• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

Distribuições de n-alcanos em turfeiras como indicadores de mudança de vegetação relacionada a variações climáticas.

Autores

Santos, A.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Bernardes, M.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Nascimento, N.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Lourençato, L.F. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Silva-filho, E.V. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE)

Resumo

Estudos de reconstituição paleoambiental ajudam entender as dinâmicas ambientais passadas. O objetivo deste trabalho foi avaliar a evolução da vegetação em relação ao clima e ao ambiente a partir do carbono elementar e isotópico e de registros de biomarcadores de origem vegetal (alcanos) em testemunho de turfeira altimontana tropical no Sul do Brasil. A análise compreendeu o período de 18.327 anos AP e teve taxas de acúmulo de 0,5 a 23,6mg de COT cm.ano-1, razão δ13C de -26.7 a -13.8‰, alcanos de 75.2 a 903.5µg g-1 e razão C33/C29 superiores a 1 entre aproximadamente 10.000 e 4.000 anos AP. Análise de alcanos demonstrou uma boa especificidade em relação ao uso dos compostos C33 e C29 para caracterizar a origem de vegetais superiores discriminando gramíneas de árvores, em relação ao clima.

Palavras chaves

Paleoclima; Matéria Orgânica; Hidrocarbonetos

Introdução

Estudos de reconstituição paleoambiental levam ao entendimento das dinâmicas ambientais passadas, como as intensas mudanças ocorridas desde o último glacial (SUGUIO, 2010). No Brasil as variações climáticas desse período conferiram importantes marcas nos padrões de distribuição da flora e fauna, deixando diversas evidências armazenadas em arquivos naturais como lagos e turfeiras (OLIVEIRA et al, 2015). Compostas por espessas camadas de matéria orgânica, as turfeiras são consideradas sumidouros de carbono e são excelentes arquivos ambientais e cronológicos da evolução da paisagem graças à lenta decomposição do material orgânico (BISPO et al, 2016). As turfeiras cobrem cerca 4,2 % da superfície da Terra, contêm 10 a 30 % do carbono terrestre global, sendo apenas 10-15 % estão localizadas nas regiões tropicais e cerca de 55 mil km² no Brasil (YU, 2012; JOOSTEN, 2009). O uso de isótopos do carbono para reconstituição da vegetação em relação à sua fonte, quando plantas de ciclo fotossintético C3 (típicas de arbóreas) possuem um sinal isotópico diferente das plantas do grupo C4 (típicas de gramíneas) (MARTINELLI et al, 2009). Adicionalmente, compostos na fração de lipídios, como os alcanos presentes nas ceras cuticulares de folhas, são utilizadas na caracterização da matéria orgânica sedimentar por conta da sua boa especificidade em relação à fonte e à maior resistência aos processos de degradação bacteriana (DIEFENDORF et al, 2011). A distribuição e concentração de n-alcanos variam entre plantas vasculares, macrófitas, bactérias e algas (FICKEN et al, 2000). Os n-alcanos com comprimentos de cadeia C27 e C29 são produzidos principalmente por árvores decíduas e arbustos, enquanto os comprimentos de cadeias C31 e C33 são produzidos principalmente por gramíneas (VOGTS et al, 2009). O objetivo deste trabalho foi avaliar a evolução da vegetação em relação ao clima e ao ambiente a partir da composição de carbono elementar e isotópico e de registros de biomarcadores de origem vegetal (alcanos) em testemunho de turfeira altimontana tropical no Sul do Brasil.

Material e métodos

O estudo foi realizado através de um testemunho de turfa com aproximadamente 90 cm de profundidade coletado no Pico do Araçatuba, localizado na escarpa da Serra do Mar Paranaense (Floresta Atlântica), município de Tijucas do Sul, Paraná- Brasil na coordenada de 25º54’07,8” de Latitude e 48º56’02,0” de Longitude a uma altitude de 1610 m s.n.m. e continentalidade de 43 km. A vegetação é constituída por floresta ombrófila densa montana e altimontana, campos de altitude e vegetação rupestre. O clima é do tipo Cfb, em razão da baixa temperatura média no mês mais quente (22°C) e uma precipitação superior a 3.000 mm anuais (RODERJAN, 1994). Para a determinação de carbono orgânico total (COT) e sua razão isotópica (δ13C) as amostras foram levadas um analisador elementar PDZ Europa ANCA-GSL acoplado a um espectrômetro de massa de razão isotópica PDZ Europa 20-20 (Sercon Ltd., Cheshire, Reino Unido) na UC Davis Stable Isotope Facility. O desvio padrão foi de 0,2 ‰ para 13C. Os valores delta finais são expressos em relação ao padrão internacional VPDB (Vienna Pee Dee Belemnite). As análises de alcanos foram realizadas segundo WAKEHAM e CANUEL (1988). Brevemente as amostras foram submetidas à extração por banho ultrassônico com diclorometano, centrifugadas e o extrato transferido para um balão de rotaevaporador. Os extratos foram secos em fluxo de N2 e dissolvidos em 1 mL de n-hexano para então passar numa coluna de sílica para a separação da fração mais apolar obtida com 2 mL de n-hexano contendo os alcanos, que foi posteriormente seca em fluxo de N2. A análise de alcanos foi realizada Cromatografia em Fase Gasosa Acoplada a Detector de Chama Ionizante (CG/DCI). A injeção utilizou 2 µl no modo splitless a uma temperatura de 300 °C no injetor. A coluna capilar utilizada foi a DB-5 (30 m de comprimento, 0,25 mm de diâmetro e 0,25 μm de espessura de filme) como gás carreador o H com um fluxo de 1.0 mL min-1. A programação de temperatura foi iniciada a 80 °C chegando 300 °C com uma taxa de 5 °C min-1.

Resultado e discussão

O testemunho analisado compreende o período de 18.327 anos AP. Apresentou taxas de acúmulo de COT de 0,5 a 2,4 mg de COT cm.ano -1 com maiores valores durante o final da última glaciação (entre 14.000 e 11.000) e dois valores superiores a este intervalo nas primeiras duas camadas (23,6 e 6,3, respectivamente). A razão δ13C oscilou de -26.7 a -13.8 ‰ com valores enriquecidos em 13C entre 10.000 e 4.000 anos AP. O total de alcanos oscilou de 75.2 a 903.5 µg g-1, com maiores valores em entre o período de 14.500 a 11.500 anos AP. A proporção entre os alcanos predominantes C33 e C29 apresentaram valores superiores a 1 no período de aproximadamente 10.000 e 4.000 anos AP. As análises de alcanos demonstrou uma boa especificidade em relação ao uso dos compostos com número ímpares de carbono de cadeia longa para caracterizar a origem de vegetais superiores na matéria orgânica acumulada em turfeiras. O uso desses compostos em congruência as análises isotópicas do carbono evidenciou ainda ser o composto C33 marcador de gramíneas do ciclo fotossintético C4 relacionando a oscilação entre a predominância desse composto a um clima mais seco com o composto C29 típico de vegetação arbórea e de ambientes mais úmidos. Nessa turfeira altimontana tropical as maiores taxas de sedimentação foram observadas durante o final do período pleistoceno e término da última glaciação. Em seguida, no início do holoceno a modificação climática para um período mais seco e menores enterramento de carbono persistiu até aproximadamente 2.000 AP, quando a modificação para uma vegetação arbórea devido a um clima mais úmido volta a ocorrer com maiores taxas de sedimentação.

Figura 1

Taxa de acúmulo de carbono orgânico total, composição isotópica do carbono e razão entre os alcanos C33 e C29.

Conclusões

As análises de alcanos demonstrou uma boa especificidade em relação ao uso dos compostos com número ímpares de carbono de cadeia longa para caracterizar a origem de vegetais superiores na matéria orgânica acumulada em turfeiras em relação as oscilações climáticas durante o final do pleistoceno e holoceno.

Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. À FAPERJ Procs. E-26/210.745/2021 e E-26/010.101117/2018).

Referências

BISPO, D. F. A.; SILVA, A. C.; CHRISTOFARO, C.; SILVA, M. L. N.; BARBOSA, M. S.; SILVA, B. P. C.; BARRAL, U. M.; FABRIS, J. D. Hydrology and carbon dynamics of tropical peatlands from Southeast Brazil. Catena, v. 143, p. 18-25, 2016.
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RODERJAN, C.V.A. Floresta Ombrófila Densa Altomontana no Morro Anhangava, Quatro Barras, PR – aspectos climáticos, pedológicos e fitossociológicos. 11 9p. Tese (Doutorado em Engenharia Florestal) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1994.
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SUGUIO, K. Geologia do Quaternário e mudanças ambientais. Oficina de Textos, 2010.
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WAKEHAM, S. G.; CANUEL, E. A. Organic geochemistry of particulate matter in the eastern tropical north pacific ocean. Implications for particle dynamics. Journal of Marine Research, v.46, n.1, p.183-213, 1988.
YU, Z.C. Northern peatland carbon stocks and dynamics: a review. Biogeosciences. 9, 4071-4085, 2012.

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