• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

Estudo sinérgico de adsorção e oxidação catalítica do corante azul de metileno por biocarvões magnéticos oriundos da casca do coco verde

Autores

Salarini Peixoto, B. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Brunhosa, J.P.C.F. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Bezerra, E.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Dias, I.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Mota, L.S.O. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Wegermann, C.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Romeiro, G.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Moraes, M.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE)

Resumo

Foram produzidos biocarvões magnéticos a partir de rejeitos de coco verde (Cocos nucifera L.) pela pirólise (em 1 e 2 etapas) a 500 °C do material impregnado com FeCl3. Os materiais foram devidamente caracterizados por espectroscopia de infravermelho, difração de raios X e análise textural por adsorção de N2. A síntese proporcionou um aumento da porosidade do material (474 e 338 m2/g) além de conferir propriedades magnéticas aos compósitos pela presença de magnetita produzida in sito no processo de pirólise. Os materiais foram testados como adsorventes e catalisadores da oxidação do corante azul de metileno, tendo atingido a capacidade de adsorção de 10 mg/g e um branqueamento de 96% (em 25 mg/L) na presença de peróxido de hidrogênio.

Palavras chaves

azul de metileno; biocarvão magnético; catálise oxidativa

Introdução

O crescente aumento populacional acarreta diretamente na demanda industrial de produtos manufaturados. Por exemplo, a indústria têxtil polui de forma significativa os ecossistemas aquáticos. Isto ocorre porque muitas vezes os efluentes gerados não são tratados, ou sofrem um tratamento ineficiente do ponto de vista ambiental. Uma característica dessa água residual é a sua intensa coloração devido aos corantes orgânicos com alta absortividade molar na região do espectro visível, como o vermelho do congo e azul de metileno (AM). Tal coloração na água prejudica a entrada de luz, e com isso interrompe fenômenos como a fotossíntese e diminui o oxigênio dissolvido em água, por fim ocasionando a morte da vida marinha (DUTTA et al, 2021). Desta forma, o desenvolvimento de novas soluções e materiais capazes de remover a pigmentação dos efluentes demanda constante inovação. Biocarvões obtidos a partir de matéria-prima lignocelulósica, mostram-se como potenciais candidatos para a adsorção de contaminantes devido a sua grande área superficial e baixo custo de obtenção SHELKE et al, 2022). Além disso, a inserção de partículas magnéticas de óxido de ferro ao biocarvão podem propiciar reações de catálise oxidativa, como o processo Fenton em solução, gerando radicais que favorecem o processo de descontaminação de forma sinérgica com o fenômeno da adsorção, além de auxiliarem na recuperação do material por separação magnética (SILVA et al, 2017). Logo, este trabalho propôs um estudo acerca da remoção de azul de metileno, em solução, por adsorção e catálise oxidativa, realizados por dois biocarvões magnéticos (MBC1) e (MBC2), sintetizados a partir da pirólise da casca do coco verde.

Material e métodos

Os biocarvões magnéticos (MBC) foram produzidos utilizando o resíduo da biomassa do coco verde como matéria-prima. Ambos foram obtidos pela pirólise a 500 °C, em atmosfera de N2, do precursor orgânico impregnado com FeCl3•6H2O numa razão mássica de 1:1. O biocarvão magnético obtido pela pirólise da biomassa impregnada de Fe(III) foi denominado de MBC1. Na segunda abordagem, a biomassa passou por uma pirólise prévia e o biocarvão obtido foi então impregnado com Fe(III) e pirolisado novamente, sendo denominado MBC2. Após a síntese, a amostras foram caracterizadas por espectroscopia de infravermelho (FTIR), difração de raios X (XRD), análise textural por adsorção de N2 e magnetometria SQUID. A curva analítica para aferir a concentração de AM em solução foi construída e validada segundo os parâmetros de linearidade, exatidão e precisão da RDC 166/2017 (ANVISA). O intervalo linear da curva foi de 5 - 25 mg/L lidas em 664 nm em um espectrofotômetro. Os ensaios de isoterma (298 K) de adsorção foram realizados com 10 mg de MBC em soluções de 10 mL contendo diferentes concentrações de AM (5 - 500 mg/L) sob agitação de 180 rpm em um banho termostatizado com agitação horizontal. Os ensaios de cinética foram realizados com soluções contendo 25 mg/L de AM variando o tempo de contato entre 5 min e 96 h. Os estudos de branqueamento foram realizados com soluções de 25 mg/L de AM e 10 mg de MBC1 ou MBC2. As soluções foram mantidas em agitação constante por 48 h a 25 °C. Após 48 h, as soluções foram analisadas por UV-VIS seguido da adição do oxidante nas proporções molares de AM:H2O2 (1:500-8000) e, então, mantidas nas condições por mais 48 h. Cada um dos experimentos do estudo foram realizados em triplicata.

Resultado e discussão

Ambos os materiais obtidos apresentaram comportamento magnético, sendo facilmente decantados na presença do ímã permanente de neodímio. A análise de XRD demonstrou que em ambos os biocarvões existem picos associados às fases cristalinas de hematita e magnetita. A capacidade de magnetização dos materiais foi comprovada pela análise de SQUID o que demonstrou uma magnetização de 12 e 5 A∙m2/kg para o MBC1 e MBC2, respectivamente, em um campo de 3979 kA/m. Além disso, a caracterização por FTIR indicou a presença do esqueleto aromático do biocarvão (C=C, 1596 cm-1) e da ligação Fe-O (650-540 cm-1). A análise textural mostrou que ambos MBC1 e MBC2 possuem uma característica predominantemente microporosa em suas estruturas. A superfície específica BET para os biocarvões foi de 474 e 338 m2/g para MBC1 e MBC2, respectivamente. Os resultados dos ensaios de adsorção revelaram que o equilíbrio é atingido em 17 h para MBC1 e 66 h para MBC2, e ambos apresentaram capacidade adsortiva máxima de aproximadamente 10 mg/g. Mas após a adição de peróxido a reação de oxidação aumenta significativamente o branqueamento das soluções. Usando a concentração de 25 mg/L de AM como base, foram atingidas taxas de branqueamento de 96% utilizando a proporção molar (H2O2 : AM) de 2000 para o MBC1 e 4000 para o MBC2, contra 22% sem a presença dos catalisadores e 30% sem a presença do agente oxidante. Também foi investigado o mecanismo da reação de oxidação ao adicionar isopropanol (um sequestrante de radicais) ao meio da catálise na condição ótima dos carvões e foi observado um branqueamento de apenas 20% indicando que a oxidação do AM ocorre por meio radicalar.

Conclusões

Dois biocarvões magnéticos foram produzidos e caracterizados por diferentes técnicas de caracterização estrutural. Os materiais têm grande área superficial e magnetismo atrelado às suas estruturas. Experimentalmente, foram eficientes na separação magnética nos ensaios envolvendo adsorção e catálise. Os ensaios de adsorção demonstraram que o equilíbrio de remoção de AM nos materiais é de, aproximadamente, 10 mg/g. Contudo, foi observado que os biocarvões quando empregados na catálise oxidativa removeram 96% do AM em solução, por um mecanismo radicalar, em condições otimizadas.

Agradecimentos

Os autores agradecem as agências de fomento FAPERJ CAPES e CNPq. Esse estudo foi financiado em parte pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

Referências

DUTTA, S.; GUPTA, B.; SRIVASTAVA, S.K.; GUPTA, A.K. Recent advances on the removal of dyes from wastewater using various adsorbents: a critical review. [b]Materials Advances[/b], nº 14, 4497-4531, 2021. | SHELKE, B.N.; JOPALE, M.K.; KATEGAONKAR, A.H. Exploration of biomass waste as low cost adsorbents for removal of methylene blue dye: A review. [b]Journal of the Indian Chemical Society[/b], nº 7, 100530, 2022. | SILVA, L.A.; BORGES, S.M.S.; PAULINO, P.N.; FRAGA, M.A.; OLIVA, S.T.; MARCHETTI, S.G.; RANGEL, M.C. Methylene blue oxidation over iron oxide supported on activated carbon derived from peanut hulls. [b]Catalysis Today[/b], nº 289, 237-248, 2017.

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