímetro (capacidade do tubo do polarímetro 
era de 25 cm3); em seguida adicionou-se volume determinado do tensioativo, de 
solução salina (para os meios salinos) e, por último, de solução ácida. 
Resultado e discussão
Quando a sacarose vai sendo consumida conforme a reação da Figura 01, a medida 
do ângulo de rotação indica que há um desvio deste para a esquerda. 
Considerando-se 0 o ângulo inicial de rotação e  o ângulo ao final da reação, 
tem-se que a diferença, 0-, é proporcional à concentração inicial de sacarose. 
Então, pode-se determinar a concentração para tempos intermediários, desde que 
seja conhecida a concentração de sacarose no tempo infinito (quando se 
estabelece o equilíbrio e a medida do ângulo de rotação permanece constante nos 
tempos posteriores).
A reação de hidrólise da sacarose, Figura 02, obedece à lei cinética de primeira 
ordem. Considerando-se que a reação ocorre em solução aquosa e, 
consequentemente, a massa de água no final da reação será quase constante, e o 
catalisador presente, íons H+, também permanece constante. Assim, a velocidade 
da reação dependerá apenas da concentração de sacarose a uma temperatura 
constante. A reação de hidrólise da sacarose é dita de pseudo-primeira ordem 
porque, ainda que não seja monomolecular, obedece à lei cinética para reações de 
primeira ordem.
A ordem de reação e a equação de velocidade são determinadas a partir de 
resultados experimentais. Uma reação obedece à lei cinética de primeira ordem se 
sua velocidade de reação, a uma temperatura constante, depende somente da 
primeira potência da concentração de um dos reagentes. Muitos fatores podem 
alterar a velocidade de uma reação; fatores como temperatura, concentração e 
presença de catalisadores podem alterar sensivelmente a velocidade das reações 
químicas. A adição de tensioativos a um meio reacional, com consequente formação 
de micelas, pode levar a um aumento de muitas ordens de magnitude a velocidade 
de algumas reações químicas. A maioria das reações que têm sido investigadas na 
presença de micelas ocorrem entre substratos relativamente hidrofílicos ou entre 
substratos hidrofóbicos e íons. As micelas podem também limitar o mecanismo de 
reações; por exemplo, a fotodescarboxilação de dibenzilcetonas assimétricas que 
se obtém três produtos em solução homogênea passa a obter-se um só produto na 
presença de micelas de brometo de hexadeciltrimetilamônio (CTAB). Na Tabela 01 
apresentam-se os resultados de condutância medidos para as soluções de CTACl a 
diversos valores de concentração.
Para a solução de sacarose a 5% em meio SDS houve aumento na velocidade da 
reação de hidrólise da sacarose (consumo de sacarose por minuto) para o meio sem 
adição de sal, à medida em que se aumentou a concentração do tensioativo. Em 
meio salino, no entanto, na concentração de 5 mM não se verificou alteração na 
velocidade da reação e para a concentração de 10 mM houve diminuição no consumo 
de sacarose em função do tempo.
Para a solução de sacarose a 10% em meio SDS os resultados mantiveram-se quase 
constante para as concentrações de tensioativo de 5, 10 e 20 mM, mas houve um 
aumento pequeno no consumo de sacarose para a concentração de 40 mM, quando se 
trabalhou em meio sem adição de sal. Em meio salino houve diminuição no consumo 
de sacarose em função do tempo para todas as concentrações deste tensioativo. 
Mas comparando-se os meios micelares entre si, observa-se leve aumento na 
velocidade de hidrólise da sacarose com o aumento gradativo na concentração do 
SDS.
Para a solução de sacarose a 5% em meio CTACl houve aumento no consumo de 
sacarose para concentrações de tensioativo de 5 e 10 mM, enquanto que, em 
concentrações de tensioativo de 20 e 40 mM a velocidade de hidrólise da sacarose 
diminui, em meio não salino. Em meio salino houve diminuição no consumo de 
sacarose para concentrações de 5 e 10 mM de CTACl, e aumento de mais de dez 
vezes no consumo de sacarose, em função do tempo, para concentrações de 
tensioativo de 20 e 40 mM.
Para a sacarose a 10% em meio CTACl  5 e 10 mM, a velocidade de reação se 
manteve constante, enquanto que à concentração de 20 e 40 mM de CTACl houve 
aumento na velocidade de hidrólise da sacarose, para o meio não salino. Em meio 
salino houve diminuição nas velocidades das reações de hidrólise da sacarose 
para todas as concentrações de tensioativo. Todos os experimentos foram 
realizados à temperatura constante.
A Tabela 01 mostra os resultados obtidos para k calculados a partir dos dados 
utilizados para a construção dos gráficos colocados na Figura 03.

As figuras 1 e 2, mostram a inversão da sacarose e a reação de hidrólise da sacarose

Na Tabela 01 estão os valores da constante k e na Figura 03 os gráficos de Infravermelho, com o comportamento da inversão da sacarose em meio micelar.
Conclusões
Considerando-se os valores obtidos, pode-se afirmar que: Não houve diferença 
significativa na velocidade de hidrólise da sacarose num meio micelar simples. 
Apenas houve leve diminuição quando do aumento na concentração do tensioativo, o 
que ocorreu tanto para concentração de sacarose a 5% quanto para 10%. 
Considerando a concentração do tensioativo constante e duplicando-se a 
concentração do reagente de 5 para 10% não se observam diferenças. Também não se 
observou diferença quando da substituição de um tensioativo aniônico para um 
tensioativo catiônico. A mudança de meio não salino para meio salino causou 
mudanças significativas principalmente, quando se aumentou a concentração do 
tensioativo. O consumo de sacarose (g min-1) aumenta de uma casa decimal para a 
sacarose a 5%. Para a sacarose a 10% o aumento no consumo de sacarose foi menor 
que 5%. Para a solução de sacarose a 5% em meio SDS houve aumento na velocidade 
da reação de hidrólise da sacarose (consume de sacarose por minuto) para o meio 
sem adição de sal, à medida em que se aumentou a concentração do tensioativo. Em 
meio salino, no entanto, na concentração de 5 mM não se verificou alteração na 
velocidade da reação e para a concentração de 10 mM houve diminuição no consumo 
de sacarose em função do tempo. Para a solução de sacarose a 10% em meio SDS os 
resultados mantiveram-se quase constante para as concentrações de tensioativo de 
5, 10 e 20 mM, mas houve um aumento pequeno no consumo de sacarose para a 
concentração de 40 mM, quando se trabalhou em meio sem adição de sal. Em meio 
salino houve diminuição no consumo de sacarose em função do tempo para todas as 
concentrações deste tensioativo. Mas comparando os meios micelares entre si, 
observa-se leve aumento na velocidade de hidrólise da sacarose com o aumento 
gradativo na concentração do SDS. Para a solução de sacarose a 5% em meio CTACl 
houve aumento no consumo de sacarose para concentrações de tensioativo de 5 e 10 
mM.
Agradecimentos
Ao CNPq pelas bolsas concedidas.
Referências
MAHAN. B. H.; “QUÍMICA – UM CURSO UNIVERSITÁRIO”, 4ª edição, São Paulo, Editora Edgar Blucher Ltda. 1995.
MOORE. W. J.; “FÍSICO QUÍMICA”, Vol. I, São Paulo, Editora Edgar Blucher, 1976.
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OHLWEILER. O. A.; “QUÍMICA ANALÍTICA QUANTITATIVA”, Vol. 3, Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos Editora S. A, 1974.
OLIVEIRA. J. X.; “MÉTODOS ABSORCIOMÉTRICOS”, monografia, UFRN, 1974.
VOGEL. A. L.; “A TEX BOOK OF PRATICAL ORGANIC CHEMISTRY”, 3ª edition;    Longmans, 1966.








